Katniss e Peeta se entreolham e em uma questão de segundos, Peeta faz o que já era esperado:

- Não. Você não vai arriscar sua vida por mim.

- Quem disse que arriscaria?

- Você não vai? – Pergunta Peeta, com tom de alívio evidente na voz.

- É claro que não. Vê se me dá algum crédito. Não vou para um vale-tudo com a Clove, o Cato e o Thresh. Não seja idiota. Vamos deixar eles brigarem e depois vãos ver quem aparece no céu esta noite. E então, traçaremos um plano.

- Você mente tão mal, Katniss. Não sei como sobreviveu tanto tempo. – Não que uma coisa tivesse relação com a outra. – Eu sabia que aquela cabra seria uma mina de ouro. Mas está menos quente. É claro que não. – Conclui ele, imitando a voz de Katniss de forma patética e, desconsiderando as circunstâncias, hilária.

- Tudo bem, eu vou! E você não vai me impedir! – Grita Katniss, com o rosto enrubescido.

- Além de estar se arriscando em uma caverna como esconderijo, vai se jogar de bandeja para os tributos mais fortes. Por causa de Peeta.

- Posso te seguir. Pelo menos até a metade do caminho, ai eu grito seu nome. Alguém vai me achar, e então estarei morto com certeza.

- Você não anda nem cem metros com essa perna.

- Então eu me arrasto. Você vai, e eu também.

- O que devo fazer então? Ficar sentada e assistir a sua morte? – Diz ela, com a voz chorosa.

- Eu mesmo estranharia se ela nem ao menos tentasse.

- Eu não vou morrer. Prometo. Se você prometer não ir.

- Então você vai fazer o que eu disser. Comer quando eu disser, beber quando eu disser, e sem reclamar! Vai comer toda a sopa por pior que ela esteja.

- Eu aceito. Ela já está pronta?

- Espera aqui.

Ela dá a sopa a ele e Peeta começa a lamber os beiços, dizer eu a sopa está deliciosa, e depois começa a falar coisas sem sentido, como um bêbado antes de desmaiar – Sei disso por contas das experiências com Cray e Haymitch. – e toma mais um remédio para febre.

Enquanto ela lava o pote na água, um paraquedas flutua a seu lado, mas ela só percebe quando ele bate em suas mãos. O remédio de Peeta. Quando eu disse que Prim era a chance de ouro de Katniss, não brincava. Graças a ela deve ser possível comprar esse remédio. E a mim. Por mais que não goste de Katniss e Peeta juntos, eu nunca desejaria que ele morresse. Que ninguém morresse.

Mas não. O líquido rosado e grudento é xarope do sono. Comum no distrito. Na verdade, barato e causador de dependências. Existem boatos que o primeiro vencedor do distrito 12 só dormia graças a isso. Proporciona uma noite sem sonhos e tranqüila, perfeita para pessoas com insônia.

Katniss mistura o remédio com as amoras de Rue, e já até posso sentir o gosto extremamente doce que o remédio tem, e mais as amoras. Depois de uma conversa melada, Peeta come a “sopa” de “amoras de olmeiro”. Após a última colherada, ele faz um comentário inteligente.

- Parecem com... Xarope.

Peeta arregala os olhos e coloca os dedos na boca, forçando vômito, mas a inconsciência toma conta de si e o peso de Katniss – que colocou a mão sobre sua boca – não permitem. Ele apenas olha surpreendido para Katniss e adormece.

Nas horas seguintes até o meio da noite, Katniss camufla a entrada da caverna com pedras. O problema é que, apesar de ninguém conseguir entrar com facilidade – talvez Foxface, que emagreceu mais do que qualquer um – ninguém consegue sair. Isso quer dizer que, caso Katniss não volte do ágape, Peeta também não voltará.

Ela limpa as arma,s enche os contêineres de água e os purifica. Logo depois, ela come e vai se deitar. Só Deus sabe o que vai acontecer amanhã.

Deito na cama e fecho os olhos. Mas nada tira da minha cabeça que essa será uma das piores noites da minha vida.

As aulas foram suspensas devido ao evento importante para acontecer nos Jogos. Levanto logo cedo e olho pela janela: O telão está ligado. Em pouco tempo teremos, segundo Claudius e Caesar, uma exibição ao vivo da Ágape. Troco de roupa e saio de casa para ir até a praça. Prim e sua mãe estão lá, e recebem comida do padeiro, além de apoio. Vaias e gritos começam quando Cato e Clove se mostram na tela.

- Eu participo do Ágape. Você corre atrás de quem escapar.

- Vamos inverter as posições, eu sou melhor no combate corpo a corpo.

- Cato, - Clove fala lentamente, como se explicasse a uma criança seus motivos – se a pessoa pegar sua mochila, você pode não ter tempo de alcança-la. Aquela menina do 12 é muito rápida. Se algum tributo mais forte aparecer, você vai precisar chegar mais perto. Eu, não. Por isso você só pega os que fugirem e que eu já vou tratar de ferir.

Cato se cala e limpa silenciosamente sua espada com a ponta da camisa e os dois se abraçam antes de Clove dormir e Cato ficar de guarda.

A imagem é ao vivo e Foxface está perto da Cornucópia. Escondida, ela aguarda até que o que ela tanto precisa apareça.

Cinco imagens são mostradas, ao mesmo tempo: Os tributos sobreviventes e que participarão do Ágape. Cato se esconde perto de uma trilha feita por si próprio – coisa que só carreiristas podem fazer – com uma espada. Thresh saíra de sua caverna e treme de frio. Coloca o capuz e amarra em seu pescoço, assim como todos os outros. Clove entra na Cornucópia e tem uma vista privilegiada de tudo, mas não presta muita atenção no lugar enquanto Cato se despede. Logo está tão frio que é impossível manter-se parada. Clove adentra na Cornucópia e anda paciente pelos cantos. Katniss espreita por entre uma vegetação rasteira e prepara o arco e flecha. Talvez ela espere os competidores chegarem, pegarem sua mochila e depois acertá-los. Não é estratégia ruim. Mas imagino que ela não saiba que Cato estará longe e prefere não arriscar perder o remédio de Peeta para o distrito 2.

Uma mesa se eleva por entre uma clareira em volta da Cornucópia e lá estão as mochilas de todos os tributos . Foxface não hesita antes de correr – ainda mais rápido do que no banho de sangue -  e pegar sua mochila. Katniss perde a posição da flecha. Ela e os outros competidores apenas ficaram parados boquiabertos – com a exceção de Thresh, que ainda não chegou – e Katniss levanta e corre. Clove percebe e sai da Cornucópia e joga uma faca em seu rosto. Fecho os olhos, pensando que a faca acertara sua cabeça e ela estava mora, mas a faca fora desviada pelo se arco. Katniss acerta uma flecha em seu braço esquerdo e o deixa ensangüentado. Clove acerta outro faca e abro um talho na carne acima da sobrancelha de Katniss e continua correndo em sua direção até que ela se vira e recebe um soco. Logo ela está imobilizada com os joelho de Clove em seus ombros, deitada de costas no chão.

- Onde está seu namorado, 12? Ainda está vivo?

- Está por aí. Caçando Cato. – Diz ela, logo antes de gritar a plenos pulmões – Peeta!

Clove pressiona a mão no pescoço de Catnip e corta sua voz. Minhas pernas estão presas no chão e perdi completamente a fala, assim como todos que estão por perto e que consigo ver. Assim como Prim e sua mãe. Esse é o fim.

- Mentirosa – Diz ela, cantarolando – Ele está quase morto. Cato sabe bem onde o atingiu. Você deve tê-lo amarrado em uma árvore enquanto seu coração ainda bate. O que tem na mochila? O remédio do Conquistador? Pena que ele nunca – ela saboreia suas palavras – irá recebê-lo.

Ela abre a jaqueta e tira uma faca curva, com o cabo preto e desenhos dourados até a ponta requintada e curvada. Deixo uma lágrima cair. Os momentos finais de Katniss serão os piores possíveis. Se eu tivesse me voluntariado, poderia salvá-la. Coisa que ninguém mais pode fazer.