A Profecia Do Fim escrita por Alberto Tavares


Capítulo 3
Nosso ônibus se esvai em fumaça


Notas iniciais do capítulo

Esse foi dos bons, espero que gostem!!! Desculpem se acharem alguns hifens(-) a mais por aí.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/212841/chapter/3

Saí de casa as oito em ponto da manhã, minha mãe me recebeu com abraços e beijos em casa ontem a tarde quando cheguei. Ela me fez prometer que eu voltaria para casa, e eu prometi. Nossa despedida foi triste, ela não chorou, ela estava orgulhosa, orgulhosa do filho semideus.

- Mãe – eu perguntei antes de ir embora com uma minha mochila de camping com um saco de dormir azul, varias roupas, luvas, meias, garrafas e cantis de água, e sem duvidas nenhuma, um estoque de maçãs verdes e vermelhas, caso precisássemos de elixir. – Você sabe não é? O nome do meu pai, o nome do deus olimpiano?

- Sim – ela disse.

- Então me conta – eu pedi, com uma voz rouca, cheia de medo e dor.

Ela pensou um pouco, ajeitou minha camisa e olhou direto nos meus olhos.

- Não posso, ele me fez não contar. Fez-me não te contar.

Eu sabia que ela não podia contrariar as regras de um deus.

Meu irmão estava achando que eu ia para um acampa-mento, um passeio escolar, meu padrasto pensava a mesma coisa, apenas minha mãe sabia a verdade. Despedi-me deles e fui embora sem olhar para trás.

Pegamos um ônibus e ficamos nele por aproximadamente dez ou onze quilômetros, depois que saímos, pegamos um metro e ficamos apenas duas estações dentro dele, quando saímos, deparamos com uma rua larga e cheia de carros, uma avenida, a calçada era larga o suficiente para nos, nove garotos em média treze anos, andamos lado a lado. Jéssica estava no meio de nos, tinha no bolso, além de sua espada, moedas que ela nos disse chamar-se dracmas de ouro, ela me contou que os dracmas de verdade são de prata, mas os deuses só aceitam algo de valor se o mesmo for de ouro. Essas moedas nos ajudariam em ocasiões mágicas.

Estava tudo muito calmo, caminhávamos e conversávamos sem medo de que alguém ouvisse, pois não tinha nem se quer um ser humano na rua. Nenhum monstro nos atacara até agora, desde que minha professora revelou seu lado obscuro. Eu sabia que uma hora ou outra eles apareceriam para nos matar. Passávamos pela rua a procura de um ônibus de viagem para tomar rumo a alguma praia, como não tínhamos dinheiro o suficiente, não compraríamos passagem de avião para o Himalaia, nem mesmo os dracmas de ouro resolveriam isso.

Não tínhamos rumo, mas de alguma forma sabíamos que tínhamos que ir para a praia.

Achamos um ônibus de viagem depois de meia hora, estava em horário de almoço, então compramos os nossos acentos e compramos alguma coisa pra comer. Porcarias, nada de nutritivo que me fizesse me deliciar. No fim, dei uma das minhas maçãs Fuji para todos e guardei o resto, preocupado de que pudessem estragar.

Quando o horário de almoço finalmente terminou, o cobrador e o motorista voltaram para o ônibus e nos também, não vi o rosto deles, mas tinham hálito de vaca, e se tinham, talvez tivessem comido cebola e não escovaram seus dentes, é, acho que foi isso.

Quando ouvimos o ronco do ônibus soar pela primeira vez, começamos a conversar sobre a nossa missão. Éramos os únicos dentro daquele ônibus sem contar os fedidos, motorista e cobrador.

- Vamos para o mais próximo do mar – disse Jéssica – é este o nosso curso. O mar. Precisamos chegar ao mar e depois pensaremos no resto. Podemos pedir para os deuses alguma ajuda, geralmente eles respondem. Já estou sentindo o cheiro da maresia.

Eu também, pensei. Era um cheiro muito delicioso, o frio que estava fazendo e a chuva que caia quase todos os dias nos deixaram com a vantagem de não ter transito para nenhuma praia e nenhum passageiro. Algumas horas depois, provável-mente duas horas ou três horas da tarde, passávamos pelos túneis por dentro das montanhas rochosas e luminosas que pareciam não ter mais fim.

O plano era o seguinte: tínhamos que ir a praia o mais rápido possível, fora eu que disse isso, de alguma maneira eu sabia que se fossemos para lá estaríamos em um bom caminho, e eu não era o único, Thallita também achava o mesmo. Depois que saíssemos da praia, subiríamos as Américas e então daríamos à volta no mundo seguindo para a Ásia, e poderíamos seguir até o Himalaia praticamente sem nenhum problema. O que temíamos era fazer isso tudo em apenas dois meses e ter que nos preocupar com os monstros que estariam em nossa cola.

Podíamos ver a luz no fim do túnel. Era intensa e cheia de vida, Marcos, Bia e Luciano tinham sido pegos no sono.

Alguma coisa me fez cerrar os olhos em direção ao cobrador, arregalei os olhos com a imagem que vi, não tive nem tempo para gritar. Antes que eu fizesse qualquer movimento o nosso ônibus saiu do túnel e nos investiu com uma claridade tão intensa que todos fechamos nossos olhos. Quando abrimos, estávamos sendo atirados de montanha a baixo. Marcos, Bia e Luciano acordaram num salto e foram parar no teto do ônibus, mas só porque ele tinha virado.

O ônibus capotou sem, talvez duzentas vezes, sabia que era o nosso fim. Morreríamos ali mesmo, não por monstros, mas sim por uma queda livre em direção ao fim.

Tentei segurar no banco, mas tudo o que fiz foi sair rodando por todo o lado, batendo nas paredes, no teto e no chão do ônibus.

Quando paramos de girar e caímos em solo duro e com as rodas no chão, o fedor intenso de gasolina me fez saltar dali cambaleando, salpicado de ferimentos no joelho e no cotovelo, alguns no braço. Sangue para todo o lado, todos nós nos levantamos em salto tentando abrir a porta que estava emperrada. Fomos até onde estava o cobrador para pedir ajuda, mas ele não estava mais lá, nem o motorista. Pulamos a catraca e fomos até o painel, puxei o botão que abria as portas, mas nada aconteceu.

- Sempre quis fazer isso – disse Marcos agarrando a alavanca de ejeção, quando ele arrancou o lacre, não avia nenhum martelo de estilhaçar vidros ali. Nem mesmo os alçapões estavam em condições de serem abertos.

- Fala sério, gente! Agilizando aí, galera – disse Jéssica tirando de seu bolso à espada de oitenta e cinco centímetros.

Ela destruiu a janela com um golpe e nos saímos ainda enjoados. Tínhamos rolado montanha abaixo, mas o mar era ainda visto a alguns quilômetros de distancia de nos por entre as outras montanhas que se seguiam.

Quando nós saímos do ônibus, vi que tinha acabado de fazer um corte com uma lasca de vidro que tinha ficado na janela. Eu mal começara minha missão e já estava cheio até os ossos de machucados e sangue seco.

Deparamos com duas massas de carne enorme e assustadoras bem em nossa frente. O cobrador estava mais para nossa frente, ele era reconhecível mesmo daquele estado, seus olhos esbugalhados e azuis diferenciavam dos do motorista, os seus eram negros.

Realmente era apenas isso que tínhamos para diferenciar um do outro, pois fora isso os dois homens eram iguais. Eles se encontravam nus, apenas com as calças do uniforme pretas. Onde era para estarem suas cabeças, agora estavam cabeças de bois guzerás, olhos miúdos, azuis e negros, cobertos de remela, chifres pequenos de ponta escura, orelhas enormes e, feito de ouro maciço, uma argola presa entre as narinas molhadas que tinham uma quantidade indescritível de sujeira. Seus braços eram musculosos, bíceps e tríceps saltando para fora, pareciam bolas de golfe. Suas pernas também não passavam despercebidas, elas eram puros músculos. Seus pés eram um tanto igual às características da cabeça, eram cascos. O motorista bufou e expeliu gotículas liquidas de suas narinas, logo depois ele deu a primeira investida.

Jéssica, que já estava com a espada em mãos, defendeu o golpe do minotauro antes que ele chegasse a nós.

Islly deixou seu cabelo cair entre os ombros retirando os prendedores de cabelo japoneses, e estes viraram uma grande e pontuda lança que emanava raios furiosos. Descobri que ela não era a única que se colocava armada.

Marcos pusera a mão em seu colar que tinha um minúsculo pingente de um machado de prata, arrancou o machado do colar e ele ficou em tamanho real. Um machado assustador e digno de um filho do deus da guerra.

Thallita pegou uma adaga com cabo de ouro de dentro de suas vestes e se posicionou para a batalha.

Luciano fazia as plantações subirem por seu corpo e se atiçarem contra o homem-touro em nossa frente.

Fernanda Santos estava com duas imensas bolas de fogo sobrevoando suas mãos, preparada para lançá-la contra a criatura a qualquer momento.

Bia, por mais estranho que parecesse, tirou de dentro de sua bolsa um espelho grande e redondo com uma cruz em baixo, era o símbolo do sexo feminino, não sabia o que aquilo era realmente, mas esperava que fosse algo de útil.

Fernanda Marinho e eu estávamos desarmados. Então desviamos para dentro do ônibus antes que algo nos ferisse. Vi o Minotauro-cobrador ir em direção a Islly, mas ela tinha sua lança que emanava raios; e Marcos com seu machado de guerra; Fernanda Santos, que atirava bolas de fogo, que pareciam só queimar seus pelos grossos e Luciano, que amarrava as pernas do bicho que o perfurava com espinhos grossos das vinhas.

Jéssica, Bia e Thallita lutavam com o Minotauro-motorista. Vi Jéssica cravejar sua espada no peito do homem-touro e depois retirá-la pingando uma substancia verde e brilhosa que identifiquei ser o sangue. Mas o minotauro não cairia tão fácil assim. Thallita rasgava sua pele e o couro que faziam a besta rugir de dor, enquanto Bia parecia hipnotizar a criatura com o seu espelho, o Minotauro tentou quebrar o espelho com um soco, mas quando fez isso, a mão enorme e peluda entrou dentro do espelho e voltou com o dobro de velocidade na cara de si mesmo. Levando a bofetada bem no meio do nariz, que começou a jorrar verde.

O minotauro de Islly, Fernanda Santos, Marcos e Luciano estava mais do que cansado de lutar. Levava choques da lança elétrica de Islly, boladas de fogo no rosto, seus olhos com remelas já estavam cegos, Marcos tinha arrancado um dos seus braços musculosos e fizera vários cortes por volta do corpo da fera. Luciano mantinha o Minotauro-cobrador a cima do chão com suas vinhas e o cortava espremendo o corpo da criatura, que há muitos séculos já tinha desistido.

Eles se foram em poeira levadas pelo vento quando Bia fez a criatura se bater varias vezes e dar tempo para Jéssica dar o golpe final atravessando sua espada e o cortando no meio. O outro morreu, pois Islly atravessara seu coração com a lança e Marcos lhe arrancou a cabeça com o machado.

Fernanda Marinho e eu saímos de dentro do ônibus com as pernas bambas. Grassas aos deuses nós saímos a tempo de não morrer, pois a gasolina começou a cheirar mais forte e logo depois o nosso meio de transporte explodiu em meio a línguas de chamas que trepidavam a grama.

- Rápido! Rápido! – gritava Jéssica. – Peguem as mochilas, elas ficaram dentro do ônibus.

Fernanda Santos afastou as chamas das janelas e depois nos entramos às pressas, pagamos minha mochila e a de Bia, as outras tinham virado cinzas e algumas tinham acabado de entrar em combustão. Quando ouvimos o chiado repentino que o ônibus soltou, saímos correndo por uma das janelas que tinha sido destruída e rolamos na grama a tempo do ônibus tremer um pouco antes de se tornar mais uma explosão. E essa fez rodar e ir em direção a mais abaixo do que tínhamos capotado antes.

- Mas que… - Jéssica não completou a frase.

- Ah não – eu disse quando o chão começou a tremer.

Eu sabia que não tinham terremotos no Brasil, mas era um tremor fraco, que fez mais umas cinqüenta massas bovinas aparecerem no meio da terra. Mais Minotauros.

- Tomem – joguei uma maçã verde para Jéssica, mordeu e passou para Islly, que passou para Fernanda Santos, que passou para Marcos e assim por diante.

Todos estavam preparados para mais uma rodada.

Ou cinqüenta.

Jéssica arrancou a cabeça de um deles com um golpe da espada e logo partiu para outro, um deles avançou contra Bia, mas o seu espelho misterioso fez a cabeça do Minotauro entrar dentro de um mundo dentro do espelho e voltar com os dois chifres enterrados dentro dos olhos. Luciano fazia três ou quatro serem amordaçados por vinhas e, antes que eu percebesse, Luciano afundou suas duas mãos no chão e quando ele as retirou, um par de garras afiadas presas em suas mãos como dois braceletes surgiu. Afiadas e prontas para retirar a vida desses Minotauros.

Era difícil acompanhar a luta, mas os Minotauros eram de muitos, sabíamos que estávamos em desvantagem.

Uns dois ou três Minotauros avançaram contra mim e Fernanda Marinho bem na hora em que todos estavam prestando atenção naqueles em sua frente.

Os homens-touros que nos encurralavam eram peludos e assustadores, Fernanda fechou os olhos e disse baixinho:

- Atena, ajude-me!

Naquele instante, toda a atenção se desviou para a luz que iluminou o corpo de Fernanda Marinho. Um arco de ouro bem decorado apareceu nas mãos da garota naquele instante e uma aljava cheia de flechas também de ouro estava presa em seu ombro esquerdo. Lembrei do que Jéssica havia dito: Podemos pedir para os deuses alguma ajuda, geralmente eles respondem.

Não sabia como, mas Fernanda atirava flechas tão bem quanto qualquer outra pessoa que já vi nas olimpíadas. Ela atirou nos olhos dos três Minotauros em nossa frente os matou com as flechas que estavam em seus olhos, afundando ainda mais em suas caras. Antes que eu fizesse alguma coisa, olhei a aljava de Fernanda Marinho, tinha a mesma quantidade de flechas de antes, achei que deveria ser mágica, pois a cada vez que ela retirava uma flecha, outra aparecia para substituí-la.

Mas não era o suficiente para deter todos aqueles Minotauros, Islly tinha começado a se cansar e agora apenas batia com a lança na cabeça de um dos Minotauros que estava um tanto inconsciente.

Se eu ao menos soubesse o nome do meu pai, eu poderia pedir ajuda e lutar junto com eles, porque desarmado eu não era nada, apenas um estorvo.

Jéssica e Marcos tinham acabado de cortar um deles no meio com um golpe duplo da espada e do machado. Bia continuava com o plano de fazer os homens-touro atacar o próprio reflexo, mas se o seu espelho fosse maior isso poderia dar certo com dois ou três de uma vez. Eu já estava percebendo o que o espelho fazia realmente, era como um mundo paralelo dentro dele que quando era atingido por algo ou alguém, o mesmo se voltava contra quem a jogara com o dobro de velocidade e o dobro de força.

Thallita forçava sua adaga no peito de um Minotauro, e o mesmo mugia de dor, Luciano cortava vários deles com sua agilidade e suas garras, mas ele tinha a vantagem de usar as plantas no chão como trampolins, pular nas costas do inimigo e cravejar as garras de aço na coluna dos monstros.

A cada vez que Islly espetava a lança no peito de um dos Minotauros, umas ondas elétricas faziam-nos morrer, deveria ter muitos volts, pois era tão mortal quando qualquer outra arma.

A única pessoa, além de mim, que estava tendo alguns problemas para lutar era Fernanda Santos. Ela estava com raiva, isso era claro, suas labaredas de fogo eram fortes, mas não tanto quanto os Minotauros, o couro deles era grosso e muito mais poderoso que as bolas de fogo que ela lançava.

Depois de algum tempo, percebemos que os Minotauros eram como a aljava de Fernanda, sempre que uma das flechas sumia, outra aparecia em seu lugar. Era a mesma coisa com os Minotauros, sempre que um virava pó, o outro aparecia para lutar.

- Isso esta ficando chato demais – disse Jéssica cortando o braço de um deles.

- Toma isso seu filho duma vaca - Marcos estava fazendo carne moída com um dos Minotauros.

- Precisamos de um plano – disse Islly.

- Eu tenho um – gritou Fernanda Marinho que tinha acabado de arrancar os dois olhos de um dos Minotauros com duas flechas de uma vez.

Ela apontou para a aljava, ela estava cheia, mas parecia um pouco vazia, mas vazia do que no começo, mas mesmo assim estava cheia.

 - Quando eu tiro duas flechas de uma vez, apenas uma volta pra aljava – disse ela. – Talvez, se matarmos dois deles de uma vez, teremos a chance de ver apenas um ressuscitar.

Todos nos se entreolhamos, Islly correu para dois Minotauros que avançavam contra ela e enfiou a lança dentro do que vinha primeiro, ela atravessou e depois se enfiou no que vinha atrás, aquilo me fez pensar em churrasco no palito. Logo depois eu escutei um zuuum e os dois Minotauros fritaram e viraram poeira.

Olhamos em todas as direções, e logo no fim daquela co-lina surgiu outro Minotauro de dentro do chão, mas desta vez só surgiu um.

- Muito bem, filha de Atena – piscou Marcos.

- Mas mesmo assim estamos em desvantagem, eles são centenas e nos apenas oito – disse Jéssica, percebi que ela não estava me contando, porque éramos nove, mas apenas oito ajudavam a combater os monstros. Eu, como todas as vezes que tínhamos educação física na escola, era o excluído do time.

- Só preciso de um pouco de tempo, pessoa! – disse Fernanda Santos, não sabia o que ela estava querendo dizer, mas como ninguém fez comentários, achei melhor ficar calado.

Todos estavam separados, Jéssica picotando, Fernanda Marinho flechando, Islly eletrificando, Marcos degolando, Bia ricocheteando, Thallita perfurando e Luciano asfixiado.

Fernanda Santos estava encostada à montanha logo atrás dela, calor emanava de seu corpo. Eu estava sozinho, ninguém estava me vigiando. Escutei um bufo em alguma direção, olhei para a direita e vi raios sendo lançados num Minotauro, olhei para a esquerda e vi vinhas esmagando outro Minotauro, olhei para trás e vi um Minotauro se esmurrando, quando olhei para frente vi a pior das senas.

Outro Minotauro estava menos de três metros de mim. Seus olhos brilhavam enquanto ele fazia a investida sorrateira, quando ele chegou bem em minha frente, saltei para o lado e vi seu corpo cambalear e voltar correndo em minha direção, os chifres direcionados ao meu peito, quando ele chegou perto o bastante eu não saltei, em vez disso eu investi também. Nossos corpos estavam a centímetros de se confrontarem e eu ser levado junto ao ônibus em direção a morte, mas meus reflexos que acabei de descobrir, foram mais rápidos. Agarrei a argola que estava pendendo em seu nariz molhado e dei impulso para o alto, quando cheguei a seu pescoço peludo, vi que a argola de ouro continuava em minhas mãos, mas ela estava empapada de sangue, igual ao seu nariz. O mugido do Minotauro fez todos olharem para mim em cima do monstro, desarmado, mas lutando, eu pensei.

Foi quando eu tive a sensação de morte.

Uma tempestade de chamas cobriu o lugar, labaredas dançavam em minha frente, línguas flamejantes queimavam as aberrações chamadas de Minotauros. O que eu estava em cima virou poeira e se extinguiu deixando um leve odor de pelos queimados, as chamas vinha de toda a parte, tive a sensação de estar sendo consumido pelas chamas. Olhei para as minhas mãos na esperança de velas em estado de devaneio com um tom avermelhado e a pele derretida expondo meus brancos ossos, mas encontrei-as em tacto como se o fogo não as afetasse. Olhei para trás e vi Bia com medo, mas ela deve ter percebido a mesma coisa que eu, pois ela ficou de pé olhando o próprio corpo em estupor.

As chamas não nos afetavam.

Logo que todos os Minotauros se foram em cinzas, vi as labaredas cessando e diminuído, os estalidos que causavam na grama que tinha sofrido do incêndio tinha se acabado e todas as línguas de fogo tinham voltado para sua dona. Vi as últimas brasas pularem em direção a mão de Fernanda Santos.

Era por isso que ela pediu tempo, para poder destruir os Minotauros todos de uma vez.

- Isso! – Eu gritei batendo palmas – não agüentava mais esses bois velhos e fedorentos, isso aí.

Todos me olharam como se eu fosse um louco, até que uma chuva de palmas fez Fernanda Santos ficar vermelhas e dizer o primeiro comentário:

- Agora só precisamos de um caminho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Empolgante, não? Mereço reviews? Mereço recomendações?