"O que disse?!" Levantei a aba do chapéu que estava cobrindo meus olhos.

"Tris Collins!" Ele repetiu com o mesmo entusiasmo de antes.

Revirei os olhos.

"Depois disso!"

"Hmm..." Brandon fixou o olhar em mim de um jeito muito constrangedor.

"QUAID!"

"Bem-vinda à tripulação! Sim, é isso!" Pegou minha mão e me rodopiou uma vez.

"Ok, e o que demônios faz você pensar que eu vou me juntar à tripulação de um bêbado que conheci hoje?!" Me soltei dele e fiz menção a tirar meu chapéu, mas sua mão foi mais rápida.

"Por causa disso aqui." Ele me puxou pelo braço, revelando uma marca arroxeada onde os dedos do brutamontes da marinha haviam sido fixados. "Você não me escapa, Tris Collins." Inclinou a cabeça para frente, mordeu a aba de seu chapéu que ainda estava em mim, jogou-o pra cima e ajeitou-o quando ele caiu em sua cabeça.

"Como você pôde saber disso?!" Dei dois passos rápidos para trás e cobri o machucado com a manga da blusa.

"O nome dele é Wes, tenente, capitão, guarda, alguma coisa pomposa da marinha. Era um pirata dos bons, mas agora é uma espécie de cão farejador dos âncoras.'' Âncoras. Essa era uma gíria muito usada naquela região para chamar aqueles que serviam à marinha. ''Achei que ele viria atrás de mim, mas só me dei conta de que ele não estava junto aos outros quando virei na rua da hospedaria."

"Então ele ajuda a achar piratas?"

"Basicamente. Mas não se preocupe com isso, pagando a quantia certa na hora certa ele se esquece de você até que seu navio esteja bem longe da costa."

"Brandon, você realmente acha que eu vou me tornar uma pirata?"

"Primeiro de tudo: " Seus olhos verdes escureceram um pouco e sua expressão ficou sombria. "Não. Me. Chame. De. Brandon. Bran, Brand, Don, o que quiser, menos Brandon." Sua expressão abrandou e se tornou um sorriso. "E segundo: Você não tem escolha."

Fiquei abismada com a certeza com que ele dizia que eu não tinha escolha, gostaria de poder falar com metade daquela confiança e ainda ter um sorriso no rosto.

"E você pode me dizer exatamente o porquê da minha falta de escolha?"

"Achei que nunca fosse perguntar." Seu sorriso se alargou, mostrando quase todos os seus dentes. Ele fez uma grande mesura e tirou de um bolso dentro de sua camisa azul um papel dobrado em quatro. "Eu lhe apresento..."

Desdobrou o papel, onde se lia: PIRATA PROCURADA. MONSTRO SANGUINÁRIO. Logo abaixo dessas palavras delicadas e singelas havia uma imagem. O meu rosto. O cabelo um pouco mais escuro e com algumas cicatrizes, mas eu estava lá.

"Anne Hawk. Rainha dos Mares. A Dama de Vermelho. Banshee dos Oceanos."

Não sabia quem ela era, mas pelo meu pouco conhecimento sobre piratas, imaginava que deveriam se referir à ela com admiração e respeito, era a Rainha dos Mares, não é? Mas isso não acontecia com Brand. Sua boca torcia-se a cada palavra sobre Hawk, seus olhos eram verde claro com um brilho que parecia ser capaz de perfurar uma parede de metal e veneno parecia pingar de sua voz.

"E minha gêmea perdida." Completei.

"Quanto azar..." Brand balançou a cabeça negativamente enquanto buscava por algo em seus bolsos. "Ter o seu rosto pintado por toda a região e logo abaixo dele uma recompensa absurdamente alta para quem quer que leve a sua cabeça." Ele tirou um fósforo do bolso e acendeu-o. "Anne Hawk. Tris Collins. As pessoas antes não prestavam muita atenção em você, mas Wes certamente avisou a população. Cabelos castanhos, olhos azuis como o mar, beleza de sereia e maldade de um demônio." Ele olhou diretamente pra mim e um brilho que só pude tomar como insanidade devorou seus olhos. "Bem-vinda ao mar, Collins."

O papel ardeu em chamas. O fogo subiu pela imagem de Anne Hawk e enegreceu suas feições até queimá-la por completo. Eu sabia que era assim que eu terminaria se me olhassem um pouco mais de perto. Sabia que qualquer mal entendido resultaria em morte. Sabia que eu estava irremedievalmente cativada pelo pirata insano em minha frente. E a soma de todos esses conhecimentos resultou em uma certeza sólida como uma rocha:

Eu iria me tornar uma pirata.