Me Faça Existir escrita por Alchemist D


Capítulo 1
OneShot - Me Faça Existir


Notas iniciais do capítulo

Música: Flyleaf "Missing" -> http://www.youtube.com/watch?v=-X5lbZi6UUo&ob=av2e (Acho que fica mais legal se ouvirem a música só no final, imaginem os créditos hehe')
Negrito -> Pensamentos da autora.
Itálico -> Letra da música.



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Nem todos têm para onde voltar...



“Eu vi a rainha

Nadei sob sua estrela no mar abaixo

Apesar de eu erguer minhas mãos para ela

Ela nunca me levantou”.


Sozinha... Caminhando por ruas de fama perigosa, esperando que minha sorte desperte um ser bondoso para me esfaquear. Pudera eu crer em contos de fadas, onde os sonhos se realizam... Talvez meu desejo, de sentir demasiada dor, seja atendido...


Dor? Pode se tornar algo desconfortável... Mas quem se importa? Minha alma já está calejada... Dizem que a ferida interior é a mais dolorosa, porém, já não há mais um coração batendo no meu peito, e já não possuo mais um lugar para voltar... Sem rumo...



“Oh, algo está faltando em mim”.


O que eu tenho a perder? Se minha alma não sente mais dor, talvez feridas na carne me tragam algum prazer... Ou, simplesmente, me devolvam a fé de que ainda possuo sentidos, e não sou apenas um corpo vazio vagando na escuridão...


Está uma noite tão escura... Sequer as luzes da rua se acendem para me iluminar...


– Ei! Você!


Eu? Quem poderia me chamar? Apesar da fraqueza no tom, parecia uma voz firme, com poder... Um arrepio... Segui a voz rouca vinda de um beco próximo, a aura que pairava me provocava calafrios. Encarei a figura desgastada, vítima de seu próprio corpo limitado. Por um momento o invejei, profundamente. Ajoelhado com os pulsos presos por finas barras de ferro, encaixadas ao muro de concreto resistente, marcas de luta pelo corpo, feridas sangrentas de caráter violento.


– Você pode me ajudar?


Ajudar? Mas eu planejava me juntar a você... Raciocínio. Minha mente, caída em desvario, passou pelo seu “momento de melhora repentina antes da morte”, e resolveu ativar meus pensamentos instintivos.


– Quem é você?


Meus pés se moveram sozinhos, dando passos cuidadosos para trás.


– Eu sou Zero...


Fui tomada por uma tontura, precisei apoiar-me na parede para não desabar. A presença dele parecia dispensar certa pressão sobre mim. E aquela voz abatida, mas que parecia acariciar meus ouvidos com doçura. Uma paz me invadiu, deixando meu corpo leve. O rapaz balançou a cabeça, para retirar as belas madeixas prateadas, da frente de seus olhos. Cravou os mesmos em mim, pude me ver refletida nos orbes lilases, mesmo minha face fria e sem vida tornou-se agradável naquela moldura rara.


– Você é linda...



“Encontrei algo doce
Na ilha com as filhas de Eva
E por tempos difíceis elas foram embora
E só deixaram a sua dor”.


O ar me faltou, respiração oscilante. O que ele é? Algum tipo de mágico? Hipnótico? Seu feitiço fora deveras eficaz contra essa mera mortal. Caminhei em passos lentos, me aproximando, ajoelhei em sua fronte, segurei uma das barras e puxei devagar. Apertava os olhos temerosa, não queria causar-lhe mais dor, muito menos desfigurar ainda mais aquele corpo. Sim, a camisa branca desabotoada, a calça com rasgos e linhas desfiadas, me ofereciam uma boa visão daquela arte divina, a qual me causava palpitações.


Consegui soltar o seu braço direito, ele me sorriu discreto, desviou o olhar para sua mão livre, a fitou como se, pela primeira vez, pudesse movê-la, abriu a mesma e fechou logo em seguida. Repetiu o movimento algumas vezes, até que voltou seu olhar agradecido para mim.


– Qual o seu nome?


Fitei o chão, mas era para dentro que, realmente, olhava, procurando por algo que já me era inútil... Assim como um animal abandonado, eu não precisava de um nome... Pois não havia quem me procurasse... Não havia quem sentisse minha falta...


– Meu nome? Eu me esqueci... Me esqueci do meu próprio nome... Pois já faz muito tempo desde que... Alguém me chamou... [1]


Uma lágrima solitária caiu, concretizando meu conformismo. Vi a sombra de seu braço livre se locomover. Senti seu toque, secando aquela solidão. Ele se aproximou o máximo que pôde, encostando seu nariz ao meu, roçando de um lado para o outro, meus olhos se arregalaram. Ele parecia uma criança fazendo carinho, até o instante em que me puxou para um abraço. Zero pareceu inalar com vontade o meu perfume, ele acariciou meu rosto com o seu próprio, e bagunçou meus cabelos com sua única mão livre. Senti seu corpo, já robusto, enrijecer ainda mais, uma sensação totalmente nova, era quente, aconchegante. O sangue que manchava a sua camisa, espalhou-se pelo meu vestido azul claro.


– O seu cheiro me fascina...


E eu estava caída aos pés daquele homem.


– Eu não posso me controlar...


Zero começou a puxar seu pulso que ainda estava preso, lentamente, sua pele era rasgada, e o sangue escorria em abundância. Não conseguia imaginar a dor que ele sentia, com o ferro estraçalhando suas veias. Mas ele não demonstrava. Tudo que fazia era me apertar cada vez mais contra seu corpo, e inalar todo e qualquer cheiro que pudesse sair de mim. Aquilo era perfeito, e eu não queria que acabasse.


– Não se controle...


Ouvindo aquelas palavras, Zero puxou seu pulso de uma vez, sem se importar com demasiado sangue, me envolveu com seu braço esquerdo, agora livre, me abraçando por completo.


– Eu não posso mais... – Ele arfava. – Não resisto a você... Por favor... – As palavras saíram com dificuldade. – Me permita...


Retribui o abraço, acariciando suas costas, depositei um beijo terno em sua bochecha, e sussurrei próxima ao seu ouvido:


– Faça comigo o que quiser...



“Oh, algo está faltando em mim

Sinto bem fundo dentro de mim”


Mostrou-me a face espantada, quase dizendo: “Não! Você deve fugir! Fuja!”. Entretanto apenas segurei sua mão e a beijei. Ele fez o mesmo com a minha, e usou-a para acariciar o próprio rosto. Novamente seu corpo enrijeceu, ainda ajoelhados, ele se aproximou, forçou meu corpo para que me deitasse, mas com extrema delicadeza. Senti o chão frio e áspero, porém seu toque compensava tudo.


Zero se pôs sobre mim, colou seu rosto ao meu, e encostou seu lábio inferior ao meu lábio superior, logo trocou a posição mordendo de leve meu lábio inferior. Sua mão direita passeou pelo meu corpo, desde minha coxa esquerda, até minha barriga, por debaixo do vestido, alcançou meu seio esquerdo e o massageou.


Invadiu minha boca com sua língua fria, porém prazerosa, com a outra mão segurou minha nuca, aprofundando o beijo. Nunca havia provado nada assim. Sua mão direita desceu para minha cintura, e apertou-a com desespero. Afastou-se de súbito, a respiração pesada.


– Por favor... Zero... Me faça existir...


Ele me encarou, por um último minuto... Abriu a boca mostrando os dentes, e pude ver seus caninos se alongarem... Eu sei o que você é... Zero...


Ele foi diretamente ao meu pescoço, senti a dor exorbitante de suas presas cravando-se na minha carne... Estalo! Ainda existe vida em mim, pois ele a está roubando... Fique com ela...


Minha existência mórbida adquiriu cor, o vermelho... Aquele sangue amargo, contaminado por um veneno alucinante, me enlouqueceu, levando-me ao êxtase. Ele continuou, e eu não conseguia mais sustentar meus olhos abertos, minha visão ficou embaçada... Quando ele me soltou, e fitou minha face com admiração.


– Yuuki... É um lindo nome...


Sim... Meu nome... É lindo...


Tudo a minha volta começou a se apagar, as pálpebras ficaram pesadas como portas de aço querendo fechar...



“Como amantes, me deixou para sangrar sozinha”.


**********

– Yuuki... Eu não vou me esquecer do seu nome...


A visão ficou avermelhada, abri os olhos, e eles arderam com o forte sol reluzente. Eu estava sozinha, Zero não estava mais comigo. Mas agora eu tinha para onde voltar...



Nem todos têm para onde voltar... Eles só querem ser chamados pelo próprio nome... Eles só querem existir...



**********

Yuuki voltou naquele mesmo lugar, noite após noite, procurando pelo seu amado, procurando pela parte que lhe faltava...



“Aqui embaixo o amor não era pra ser
Não era pra ser para mim
É tudo vaidade debaixo do Sol
É tudo vaidade”.


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Notas finais do capítulo

[1]Essa frase foi retirada do capítulo 62 do mangá. Não me baseei nesse capítulo, apenas achei essa frase interessante.
Oii pessoal, enfim, demorei, mas voltei com algo novo. E logo estarei atualizando a fic "O Beijo Sangrento" espero que possam acompanhar...
Eu tenho o começo dessa One já faz mais de um ano, dá pra acreditar? E só consegui terminar agora... Mas apesar disso estou muito feliz com o resultado, espero que tbm possam apreciar, e espero reviews *.* BjUsSsS rsrs



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