Jogos Escolares escrita por Lucas Michelani


Capítulo 6
Mistérios


Notas iniciais do capítulo

Obrigado a você, leitor, que prestigia minha história. Você me dá forças para continuar a escrever!
Boa Leitura!
;*



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Chelsea

                Meu estômago ainda revirava ao lembrar todos os acontecimentos daquela tarde. Pensei em meus pais, indo viajar mais uma vez para o bolsão dois, o mais rico de nosso país. Eles me davam tudo, tudo menos carinho, afeto, consideração. Sempre prevendo o meu futuro e os lugares aos quais eu frequentava. Sorri à ideia de que desta vez eles não tinham como prever o que aconteceria comigo.

                -Tente dormir um pouco – disse Catherine encostando-se ao meu lado.

                -Eu já tentei – disse – tentei e tentei, mas não consigo tirar Charlie, Thomaz e Albino da minha mente – lágrimas mornas começaram a brotar dos meus olhos, porém, me obriguei a enxugá-las antes que esquentassem meu rosto.

                -Precisamos achar ele antes que prejudique mais alguém.

                -Que diferença faz Cathy! Nós o matamos, os outros nos matam. É melhor deixarmos os mais fortes fazerem o trabalho sujo.  E com alguma sorte, eles se matam.

                Nossas opções eram escassas, decerto, não poderíamos ficar ali para sempre. Após colocarmos a líder de pompom na Fenda, abrimos nossas mochilas. Contamos oito, com remédios, algumas bolachas, água, duas lanternas, dois pares de luvas, cordas, isqueiros e sacos de dormir. Além de alguns engradados de refrigerantes, saquinhos de batata e salgadinhos, doces, papel e caneta. De tudo o que tinhamos antes só nos restara isso.

                Abrimos 3 pacotes de salgadinhos, tomamos água e refrigerante e comemos doce. Parecia ser como em um acampamento perfeito se não houvesse uma traidora no poço do elevador e os tiros ribombando nos céus pra lembrar a gente de que nossos amigos morriam.

                Fiquei de fazer o primeiro turno e sentei perto da janela de nossa insegura sacada chupando uma bala de café pra me deixar acordada. Gabriella estava fechada no poço sem muito ar, Kile estava cuidando do ferimento na perna de Taylor em um sofá enquanto no outro estavam Catherine e Lian discutindo alguma coisa. Provavelmente ela estava pedindo para ele dormir antes de procurar Mack. Ficara combinado que era arriscado sair daqui, sendo assim o menor número de pessoas - Eu, Gabriella e Lian – deveríamos cumprir nossa missão imediatamente, se algo desse errado enquanto estivéssemos fora, deveriam deixar algum recado no quartinho do Cravo.

                Uma luz intensa no céu estrelado me tirou do meu devaneio, o hino dos Estados Unidos começou a tocar e a bandeira de nosso país apareceu no firmamento, em seguida rostos apareceram com as respectivas séries embaixo. Os mortos, os perdedores, os fracos. Todos se apinharam em volta da janela. Embora soubesse do espetáculo me surpreendi com os rostos indefesos que tiraram do carômetro. Minha garganta apertou após ver o rosto de Charlie, Thomaz e as duas outras vítimas de Albino. Lian fitava os rostos com lágrimas rolando pelas suas bochechas. E de repente o céu escureceu. Contei cem adolescentes mortos, Lian abriu um enorme sorriso e todos o abraçaram. Mack estava vivo e em algum lugar só teríamos que procurar. Antes que o tempo acabasse.

                Depois disso os outros foram dormir e fiquei chupando mais uma bala de café, até Kile pegar meu turno. Fiquei pensando em como eu incriminaria Gabriella, não tinha provas, isso era fato, sabia que Cathy e os outros acreditavam em mim, mas mesmo assim era palavra contra palavra. Lembrei de nossa briga na escadaria, passei a mão em meus cabelos, agora repicados e desiguais sobre meus ombros, e tive uma ideia.

                Acordei no meio da noite, entes de abrir os olhos ouvi alguns ruídos de conversa e decidi não fazê-lo.

                -Não podemos demorar mais, você sabe que se os outros acordarem só irão tardar a nossa saída.

                -Sim, eu sei, vamos então.

                -Abra a passagem, estou atrás de você.

                Eram Lian e Gabriella saindo sem mim. Tive vontade de levantar e taca-la na parede, mas resisti aos meus músculos contraídos pois precisava executar meu plano.

                Ouvi o barulho do duto sendo aberto e Lian entrando nele, passos na direção do armário e um barulho de latas e sacos de salgadinho, os passos foram para o duto e ouvi a portinhola sendo fechada. Não acreditava que eles haviam me largado sem mais nem menos, levantei com cuidado e olhei o relógio em cima do armário, eram três e meia. Daqui a pouco iria clarear e as lutas iriam ficar mais intensas; tinha que ir atrás deles.

                Atravessei o cômodo com o máximo silêncio, peguei a lanterna e fui até a Fenda. Me inclinei sobre o poço tomando cuidado para que meu cabelo não caísse e iluminei o fundo. Lá estava, a prova viva de meu duelo com a líder de pompom. Fios de cabelos ruivos manchados de sangue. Gabriella não era boba e se limpou das provas já que ia passar grande parte perto de Lian. Rapidamente peguei o papel e a caneta do armário e escrevi com letras garrafais: “Quem contou a verdadeira história? Olhem na Fenda”.  E em outro papel: “Procurem os fios ruivos da luta”. Coloquei o primeiro na porta do armário e o outro na tampa da Fenda. Peguei minhas luvas, minha mochila e minhas adagas e fui para os dutos. Dei uma boa olhada no Sótão e notei os armários vazios junto com uma bolsa faltando. Aquela maldita havia jogado tudo fora. Mas agora não dava tempo de escrever outro bilhete, tinha que procurá-los.

                Não foi difícil achar o rastro deles pelos labirintos dos dutos, o machucado que fiz no braço de Gabriella começara sangrar devido o esforço para se rastejar, assim, eles foram obrigados a ir para o alto, até o teto do prédio.

                Segui o rastro de sangue e após curvas tortuosas cheguei ao galpão das máquinas de ar condicionado, que estavam paradas. E encontrei os dois com suas armas apontadas direto para mim.

                -Olha! Será que eu encontrei os afobados?! – O rosto de Gabriella ficou branco, como se eu fosse um fantasma que viera arrastá-la – Acho que seu machucado está sangrando amor, quem fez isso com você? – disse fazendo beicinho.

                -Foi só um galho que me cortou – revidou.

                -Parece muito fundo para ser um galho, tá mais para uma flecha!

                -Chega vocês! Tá vendo Chelsea foi por isso que sai mais cedo, estamos aqui pra buscar meu irmão, se vocês vão ficar batendo boca deixa que eu vou sozinho.

                -Aaaah! Muito interessante você sair mais cedo e não avisar ninguém, nem acordar ninguém pra vigiar no seu lugar.

                -Eu... – ele olhou para Gabriella pedindo ajuda, não tinha sido ele. Fora ela quem tivera a ideia e ele aceitou, sem adversos, afinal, ele gostava dela.

                -Esquece Chelsea nosso problema agora é outro. Estamos com um obstáculo à frente.

                Fui até a parede onde eles se agachavam e olhei por entre os vãos da cabana de metal, estava muito calor e eu estava suando, mesmo para uma madrugada de outono. Lá fora se encontravam cinco meninos, todos veteranos, uns tinham cabos nas mãos e outros mexiam com um pequeno aparelho.

                Discutimos um pouco e resolvemos ir pela beirada do prédio, nos escondemos entre os tubos e lajes. Do outro lado havia mais uma casinha, que dava para a tubulação do teatro, o qual pegaríamos para descer até a Cornucópia. Gabriella ia com Lian e eu sozinha.

                Lian ficou observando e sinalizou para eu sair. Mesmo com a luz opaca da madrugada os meninos tinham três lanternas e a chance de nos verem era grande, minhas facas estavam prontas caso as precisasse.

                Fui rastejando colada à parede, um movimento de cada vez. Como estava perto da casinha ouvi Stanfield e Lian saírem. Fiquei pensando se à uma hora dessas Catherine não estava acordando os outros para verem meu bilhete. Os canhões não cessavam. Éramos oitenta agora, e aquele número quatro não saia da minha cabeça. “só quatro de vocês serão os vencedores” dizia o professor, já tínhamos perdido um amigo, mas mesmo assim sobravam cinco de nós, alguém teria que morrer, se não fossem todos.

                Olhando para o chão em meio aos meus pensamentos não ouvi o garoto na minha direção desenrolando um fio até ele se encontrar a poucos passos de mim com uma lanterna. Desesperada, rolei para debaixo de uma tubulação e lá me encolhi. Poucos segundos depois a lanterna iluminava o lugar onde me encontrava. O garoto estava tremendo, sabia quem ele era; magro de cabelo enrolado e castanho, alto. O fio era de uma cor vermelha parecia até... Ele parou e rodopiou em todas as direções, devia ter visto algum rastro de poeira no chão, sua lanterna estava se virando para mim quando um forte barulho veio do outro lado. Poderia ser Lian, mas talvez outro garoto. O menino deu alguns passos para frente e esperou alguma ordem, ouvi gritos e barulhos metálicos, eles foram descobertos.

                Tirei uma faca e em um movimento só cortei fundo a parte de trás do joelho direito do menino, ele fez menção de cair para trás, mas sai do meu esconderijo e o segurei travando seu braço atrás das costas, dei uma rápida olhada na situação. Lian lutava com dois meninos; com lança e espada. Um outro estava caído com adagas no rosto e o quarto se voltava para mim, não achei Gabriella. O quarto atirou seu tridente em mim, mas joguei o garoto de cabelo enrolado na frente dele servindo como escudo. Quando minha mira ficou aberta Stanfield saiu das trevas e rolou com ele para perto daquele dispositivo. Ajudei Lian atirando duas facas no garoto de lança, as duas foram parar nos ombros dele; estava melhorando a pontaria. Lian venceu o outro e Gabriella também. Estávamos ótimos tirando os ralados, Lian com o abdômen um pouco furado e a ferida de Gabriella sangrando como nunca. Ela estava meio branca, perdendo muito sangue. Achei uma maravilha. Estávamos realmente bem.

                -Aquilo era uma bomba – disse.

                -Eu sei, eu já a desativei – fungou Gabriella.

                -Melhor dar uma olhada – garantiu Lian se dirigindo até o dispositivo a uns 2 metros de nós, embaixo do veterano morto.

                -Não, Lian, não devemos demorar mais, está quase clareando.

                Concordamos e fomos andando, mas, a medida que o silêncio tomava o lugar comecei a ouvir um tic tac estranho.

                -Vocês ouviram isso? – disse,entretanto,  no mesmo momento um tiro foi dado, deveria ser do moleque com as adagas no ombro, após isso não ouvi mais nada. Eles balançaram a cabeça em negativa e deixamos para lá. Conforme fomos para o corredor pensei em como tinham conseguido uma bomba com todas essas armas nada contemporâneas.

                Descemos os dutos até chegar a Cornucópia cor de cobre detrás do teatro, como era de se esperar veteranos estavam cuidando dos suprimentos além de outros mais fracos que se dividiam em grupos de quatro e iam fazer rondas. Doze no total; duas rondas e quatro na Cornucópia.

                -Parece que o último ano inteiro se juntou! – falei olhando para Stanfield, ela pareceu chocada, nojo.

                -Foram os times de basquete e futebol, você não viu nenhuma líder ainda.

                Continuei encarando ela até que ela desviasse o olhar.

                -O que fez com que eles percebessem nossa presença lá em cima?

                Eles se entreolharam e Gabriella disse que tinha batido a cabeça, eu realmente esperava que nascesse um galo enorme na cabeça dela, mas sabia que era só encenação.

                -Vamos contornar por entre as árvores, acho que a patrulha está suficientemente longe da Cornucópia agora.

                Fomos um atrás do outro, agachados, nos escondendo nas moitas, o Sol começava a lançar seu raios no chifre cor de cobre e iluminava parcamente ao redor, Lian suava, cada passo nos levava mais ou menos até o verdadeiro destino, estávamos as cegas, não restava dúvidas de que Mack estava nessa área mas será que correra para as árvores ou para outro lugar? Conforme nos movíamos os tiros ficavam cada vez menos espaçados. Depois da Cornucópia uma longa faixa de árvores se opunha até o lago, que era em um terreno mais baixo do que onde os prédios ficavam, como uma pequena colina, mas nas árvores essa diferença era mais abrupta.

                Paramos um pouco pois ouvimos a patrulha. Lian ergueu a cabeça e localizou o grupo a alguns metros de nós, à nossa direita. Andamos rápido até não vermos mais eles. Chegamos em uma clareira e nos escondemos. Tomamos água e comemos algumas bolachas para o nosso desjejum.

                -Não tem ninguém por aqui! – disse Lian colocando a cabeça entre os joelhos em um último esforço de esperança.

                -Não iremos desistir Lian – eu disse e segurei sua mão, tinha um grande apreço por Lian, ele era uma ótima pessoa e ficar ao lado dele nesse pesadelo me colocava no chão um pouco.

                Ficamos um pouco em silêncio e ouvimos um “shh” baixinho, viramos até o som e um menino rechonchudo de cabelo e olhos escuro nos fitava abanando o braço.

                -Miles – choramingou Lian.

                 Fomos ao encontro do menino que segundo Lian estava junto com Mack na Cornucópia. Lian deu um grande abraço nele e perguntou onde seu irmão estava.

                -Oh eu não sei Lion foi tudo ton terrível, eu não entendo o que estão fazendo aqui com a gente mas eu estava do lado do Mack – ele falava rápido e como se tivesse algo na boca – fonmos para a floresta e nos escondemos em alguns buracos de coelho pra lá – e apontou – umas pessoas estranhas ficaram procurando por tonda a floresta mas colocamos umas moitas na frente – ele tomou fôlego – o Jordan tá lá a Fabi tá lá o Aslen ta lá mas os outros não acharam seguro e o Mack também não então desceram a montanha e foron pra...

                Seus olhos se arregalaram e ele tossiu sangue. Uma flecha estava emperrada em seu pulmão, Lian o segurou antes de cair enquanto eu lançava uma faca em um menino da patrulha que tinha nos seguido. A arma acertou a axila do garoto, uma mira imprecisa comparada a Gabriella que lançou duas, ambas se alojando no tórax.

                -Aonde eles foram Miles, aonde eles foram!

                Miles, prestes a morrer, em um último esforço apontou o dedo e o seguimos. Por entre as árvores vimos a arquibancada direita do grande campo de futebol, o lago e sua Cornucópia no meio, o grande bosque, agora sem as cercas que dividiam a escola e no meio desse se elevava um grande aerodeslizador roxo tombado.


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Notas finais do capítulo

Será que os amigos de Chelsea entenderam o bilhete? O que está por trás do grande aerodeslizador abatido? Mack se esconde nele? Continuem lendo e mandando suas dúvidas, elogios, sugestões e críticas, aqui ou no twitter @luucaszm e o tumblr cheersforthem.tumblr.com
Comentem e até a próxima!!!



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