Promessas Quebradas escrita por Bianca Wagner


Capítulo 1
Uma vida interrompida


Notas iniciais do capítulo

Narrado por Zoey.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214383/chapter/1

Cheguei da escola derrotada como sempre. Os garotos e garotas que me zoavam, me xingavam, praticavam bullying comigo sempre foram um problema. Mas dessa vez era pior.

Nunca fui tão humilhada antes, nunca mesmo. Dessa vez, não foi nenhum idiota que me xingou, ninguém que mexeu comigo. Foi uma professora, que nem sequer me dava aulas. Ela passou pela sala e pensou que eu estava xingando-a, mas não estava. Ela disse as piores coisas que alguém poderia me dizer, mas me mantive forte.

Isso foi na última aula, no começo. Não pensei em mais nada o resto da manhã. Estava ocupada demais imaginando o meu fim. Mas primeiramente, a carta. Iria escrever para aquela professora, para que saiba que o que ela disse feriu alguém. E muito. Comecei ainda no colégio, já que minha mente não se ocupava com outra coisa.


Rachel,

Se você está lendo isso agora, é porque decidi realmente fazer isso, realmente me culpar pelo que eu não fiz. Você fez falsas acusações, professora (que aliás nem minha é), e acabou com a minha vida, literalmente. Você não em conhece, e nem sabia ao certo o que havia dito, de quem eu havia dito. Mas era muito mais fácil agir sem pensar do que investigar a verdade, não é?

O sinal tocou, e nem percebi que uma aula havia acabado. Juntei meus trapos, como Mary diria, e fui para casa.

Mas quando cheguei lá encontrei um bilhete na geladeira:

Levamos Karen ao médico.

O almoço está no forno.

Bjs mamãe.

Minha mãe. Não daquela garota que invadiu a minha vida e tomou o que restava de mim. Ninguém mais ligava pra mim, a atenção era só pra ela. Você pode até achar que é ciúme, ou até inveja. Mas não é. Eu preciso de ajuda, reconheço, mas ninguém está realmente disposto a me ajudar. E olha que busquei por ajuda.

Tinha que terminar de escrever aquela carta, tinha de dar um jeito e entregá-la, tinha de fazer isso. Pelo menos isso. Continuei:

O que a senhora de certo não sabia, era que não estava falando de você, muito menos xingando alguém. Só estava conversando sobre a prova que havíamos acabado de fazer, e em como toda troca de aula, estava conversando. Pois bem. Sei que a senhora não vai acreditar em mim, então pode perguntar para a minha amiga Jane. Ela sabe dos problemas por qual eu passo, e era com ela que eu estava conversando.

Como a senhora é a responsável pela minha morte, te encarrego de duas tarefas:

1- Se assegurar de que Jane estará bem, apesar de tudo que aconteceu - ou acontecerá.

2- Falar pra ele o quanto eu o amo, o quanto eu sonhei comigo morrendo velhinha ao lado dele, contando nuvens e jogando bingo.

Mas infelizmente isso não vai ser possível, não é? Já que você acabou com a minha vida.

Quero que você leve para o resto da sua o peso que sentirás por ser responsável pelo meu suicídio.

Com sinceridade,

A Garota Mal-Educada a qual você se referiu.

Estava feito. Havia terminado. Claro que não escrevi tudo que queria, o resto está nas cartas escondidas no meu quarto, as quais só cabem a mim o conteúdo. A mim e as cicatrizes de meus pulsos.

A parte difícil: entregar a carta. Eu poderia deixar com uma outra profesora, mas certamente ela leria. A não ser aquela, a que gozava de minha total confiança.

Sai sem ao menos almoçar, e caminhei sete quadras até o colégio. Chegando lá, perguntei a recepcionista:

– A Samatha está sando aula hoje?

– Sim, a professora Sam está no auditório agora.

– Posso ir até lá?

– Do que se trata?

– De um assunto muito importante que só pode ser tratado com ela.

– Tudo bem, pode ir.

Fui. Subi as escadas com muita pressa e cheguei ao auditório. Bati na porta, e ouvi um "entra" vindo da professora.

Ela estava preparando a aula, e tinha noventa porcento de chance de que ela não havia almoçado.

– Prof, desculpa incomodar, mas eu queria pedir um grande favor.

– Pode pedir, querida. - disse Sam com toda a sua doçura.

– Queria que você estregasse essa carta para a Professora Rachel, mas que por favor não lesse. E não desse a ela antes das três da tarde. É importante, professora.

– Tudo bem, pode deixar que eu entrego. Pode confiar em mim.

E foi por isso que saí satisfeita: porque confiava nela. Depois de uma longa caminhada, cheguei podre em casa. Mas tudo bem. Eu iria descansar pra sempre.

Meus pais ainda não haviam chegado. Ótimo. Fui até a cozinha e peguei uma faca de churrasco do meu pai e segui até o meu quarto. Tranquei a porta e me sentei no chão sujo, gélido e convidativo.

Fiz cortes nas pernas por todos aqueles que me fizeram cair, e nos braços para todos aqueles que me ajudaram a levantar. O maior - no pulso - foi em homenagem à Jane, por estar sempre comigo, na pior das situações.

Já estava chorando muito, e o chão já estava inundado de sangue, mas a dor não se manifestava.

As palavras e nomes que me chamavam formavam meio que uma barreira, sendo que os cortes não doíam, mas sim, a lembrança da frieza das palavras.

Não queria prolongar esse momento, queria fazer isso logo. Queria que isso acontecesse de uma vez, sem mais delongas.

Então cortei meu pulso mais fundo. E depois novamente.

Quando já estava muito fraca para continuar, eu fiz o que devia ter feito há muito tempo.

E apaguei. Dormi para sempre, num lugar onde não havia mais dor.

Num lugar onde eu não sofria mais, nunca mais...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dependendo do número de reviews, será uma one (ou only, como preferir). Então se querem continuação, já sabem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Promessas Quebradas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.