Saio da fila e ando em direção ao palco onde está Clove e a estranha mulher azul.

– Qual seu nome? – Pergunta a estranha mulher.

– Cato – Respondo.

– Muito bem Cato, muito bem. – A mulher me analisa com os olhos e depois faz o mesmo com Clove dando certo sorriso. – Acho que teremos um maravilhoso jogos vorazes esse ano. Aplausos para os tributos do distrito 2!

As pessoas começam a aplaudir, eu sorrio e aceno para a multidão. Toda Panem está me vendo agora, é uma sensação ótima, esperei isso por dez anos.

Então o prefeito do distrito se levanta da cadeira que estava em cima do palco e começa a ler o longo e chato Tratado da Traição, como faz todos os anos nesse ponto da cerimônia, e quando termina a leitura faz um gesto para que Clove e eu apertemos as mãos.

As mãos dela são pequenas e geladas. Clove olha bem em meus olhos e os dela continuam indecifráveis, não consegui saber se ela está feliz, pasma ou simplesmente muito assustada. Acho que fico com a ultima opção.

Nós nos viramos para encarar a multidão quando começa a tocar o hino de Panem.

Assim que o hino acaba um grupo de pacificadores nos conduz pela entrada principal do edifício da Justiça. E depois sou conduzido a uma sala, onde fico sozinho, sento no sofá de veludo e espero. Esse é o momento em que é permitido aos tributos se despedirem de sua família e amigos. Minha mãe e meu pai entram primeiro, vou a encontro deles e sorrio. Realmente estou feliz, era isso o que eu queria.

– Foi ótimo campeão. – disse meu pai e minha mãe concorda com a cabeça.

– Obrigado.

Não tinha muita coisa pra falar, eles sabiam que eu ia me voluntariar então não houve supresa. Apenas ficamos um olhando para o outro esperando que um pacificador chegue e diga que acabou o tempo, mas isso parece que vai demorar muito então dou um abraço em meu pai e em minha mãe e digo:

– Logo nos mudaremos para a vila dos vitoriosos!

***

É uma caminhada curta do Edifício da Justiça, entro no carro e Clove está lá dentro. Parece muito melhor, o seu sorriso irônico voltou a aparecer no canto da boca.

Chego à estação de trem, milhares de repórteres e suas câmeras nos transmitindo para toda Panem. Dou um sorriso e aceno, Clove faz o mesmo. Nosso embarque é permitido e as portas do trem se fecham atrás de nós e em questões de segundos o trem começa a se movimentar. Eu já estive em um trem uma vez, mesmo sendo proibido viajar entre um distrito e outro e eu só entrei porque uns garotos me desafiaram, mas ele não esteve em movimento. Mas é claro que esse não é um simples trem, esse é um daqueles modelos e alta velocidade da capital que atingem 400 quilômetros por hora. A viagem vai durar pouco tempo já que estamos mais perto da capital do que os outros distritos.

A mulher azul aparece para me levar à ceia e eu a sigo pelo estreito corredor do trem até chegarmos ao vagão restaurante. Há uma mesa onde todos os pratos estão colocados de forma organizada. Clove está sentada a nossa espera e do seu lado nosso mentor, Leonis Herriot.

Os mentores são os antigos vencedores dos jogos vorazes, Leonis ganhou no ano passado.

Sento em frente ao mentor e ele logo começa a falar.

– Bom muito bom. Vocês têm muita capacidade de vencer esses jogos. – Ele olha pra mim por alguns segundos – Você é carreirista?

– Sim, eu também sou. – disse Clove.

– Hum. Suponho que tenham treinado pra isso a vida toda. – ele esperou nos assentirmos e continuou – Então vocês não têm muita coisa a fazer, só esperar a entrada da arena e quando estiverem lá se juntem aos carreiristas e matem qualquer pessoa que estiver em sua frente.

Clove olhou para ele com admiração e sorriu. Parece que ela gostou da idéia.

– Podem se servir! – Disser a Mulher azul.

Eu não estava com muita fome, mas Clove logo começou a comer e eu peguei alguns pãezinhos para acompanhá-la.

Depois da ceia vamos para outro compartimento assistir a reprise das colheitas, tudo é transmitido ao vivo, mas como nós somos obrigados a participar da colheita só podemos ver a reprise. Uma após a outra, vemos as outras colheitas, os nomes sendo chamados. Como a colheita passa de acordo com os distritos logo aparece Clove saindo da multidão e eu me voluntariando. ’’ Até que fiquei bem na câmera’’ penso ‘’ Tenho certeza que os tributos que estão vendo isso devem estar morrendo de medo de mim’’. Alguns competidores se destacam em minha mente. Uma carreirista Loira do Distrito 1. Um garoto com problema no pé do distrito 10. Uma garota de 12 anos do Distrito 11. E, uma garota do Distrito 12 que se voluntariou no lugar de sua irmã. Admiro sua coragem, mas ela só deve ter isso mesmo, pois é tão magra e pequena. Vindo desse distrito imagino que deve passar fome, raramente os tributos do distrito 12 vencem geralmente eles são os primeiros a morrerem.

– Que patético o mentor do Distrito 12. Parece que está bêbado.

– Ele sempre está bêbado – Conclui a Mulher Azul – Como é seu primeiro ano como mentor você ainda não o viu na capital, sempre carregando sua garrafa pra todo lado. Mas a garota parece legal.

Eles estão falando mesmo das pessoas dos outros Distritos? Eles tinham que falar de mim e como eu tenho uma ótima chance de ganhar os jogos vorazes, eu treinei pra isso minha vida toda!

– Vou pro meu compartimento! – Indago irritado me levantando bruscamente e começo a sair do local.

Ao longe escuto Clove perguntando ao mentor como era estar na arena e vencer. Depois escuto ele responder

– Gratificante. Muito gratificante.

Entro no meu compartimento e deito na cama que está preparada pra mim. Clove pode ligar para o que aquele cara tem a dizer, mas eu não. Sei muito bem me virar sozinho. Não preciso de mentor algum.

Olho pelas janelas e vejo luzes, com a velocidade do trem não consigo distinguir o local, mas o trem para um momento para abastecer e eu reconheço. Distrito 1, um dos mais ricos de Panem. Oferece pedras preciosas e artigos de luxo para a capital, com qual faz fronteira.

Logo estaremos na capital e ai sim poderei dizer que estou nos Jogos Vorazes!