Uma Nova Chance escrita por Aislyn


Capítulo 1
Apenas um olhar




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– Yuki-Chan... Vamos aproveitar e despistar os guardas?


Eu ouvi mais uma vez a minha melhor amiga, Mika, fazer a proposta de outra loucura. Bastava nos deixarem sozinhas para o chá, que a sua mente começava a maquinar uma forma de fugirmos dos guardas e também dos muros de minha casa. Confesso que qualquer chance de liberdade para duas garotas como nós era um sonho. Eu, a filha do líder de uma das grandes casas da Soul Society, Kuchiki Yuki... Ela, filha única, a última chance que restava de dar continuidade à linhagem dos Kimura, família bastante tradicional. Conhecíamos-nos desde crianças, crescemos juntas e de certa forma, éramos parecidas fisicamente. Tenho 1,70cm de altura, o corpo bem talhado, a pele branca, os olhos acinzentados e na época, cabelos castanhos que iam até a cintura. Mika era da mesma altura, tinha os olhos verdes e cabelos louros até os ombros.
Pretendentes nunca nos faltaram, porém, tínhamos alguma liberdade para ao menos negar o cortejo de alguém que não nos agradava, ou seja, todos.
Assim que a guarda seria trocada, aproveitamos para sair pela porta que dava para o jardim de minha casa e contrariando as boas maneiras, pulamos o muro não muito alto. Não era uma manobra muito fácil para quem se vestia com vários panos em sobreposições. Tudo o que eu mais gostava era de vestir um kimono simples, que me garantisse mobilidade e conforto.

– Mika-Chan... Vamos para onde?

– Eu estava pensando em ir até a algum campo bonito – respondeu ela com um ar maroto. – Que acha?

– Vamos! Eu conheço um lugar...

Caminhamos cerca de quinze minutos, era horrível a sensação, todos os que passavam por nós, nos encaravam como se estivessem olhando para duas nobres fúteis. Eu levei Mika até um campo em que meu pai me levava quando criança para assistir os seus treinos diários. Tratava-se de um território pertencente ao Rokubantai, dificilmente algum shinigami pisava lá sem autorização ou ordens para treinamentos.
Mika aproveitou para tirar os sapatos e soltar os cabelos, então, deitou-se sobre a grama. Eu estava sentada, calculava quanto tempo teríamos de liberdade. Uma hora depois, após colocarmos todos os assuntos de nossas vidas monótonas em dia, eu ouvi o ruído inconfundível de duas lâminas se chocando. Curiosa, me levantei e fui ver o que era, muito próximo dali.

– Yuki-Chan...

– Shhhh! – Olhei de canto para Mika, estávamos escondidas atrás das árvores. – Olhe... É um treinamento.

Dois homens se enfrentavam com empolgação, um parecia ser o mestre, ensinava como o outro deveria utilizar melhor sua técnica de zanjutsu. Quando o discípulo virou-se na nossa direção, meu coração disparou. Era o homem mais perfeito que eu já vira, os olhos verdes expressivos pareciam tentar detectar o que havia por detrás das árvores. Um shinigami... Alguém que eu jamais conheceria.
Tive que me encostar na árvore, senti um pouco de falta de ar, arrepios na espinha. Minha amiga me olhou com a sobrancelha erguida.

– Eu nunca vi você assim... Por ninguém.

– Ele é...

– Que ele é bonito eu já sei – cortou Mika, um pouco impaciente. – Mas, não é alguém que você deva olhar... Recomponha-se, Yuki-Chan. É só um shinigami qualquer.

– Sim.

Eu não gostei do comentário dela, contudo, no fundo ela tinha razão. Para um Kuchiki, o nome deveria estar acima de tudo. Meu pai, Ginrei-Sama, me repreenderia pela vida toda, caso soubesse o que eu senti por aquele homem. Resolvi sair dali, entretanto, guardaria o rosto dele para sempre em minha memória.
Estávamos chegando à saída do campo, quando ouvimos o urro ensurdecedor de uma criatura assustadora. Eu não tinha dúvidas de que era um hollow, ele possuia o corpo de um animal imenso, a máscara apavorante. Coloquei-me na frente de Mika, ela estava em choque, não conseguia se mover para correr. O hollow levantou uma de suas patas, mostrava garras afiadas.

– Mika-Chan! – Tentei puxá-la pelo braço, ela não reagia. – Temos que correr, onegai!

Eu não teria coragem de deixá-la ali, então, a abracei quando senti que a criatura atacaria. Fechei os olhos, ao menos, protegeria a minha amiga. Por segundos, não consegui assimilar, ao virar o rosto, eu o vi de costas, guardando a zanpakutou na bainha. O hollow não estava mais em lugar algum.
Mika desfaleceu em meus braços e eu não pude segurá-la, então, ela caiu no chão. O susto havia sido maior do que ela pôde suportar. Ele se virou, seus olhos verdes exprimiam preocupação.

– Você está machucada? – Perguntou com sua voz de anjo.

– Não... Mas, minha amiga não está bem.

– Vamos levá-la até a Casa Kimura, você me guia? – Ele amparou Mika em seus braços e sorriu, parecia bem informado. – Ela só está desmaiada, não se preocupe.

Sem que pudéssemos perceber, estávamos cercados pela guarda de minha casa. O chefe da guarda parecia conhecer o nosso salvador.

– Hisawa-San?

– Está tudo bem, Hien-San – falou ele com a voz firme, contrastando com o jeito que falou comigo. – Acho que daqui por diante você assume.

– Sim... Obrigado por ter ajudado. Se algo tivesse acontecido a elas, eu seria preso ou punido até mesmo a com a morte – explicou o homem gesticulando. – O que seria da minha família?

As palavras do chefe da guarda foram como uma apunhalada certeira em meio peito, nem Mika e nem eu sabíamos o que poderia acontecer por nossa culpa. Naquele momento imaginei como a senhora Hien sofreria com o castigo do marido, que tinha vários filhos para sustentar. Eu não sabia o que fazer, então, ajoelhei-me perante o senhor Hien e abaixei a cabeça.

– Peço perdão, Hien-Dono – nunca precisei pedir perdão a ninguém, entretanto, tudo saiu do fundo do meu coração. – Nós fomos inconseqüentes! Não sabíamos o que estava em jogo para o senhor e os outros.

– Por favor, Kuchiki-Sama... Levante-se! A senhora não me deve desculpa alguma – pediu Hien envergonhado e com a voz quase falhando. – É o meu trabalho, eu não quis dizer aquilo, de verdade.

Vi a mão do shinigami que me encantou estendida, então, a segurei. Senti meu coração disparar, a mão dele era tão quente. Ele ajudou-me a levantar, continuei segurando-o e sorri.

– Hien-San, eu vou levar a Kuchiki-Sama em segurança até a grande casa. Vá à frente, esta garota precisa de cuidados.

– Sei que o Ginrei-Sama confia em você.

Foi uma surpresa saber que meu pai conhecia aquele shinigami. Ele esperou que os guardas fossem embora e me ofereceu gentilmente o seu braço. Encabulada, eu encaixei o meu braço no dele e caminhamos em silêncio por alguns instantes. É claro, eu senti como se estivesse pisando em nuvens.

– Nunca pensei que as nossas travessuras inocentes pudessem acarretar em algo tão grave. Tudo o que queríamos era diversão... Fingir que éramos garotas normais, nem que fosse por alguns minutos – não sei por que me senti à vontade para falar com ele. – Se não fosse por você, eu teria destruído a vida da família Hien. Teria ferido o meu pai, não imagino o que ele sentiria caso eu morresse. E também, teria deixado Mika com um remorso eterno... Tudo por causa da minha inconseqüência. Como mais velha, eu tinha a obrigação de negar o pedido de Mika.

– Não deve ser fácil viver por entre os muros de uma casa. – Ele me olhou nos olhos, parecia compreender tudo o que eu disse. – Manter sempre a postura, ser educada o tempo todo e ter os outros tomando decisões por você. Eu entendo, a liberdade deve ser tentadora.

O shinigami passou a mão por seu cabelo, que era de um tom púrpura escuro.
Só então eu reparei em uma mecha vermelha que começava no lado esquerdo de seu cabelo e terminava em uma trança longa e fina atrás, aquilo lhe dava um charme a mais. Sem dúvidas tratava-se de um jovem de boa família.



– Domou Arigatou... Ao menos, eu posso saber o seu nome e à qual bantai pertence?

–Hisawa Kouga, Rokubantai – respondeu ele com seu sorriso perfeito. – Não há nada para agradecer, Kuchiki-Sama. É um prazer servi-la.

– Pode me chamar de Yuki – pedi, repetia o nome dele na minha mente. – Bem, vou falar sobre você com o meu pai, ele saberá gratificá-lo.

– O seu sorriso é a maior gratificação, não há necessidade disto. Agora, entre – eu nem havia reparado que já estávamos diante da minha casa. – Todos os seus devem estar preocupados.

– Espero voltar a ver você, Kouga-Dono. Vou agradecer eternamente, você é o meu salvador...

– Assim eu fico lisonjeado – ele retribuiu a minha reverência. – Até mais, Yuki-Sama.

Quando os portões se fecharam, nos separando, parecia que uma parte do meu coração começava a faltar. Ao entrar em casa, me ajoelhei diante de meu pai, estava envergonhada demais, arrependida. No lugar de uma repreensão severa, ele se ajoelhou também e me abraçou fortemente. Não era o que eu esperava, meu pai sempre foi rígido comigo, apesar de demonstrar o seu amor até mesmo em meio à palavras duras.

– Não se deve prender aqueles que possuem asas, não é, minha filha? – Perguntou docemente.

– Otou-Sama – eu balbuciei, começava a chorar. – Prometo que a partir de hoje, eu vou ser uma mulher digna de ter o seu nome. Perdoe-me por mais uma desonra... Será a última.

– Esqueça isto, Yuki... Vamos jantar, preciso conversar a respeito de Mika.

Eu não agüentei até saber o que ele tinha para me dizer. Fiquei feliz quando soube que minha amiga estava bem, contudo, muito triste com as palavras de meu pai.

– Eu soube disto hoje à tarde, bem antes de tomar conhecimento sobre a travessura de vocês... O casamento será em um mês, a princípio foi uma decisão tomada porque o Kimura-San não estava mais suportando a rebeldia dela, então, optou por forçá-la a casar. Felizmente, o noivo é um bom homem.

O casamento de Mika para nós duas era como um funeral, ela já não tinha mais forças para chorar quando a vi no dia seguinte, preferindo se resignar. Passaram-se dois meses, eu nunca mais tive permissão para ver Mika, seu marido era intolerante, só permitiria a minha visita se um dia eu estivesse na mesma condição em que ela – ou seja, casada.


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