O mês de Celebrar estava chegando ao fim. Era dia 25 de dezembro, e toda Neopia estava coberta por decorações natalinas. Em todos os cantos, seres de diferentes espécies corriam de um lado para o outro, carregando imensos presentes em suas patas.

"Mãe, vamos olhar aquela nova loja?", a pequena Poogle cor de xadrez estava muito curiosa com a situação toda. Era a primeira vez que ia as compras de Natal com sua mãe. "A de bonecas."

"Não, minha filha, eu já lhe disse.", sua mãe, da mesma espécie, mas com o pelo de cor azulada, carregava duas sacolas nas costas. "Já compramos todos seus presentes, não adianta, eu não vou comprar mais nada.” ·.

A Poogle xadrez não queria nenhuma boneca, só estava ansiosa. Nunca tinha visto tantas lojas antes. Algumas estavam decoradas com as cores verde e vermelho, outras exibiam letreiros com descontos absurdos, mas todas faziam o possível para chamar a atenção dos compradores. Mas uma loja em especial tinha chamado sua atenção. A loja não era nem de longe a mais bonita, nem a com a melhor decoração, muito menos a com os descontos mais convidativos. A loja era bem pequena, na verdade. Sua decoração roxa prejudicava a visão, de tão berrante. A porta, que estava aberta, parecia ser feita de madeira de má qualidade. Mas mesmo assim, algo a chamava atenção.

"Só uma olhadinha, mãe.", a pequena criatura parou de caminhar, e fez um olhar pidão. "Eu prometo que não vou pedir pra comprar nada."

Sua mãe analisou a situação. Eram apenas 16h15min NST, aproximadamente. Ela precisava comprar os presentes dos avós da menina, de seus colegas de trabalho, de suas amigas...

"Tudo bem, mas só uma olhadinha.", e olhou em volta. "Eu preciso continuar a fazer as compras, qualquer coisa, me encontre na loja do seu tio. Você sabe onde é, né?”

A Poogle sorriu, fez que sim com a cabeça, e correu em disparada, em direção à loja. Só agora percebeu o nome da loja: Bonecas Usukis. Era um nome bem direto, era verdade. Mas o que eram essas bonecas Usukis? Nunca tinha ouvido falar delas antes. Nenhuma de suas amigas tinha comentado nada sobre essas bonecas. Será que era uma nova marca?

A loja ficava entre dois enormes estabelecimentos, mas eles não eram importantes para a pequena Poogle. Passou pela porta de madeira e viu a loja, por dentro. Seus olhos giravam, pois não conseguia focar em uma única coisa. Era tanta coisa para ver...

"Uau.", foi a única coisa que conseguiu pronunciar. Seus passos começaram cessar, e em um minuto, ficou tímida. A loja tinha milhares de bonecas. Cada uma com um visual diferente. Princesas, guerreiras, modelos, cozinheiras... Todos os modelos que a pequena criatura conseguiu pensar.

Tomou um susto quando viu que, de detrás da porta, surgiu uma pessoa, ficando de frente para ela. Na verdade, era uma espécie de unicórnio.

"Ah, seja muito bem-vinda!", o Uni, com sua voz forte, parecia bastante alegre. "Deseja alguma Usuki em especial?”

Depois de assimilar o que estava acontecendo, a pequenina percebeu que o Uni era o atendente da loja. Percebeu também que aquele era o Uni mais bonito que já vira antes. A maior parte de seu pelo era de um azul claro tão bonito que dava vontade de olhar sem parar. Em algumas partes de seu corpo, listras roxas estavam presentes, principalmente nas asas. Sua crina era do mesmo roxo, só que mais claro. Seus cascos eram da mesma cor que o seu único chifre, em uma espécie de degrade de roxo para branco. Era um Uni Listrado.

"Qual o seu nome?", o Uni estava alegre.

Como se tivesse despertado, disse, timidamente: "Ah, é Lullaby.”.

O unicórnio pensou um pouco, como se estivesse escolhendo as palavras certas, mas logo sorriu novamente.

"É um belo nome.", e olhou em volta. "Mas voltando ao assunto anterior, gostaria de ver alguma Usuki em especial?"

"Eu só estava...", mas não terminou a frase, pois o vendedor a interrompeu.

"Eu nem disse meu nome, que falta de educação a minha.", e falou com toda a naturalidade do mundo, como se fosse o nome mais comum de todos: "Meu nome é Heavenly Stripes. Mas todos me chamam de Heaven.”.

Lullaby não sabia se ficava mais curiosa com o apelido ou com o nome, então, foi direto ao ponto.

"Eu só estou observando, não tenho dinheiro para comprar nada.", e suspirou, com vergonha do que disse. "São tão belas, se pudesse, comprava todas."

Heaven começou a falar sobre as bonecas, contando o nome de cada uma delas, no que foram inspiradas, entre outros detalhes. Lullaby ficava com mais vontade ainda de comprar, a cada boneca que ele comentava. Cada uma tinha suas razões para existir, pareciam tão real, como pessoas têm seus motivos para viver.

"Está vendo aquela boneca ali?", e apontou para a esquerda, com seu belo chifre. "Aquela é a Cantora Estrela Usuki N. 1, ela é uma das três cantoras Usukis."

Foram tantos detalhes que Lullaby achava que ia esquecer, mas isso não aconteceu. Quando chegaram a uma das seções, Heaven parou, repentinamente.

A Poogle, quase trombando no vendedor, percebeu a pausa repentina. Tinha acontecido algo? Antes que pudesse se preocupar demais, Heaven virou-se para ela, como se nada tivesse acontecido, e sorriu.

"Sabe, eu só digo isso para os clientes que mostram estarem verdadeiramente interessados nas bonecas Usukis.", Lullaby percebeu que seu sorriso estava meio estranho, mas ela imaginou que fosse cansaço, depois de falar tanto. "Nós temos uma seção especial, só para as Usukis extremamente raras. Mas você não vai querer ver."

Quase que instantaneamente, Lullaby implorou para ver essa seção. Só depois ela percebeu o quanto estranho foi isso, já que parecia ter sido espontâneo.

"Então o que estamos esperando?", e passou a pata por cima de seu ombro. "Vamos ver, então."

Caminharam rapidamente em direção a uma porta de prata, que Lullaby não tinha reparado antes. Sentiu enjoo, mas era nervosismo, pensou ela. A cada passo, seus sentidos iam aguçando-se. Conseguiu ouvir nitidamente o barulho dos cascos de Heaven, encostando-se ao chão de madeira do estabelecimento. Sua cabeça doía, e a cada passo, parecia que a porta ia ficando cada vez mais longe.

"Você vai gostar.", e riu. Lullaby sentiu medo, o que foi bastante estranho, pois a risada de Heaven estava igual às outras.

Chegando à porta, não deu tempo de reparar em muita coisa, pois Heaven já a tinha fechado. Estava tudo escuro. Esperou o atendente ligar a luz, mas isso não aconteceu. Não ouviu barulho nenhum.

"Não é melhor acender a luz?", Lullaby tentava enxergar no escuro, mas era difícil, para não dizer impossível. "Assim não vou enxergar nenhuma Usuki."

"Mas assim alguém de fora pode vê-los.", era a voz de Heaven, mas ela estava muito estranha, como se ele estivesse segurando o riso.

Ela teve vontade de perguntar, mas não conseguiu. A voz não saiu de sua garganta, pois algo macabro aconteceu. Ouviu barulho de batidas, de gente se mexendo. E o pior ainda, de vozes abafadas.

"Heaven, tem gente aqui, conosco?", tentou deixar sua voz bem calma, mas não obteve sucesso. Estava tremendo bastante.

"Claro que tem.", e riu baixinho. Uma luz se acendeu provavelmente de uma lanterna que ele carregava. "As futuras bonecas Usukis."

A luz passou rapidamente por todo o local, mas repousou sobre uma cena que Lullaby gostaria de esquecer. Viu três seres amarrados em cadeiras, com vendas em seus olhos e cordas, amarrando as patas.

"Aquela da direita será a Usuki padeira, a do meio será a Usuki escritora, e a última eu ainda não me decidi.", e suspirou.

Lullaby, entendendo o que estava acontecendo, correu em direção à porta, tentando abri-la, sem sucesso. Jogava-se com toda a força em cima da porta, e gritando, com esperança de que alguém a ouvisse.

"Ah, e você...", e foi aproximando-se dela. "Você, Lullaby, será a nova estrela Usuki. Já até sei como vou te chamar. Lullaby, a Usuki estrela."

A Poogle sentiu uma sensação estranha, como algo estivesse saindo de seu corpo, e viu que o chifre de Heaven era, agora, a única fonte de luz do lugar. Olhou para as próprias patas, e viu que estava desaparecendo. Sua alma estava sendo roubada.

"Por favor, pare!", e com suas últimas forças, gritou. "Deixe-me ir!” ·.

Mas isso não aconteceu, e Lullaby não sentiu mais nada. Tinha sumido. Sua alma agora estava com o vendedor, apenas esperando para ser depositada em uma boneca, criando, assim, uma boneca Usuki.

De longe, o vendedor ouviu o barulho de passos. Um novo cliente se aproximava, uma nova vítima surgia.

"Essa foi muito fácil, quero algo mais desafiador, agora.", ligou a lanterna novamente, e mirou nas três criaturas. "Calma, a hora de vocês vai chegar, assim com a da pequena Lullaby já chegou. Vocês ganharão novos corpos, um novo visual, uma nova vida. Agora, deixem-me atender a próxima vítima."

Desesperados, os seres começaram a gritar o máximo que podiam, mas foi inútil. Heaven - ou seja lá qual for o outro apelido que ele daria para a nova vítima - saiu do lugar escuro, e trancou a porta. Novas almas para serem transformadas em bonecas Usukis o esperavam.