Entre a Luz e a Escuridão escrita por zariesk


Capítulo 14
Capítulo 11 - Guerra e Paz.


Notas iniciais do capítulo

em primeiro lugar quero avisar que o cap não passou por uma revisão profissional, pode conter erros e furos.
nesse cap os deuses dão o primeiro passo para seus planos, isawa e menefer se envolvem em uma batalha mortal que pode custar mais que a vida de uma delas.
leia e divirta-se.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/21264/chapter/14

Para qualquer lado que se olhe o cristal domina a paisagem, paredes feitas de cristal, chão, moveis, teto e decoração, tudo feito do mais belo cristal translúcido e brilhante.

A dona do recinto estava sentada em seu trono no final do salão de cristal, usava trajes brancos que brilhavam como se tivessem luz própria e lhe escondiam a face como se fosse uma freira acanhada parecia aguardar algo vendo através da gigantesca janela seu reino logo abaixo.

Pela janela dava pra ver um vasto reino que faria o paraíso bíblico parecer um lugar comum, as pessoas transitavam cuidados de suas vidas, monstros que em outros mundos seriam flagelos aqui são como irmãos ou no caso dos não inteligentes amigáveis bichinhos de estimação, as terras sempre verdes e as florestas coloridas num mundo intocado pelo mal e pela escuridão.

No reino de Serena nunca anoitece, o sol chega até o horizonte e quase se Poe proporcionando cores fantásticas para magicamente ressurgir no horizonte sem jamais trazer a escuridão, talvez por isso Azgher ficasse tão a vontade no reino da deusa da paz.

A deusa da paz Marah e Azgher aguardavam um terceiro deus para uma reunião, Azgher parecia um tanto impaciente enquanto sua anfitriã não demonstrava qualquer insatisfação.

 

- Ele já deveria estar aqui – reclamou o deus do sol olhando uma grande ampulheta se esvaindo.

- Khalmyr nunca se atrasa meu querido – comentou a deusa branca – é divinamente improvável que ele se atrase, ainda resta areia na ampulheta.

- Mas não faria mal ele chegar mais cedo! – insistiu o outro.

- Ele também nunca se adianta, atrasar ou adiantar significa desordem para ele, e você sabe o que o deus da ordem pensa da desordem.

 

O deus do sol apenas bufou irritado, normalmente ele estaria em chamas agora mas o poder apaziguador desse reino conseguia impedir até um deus de exalar ódio ou violência, enquanto Azgher olhava atentamente a ampulheta Marah sentia que ele ficava mais frustrado.

 

- Se esse relógio lhe incomoda posso fazê-lo desaparecer – sugeriu a deusa da paz.

- Sempre procurando uma maneira de agradar a todos não é? Por que você não entende que nem sempre da pra resolver um problema de maneira pacifica?

- Os seres vivos não nascem da violência, o conflito não traz nada de bom – dizia a deusa – se todos pusessem suas diferenças de lado o universo prosperaria, você não concorda?

- Não tenho nada contra a paz, mas não quando se trata de certos assuntos.

 

Azgher ainda pretendia discutir mais com Marah, mas voltou sua atenção para o relógio de areia e viu que o ultimo grão caiu, imediatamente a grande porta do salão se abriu e por ela entrou o Khalmyr, o deus da ordem e da justiça.

 

- Saudações dama da paz, senhor do sol – cumprimentou Khalmyr – podemos começar nossa reunião.

- Agora entendo por que o deus do caos marca suas reuniões em horários tão incomuns, ele tenta fazer você se atrasar.

- Uma tentativa fútil – zombou o deus maior – sempre tenho uma hora livre todos os dias e posso facilmente re-organizar minhas obrigações para se ajustar a uma mudança.

- Não podemos culpá-lo por tentar não é? – a deusa branca sorriu – usei uma ampulheta justamente para testar a possibilidade.

- Então já que estamos os três aqui sobre o que é a reunião? – perguntou Azgher.

- O assunto é sobre a guerra que você pretende retomar contra Tenebra – informou Khalmyr.

 

A menção do nome da deusa negra fez Azgher praticamente explodir em chamas e nem a aura de paz do recito impediu isso.

 

- Não me diga que me chamaram tentando me convencer a desistir? Mesmo sabendo que ela está movendo as peças dela primeiro!

- Quando você diz “peças” está se referindo a garota da profecia? – perguntou Marah.

- Desde que Thyatis previu a chegada de uma mortal que mudaria o destino desse mundo que todos os deuses procuram por sinais de sua chegada, e ela nasce justamente do ventre de uma clériga de Tenebra!

- Então Azgher, você está afirmando que se ela tivesse nascido entre os seus não a usaria contra Tenebra? – questionou o deus.

 

Mesmo sob o capuz dava pra ver o rosto de Azgher se torcendo em raiva, era obvio que a resposta seria o que Khalmyr e Marah imaginavam.

 

- O que nos queremos de você Azgher é um pouco de tempo – informou a outra deusa.

- Queremos que atrase seus planos – continuou Khalmyr.

- É irônico ouvir você falar de atraso quando nem mesmo se adianta para uma mera reunião, mas por que eu aceitaria o pedido de vocês quando posso por fim a toda essa guerra ainda hoje?

- Por que eu tenho algo que você quer Azgher – disse Marah – algo que sei que você deseja muito e que valerá a pena nos conceder o tempo que desejamos.

 

 

*********************************************************

 

Os cavaleiros que vigiavam as fronteiras de Daí-lung detestavam se aproximar da cidade fantasma, e detestavam mais ainda ter que entrar naquele território.

Mesmo de dia a cidade era mais assustadora que qualquer outro lugar deserto, suas ruas mais escuras, seus cantos mais sombrios e o ar mais pesado, alias o cheiro de carne podre denunciava a presença dos cadáveres ambulantes que agora se escondiam nas ruínas.

Menefer é claro ignorava tudo isso, voando direto pro palácio onde sua inimiga se escondia ele estava decidida a acabar com isso hoje, o dia acabara de nascer, Isawa não tinha por onde fugir e seu deus lhe protegia, com tudo isso Menefer tinha a certeza que sua missão seria cumprida.

Seu dragão Oreades era muito grande para entrar no castelo, portanto após pousar a fera numa torre próxima e com suas próprias asas alcançou o grande buraco na parede que ficava no meio do palácio, a primeira coisa que encontrou foi uma pessoa sorridente que ela tinha certeza ser um bardo pelas roupas exóticas.

 

- Quando eu perguntei a senhorita Isawa se você era bonita ela não disse o quanto era – Daneth nunca deixava de ser galanteador.

 

Menefer andou devagar até ele, Dalap que se escondia atrás dela vôo pousando em seu ombro, quando ela estava só a um metro de Daneth sacou sua cimitarra e a deixou rente no pescoço do bardo.

 

- Onde está Isawa? – perguntou ela secamente.

- Não gostaria de conhecer o lugar primeiro? Posso lhe mostrar vários cômodos que ainda estão apresentáveis.

- E eu posso lhe mostrar sua cova caso não responda minha pergunta.

- A senhorita Isawa aguarda você – respondeu ele sorrindo gentilmente e afastando a lamina do seu pescoço – terei prazer em levá-la até ela.

 

Quando Daneth fez menção de mostrar o caminho Menefer guardou a arma e passou a segui-lo, eles só andaram dois corredores até chegar em frente a uma grande porta onde Turok montava guarda.

 

- A senhorita Isawa está ai – informou Daneth para Menefer – pode abrir a porta senhor Turok?

 

O licantropo que estava sentado numa cadeira não parecia nem um pouco satisfeito em ver Menefer, aqueles trajes de caçadora do deserto junto com o emblema do deus do sol lhe traziam péssimas recordações.

 

- Saiba que minha princesa é a pessoa mais importante para mim, não ouse maltrata-la – avisou Turok enquanto abria a porta.

 

Menefer apenas ignorou o homem fera e passou pela porta, o interior do salão estava escuro pois uma cortina bloqueava a única janela para o exterior, para um meio-celestial como ela uma luz mínima que passava pelas frestas era o suficiente para ela poder enxergar o interior do lugar, e com seus olhos abençoados ela pode ver perfeitamente Isawa sentada numa cadeira bem no meio do salão com um sorriso besta na boca.

 

- Oi Akiko, teve problemas pra chegar aqui? Lá fora é uma loucura.

- Eu viria mesmo que tivesse que atravessar o inferno! – respondeu ela sacando novamente sua arma.

- Eu fiquei feliz quando meus amigos disseram que você estava vindo, eu queria muito revê-la mais uma vez.

- Pois não deveria, eu vim para matá-la.

 

Menefer encurtou a distancia que as separava, entre elas só havia uma mesa e uma cadeira vazia.

 

- Eu não quero lutar com você Akiko-chan – disse Isawa olhando em seus olhos.

- Isso não importa, eu a matarei de qualquer jeito.

- Então você me mataria indiscriminadamente? Mesmo se eu não lhe fizer nada?

 

Essa pergunta doeu fundo em Menefer, seu orgulho não permitia lutar contra alguém indefeso ou que se rendia, seu deus também ensinava sobre ter compaixão e misericórdia, estava dividida entre sua nobreza e seu dever.

 

- Isso é golpe baixo sabia? – reclamou Menefer devolvendo a espada para a bainha.

 

Isawa apenas sorriu marota, ela não estava usando nenhum truque, mas ficou feliz por pelo menos saber que sua amiga não se tornara um monstro.

 

- O que vai fazer mestra Menefer? – perguntou Dalap sobre seu ombro – não vai atacar alguém sentada e desarmada né?

- Quem é essa pequenina? – perguntou Isawa que só agora notara a fada de fogo.

- Minha fada assistente e acompanhante – respondeu Menefer.

- Meu nome é Dalap, muito prazer – cumprimentou a pequena.

- Dalap, vá procurar algo pra brincar e me deixe a sós com ela.

 

Seguindo a ordem de sua mestra Dalap vôo pra fora da sala, quando ficaram sozinhas Isawa se pronunciou mais uma vez.

 

- Tudo o que eu quero é uma conversa com você, se não chegarmos a um acordo pode me matar sem remorsos.

- Por que ainda insiste com isso Isawa? Por que fica arrastando esse destino amaldiçoado?

- Meu destino sou eu que escolho, não será nenhuma deusa que dirá o que farei.

 

Menefer apenas puxou a cadeira e se sentou de frente para Isawa que sorria amistosamente, por algum motivo Menefer sentia que ela dizia a verdade.

 

- Esta será a ultima vez que conversamos.

- Talvez não, se chegarmos a um acordo podemos conversar mais vezes no futuro.

- E que tipo de acordo você quer fazer?

- Quero propor uma trégua entre o meu povo e o seu – respondeu Isawa seria.

- Você ta brincando não é? Nunca poderia existir paz entre nós.

- Eu conversei com minha mãe noite passada – revelou Isawa – ela me contou que nunca entrou em conflito com os reinos vizinhos.

 

Menefer parou pra pensar sobre isso, lembrou-se que realmente lera nos registros antigos que depois de ser coroada Kyara nunca declarou guerra a alguma nação e as poucas lutas que ocorreram se deviam a interesseiros que queriam tomar parte do seu território, eram combatidos prontamente até desistirem.

 

- Não ter declarado guerra antes não torna sua mãe isenta de culpa, ela dominou esse reino pelo terror e forçou a todos a aceitarem sua doutrina.

- Quando eu a encontrei fiquei muito feliz, nem prestei atenção no detalhe que ela estava morta, a sensação de conversar com ela foi maior que qualquer coisa – confessou Isawa.

- Por que está me dizendo isso?

- Por que eu queria que entendesse o meu lado Akiko-chan – esclareceu ela – quando eu cheguei nesse mundo também achei bizarro a idéia de morto-vivos e fantasmas, mas quando paramos pra tentar entender não é tão ruim.

- Você quer que eu aceite isso? Violar a morte é um crime! As pessoas só têm uma vida e devem aproveitá-la ao Maximo, prolongar uma existência após a morte é uma abominação.

- Quem determinou isso? – perguntou Isawa um pouco aborrecida – quem determina qual lado está certo? Quem determina o que é certo ou errado?

- Os deuses que criaram o nosso universo! – afirmou Menefer convicta.

- Lá na terra vivíamos muito bem sem eles se metendo, o que determina o que é certo ou errado e a consciência de cada um e o entendimento de todos, uma pessoa não pode impor sua vontade a todos assim como os outros não podem impor suas vontades a quem não pensa igual.

- Isso cria o caos, se cada pessoa determinar que seu ponto de vista é o único correto as guerras serão individuais.

- Pelo menos essa pessoa será a única a arcar com as conseqüências – reclamou Isawa – mas esse país foi destruindo por que outro não concordava com ele, as pessoas aqui viviam em paz por que se entendiam mutuamente e respeitavam a vontade dos outros, seu deus que determinou que eles estavam errados!

- Você só está tentando jogar a culpa em Azgher! – reclamou Menefer – o que a faz pensar que Tenebra não foi culpada?

- Alguma vez você já pensou por conta própria Akiko? – perguntou Isawa – alguma vez já viveu sem seguir as ordens dessa divindade?

- Por que eu precisaria? Azgher sempre guiou e protegeu seu povo, devemos respeito e lealdade a ele.

- Por que desde que eu cheguei a esse mundo eu só vi que as pessoas desse país estão infelizes, aqueles que governam agora oprimem os que são diferentes deles, seu deus ordenou isso?

- Azgher jamais ordenaria que seus servos oprimissem o povo desse país! Nos acreditamos na piedade acima da vingança!

- E se eu dissesse que quero meu país de volta? – perguntou Isawa – como herdeira do trono da minha mãe eu posso exigir que o comando desse país seja meu.

- E restaurar o poder de tenebra nesse continente? Não percebe que é isso mesmo que a deusa negra quer? Você está sendo manipulada por ela e nem percebe!

- Talvez ela esteja mesmo me enganando, talvez ela tenha armado tudo desde que cheguei aqui e eu seja só uma peça de um jogo cósmico.

- Eu até tenho pena de você Isawa – confessou Menefer – caiu nas garras de uma deusa tão perversa e maligna.

- Mas eu sei que todas as decisões que tomei foram verdadeiras – continuou a outra – seja manipulada ou não o que sinto dentro de mim é verdadeiro, eu realmente me importo com todos que conheci desde que vim parar aqui, você disse que fingia ser minha amiga na terra mas ninguém pode fingir aquilo.

 

As lembranças do ano que passou ao lado de Isawa atormentaram a mente de Menefer nesse instante, ela lutava pra negar a si mesma que sempre gostou de Isawa como amiga e que sua missão já não era tão importante.

 

- Supondo que você esteja certa então você se voltará contra o meu povo – disse Menefer voltando a realidade – se pretende mesmo retomar seu país terá que entrar em guerra contra Azgher.

- Por isso eu quero entrar em acordo com você, sei que é a princesa do seu povo, podemos chegar a um acordo pacifico se tentarmos nos entender.

- Ou eu posso acabar com você agora e evitar que meu povo sofra por causa de sua ambição, se for pelo meu povo posso conviver com tal pecado.

- Antes do sol nascer eu tomei um decisão – avisou Isawa – eu traria paz a esse país de qualquer jeito, não morreria antes de fazer isso e assim como minha mãe usaria qualquer método para conseguir isso, mesmo que signifique lutar contra você.

- Então deixemos essa conversa de lado e vamos lutar de uma vez – sugeriu Menefer se levantando e contornando a mesa – e se sua justiça for correta me vencerá.

- Posso te pedir uma ultima coisa antes de lutamos feito duas idiotas?

- E o que seria? – perguntou Menefer curiosa – se for algo razoável posso atender seu pedido.

- Me dê um abraço, um abraço de amiga.

 

Menefer ficou de queixo caído com o pedido dela, examinando os olhos de Isawa dava pra ver que ela estava decidida a defender seu lado, mas ela não parecia odiosa e nem revoltada, e sem entender bem o motivo Menefer apenas abriu um pouco os braços permitindo a aproximação de Isawa que logo a abraçou carinhosamente.

 

- Vai ser um desperdício sabia? – reclamou Isawa – morrer virgem é foda!

 

Mesmo abraçadas Menefer gargalhou no ouvido de Isawa e logo tratou de contar vantagem.

 

- Fale só por você encalhada – disse a outra maldosamente – eu tenho um namorado a muito tempo e ele sabe do que eu gosto!

- Você ta brincando né? – perguntou Isawa afastando o rosto para encarar a amiga – você já....

- Que pena que você não vai ter essa chance, mas eu coloco na sua lapide “aqui está a ultima virgem da terra” – dizendo isso ela se afastou de Isawa e sacou a espada.

- Se eu vencer vai ter que me contar cada detalhe – avisou Isawa pegando sua nova espada que estava encostada numa pilastra – mas eu digo cada detalhe MESMO!

- Se ela não contar eu conto – avisou Dalap que apareceu do nada – eu vi tudinho e foi muito gostoso!

- QUER PARAR DE ESPALHAR MINHA INTIMIDADE PRA TODOS SUA FADA ERO??? – gritou Menefer furiosa.

- devia prestar atenção na luta – avisou Dalap.

 

Isawa foi a primeira a atacar, sua espada foi bloqueada pela da rival num movimento rápido.

 

- Sua traiçoeira!

- Foi mal, mas quero ouvir a fada contando como foi sua primeira vez – disse Isawa com um sorriso no rosto.

 

Menefer empurrou Isawa para trás e ambas agora estavam prontas pra lutar, possivelmente a ultima luta de uma delas.

 

 

********************************************************

 

Os corredores da torre de ossos de Tenebra poderiam ser descritos com uma beleza mórbida, diferente de sua masmorra Tenebra fazia questão de possuir uma moradia que fosse agradável aos olhos (pelo menos olhos de quem não se importa em ver paredes de ossos) tudo ali era feito de ossos gigantes que dificilmente seriam naturais, de fato o esqueleto que forma toda a torre cresce naturalmente como um ser vivo (ou morto-vivo levando em conta sua dona) e observadores que ignorem a natureza macabra do lugar podem notar uma certa beleza em suas formas.

Mas nada disso impressionava os dois deuses que atravessavam os corredores em direção ao salão de festas de Tenebra, para eles acostumados a grandeza da criação divina o lugar era meramente atraente, assim que chegaram ao salão encontraram a dona da torre se fartando de sangue, sangue ainda quente circulando pelo pescoço de uma de suas vitimas.

 

- Estamos atrapalhando? – perguntou um deles – parece estar se divertindo com esse mortal.

- Não, gosto de beber direto da fonte – informou Tenebra após lagar o corpo seco no chão.

 

Assim que o cadáver tombou no chão se levantou como um novo criado da deusa negra.

 

- Sejam bem vindos deus da guerra e senhor da traição – cumprimentou Tenebra seus dois convidados.

 

Keen era o deus da guerra, senhor supremo de todas as batalhas em larga escala e patrono de todos os guerreiros, sempre tentando criar novos conflitos sem se importar com as conseqüências ele era também conhecido como o general supremo, sempre trajando sua armadura negra e vermelha e carregando seu machado e martelo de combate.

Keen era adorado principalmente pelos lordes que governavam vastos reinos, embora matança não fosse seu principal objetivo ela amava ver uma guerra devastando um reino inteiro, odiado por muitos deuses mas ao mesmo tempo necessário dentro de um panteão onde batalhas eram inevitáveis.

Já o outro tinha um nome, aparência e uma posição bem peculiar, Sszzas era o deus da traição e das serpentes, ele não era muito de esbanjar aparência ou poder se vestindo com trajes simples, uma capa e nenhum adorno, mas sua aparência simplória escondia um intelecto mais do que terrível e sua face que nunca podia ser vista era assustadora. Temido mesmo entre os deuses por ser o senhor da corrupção capaz de transformar mesmo a alma mais pura num ser nefasto e cruel, ele era capaz de guiar para a perdição qualquer um que fosse tolo o bastante para depender dele, e sempre haveria alguém que precisasse de seus serviços como era o caso de Tenebra hoje.

 

- Meus caros irmãos deuses – começou Tenebra satisfeita com algo – hoje todos os meus planos irão dar resultados.

- Você fala de resultados mas agora mesmo seu marido Khalmyr está negociando a paz com Azgher ao lado da minha tola irmã – questionou o furioso deus da guerra.

- Exatamente como esperávamos – informou Sszzas – conheço muito bem os passos daquele deus simplório.

 

Era verdade que ninguém no universo manipulava eventos como Sszzas fazia, dizem que mesmo quando seus planos falham ele ainda sai lucrando e alguém sai perdendo e geralmente ele não falhava em obter o que desejava através de corrupção e traição, na verdade sua habilidade mais temida é a capacidade de enganar simplesmente dizendo a verdade ou trapacear mesmo seguindo as regras, por isso nenhum deus o subestimava.

 

- Pense bem Keen – zombou a deusa – se a guerra que lhe prometi começasse agora ela terminaria rapidamente, minha menina ainda não está pronta para um evento como esse.

- Por isso estou cuidando pra que ela esteja pronta Tenebra, não me subestime – rebateu Keen – mas aquela mortal é uma lastima como guerreira, terei que ser mais direto com ela.

- E nos cuidaremos de todo o resto – sibilou Sszzas com sua voz suave e perigosa – no final você terá sua guerra que se alastrará pelo continente inteiro, Tenebra terá sua vitória sobre Azgher e eu terei meu premio.

- E o que você ganha com isso seu sorrateiro?

- Eu serei o primeiro a colher a recompensa, mas não espere que lhe diga – Sszzas jamais deixava escapar detalhes dos seus planos.

- Contanto que você não nos traia como faz com os tolos... – exigiu Keen.

- Meu caro deus da guerra, apenas aqueles que confiam em mim são traídos, você confia em mim?

- Não, por isso não quero tomar parte mais que o necessário – avisou o deus da guerra se retirando.

 

Assim que o deus da guerra se retirou Tenebra ordenou ao seu servo para servir vinho ao senhor da corrupção, estes brindaram o sucesso da primeira etapa do plano.

 

- Keen não precisa se preocupar, no final de um jeito ou de outro haverá uma guerra – avisou a deus serpente.

- Mas me responda Sszzas – pediu Tenebra – sei que você tem um objetivo visível e outro que ninguém pode ver, o que mais você deseja participando desse plano?

- Essa menina Isawa, ela tem um bom coração não é? – perguntou ele admirando a taça que segurava.

- Então está de olho nela? Deseja corrompê-la e faze-la maligna?

- Nem seria difícil, ela é metade dragão negro não é? Ela só precisa de um empurrãozinho e despencará para a maldade.

 

Tenebra começou a gargalhar da afirmação de Sszzas, ele não se importava com os risos mas ficou curioso para saber o motivo deles.

 

- Acha que não consigo corrompê-la? – perguntou ele – já transformei paladinos sagrados em demônios.

- eu sempre disse não é? Quanto mais “luminosa” for a alma de uma pessoa maior a sombra que se esconde atrás dela – respondeu Tenebra enchendo a taça dele mais uma vez – mas minha menina já é manchada pela escuridão.

- E por que acha que isso tornaria mais difícil corrompe-la?

- Por que ela já conhece os dois lados, migrar do bem para o mal e vice-versa não a destruirá.

 

Tenebra apenas sorriu com malicia para Sszzas, ela sabia que agora ele estava muito mais motivado a destruir a alma de Isawa, mas ela secretamente sabia que sua protegida estava a salva dele.

 

***************************************************************

 

- A quanto tempo elas estão lutando? – perguntou Daneth.

- Uns 15 minutos – respondeu Turok que observava a porta atentamente.

 

Assim como eles Vulthar também esperava o resultado, Karin por outro lado estava muito nervosa.

 

- Vocês não vão fazer nada? A Isawa pode se machucar, ou pior! – questionou a jovem.

- Apenas sente e espere – sugeriu Vulthar – a fedelha não vai perder dessa vez.

- Como você pode ter tanta certeza Vulthar? – perguntou Daneth – ela está lutando contra alguém que já considerou uma amiga, e esta por sua vez é uma guerreira de Azgher.

- Antes Isawa não aceitava seu destino, ela lutava contra isso e nem fazia idéia do que ela queria – explicou a serpente negra – mas agora ela compreende o que está em jogo e também fez sua própria escolha.

 

Ainda assim o grupo estava nervoso, Isawa não sabia lutar enquanto que a adversária vivia pra isso, uma delas tem medo de lutar enquanto que a outra veio apenas para isso, sabendo disso eles não conseguiam acreditar que sua amiga fosse se sair bem.

 

- Tem outra coisa que me faz acreditar que ela vai vencer, seja intencional ou não ela está recebendo uma ajuda improvável.

 

Os olhares de todos convergiram para Vulthar numa nítida exigência de explicação.

 

- Em primeiro lugar nos estamos em uma terra amaldiçoada – começou Vulthar – o poder das trevas que flui aqui enfraquece a clériga ao mesmo tempo que fortalece Isawa.

- Então a luta está nivelada? – perguntou Turok.

- Estaria se não fosse o fato da outra ter mais experiência em batalha, mas para isso Isawa tem outra ajuda inesperada – Vulthar sabia muito bem o que dizia – o sangue de dragão dela faz seus instintos ficarem mais apurados, enquanto ela mantiver em mente o desejo de viver esse instinto a protegerá.

 

Tudo o que Vulthar dizia era verdade, sua terra natal protegia sua princesa e o sangue dela despertado por sua mãe cuidava do resto, ainda havia o detalhe de que Isawa estava vestindo uma armadura resistente e carregava uma arma muito perigosa.

Dentro do salão a luta ficava cada vez mais violenta, ambas já estavam machucadas, Isawa um pouco mais que menefer, porem dava pra dizer que as duas estavam empatadas.

 

- “O que está acontecendo aqui?” – se perguntou – “Isawa nunca foi tão forte!”.

 

As duas se apoiavam em suas armas arfando de cansaço, se encarando e analisando, Menefer pode notar que os olhos de Isawa pareciam com os de seu dragão Oreades.

 

- “ela está se transformando aos poucos” – notou Menefer – “tenho que mata-la logo”

 

Menefer se levantou e atacou Isawa mais uma vez girando sua espada como se quisesse degolar a outra instantaneamente, mas Isawa bloqueou que com sua própria espada apenas se desequilibrando.

Mas ela rapidamente recuperou o equilíbrio e desferiu um golpe contra Menefer que se assustou com a velocidade, a espada fez um corte profundo no rosto de Menefer, e para desespero dela o corte aumentou como se a carne estivesse derretendo.

 

- Essa espada libera acido? – Menefer questionou Isawa enquanto usava sua magia enfraquecida para impedir que o acido destruísse seu rosto – é um truque sujo sabia?.

- Eu... nem sabia que ela fazia isso! – respondeu Isawa tomando um pouco de distancia – alem disso a sua queima quando corta!.

 

A espada de Isawa era feita com os ossos do seu pai dragão, e ao que parecia ela imitava o terrível efeito do sopro acido dos dragões negros derretendo aquilo que cortava, isso era muito pior que uma cimitarra flamejante por que quando a ferida aumentava a perda de sangue aumentava.

Dessa vez Isawa atacou Menefer, mas esta conjurou uma bola de fogo e atirou sobre Isawa que caiu no chão com o impacto.

 

- E essa armadura também não é normal não é? Você nem se queimou.

- Esse é meu pai me protegendo – respondeu Isawa se levantando – eu ainda não me acostumei com a idéia de não ser humana, mas fico feliz por ele cuidar de mim mesmo morto.

 

Menefer sentiu inveja de sua amiga, seu pai era amável e carinhoso com ela enquanto sua mãe vivia, mas depois que a guerra começou e a mãe de menefer morreu na batalha que destruiu esse palácio ele se tornou amargo e insensível, a obsessão pela guerra tirou dela o amor do pai.

A princesa do deserto estava abalada com essa luta, era como se lutasse contra Isawa e si mesma, ela que até então tentava não tornar pessoal começou a se afetar com a ira.

 

- Quando eu te matar tudo voltará a ser como era – disse Menefer num surto de raiva – quando eu me livrar de você minha vida poderá ser como antes!

 

Ela atacou de forma aleatória, Isawa mesmo não tendo treinamento se esquivou do ataque e enfiou a lamina da sua espada no estomago de Menefer, esta caiu no chão se contorcendo em dor quando o acido começou a lhe queimar por dentro.

 

- Me perdoe Akiko-chan! – gritou Isawa chorando e segurando a amiga nos braços – eu não quero te matar, eu não quero te fazer mal!

- Mestra!! – gritou Dalap voando até onde elas estavam – agüente firme mestra!!

 

O sangue não parava de sair do ferimento, Menefer tentava usar sua magia pra se curar mas estava muito fraca, de repente uma presença poderosa surgiu no salão, um cavaleiro em armadura brilhante apareceu diante das duas, com um movimento de sua mão uma luz cobriu Menefer e segundos depois ela estava curada, ainda enfraquecida ela continuou no braços da amiga.

 

- quem é você? – questionou Isawa desconfiada.

- meu nome é Khalmyr – apresentou-se – sou o deus da ordem e da justiça.

 

Isawa apenas suspirou, olhou para sua amiga que parecia envergonhada em seus braços, mas que estava fraca demais até pra ficar de pé.

- Eu interrompi essa luta por que tenho assuntos a tratar com as duas – avisou ele com uma voz inflexível.

 

 

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

o que acharam? o que esperam para o proximo cap?
e o que estão achando da interferencia dos deuses?
falando nisso o que voces gostariam que isawa fizesse? ela deveria assumir seu lado maligno de vez ou continuar como está?