Elisabeth

Selei o cavalo e segui desenfreada pelas terras ao redor do rio, eu era uma das poucas mulheres que cavalgavam nos dias de hoje, na opinião de todos, mulheres deveriam apenas costurar e treinar hábitos caseiros para se transformarem em belas esposas, bobagem na minha opinião, eu era diferente de todas elas.

Nunca cheguei a conhecer meu pai, minha mãe me dizia que ele era um forte guerreiro e que fora servir na Muralha, os guerreiros que entravam na Patrulha da Noite nunca mais retornavam para casa e foi o que aconteceu com meu pai, não sei se está vivo ou morto, a única coisa que sei a seu respeito é seu nome: Benjen Stark. Minha mãe morreu quando eu tinha menos de dez anos de idade, foi assassinada perante todos do cidade de Westhold pelo Rei Robert Baratheon por ordem de sua rainha, Cersei Lannister, eu nunca soube direito o que minha mãe fizera, eu só sabia que de alguma forma ela havia insultado a rainha. Depois disso, como se não bastasse a covardia, a rainha Cerseil ainda exigiu que eu fosse a prometida de seu filho, o príncipe Joffrey, não tenho a mínima pretensão de desposar aquele príncipe, por isso me mantenho o mais longe que posso de Porto Real, me escondendo( segundo o que alguns dizem) nas profundas florestas de Westhold.

Cavalguei o mais depressa que minha égua prateada conseguiu, eu adorava sentir os ventos dos campos em meus cabelos antes de mergulhar profundamente na imensidão escura da floresta dos lobos, divisa das terras de Westhold e Winterfell.

A tarde estava calma, apenas os pássaros faziam roídos enquanto eu desmontava Jessie e permitia que ela fosse beber água no rio gelado próximo a nós. Fiquei observando as árvores ao redor, mesmo parecendo sombria aquela floresta sempre me transmitira muita paz. Sentei ao pé de uma das minhas árvores favoritas apreciando o som das folhas embaladas pelo vento.

–Socorro!

Escutei alguém gritar, ou tentar, pois a voz parecia muito baixa. Fiquei de pé olhando ao redor e de imediato levei a mão ao cabo da espada desembainhando-a, era sempre bom ficar alerta.

–Socorro.

Segui o barulho olhando ao redor, tudo estava escuro, mas eu conseguia ver nitidamente algo se mover para além dos arbustos curtos, me aproximei rapidamente quando percebi que era um garotinho de no máximo dez anos de idade.

–Me ajude. – ele falou antes de cair ao chão.

Me aproximei e me ajoelhei ao seu lado, seu rosto estava sujo e marcado por ferimentos, mas algo além disso me chamou a atenção, ele carregava uma espada fina e curta em mãos, manchada de sangue, com certeza se defendera de alguma coisa.

O segurei no colo afastando os cabelos longos do seu rosto de criança e de imediato percebi o erro que havia cometido, não era um garoto, era uma menina.

Fiquei de pé com ela em meus braços, mas quando dei o primeiro passo para leva-la na direção do castelo de Westhold, me deparei com um par de olhos amarelos que queimavam intensamente na escuridão, dei um passo para trás, mas parei de recuar no instante em que vi do que se tratava, era um lobo, um lobo gigante que aparentemente estava protegendo a garotinha que eu carregava.

–Só quero ajuda-la. – falei encarando o lobo nos olhos, ele ficou me olhando durante alguns segundos e depois saiu do caminho para que eu seguisse o meu.

Voltei para a beira do rio, com a garota nos braços e o lobo gigante em meu encalce, subi na Jessie, que a principio pareceu muito assustada com a presença do grande canino e parti para o castelo, galopando o mais rápido que conseguia, ainda sendo seguida de perto pelo lobo gigante.

–Steven preciso de ajuda! – gritei ao desmontar Jessie e correr castelo adentro ainda com a menina desacordada em meus braços.

–Pelos sete deuses minha senhora, o que está havendo? Quem é esta criança?

–Não acha que se eu soubesse já teria lhe dito? Vamos Steven, quero que providencie alguma das criadas para cuidar desta criança.

–Não é prudente mantermos alguém que não conhecemos dentro do castelo senhora.

Eu o encarei, aquele velho por vezes se tornava um tanto quanto imbecil.

–Acho que nossa hóspede não está em condições de se defender senhor Steven e se não te lembras, sou uma das melhores espadachins dos Sete reinos, não creio que uma criança como esta vá ser ameaça para mim, agora ande, faça o que lhe disse!

Ele saiu carregando a garota nos braços enquanto eu observava a espada que ela carregava, era de uma leveza encantadora, parecia realmente ter sido feita para ela.

A loba gigante permaneceu ao meu lado, olhando ao redor como se estivesse fazendo algum tipo de reconhecimento no território, era aquilo que os lobos faziam e eu sabia bem disso, sempre tivera uma queda por lobos, e não era atoa, já que o emblema da casa do nome de meu pai, os Stark era um lobo gigante.

Alguns dias se passaram sem que a nossa pequena hóspede acordasse, a loba ficava sempre ao pé de sua cama e eu também, em uma vigília constante sem saber o que esperar, curiosa demais a respeito de sua identidade para deixá-la sozinha, aquilo estava me consumindo.

–Senhora? – escutei uma voz doce em um dos meus dias de vigília ao lado da cama da menina desconhecia, quando abri os olhos vi dois grandes olhos azuis me olharem de perto, ela estava sentada na cama, a expressão indagativa, mas contente ao mesmo tempo, a loba gigante estava ao seu lado e a garota fazia-lhe festa nos pelos cinza escuros. – está acordada?

–Estou. – falei esfregando os olhos e olhando-a firme. – quem é você menina?

–Desculpe, sou Arya Stark, filha de Eddard Stark e...

–Sei quem são seus pais. – falei antes que ela terminasse.

–Ow me desculpe. – ela falou ficando de pé com a loba em seu encalço. – ás vezes esqueço que meu nome é conhecido.

–O que fazia sozinha na floresta? Perdeu-se de seus pais em Winterfell, quer dizer, de sua mãe já que sei que teu pai está...

–Em Porto Real, ele é a mão do rei. – ela falou e eu percebi algo, a pequena Arya Stark não sabia o que havia acontecido a seu pai em Porto Real. – conhece meu pai?

–Na verdade...

Antes que eu terminasse a loba gigante se aproximou de mim e começou a lamber os dedos de minha mão com delicadeza, Arya pareceu estranhar.

–Nymeria nunca gostou de ninguém que não fosse eu. – ela falou observando a loba. – quer dizer, eu e meus irmãos.

–Nymeria lindo nome. – falei sorrindo. – nome forte.

–Pois é, mas não sei como se sente a vontade com você.

–Acho que ela reconhece meu sangue.

–Como assim?

–Somos parentes pequena Arya, me chamo Elisabeth Stark, sou..

–A filha perdida de tio Benjen? – ela falou assustada. – não é possível.

–É sim, é tão possível que estamos conversando agora mesmo.

Ela sorriu, correu e me abraçou forte.

–Não acredito que reencontrei uma prima em meio a toda esta confusão.

–Em falar em confusão Arya, por que estava sozinha pela floresta? Se perdeu nas matas de Winterfell?

–Como eu queria que tivesse sido fácil assim, mas não, estou vindo de Porto real.

Era muito longe, uma distancia consideravelmente grande, Arya me contou que estava fugindo, falou que a rainha havia assassinado a loba gigante de sua irmã Sansa por causa de algo que Nymeria havia feito ao príncipe Jofrey na tentativa de ajuda-la, ela também segredou que estava com medo pela vida do pai e que Porto Real não era mais seguro para um Stark.

Fiquei impressionada com tudo o que ela me contou e prometi que a ajudaria a se esconder, já que o reino inteiro estava atrás dela e de sua loba. Preferi não contar o que eu sabia sobre Eddard Stark, não por enquanto pelo menos, a pequena Arya parecia muito frágil ainda.