Aprecie o Silêncio escrita por MyKanon


Capítulo 7
VII - Você não compreende, oh, minha garotinha?




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Palavras como violência, quebram o silêncio
E vem se chocar com o meu pequeno mundo
É doloroso para mim, elas penetram em mim
Você não compreende, oh, minha garotinha?

 

Felipe estava sobre ela, ainda a beijando calorosamente. Parou por um instante para encará-la. Saiu de cima da moça e abraçou sua cintura.

_ Não faça isso comigo novamente Audrey.

_ Espero não ser necessário.

Estavam deitados um em frente ao outro, separados apenas pelo fino lençol. Felipe a puxou para mais perto ainda e perguntou:

_ O que a impede de vir comigo agora?

_ Nada Felipe... Nada. Eu só os deixarei avisados. E pegarei meu dinheiro.

_ Hum. – Felipe ficou sério.

_ O que foi?

_ Você se envolveu com algum deles?

Audrey parou para pensar. Dormir apenas uma noite com alguém, chegava a ser envolvimento?

_ Droga Audrey... – lamentou Felipe.

_ Eu não me envolvi Felipe...

_ Mas alguma coisa aconteceu.

_ Sim, alguma coisa aconteceu... Mas não foi sério... Eu só estava triste, com raiva por você ter voltado. Eu não sei. Eu estava vulnerável...

Felipe ficou quieto, apenas encarando-a.

_ Me desculpe Felipe... Mas eu só queria te esquecer. Foi a maior besteira que já fiz até agora.

Felipe a abraçou apertado.

_ Vou cuidar de você daqui em diante.

Voltou a beijá-la. Em seguida, Audrey aninhou-se nos braços dele. Ele era o único que podia protegê-la. Inclusive dela mesma.

_ Eu te amo Felipe.

_ Eu também te amo meu amor.

Audrey sentia-se aliviada como nunca antes. Estava com Felipe, estava grávida, viveriam juntos. Logo se casariam. Nada mais poderia dar errado em sua vida.

Foi com muito esforço que se levantou para ir embora. Felipe tentou impedi-la, mas Audrey queria ir embora com ele o quanto antes, e somente depois de usar esse argumento Felipe a levou de volta a praia.

Audrey observou-o entrar em seu carro pelo retrovisor. Sentiu um aperto no coração, mas sabia que estava prestes a acabar. Forçou um sorriso e deu a partida. Deu uma breve buzinada enquanto deixava o local.

***

_ Adorável.

Vin a cumprimentou quando ela abriu a porta. Não parecia muito feliz.

_ Vin.

_ Não tem ninguém na sala de controle, me acompanha até lá?

_ Sim. Precisava mesmo falar a sós com você.

Audrey o seguiu até o andar de cima. Pensou que Vin se sentaria na mesa onde sempre acertavam os detalhes de cada caçada, mas ele não o fez. Caminhou até a janela e fitou o mar.

Audrey postou-se ao lado dele e fez o mesmo, escolhendo as palavras.

_ Você se lembra de Moacir Bertoncelo adorável?

Audrey o encarou surpresa. Não imaginou que ele fosse falar de trabalho. Voltou a fitar a praia deserta pela janela.

_ Ahn, sim... Presidente da empresa de ônibus.

_ Exato. Adiantaram o serviço para esta noite.

_ Hum.

Fizeram alguns instantes de silêncio. Quem começou a falar novamente foi Vin:

_ Mas sei que você não pode participar.

_ Na verdade Vin... Eu estou indo embora.

Audrey o encarou apreensiva.

_ Oh. Sim.

Vin se afastou da janela e caminhou de um lado a outro. Então ele parou e voltou a encará-la:

_ Certo. Mas por favor, traga a criança para que eu conheça qualquer dia desses.

Dizendo isso, abriu um sorriso amistoso.

Audrey não resistiu ao impulso. Correu e o abraçou. Não sabia dizer se estava muito feliz pelo encontro com Felipe, se a maternidade a estava deixando muito emotiva, ou se simplesmente estava agradecida.

_ Obrigada Heitor... Você salvou nossas vidas.

_ Não me agradeça Audrey! Mas por favor, também não nos esqueça!

Audrey o soltou e riu.

_ Mas como vou trazer meu filho para visitar um grupo de assassinos de aluguel?

Vin também riu.

_ Oras, por favor! Cuidaremos disso!

Audrey o fitou por alguns segundos, e sorrindo disse:

_ Claro Vin. Faço questão.

_ Agora por favor! Vamos parar com esse melodrama?

_ Finalmente, achei que não fosse me pedir isso!

Vin voltou a ficar sério. Disse em seguida:

_ E quando você vai?

_ Hoje.

_ Tudo bem.

_ E... Vou precisar de um dos carros.

_ Fique com o preto. É mais confortável para uma gestante.

_ Tá.

_ Eu queria enviar Rômulo e Alan na frente, e Victor iria comigo mais tarde, mas tudo bem, podemos nos reestruturar.

_ Não seja por isso Vin. Eu lhes dou uma carona. É o mínimo que posso fazer.

_ Hum... Bom, se é de tamanha boa vontade, sinto não recusar...

_ Não sinta mesmo. Te encontro mais tarde.

_ Ok.

Audrey deixou a sala de controle. Correu para seu quarto e começou uma mala com o mais importante. Algumas peças de roupas e produtos de higiene pessoal.

Ouviu batidas em sua porta.

_ Quem?

_ Sou eu, tia.

Audrey sabia que não podia ser ninguém além de Victor.

_ Você realmente é valente, não?

_ Não sabia que te ofendia. Mas uma hora você vai ter que encarar a verdade.

_ E um dia você vai crescer também... – arrependeu-se depois de dizer isso.

Victor limitou-se a olhar pra baixo, deixando evidente os vinte centímetros de diferença entre eles.

_ Certo. Mas maturidade não pode ser medida em altura meu caro.

_ Exato. Mas eu pego o achocolatado sozinho.

Audrey não conseguiu deixar de rir.

_ Você está bem Audrey? Você está sorrindo novamente, e está começando a me assustar.

_ Tenho algumas coisas pra você. Vem cá.

Audrey abriu passagem para Victor, que continuou parado na porta por uns instantes.

_ Er... Nós ainda não sabemos o que aconteceu com o último que entrou no seu quarto...

_ Está na sala de controle. Pois o último que entrou aqui foi o Vin. – Audrey disse evitando falar de César.

Victor seguiu o exemplo de Audrey e sentou-se na cama dela, com a mala entre eles.

_ Está de mudança?

_ Pensei que Vin tivesse te contado.

_ Ele até disse. Mas como ele é sempre muito figurativo, achei que fosse uma metáfora.

_ Pra você ver. Às vezes ele fala sério.

_ Poxa Audrey, justo agora que você estava ficando legal...

_ Não sei até onde ele te contou, mas... Eu estou grávida, e vou embora com o pai do meu filho.

Pela expressão surpresa de Victor, Audrey soube que Vin não chegara a essa parte.

_ Achei que você e Vin...

_ Não. Achou errado.

_ Mas vocês...

_ Sim, uma vez. Mas tá tudo bem. Essa é uma história para ele contar, se ele quiser. Mas o que eu queria, não era falar sobre minha vida pessoal! Tome.

Audrey estendeu uma pilha de livros para Victor.

_ Tem muita coisa de informática e eletrônica aí que eu nem cheguei a ler.

_ Wow! Obrigado Audrey, farei bom proveito.

_ Vin me contou que você vai com ele hoje.

Victor apoiou os livros nos joelhos.

_ Sim, vou.

_ Cuide-se então Victor. Sério.

_ Pode deixar.

_ E tente mudar de vida. Você é muito inteligente pra arriscar a vida desse jeito.

Victor ficou encarando-a em silêncio.

_ O que foi? – Audrey perguntou já incomodada.

_ Você já está parecendo uma mãe.

_ Vou tomar como elogio.

_ Você virá nos visitar de vez em quando?

_ Claro. Apesar de...

_ Apesar de?

_ De saber que você pode envelhecer.... Porém eu não posso mais crescer.

Victor riu.

_ Por favor, não se deprima Audrey.

_ Vou tentar.

_ Bom, então tenho que me preparar. Valeu pelos livros.

Victor se levantou. Antes que ele saísse, Audrey o chamou novamente:

_ Psiu! – baixou a voz e sussurrou – Os romances estão embaixo da cama.

_ Vou simplesmente te ignorar. – dizendo isso, deixou o quarto.

Audrey voltou a sorrir enquanto terminava sua mala.

***

Audrey parou o carro.

_ Bem, então... Aqui estamos nós.

Vin olhou o relógio de pulso.

_ Ainda faltam duas horas para a conferência. Ele deve estar no quarto.

Victor desceu do carro. Abriu a porta de Audrey e antes que ela pudesse se dar conta, a abraçou.

_ Se cuida guria. E traz o moleque pra gente ver.

_ Ah... Claro! Você também Victor! Pense no que te disse!

Depois fechou a porta dela novamente e correu para o hotel.

_ Eu que agradeço Audrey. – começou Vin.

Audrey arregalou os olhos surpresa.

_ Pelo que Vin?

_ Não quero parecer piegas, mas não há outra forma...

_ Forma do quê Vin? – agora Audrey estava ficando assustada.

_ Você trouxe um novo propósito pra mim.

_ Hã?

_ Oras, por favor não me faça repetir isso! Me recuso!

Audrey sorriu enquanto cobria a boca surpresa.

_ Vin! Você é sensível! – e riu.

_ Era melhor ter me calado... Mas enfim. Você nos fez um bem muito grande. Mesmo estando sempre mal-humorada. Esse vai ser nosso último serviço. Não tenho o direito de usar o potencial do Victor para causas tão infrutíferas.

_ Nisso eu devo concordar Vin. Cuide dele, ok?

_ Ok. Bem, então é isso. Sejam felizes.

Audrey deu um último abraço nele e ele desembarcou. Observou-o atravessar a rua e adentrar o hotel. "Pelo jeito, hoje não vai ser difícil entrar armado nesse estabelecimento luxuoso." Pensou a moça com relação à conferência.

Vin acabara de passar pela portaria e Audrey mal tinha tocado na chave para dar a partida quando seu celular tocou.

_ Felipe?

A voz dele era desesperada:

_ Onde você está Audrey?!

_ Ei! Calma! Trouxe os rapazes para o local de serviço deles, mas já estava indo embora...

_ Saia daí imediatamente! Por favor, tome cuidado!

_ O que está havendo Felipe? – Audrey sentiu sua pulsação aumentar.

_ É Moacir Bertonelo, não é?

Audrey também pôde sentir sua pressão diminuir drasticamente.

_ Como... Como você sabe Felipe?

_ É uma emboscada Audrey. Estão todos aí. Estão atrás de você Audrey!

Audrey apertou o ventre. Observou pelo espelho retrovisor. De repente, tudo parecia ameaçador. Até o carro estacionado poucos metros atrás.

_ Felipe...

_ Acalme-se meu amor! Fica calma! Escute... Acho que ainda não te viram. Saia daí imediatamente! Silenciosamente. Por favor, Audrey.

Audrey lembrou-se dos rapazes no prédio. Não era justo morrerem por ela. Eles estavam prestes a mudar de vida.

_ Felipe, vem pra cá.

_ Não, Audrey! Não! Você tem que sair daí!

Audrey não pôde mais contestar. Jogou-se no chão do carro quando ouviu vários tiros. O carro estacionado alguns metros atrás não era inofensivo como tentara se convencer alguns segundos atrás.

Audrey cobriu a cabeça, protegendo-se dos estilhaços do vidro que voavam em todas as direções.

Arrastou-se para o banco do carona e abriu a porta. Correu para frente do carro enquanto este era alvejado. Checou a munição de sua arma, mas sabia que seria loucura atirar contra eles. Então se eles estavam no carro, só precisava atravessar a rua e entrar no hotel para alertar seus companheiros.

Os tiros deram uma trégua, e foi então que Audrey precipitou-se pela avenida. Teve de desviar de um veículo e pular o capô de outro, pois os disparos recomeçaram.

Jogou-se contra a portaria do prédio e foi agarrada por dois seguranças em cada um de seus braços.

_ Mas o que está acontecendo?! – começou um deles.

Continua


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