P.O.V. Miguel Souza

Me sentei ofegante, estou em um lugar desconhecido, não entendi o que aconteceu direito, na verdade eu não me lembro de nada da noite anterior, me chamo Miguel, Miguel Souza, estou me sentindo diferente desde que eu acordei, não entendo, parece que sou capaz de fazer qualquer coisa e não sei por que, mas algo me diz que eu posso, tenho fome ou seria sede?

A ultima coisa que eu lembro que Jaqueline chorava enquanto um homem dizia algo, ela é minha irmã, e eu não queria mais vê-la, minha irmã tinha algum segredo e não queria me contar e eu nunca tive segredos que escondi dela, eu lembro de ver ela, de ver suas lágrimas, e sentir prazer por ver ela despedaçada, era estranho, ela chorava lágrimas vermelhas parecia sangue, mas na hora eu não liguei, estava brabo demais para perceber e agora estou muito preocupado com ela porque apesar de tudo ela sempre me cuidou e eu sei que ela me ama, preciso encontra-la, mas não consigo ver com nitidez onde estávamos, preciso descobrir, mas primeiro preciso sair desse lugar, analisei bem o lugar, parecia um galpão velho, o piso de cimento as paredes rachadas e com teias de aranhas, o teto de brasilite com alguns furos, tinha de tudo ali dentro desde peças de carro e ferramentas até roupas e embalagens de comida, tinha cheiro de mofo e foi então que me dei conta que provavelmente estou no antigo deposito que está parado a anos, alguém abre a porta e a luz do sol entra incomodando meus olhos, o que parece estranho para mim, a luz doía como se queimasse meus olhos e eu escuto alguém entrar e escuto um choro, no mesmo instante reconheci o choro de Jaqueline, ela fecha a porta e eu consigo ver com mais nitidez, ela tinha vários cortes profundos espalhados pelo corpo e ela parecia mais pálida do que naturalmente, mesmo levando em conta que de uns anos para cá ela parece um papel de tão branca, eu vi ela cambalear e me levantei surpreso com a minha velocidade e a segurei antes que ela caísse e antes que ela desmaiasse eu ouvi ela dizer uma coisa que mexeu com minha cabeça, mexeu com o que eu devia acreditar, ela disse:

– Me desculpe. Eu fiz de tudo pra te salvar e não consegui.

Sentei-me e a deitei com a cabeça no meu colo e reparei que os cortes estavam ficando diferente aos poucos, eles estavam ficando superficiais e logo eram apenas uma cicatriz e então desapareceram, vi ela se mexer no meu colo e gemer de dor e então ela abriu os olhos e me viu, os olhos se encheram do liquido vermelho e então escorreram, eu sabia que eram lágrimas, não sei como, senti o cheiro de sangue e eu sabia e sabia que não era bom ela chorar e ela chorou mais e me abraçou falando:

– Você vai tem que me ouvir, por favor, Miguel, preciso te contar tudo, preciso que saiba e que não passe pelo que eu passei, preciso que confie em mim, você é meu irmãozinho que eu sempre vou defender então me escute.

– Fale maninha, pode falar, eu vou te ouvir. - falei calmo

– Eu morri Miguel e você também, nós estamos mortos.

– Certo – disse como se ela estivesse louca – Como estou morto se estou aqui sentado conversando contigo, deixe de ser lunática, Jaqueline, pare um pouco e pense, só um pouco tá bem?

– Miguel por favor, entenda tudo aquilo que eu achava ser lendas e só existir em livros é mentira, existem de verdade, lembra quando eu sumi há tres anos atrás, logo depois de toda aquela tragédia, e te deixei sozinho, coisa que me machuca até hoje, eu percebi que tinha alguém atrás de mim, alguém que queria vingança e eu nem sei ao menos pelo que, esse homem me transformou e eu me vi sozinha e tive que me virar e aprendi a conviver sem matar ninguém, o que é muito difícil, vivo nos limites por isso consigo viver normal diante das pessoas, por não me alimentar muito, isso me faz mais forte na hora de resistir pois já me acostumei com pouco desde o inicio, mas fico fraca perto do que posso chegar, você não tem noção do que uma pessoa como nós pode fazer com bastante sangue e poder e isso apavoraria qualquer um. Miguel, somos vampiros.

– O que você pode fazer? - disse ignorando a ultima frase dela.

– Rapidez, força, eu sou imune ao quente e ao frio, exceto ao fogo, audição aguçada, visão e paladar também, se me esforçar bastante posso fazer os mais fracos que eu, se esquecerem das coisas e se eu tomasse bastante sangue imagino que muitas outras coisas eu poderia fazer também.

– Como eu virei um?

– O homem que eu falei, aquele que eu não sei o nome, me fez coisas horríveis Miguel – eu a senti estremecer – e eu não cedi, lamento informar que por muito pouco e então ele me disse que iria vir atrás de você, me ofereci de tudo que é jeito, por toda a eternidade e ele não quis, veio atrás e eu o segui, mas não consegui o impedir, ele conseguiu te transformar mesmo eu fazendo de tudo para impedi-lo, me desculpa Miguel eu não queria que isso acontecesse, eu daria tudo para que você não passe a mesma coisa que eu, daria tudo para que você pudesse seguir a sua vida e ignorar tudo isso, como um adolescente normal faria, mas você precisa saber.

E foi aí que eu entendi o que ela escondia e o porquê dela esconder, entendi o que ela é e o que eu sou, ela se culpa por eu ter virado um vampiro posso ver isso pelo jeito que ela está, mas eu sei que ela só quis me proteger e não conseguiu ela é fraca demais para conseguir, e ela acha que eu não vou perdoa-la, mas eu já perdoei desde o momento que ela entrou pela porta do depósito eu perdoei, ela é minha irmã e eu jamais a culparia ou a julgaria, ela me olhou preocupada enquanto eu colocava meus pensamentos em ordem e então ela falou:

– Você precisa agora tomar sangue senão logo você vai morrer, precisamos ir logo para a minha casa, vamos correr, pois o sol vai te prejudicar eu tenho uma coisa que te ajuda a andar no sol, mas está lá em casa.

– Como correr?

– Pense no lugar que vai, pense no caminho, você já foi à minha casa uma vez, a casa que era de Dona Lucia, corra e logo estará lá é impressionante a sensação é como voar e essa é uma das únicas coisas boas de ser um vampiro. E eu amo correr