Dance Class escrita por SelenaLovesDems


Capítulo 1
Reader.




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- Mais pra trás. – pedi a Nick. – Isso, se prepare.

Esperei até o garoto flexionar os joelhos na calça de ballet masculina e após o aceno mínimo da cabeça cacheada corri em sua direção, sentindo-me levantada pelos braços fortalecidos pela dança.

Fechei os olhos contando o longo tempo no ar, sendo descida com delicadeza.

- Perfeito. – sorri o parabenizando. – Só acho que poderia ter segurando dez segundos ao invés de sete.

O rapaz mesclou um suspiro cansado com o riso.

- Como agüenta uma mulher tão perfeccionista, Demi? – Nick perguntou, virando os olhos para a garota de costas apoiada na parede amadeirada que forrava o quase total isolamento sonoro da escola.

O cabelo preto intenso escorria pela camiseta xadrez de listras azuis mediano sobre o branco normal com manga três quartos, a cabeça abaixada para as pernas em forma indiana fazendo a franja pender inconsciente sobre os olhos âmbar escuro agora provavelmente cobertos pelas lentes medidas em poucos graus de seu óculos wayfarer, vestindo suas típicas shining jeans escuras com converse. Nas mãos, um dos vários livros velhos que carrega em sua mochila; os dedos ágeis já acostumados com o papel amarelado e áspero passavam dobrando a capa pequena sobre a contra capa até a visão ser mais focada.

Os olhos deslizaram a menção de seu nome, fazendo-me ter a visão dos óculos pretos na pele pálida um sorriso brotando nos lábios naturalmente vermelhos ao foca-me após Nick.

- Eu não tenho te agüentá-la, ela sim a mim. – respondeu em flerte.

Comprimi meus lábios, tentado esconder o sorriso bobo junto com a ligeira vermelhidão em minhas bochechas.

Demetria e suas falas poéticas e muito bem pensadas para uma simples conversação inútil.

- Acho que já terminamos por hoje, Nick. – mudei de assunto quando senti o olhar de Demi voltar para o livro. – Vejo você amanhã?

- Claro. – beijou minha bochecha amigavelmente. – Vocês duas tem muito a resolver, certo?

- Cala boca. – Demi exclamou ao fechar o pequeno e grosso livro nas mãos, o riso acusando a brincadeira.

Nick não demorou a fechar a mala de ginástica e sair do salão com um breve toque de mão com a garota já de pé.

- Então, acho que consigo fazer aquele passo mais difícil. – suspirou se aproximando devagar, espremendo os dedos longos de pianista no bolso do jeans.

- Qual? – cruzei os braços sobre o busto quando parou de andar há uns dez passos de distancia.

- Te erguer. – simulou empurrando as palmas das mãos até a altura dos ombros.

- Provavelmente não, tem de ter algum preparo antes. – continuei no jogo erguendo uma sobrancelha, lutando para ficar séria.

- Porque não tenta?

Mordi o lábio com um puxão mínimo de seus cantos.

- Vai me pegar mesmo?

- Sim. – balançou a cabeça em positivo.

Demorou mais alguns segundos para me convencer no silencio anormal da escola de arte.

- Ok, primeiro tire esses óculos. – instrui e ela obedeceu, os jogando a seu pé. – Você tem de me assistir andando para saber quando me erguer, ok? Então concentração.

- Certo. – concordou.

- E, por ultimo, flexione os joelhos para maior força e...

- Só pule logo. – falou batendo as mãos nas coxas.

- Acha que pode conseguir sem as regras de posicionamentos? – franzi o cenho.

- Tenho certeza.

- Você consegue ser muito metida as vezes. – suspirei cansada.

- Me deixe te provar então. – deu mais dois passos largos para trás. – Vem.

Ri com arrogância ao saber que acabaríamos jogadas no chão e com ela reclamando de dor.

Comecei a corrida não tão rápida como se estivesse com Nick, mas ágil o bastante para conseguir me esquivar da queda.

Não sabia porque ela estava fazendo isso, afinal, sempre deixou muito claro que odiava dançar. Principalmente esse tipo “travado” – em suas palavras – de movimentos delicados.

Ela gosta de ler. Ama.

Uma coisa que julgo impossível é ver-la sem um livro em mãos, não importa onde.

Ela tinha entrado em todas as aulas de literatura avançada e clubes específicos com os gêneros mais diversos para o treinamento da mente hiperativa por letras, sempre saindo dessas salas falando como nunca sobre alguma nova mensagem subliminar encontrada numa frase romântica de mais um de seus livros velhos, fazendo o principal soar como um pervertido ao perder o valor do amor em sua história e época.

Peguei um pouco mais de velocidade nos últimos três passos até ela, mas quando tranquei os olhos para nossa queda suas mãos pausaram meus passos ao segurar minha cintura com autoridade. Espremi mais as pálpebras juntas mas meus pés não deixaram o chão, fazendo uma linha de confusão começar a cruzar minhas feições preparadas.

- Achou mesmo que ia te levantar? – a voz sussurrou perto o bastante de meu rosto para sentir a respiração quente.

Abri os olhos sem ação ao encarar os olhos calmos.

- S-sim. – gaguejei.

Um sorriso de vitória cresceu pequeno em seus lábios, fruto da fraqueza que deixei escapar ao não conseguir completar a simples resposta monossilábica.

Nossas bocas perto. Muito perto.

As mãos leves ainda pegavam meu quadril com uma firmeza que não queria me livrar.

- Você sabe que não consigo. – colou as pontas de nossos narizes ao focar com profundidade meus olhos.

Esse era o problema de gostar de um leitor. A pessoa conhece todos os tipos de mulheres em fabulas: as realistas, naturalistas, difíceis, platônicas, as que esperam o príncipe e mais milhares de classificações que ela mesma poderia ficar o dia todo citando sem dificuldade alem de apontar meu tipo.

Eu queria romantismo. Flores. Beijos demorados na testa. Dedos entrelaçados. Sorrisos tímidos. Bilhetes de papel rasgado e amassado. Apelidos não pensados em horas também não calculadas. E um primeiro beijo mágico.

- Você é uma burguesa. – comentou fazendo meus olhos entreabertos se fecharem na voz doce de baixa. – Você gosta de finais felizes. O mocinho fica com a mocinha. O fim trágico do vilão é comemorado. O rapaz apaixonado só tem olhos para sua pequena princesa de pais ricos donos de feudos, não existe desejo sexual, não existe paixão humana é só amor. O fogo não queima e destrói em suas histórias, ele aquece o coração.

- E... qual o seu tipo de leitura? – perguntei perdida no discurso digno dum romance totalmente burguês.

- Eu não sou leitora. – tremi ao sentir os dedos, agora já não tão fortes, subirem roçando lentamente a lateral de minha barriga até a base do busto; onde se estabeleceu firme novamente. – Sou escritora.

- E como se chama sua obra?

- Se permitir minha caneta correr até o fim de sua tinta pelo papel, deixo você dar nome.

- M-meu nome é citado desse grande pedaço de pergaminho?

- Seu nome... – tentei abrir os olhos mas o peso do ar cada vez mais rente a meus lábios não deixou. – Seu nome é o titulo do primeiro capitulo.

E aconteceu.

Senti minhas pernas enfraquecerem tão de repente que, se não fosse seus braços, teria caído.

Os lábios macios não se moviam no começo, mas logo o meu inferior foi capturado entre os seus delicados.

Demorou mais uns três movimentos para lembrar ter mobilidade nos membros, apoiando meus dedos no pescoço por baixo da cachoeira negra enquanto sentia o aperto ficar mais intenso em minha cintura.

Um gemido involuntário escapou na pequena pausa para respiração e quando sua boca voltou para minha já tinha me esquecido de todo o resto no livro. O passado já não era tão importante, muito menos o futuro. Eu só precisava da saliva de sua língua e do aperto de seus dedos neste momento.

Dedos para escrever e língua para recitar. 


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Notas finais do capítulo

Review, certo ?