O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou meio grande, espero que não cansem.



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Hoje é o desfile dos tributos, e eu vou assistir Catnip na televisão. Esse desfile se baseia em você usar alguma a coisa que tenha a ver com o seu distrito, no nosso caso, o carvão. Geralmente o distrito 12 está sempre exposto com picaretas nas mãos e poeira espalhada no corpo, alguns anos eles ficam pelados e cobertos de fuligem. A imagem do filho do padeiro nu ao lado de Katniss não me conforta. Ainda mais com toda Panem assistindo.

Eu passo pelo buraco na cerca que fica perto de casa. Preciso me empenhar mais caso queira patrocinar Catnip.

Preparo algumas armadilhas e vou caçar. Consegui um peru selvagem e o penduro em meu cinto. Continuo procurando. Um peru selvagem seria carne o bastante, já que o Chefe dos Pacificadores adora. Mas agora a situação é outra. Eu faço o que costumo fazer sempre que estou pensativo. Subo em uma árvore e espero a caça passar por mim. Costumo conseguir menos com isso, mas o número de armadilhas que espalhei me ajudará. Relembro todos os truques que aprendi. O açougueiro adora coelhos. Costumo vender apenas um ou dois coelhos para ele, já que no Prego eu tenho a vantagem da negociação. O açougueiro não negocia. Ele diz o preço. Você aceita ou vai embora. Mas ele é justo e até generoso até o ponto que uma pessoa do Distrito 12 pode ser.

O padeiro adora esquilos. Mas eu não acho que ele vá comprar, deve estar como eu, vendendo pães e economizando no que pode para ajudar seu filho. Mas não custa nada. Caso alguma armadilha tiver um esquilo, aquela é a primeira porta na qual vou bater.

O prefeito adora morangos. Madge também. Posy também. É engraçado o jeito com que me lembro de Madge, mesmo não conversando com ela direito.

Atiro em um pássaro. É muito magro. Mas não posso simplesmente deixa-lo ali depois de morto. Sempre há alguém disposto a negociar.

Sei que Darius costuma comprar amoras, mas não é grande fã delas. O motivo de ele comprar é uma garota loira e sorridente, que na maioria das vezes mantém o cabelo preso em uma trança. Esqueci o nome. Mas penso que talvez Darius quisesse fazer uma surpresa a ela.

O pássaro magrelo é tudo que eu consigo. O fato é que não estou conseguindo caçar tão bem quanto antes. Talvez ter que andar com os olhos por cima do ombro para não levar uma surpresa ajude. A falta de Katniss também.

Ignoro meus pensamentos e vou até o canteiro dos morangos. Percebo que um Tordo faz um ninho em uma árvore e não consigo deixar de sorrir. Katniss diz que o pai dela adorava Tordos. Não que eu soubesse muito mais sobre ele. Ela é fechada com relação a esse assunto, e eu sou assim com ela também.

Meu pai se chamava Kern. Era igual a qualquer habitante da costura, cabelo preto e olhos cinzentos. Possuía um senso de humor admirável para quem está prestes a morrer de fome. Alto e forte, o tipo de pessoas que trabalha nas minas. A morte dele me mudou muito. Não só porque eu era o homem da família a partir dali, mas porque eu perdi o único herói que eu tive. Eu precisei me tornar meu próprio herói. E herói da minha mãe e irmãos. Herói por aqui significa trazer comida no fim do dia.

Ele me ensinou a montar armadilhas e me ensinou a mexer em seu arco, já que não conseguia fazer um para mim. Poderia ter pago a alguém para construir um, mas é perigoso. Pense que os pacificadores só nos permitem caçar para conseguir comida. Mas não permitiriam armas sendo distribuídas.

Passo pelo pequeno cercado que fizemos. Colho apenas os mais maduros, já que o prefeito comprara morangos há pouco tempo. Coloco-os em uma pequena sacola e não resisto a tentação de pegar alguns. Ao morde-los, percebo que mesmo com os morangos sempre ao meu alcance eu quase não os como. O Sol indica que já é quase fim de tarde, isso significa que eu tenho que me apressar.

Vou até um arbusto de amoras e vejo se são comestíveis. Esse tipo de amoreira tem o fruto comestível, mas as folhas têm veneno. Colho poucas, pois não tenho certeza se Darius as comprará.

Checo as armadilhas. Termino o dia com cinco coelhos, amoras, morangos, um pássaro e um peru selvagem. Rezo para não encontrar o chefe dos pacificadores bêbado.

Ao passar pela cerca, vou até o açougue e vendo dois coelhos a Rooba. Os outros três eu levo ao Prego e vendo a três pessoas diferentes. O pássaro eu vendo a velha que vende bebidas, e não por coincidência avisto Cray, o chefe dos pacificadores com uma garrafa na mão.

-         Não prefere trocar por uma garrafa?

-         Você sabe que não, Cray.

-         Bom, quem perde é você. O que tem pra mim?

-         Um peru selvagem. E ai?

-         É, depois de beber tanto eu preciso comer, não é?

Vendo o peru por um ótimo preço, faço uma nota mental de procurar vender a Cray enquanto ele bebe. Agora é a hora de vender as amoras a Darius.

-         Hey, Darius.

-         Hey, Gale. Sinto muito por Katniss.

Evito o assunto, isso é algo que eu evito o dia inteiro e não quero retomar agora.

-         Quem é a loirinha?

-         O que?

-         A loirinha que está sempre com uma trança. Quem é?

-         Uma amiga, por que?

-         Curiosidade.

-         Conheço esse tipo de curiosidade, Gale.

-         Eu notei que vocês sempre conversam, só. Ela gosta de amoras, não é?

-         Aham. Você tem ai?

-         Tenho.

Consigo vender as amoras a Darius por um preço razoável e ele me pede mais da próxima vez. Acho que eu consegui minha vingança de seis meses atrás.

Agora vem a parte mais difícil. Bato na porta dos fundos da casa do prefeito e Madge atende.

-         Oi.

-         Oi. Tudo bem?

-         Mais ou menos. Quero te pedir desculpa pelo dia da colheita. Eu fiquei irritado não sei com o que, mas não foi por sua culpa e eu descontei tudo em você.

-         Ok. Trouxe morangos?

-         Claro. Alguma vez eu esqueci?

Ela ri. Talvez já tenha me perdoado.

-         Eu vou te ajudar, Gale. Ela é minha amiga também e vou fazer de tudo para trazê-la de volta.

Fico sem qualquer reação, eu nunca via Katniss com ninguém exceto Madge. Até o dia da Colheita pensei que fosse porque elas duas não eram muito de conversar, talvez Madge fosse mais do que eu penso.

-         Ok. – Eu entrego a ela os morangos e ela me dá um sorriso de volta. Coloca o dinheiro na minha mão, e diferente do que qualquer outro dia, me dá um beijo na bochecha.

Volto para casa pensando se fiquei tão vermelho quanto os morangos quando ela fecha aporta.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam, sem reviews, sem capítulos novos, HÁ!