Entre O Brilho Das Estrelas escrita por Anny Andrade


Capítulo 17
Capítulo 17: Ironia.


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de dizer que não foi fácil terminar essa fanfic, mas foi prazeroso escrevê-la.
Eu aprendi muito com ela, primeiro aprendi a não fazer continuações porque é muito complicado e sempre perde o foco principal da história. Só nossa amada, idolatrada J.K consegue, porque ela é diva demais!!!
Eu quero agradecer aos leitores que restaram, sei que não são muitos, mas eu os adoro tanto, por eles permanecerem comigo até o fim e por não terem abandonado a fic já que ela ficou muito tempo sem posts devido uma súbita falta de criatividade.
Espero que um dia cheguem a ler algo original que eu escreva, porque por mais difícil que seja eu não consigo ficar muito tempo sem escrever...
Estou falando demais.
Esse é o fim de Entre o Brilho das Estrelas, espero que gostem!!! Ignorem meus típicos erros gramaticais, de concordância, e ao todo... Perdoem qualquer erro que esteja presente no texto. Obrigada por lerem...
Um beijinho especial para linda Milena que sempre me pediu mais capítulos e fez com que eu voltasse a postar aqui no Nyah... E para todas que acompanham a fic deixando comentários ou não...
Obrigada!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/212360/chapter/17

Dois dias se passaram.


Rony ainda não tinha conseguido falar com Hermione, já que sempre que ele apareceu no quarto da garota ela estava dormindo, ou fingindo dormir ele começou a desconfiar.


Ele não sabia o que fazer, o que falar e muito mesmo como agir, mas ele sabia que precisava ficar perto dela. Ficar junto com o amor da sua vida, ainda mais depois de tudo. Primeiro a noticia da gravidez, ele mal tinha comemorado, aceitado, e se sentido feliz com a novidade e ela foi arrancada dele. Seu coração estava quebrado, e ele sabia que o dela também estava.


Rony perdeu um filho que teve por poucos minutos, mas ela perdeu algo que estava fazendo parte dela, se alimentando, crescendo, vivendo. Não era justo. Simplesmente não fazia sentido tudo que havia acontecido. Um momento feliz se transformou na maior tristeza. Ele se sentia perdido, e precisava dela para voltar a se achar.


Por fim Rony desistiu de dar uma chance de Hermione fugir dele, e se colocou em uma das cadeiras do quarto da garota, lá ele ficaria até que ela acordasse. Porque em algum momento ela acordaria, em algum momento sairiam daquele pesadelo, em algum momento as coisas voltariam ao normal.


Já fazia horas que ele estava lá. A cadeira era pequena e desconfortável, e o cheiro de hospital do deixava se sentindo pior do que já se sentia. Foi quando ela abriu os olhos. Suas olheiras eram profundas, e seu rosto continuava pálido como papel. E não era de se estranhar os olhos vermelhos, sem brilho, sem vida...


— Não vai embora? — Sua voz foi tão fraca quanto sua expressão. Ela suspirou sem realmente olhar para Rony.


— Não. — Rony respondeu sem forçar nenhum pergunta ou comunicação.


— Então fique. — Hermione disse voltando a fechar os olhos.


Ela esperava que a maneira pouco amigável e a voz cansada fizesse com que ele entendesse que não o queria ali. Na verdade depois das lagrimas derramadas na camisa de seu pai ela sempre fingia está dormindo quando alguém chegasse. Queria apenas a solidão, o silencio, assim era mais fácil sentir a perda e não deixar a dor passar.


Porque era exatamente isso que ela queria, que a dor ficasse ali para sempre. Porque não seria certo perdê-la, e não seria certo voltar a sorrir, e além de não ser certo ela jamais conseguiria. Jamais. Tudo que lhe restará foi a dor, a tristeza e a vontade de não existir de maneira nenhuma.


Ficava o tempo todo com os olhos fechados, o tempo inteiro que tinha visitas. Todos foram vê-la, e estavam preocupados, ela até escutou algumas lágrimas de Flavinho, e as palavras de Luna diziam tantas coisas que não faziam sentindo algum. Algo como “ficar forte”, “voltar ao normal”, “se apoiar em quem a ama”, “ser feliz”. Palavras que jamais voltariam a fazer sentido.


Ela também estava acordada quando Harry foi visita-la, ele não chorou. Suas palavras foram um pouco mais profundas, e sua mão pousou sobre a cabeça dela e lá ficou por um bom tempo. “Volte para nós” ele disse com tanta tranquilidade que Hermione quase respondeu com um breve “não posso”, mas no final permaneceu em silencio e o garoto logo se foi dando lugar a outra visita.


Gina foi a mais desesperada, Hermione podia escutar as lágrimas dela, e as broncas, e por fim sentiu um beijo molhado da testa. Sua amiga estava muito preocupada, mas nem mesmo isso fez com que ela tivesse vontade de abrir os olhos e conversar.


Só que o pior era sempre quando o Rony chegava, porque ele dava a ela aquela calma que ela não queria, e dava ainda mais vontade de chorar. Ele com o seu perfume familiar, e com as mãos tocando em seu rosto com delicadeza, junto com as lágrimas silenciosas. Sempre que ele chegava ela se sentia ainda mais perdida e com medo. Com medo de sair dali, com medo de precisar seguir em frente. Com medo.


Normalmente ele ia embora e ela podia abrir os olhos e chorar, depois de algumas horas ele voltava e ela dormia como em um passe de mágica. Dessa vez ele permaneceu ali, sozinho, respirando calmamente. Não se aproximou, não a tocou, não disse nada, pelo menos até ela falar com ele. Ele nem se abalou com o jeito como ela falou. Ele simplesmente permaneceu.


Essa permanecia fazia com que Hermione não conseguisse dormir, e nem ao menos chorar. Ela estava apenas parada tentando fugir sem ter nenhuma rota ou possibilidade. Estava presa, e o pior era que ela mesma tinha escolhido aquela situação. Não o acidente, nem tudo que envolveu aquilo, mas o resto. O medo principalmente. Isso não era irônico?


É irônico o quanto Hermione demorou para decidir contar que estava gravida. Irônico o medo que ela sentia. Irônico o fato de Rony ter armado um encontro com o pai dela. Irônico que a reação dela tenha sido a pior possível. E irônico tudo que ocorreu depois. O acidente, a morte, e o fato de que ela continua com medo. Irônico como Rony não gritou, não ficou com raiva, ou passou a odiá-la. Irônico que de repente ele parecesse o mais maduro da relação.


Tão irônico como a vida simplesmente te prega peças, e como ela toma caminhos muitas vezes assustadores. Como ela brinca com tudo que te dá e depois pega de volta. Irônico como nunca a entendemos, e sempre a culpamos. Irônico o fato de que sempre será assim. Assustadoramente surpreendente e Surpreendentemente assustadora.


— Eu não vou embora. — a voz de Rony chegou até ela. — Nunca.


Seria bom que ela não tivesse perdido a fé em todos os “para sempre” da vida.


— Nada é eterno. Por isso não diga “nunca” porque vai acabar acontecendo. — Essas foram as palavras dela. Simples. Dolorosas.


— Eu acredito no eterno, Hermione. — Rony disse com a voz mansa e cheia de carinho e compreensão. — Talvez eu possa acreditar por nós dois.


As palavras fugiram da escritora, e tudo que lhe restou foram às lágrimas.


XXX


Os dias começaram a passar tão pesadamente e de maneira tão triste que por isso mesmo seria difícil demais descrevê-los. Hermione acabou aceitando as visitas diárias de suas amigas e amigos, e também não tentou fazer com que Rony fosse embora, ele sempre a ignorava quando a garota tentava falar. Ela nunca o viu com tantos livros por perto.


— Preciso me distrair. — Rony sempre dizia quando ela o questionava com o olhar. E ai ela cedia o deixando ler o que quer que fosse os tais livros.


Em algum momento seus pais também vinham e ela acabava sempre chorando com Philipes e segurando a mão do pai firmemente entre as suas. Nesses momento ela ouvia pela porta fechada do quarto quando Rony dizia que ao menos o plano de fazê-los voltarem a se falar tinha dado certo.


Hermione sentia um pouco de raiva quando pensava sobre aquele dia, e em alguns momentos colocava toda a culpa do que havia acontecido sobre os ombros de Rony. Ela gritava com ele, o xingava de coisas que nem sabia que conhecia, e no final acabava aos prantos. O ruivo ficava apenas em silencio a escutando, não gritava de volta, não abria boca. Nem parecia o garoto que sempre gostava de discutir com ela. Mas Hermione também não era mais aquela garota. E ela tinha quase certeza que parte dela tinha morrido junto com seu bebe.


Mas nem tudo era tão calmo. Gina não parecia tão disposta a ignorar ou fingir não escutar as ofensas que a garota jogava sobre seu irmão. Ela sabia que Hermione estava triste, muito mais que triste, ela estava devastada. Só que Gina também sabia que não era justo que seu irmão além de também ter perdido o futuro filho, ainda fosse acusado de ser o culpado. Se Hermione estava devastada Rony também estava e mesmo assim permanecia forte ao lado dela.


Em uma das ocasiões em que Gina estourou as palavras saíram da sua boca como se estivessem vazando de uma torneira quebrada. E Hermione ouviu tudo sem uma única expressão no rosto. Tinha sido como se as palavras tivessem a paralisado.


— Ele não é o culpado! — Gina gritou antes que qualquer pudesse lhe colocar para fora do quarto. — Não existe culpado, aconteceu por um acidente. Tinha que acontecer. E se fosse para culpar alguém, eu diria que você demorou demais para contar sobre a gravidez, e eu disse para contar logo, eu avisei que tinha que contar. Por que não contou? Você não vai poder ficar no hospital para sempre, e não é só você que perdeu um filho! Meu irmão também perdeu, e ele nem pode aproveitar um pouco da ideia porque você escondeu isso dele!


Rony puxou Gina para fora do quarto enquanto os outros olhavam de boca aberta. Ele não ia brigar com Gina, não podia e nem tinha forças para tal ato. Sua irmã também estava triste, cansada, e preocupada com Hermione. Ela tinha o direito de acabar fazendo besteira. E as lágrimas que caiam de seu rosto fizeram com que tudo que o ruivo fizesse fosse abraça-la e dizer que tudo ficaria bem.


Ele andava ouvindo muito isso. Mas sempre pareciam palavras vazias. Como as outras pessoas podiam saber que tudo ficaria bem? Era ser muito egocêntrico pensar que sabe tudo sobre a vida para afirmar que tudo ficaria bem. Nada ficaria bem. O seu mundo estava desmoronando e ele de repente era apenas um jovem com expressão cansada e aparentando ter muito mais idade do que realmente tinha.


Em dias bons Hermione perguntava sobre o restaurante e tentava convencer ele a voltar a cuidar do lugar. Obvio que Rony desconversava sobre seu retorno ao restaurante e dizia que tudo estava indo bem nas mãos de Katty e Harry, e que todos estavam ajudando inclusive Brian.


Essas conversas davam esperanças de que Hermione estava se recuperando aos poucos, mas logo em seguida voltava a depressão e a fragilidade dela. Chorava em silencio durante as noites, passava o dia todo encolhida na cama de hospital, e não comia, não conversava nem mesmo com os pais, não tomava os remédios. Seu corpo andava magro demais e fraco demais. Os médicos já deixavam o soro preparado para que passasse a noite toda sendo injetado em sua veia, gota a gota. Rony muitas vezes ficava contando enquanto as gotas caiam uma a uma e Hermione era sedada e para de chorar.


Todos os dias eram terríveis como pesadelos eternos.


O casamente, ou melhor, a festa de casamento de Draco e Luna estava muito próxima, era apenas questão de dias e mesmo com todos afirmando que deveriam cancelar ou adiar Rony os obrigou a continuar com os preparativos. Ele sabia que estavam esperando por aquilo há muito tempo e que não seria certo cancelar. E como que se ele tivesse vivido mil anos em poucas semanas ele sabia que a vida continuava. Sua mãe sempre foi boa em dar conselhos, e ela sempre dizia: A vida continua.


— Eu estou preocupada, não consigo mais ver vocês assim... — Gina estava observando Hermione dormir e conversava com Rony ambos sentados em cadeiras nem um pouco confortáveis. Rony já estava acostumado a dormir nas diferentes posições e suas costas nem doíam mais.


— Uma hora as coisas vão melhorar — Rony suspirou — É o que todos dizem... — Ele também estava cansado com tudo aquilo, mas não desistiria de Hermione. Jamais.


— Queria poder fazer alguma coisa. — Gina suspirou segurando as mãos do irmão.


— Já está fazendo, está sendo a irmã bacana e responsável que não sabia que você sabia ser.


— Nem eu sabia. — Gina disse dando um fraco sorriso.


— Esses dias estão sendo bons. — Rony olhou para Hermione. — Ela comeu todos os dias, e estão pensando em tirar o soro. Ela não gritou e nem teve crises de choro. Talvez seja um começo...


— Claro que é... — Gina sorriu mais forte. — Ela aceitou ver outras pessoas?


— Não. Ainda não quer ver ninguém. — Rony suspirou. — Só pode ficar porque ela esta dormindo, os médicos não querem que ela tenha alguma reação forte demais.


— Eu pisei na bola aquele dia, me desculpe.


— Tudo bem, estamos todos cansados demais e perdidos demais. — Rony disse ainda olhando para Hermione. — E vocês sempre foram grandes amigas.


— É... Estava vendo nossas fotos de tantas férias, e de quando ela chegou aqui... — Gina suspirou segurando uma lágrima. — Quero minha amiga de volta.


— Gina...


— Desculpe... — Gina respirou fundo e limpou as lágrimas. — Trouxe algumas...


Ela abriu a bolsa e tirou três porta retratos com fotos dela com Hermione e Luna, todas da época que eram crianças, e uma de Hermione e Rony do dia que eles tiveram a primeira briga. Aquelas fotos fizeram algo dentro de Rony pulsar com saudades e com fé.


— Eu tive uma ideia. — Ele falou um pouco confuso.


— O que?


— Gina você pode me ajudar?


— Claro, mas...


XXX


Quando abriu os olhos não sabia onde estava. Não porque o lugar estivesse escuro, muito pelo contrario. O quarto estava claro, mas era a única coisa que Hermione reconhecia. Horas antes quando adormeceu estava em um típico quarto de hospital, cores neutras e sem vida, janelas limpas e antigas, lençóis brancos e com cheiro de álcool de tão desinfetados. Seu quarto não era mais o mesmo.


— O que? — sua voz começou a escapar com curiosidade, mas quando seus olhos se acostumaram com a novidade ela se calou.


Com muita dificuldade Hermione saiu da cama. Ela tinha aprendido a manusear o soro que pingava em sua veia junto com remédios calmantes e com facilidade pois se a rondar pelo quarto.


Sua mão foi lentamente na direção de uma das paredes. Cobertas por fotos. Não havia um centímetro do quarto que não tivesse uma foto. Ela estava em todas elas. Ela sorria. Todas aquelas Hermione olhando para ela fez com que ela se sentia assustada, mas por um breve momento apenas.


Eram seus momentos. Todos seus momentos em cada canto do quarto. Fotos de quando ela era um pequeno bebe, com roupas rosas, sentada em meio a vários livros, tomando sorvete, abrindo presentes de natal e também com bolos de aniversários. Com seus pais, e com amigos que não via mais. E havia fotos com Gina de todas as férias que passavam juntas, fotos com Luna, e tinham fotos dela sozinha, dela chorando com o seu livro nas mãos. Fotos com Rony, fotos que ela nem sabia que tinha, fotos com Harry e fotos com todos juntos.


Junto com as fotos tinham algumas frases. “Esse dia foi lindo!”, “Amo sorvete de limão.”, “Para de ser idiota, Draco.”, “Sei que você me ama Luna.”, “ Minhas músicas são legais.”, “Você é fraca Gina.”, “Essa estrela é sua Hermione.”, “Eu nunca mais vou me apaixonar.”, “Isso vai ser um arraso.”, “Eu só queria conhecer a Lana.”, “Ralph não é uma boa idéia.”, “Querida tudo vai ficar bem.”, “Eu acredito no eterno por nós dois.”, “Eu te amo.”


— O que? — Hermione não tinha percebido as lagrimas que tinham molhado seu rosto inteiro. O que estavam tentando fazer com ela? Aquele não era o momento para aquele tipo de brincadeira. Ela estava triste, não queria memorias felizes, na verdade queria ser esquecida por todos.


Mas os amigos de verdade não se esquecem de nós mesmo que desejemos que eles esqueçam. Amigos de verdade ficam ao seu lado mesmo a distancia, e te dão sua energia e sua fé. Amigos de verdade invadem um hospital durante a noite e colam varias fotos suas no intuito de te ajudar a reviver. Amigos de verdade te resgatam de onde não quer ser resgatada e amigos de verdade dizem que tudo vai ficar bem, porque são eles quem faz com que realmente fique.


Hermione voltou para a cama sentando-se por não conseguir se manter em pé. Como era difícil aceitar as coisas, como era difícil superar coisas daquele tipo. Ela suspirou encontrando um papel que pedia que ela ligasse a TV. O que mais iria acontecer com ela? Com as lagrimas de alegria, tristeza, dor, remorso, e por mais um bilhão de sentimentos misturados, ela pegou o controle e ligou a TV que se encontrava em sua frente.


Demorou um pouco para que alguma imagem aparecesse e então ele surgiu. Rony estava dentro da TV com um sorriso fraco e olhos de quem não dormia direito a anos, e parecia ter envelhecido muito.


— Hermione o que achou da decoração? — Sua voz era bem calma e ao falar o nome dele ele sorriu. — Eu sei que deve ser difícil olhar para todos esses sorrisos, quando você passa o tempo todo querendo chorar. Mas esses rostos que estão sorrindo nas fotos andam um pouco mudados. Começando pelo meu. Pareço ter uns 40 anos né? Gina também parece mais velha e está tão madura, você não a reconheceria. Luna e Draco estão cuidando de tantas coisas que nem conseguem ficar brigando e se agarrando o tempo todo, e ele sempre teve uma fantasia esquisita com enfermeiras e hospitais, seria a oportunidade perfeita, mas ele não consegue pensar nisso. Harry anda muito ocupado com o restaurante junto com a Katty enquanto Flavinho e os outros estão cuidando do seu livro. Um livro que eu li muito bem lido enquanto ficava te olhando dormir. Eu não me pareço nem um pouco com o personagem principal, porque ele é o sonho de varias garotas e eu não sou nem um pouco perfeito ou desejado. Fico tranquilo em não precisar me parecer com alguém que existe apenas em um livro. Eu sinto sua falta, mas outras pessoas também querem falar com você.


Hermione assistiu ao vídeo todo. Seus amigos ficaram falando coisas com sentido e coisas sem sentido e algumas vezes ela sorriu. Sorriu de verdade, sem aquela culpa que sempre a consumia. No final do vídeo Rony voltou a aparecer e sua voz estava um pouco rouca e os olhos vermelhos, o que fez ela pensar em choro. Ele tinha chorado, e provavelmente era quem tinha gravado cada depoimento.


— Eu também estou sofrendo. Nós dois perdemos parte de nós. Você estava carregando algo que também era meu. Um pedaço de mim em você. E esse pedaço morreu, foi levado, roubado. Só que existem outros pedaços de mim que sempre terá com você. Esses pedaços podem voltar a crescer e chegar a sorrir para nós. Meu coração é um desses pedaços, ele é somente seu. Só que ele está um pouco machucado, com algumas feridas e cicatrizes, e com hematomas. Se você cuidar dele ele pode se recuperar, e quem sabe voltar a bater com energia. E ai eu poderia cuidar do seu coração também. Porque seu coração está mais machucado que o meu, e está com alguns pedaços quase mortos, mas eu posso te ajudar. Nós dois juntos podíamos recuperar esses corações antes que eles sejam transformados em apenas mais um órgão do corpo. Nós podemos fazer com que eles sejam nossa forma de escapar das decepções da vida. Hermione não deixe meu coração morrer, mas principalmente, não deixe seu coração morrer.


Hermione estava chorando como se tudo dependesse de suas lágrimas, mas mesmo com o barulho dos seus soluços ela ainda pode escutar as últimas palavras que Rony disse no vídeo.


— Eu te amo.


Ela achou que o vídeo tinha acabado quando uma música começou a ser tocada. Draco segurava um violão enquanto Luna permanecia ao seu lado. Luna nunca foi boa cantora, mas acho que estava tentando animar Hermione.


— Oi amiga... Nós temos uma música para você, e quando digo nós quero dizer que convenci a todos e por isso eles estão vindo agora. — Luna disse mandona e em seguida os rostos de Gina, Harry apareceram ao lado dela e de Draco.


— Nós te amamos Hermione. — Harry disse com um sorriso.


— Sempre vamos te amar... — Gina também sorriu.


— Precisamos de alguém inteligente no grupo. — Draco piscou.


Então a música começou, fazendo Hermione chorar com um leve sorriso nos lábios.


“Um homem velho fez 98 anos

Ganhou na loteria e morreu no dia seguinte

É uma mosca preta em seu Chardonnay

É o perdão no corredor da morte, dois minutos atrasado

Isso é irônico... não acha?”

É como você esperar a vida toda por alguém especial e quando a conhece briga com ela. É como saber que seu destino é ficar ao lado de alguém e mesmo assim viajar. É como voltar depois de anos e ainda sentir as mesmas coisas. É como acreditar no impossível e ganhar estrelas, e depois sentir tudo indo embora. É como ter os melhores pais do mundo e ainda assim brigar com eles. É como se sentir feliz em um minuto e logo em seguida querer sumir. É ter grandes amigos e não saber corresponder.

“É como chuva no dia do seu casamento

É uma passagem de graça, quando você já pagou

É um bom conselho que você não aceitou

E quem teria imaginado... isto acontece.”

É como querer se apaixonar e ter medo de sofrer. É como se entregar a pessoa errada e dois não poder voltar no tempo e mudar de ideia. É se declarar e depois fazer a coisa errada. É como fugir para longe e continuar com as mesmas atitudes antigas. É como ver o quanto você é uma pessoa ruim e não sentir nada. É perceber que não é a pessoa que gostaria de ser, através de outra pessoa. É ter o amor e o deixar escapar.

“O Sr. Precavido estava com medo de voar

Ele arrumou sua mala e deu um beijo de adeus em seus filhos

Ele esperou a vida toda para pegar aquele voo

E enquanto o avião caia, ele pensou:

“bem, isso não é bom...”

Isso é irônico... você não acha?”

É guardar um segredo por medo, e perceber que a reação seria a melhor. É decidir revelar tudo na hora errada. É ter o mundo virado de cabeça para baixo. É sentir sua vida sendo roubada e não fazer nada para impedir o ladrão. É desistir da vida quando outras pessoas lutam por ela. É saber que está errada e não ter forças para tentar acertar.

“É como chuva no dia do seu casamento

É uma passagem de graça, quando você já pagou

É um bom conselho que você não aceitou

E quem teria imaginado... isto acontece.”

“Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você

Quando você pensa que tudo está ok e tudo está indo bem

E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando

Quando você pensa que tudo esta dando errado e tudo explode na sua cara”

“Um engarrafamento de transito quando você já esta atrasado

Um sinal de “proibido fumar” no seu intervalo para o cigarro

É como dez mil colheres quando tudo o que você precisa é de uma faca

É encontrar o homem dos meus sonhos

E então encontrar a linda esposa dele

E isso é irônico... você não acha?

Um pouco irônico demais... eu acho...”

“É como chuva no dia do seu casamento

É uma passagem de graça, quando você já pagou

É um bom conselho que você não aceitou

E quem teria imaginado... isto acontece.”


“A vida tem um jeito engraçado de aprontar com você

A vida tem um jeito engraçado de te ajudar

De te ajudar...”

Hermione ficou escutando seus amigos cantando. Sim era irônico demais ela ficar gravida e perder o bebe. Era irônico ela se sentir sozinha quando todos estavam com ela. Era irônico Rony se manter forte e ela ser fraca e debilitada. Era irônico o que uma simples musica pode fazer com você.


Ela não saiu do hospital naquele dia, e nem no seguinte, mas o vídeo tocou em algo dentro dela. No coração despedaçado que começou a recolher os pedados perdidos e os colou uns aos outros com delicadeza e cuidado para não quebra-los ainda mais. Ela começou a deixar que Rony ficasse lá e que segurasse sua mão. E pediu livros para ler. Ela aceitou conversar com Luna e Gina e também com os outros que a vinham visitar.


Nos dias seguintes ela começou a ficar sem soro, e sem marcas de lágrimas no rosto. Não ia ser fácil. E uma música não te cura, mas uma dose de musica, de amigos, de família, de amor. Uma dose de fé poderia curar. Um dia de cada vez. A vida continua.


XXX


Os dias se passaram e Hermione voltou para casa, não foi fácil convencer seus pais de que ela ficaria bem no apartamento com Luna e Gina, mas no final ela conseguiu convencê-los. E Rony estava sempre por perto para ajuda-la e apoiá-la. Ela nunca pensou que ele seria capaz de fazer o que havia feito nos últimos tempos. Ele tinha crescido e amadurecido. E ele estava com ela, apesar de tudo.


Está com Rony era o que mais dava forças para que ela se levantasse todos os dias e continuasse a viver. Rony tinha lhe salvado, mesmo dizendo que não era perfeito. Naquele momento para Hermione ele era muito mais que perfeito, ele era sua fortaleza, seu porto. Sua ancora. Ela estava cuidando do coração dele, mas ele estava salvando o dela.


Quando a festa de casamento chegou as coisas estavam indo melhor. Não que Hermione fosse a mesma, ela jamais seria. E Gina e Harry não trocavam mais do que duas palavras, mesmo sendo educados dava para ver o estranhamento eles. As únicas pessoas felizes além de Draco e Luna que tinham recuperando a paixão arrebatadora deles, eram Katty e Brian que pareciam mais juntos que nunca. Eles tinham contado sobre o relacionamento e que estavam tentando se conhecer melhor. Rony ficou feliz por eles e Hermione até brincou com o fato de Brian finalmente ter desistido de personagens literários.


Flavinho estava ansioso com a cerimonia de troca de alianças e a festa em si, e parecia a ponto de explodir. Léo evitava esses momentos se fingindo de muito ocupado com interesses de Hermione, mas ele passava a maior parte do tempo jogando vídeo game com Draco no apartamento dos garotos.


— Pelo amo da Santa dos gays desesperados onde está aquela loira maluca? — Flavinho entrou no quarto que Hermione ocupava. Ela estava junto com Rony na cama ignorando que a roupa de ambos ficaria amassada. Ela gostava de ficar deitada com ele sem falar nada, ou fazer nada, simplesmente ouvindo a respiração e o coração do ruivo. — Oh... Me desculpe...


— Flavinho nós estamos apenas esperando a hora do casamento. — Hermione disse com calma.


Ela e Rony estavam bem vestidos, e estavam meio deitados e meio sentados. Rony tinha os olhos fechado e quase pegava no sono. Ele usava uma camisa branca e o terno que Flavinho obrigou a todos os garotos usarem estava intacto sobre a escrivaninha de Hermione. Ela por outro lado usava um lindo vestido roxo e os cabelos bem penteados.


— Ótimo! Onde está ela? — Flavinho parecia a beira de um ataque.


— Ela? — Rony pareceu confuso.


— LUNA!!!!!! — Flavinho gritou.


— Hum... Ela não está no casamento? — Rony sugeriu.


— Eu ia leva-la! Onde ela se meteu? — Flavinho parecia a beira das lagrimas.

— Talvez ela tenha ido mais cedo... com Gina... — Hermione sorriu se levantando. — Se acalme, que tal irmos também antes que nos atrasemos?


— Hum... Boa ideia. — Flavinho disse um pouco mais calmo, mas ainda tenso.


XXX


A risada deles era alta. Fazia tempos que não riam daquela maneira, desde o acidente com Hermione, mas agora as coisas estavam voltando ao normal, estavam melhorando e eles tinham o direito de um pouquinho de felicidade. O véu branco era lançado para longe dos cabelos loiros enquanto a moto avançava por uma estrada pouco movimentada.


— Flavinho vai nos matar! — Luna gritou rindo.


— Se ele nos achar... — Draco acelerou a moto sentindo as mãos de Luna o apertarem mais ainda.


— Eu te amo! — Ele gritou nos ouvidos do loiro.


— Eu te amo muito mais Luna!


— Eu queria que estivéssemos em um carro... — Ela lamentou assim que passaram por um caminhão enorme.


— No carro não teríamos o mesmo vento e a mesma velocidade! Luna, nunca deixaria algo de ruim acontecer!


— Eu sei. — Ela riu. — Me sinto em um filme antigo onde a mocinha foge com o motoqueiro marginal.


— Eu sou o motoqueiro marginal?


— Obvio! Sempre foi.

— E você me ama por isso, por ser todo errado!


— Draco eu te amo porque você não desiste! — Luna gritou enquanto avançavam rumo à praia onde tinham se casado.


Eles não precisavam de roupas chiques, e festa sofisticada. Eles precisavam de liberdade, de um céu aberto e de um amor enorme. Tinham tudo isso na praia, e o mais importante, não tinham mais ninguém por perto. Eram livres. E seriam felizes.


— Luna...


— Hum? — Ela disse o abraçando apertado.


— Você sentir falta do corredor do prédio. — Ele riu.


— Seu idiota! — Ela gritou com ele.


Algumas pessoas dependem de suas essências para que o amor possa continuar igualmente perigoso, especial e único.


XXX


“Oi pessoinhas... Não, o casamento não foi cancelado. Só que eu e Draco estamos agora indo para uma praia praticamente deserta e totalmente nossa. Estamos indo de moto! Eu sei, eu odeio motos, mas eu amo o Draco. Certo, espero que aproveitem a festa. A comida deve ser deliciosa! Beijinhos cheio de bons sentimentos e pensamentos positivos.

PS.: Flavinho, essa festa é sua não minha e do Draco. Sua e da Gina, mas acho que é mais sua porque você se dedicou como um louco, aproveite sua festa! Draco pediu para um advogado dos pais dele uma indicação e estamos mandando um juiz bacaninha para renovar seu casamento com o Léo!!! Sejam ainda mais felizes! Amo vocês.

Luna”

Flavinho ficou parado no meio dos convidados que riam e aplaudiam. Luna e Draco tinham armado tudo perfeito, e era uma surpresa para os convidado que não se importaram com a mudança de planos, todos pareciam contentes demais com tudo para reparar na troca de casais.


A renovação de votos foi linda e acabou arrancando lagrimas de todas as meninas e de Brian, o que fez com que Katty se sentisse estranhamente mais apaixonada pelo loiro de óculos que tentava esconder suas lagrimas. Ele não precisou se preocupar por muito tempo, pois a garota o agarrou dando um longo beijo que disfarçou todas as lagrimas possíveis.


A festa iria ser longa, e mal tinha começado quando Rony convidou Hermione para segui-lo. Mas não foram os únicos a saírem antes da hora. Gina parecia muito feliz por Flavinho e também por Luna. Fugir do próprio casamento era uma ideia brilhante, e ainda fugir com o noivo. Mas Gina estava se sentindo um pouco abafada dentro da festa e por isso andou até o jardim da casa que tinham alugado.


Era um lugar muito bonito e agradável e ela sentou-se na grama pouco se importando com seu vestido que era lindo e que provavelmente sofreria sérios danos. Ela encostou-se à arvore e suspirou o ar fresco do fim de tarde. O sol estava se preparando para se retirar. E o vento era refrescante.


Gina fechou os olhos e se deixando relaxar. Tinha sido um longo, muito longo ano. E agora com o casamento as coisas ficariam mais calmas e ela poderia avisar sobre uma viagem que faria. Nada de conhecer o mundo, era para uma cidade pertinho, mas onde ela poderia estudar e trabalhar. Já tinha resolvido tudo e só precisava avisar aos amigos e também a família. Somente Rony sabia, já que eles estavam mais unidos ultimamente.


— Tudo termina bem... — Ela suspirou.


— Mas a festa está apenas começando...


— Harry? — Ela abriu os olhos e deu de cara com o garoto.


— Não achei que a organizadora estaria aqui fora. — Ele sorriu.


— Precisava de um pouco de ar. — Gina respondeu estranhamente envergonhada.


— Está realmente cheio lá dentro. Posso me sentar?


— Claro.


— Obrigado. — Harry sentou-se ao lado dela, mas sem chegar a encostar-se à ruiva. Ela prendeu a respiração. Desde a carta sempre que ele se aproximava ela prendia a respiração e só conseguia soltá-la quando ele já estivesse bem longe.


— Eu... — Ela não sabia o que falar e começava a se levantar, mas sentiu a mão de Harry na sua.


— Não precisa ir embora. — Ele deu de ombros. — Eu não queria que me odiasse.


— Não te odeio. — Gina disse se permitindo ficar sentada.


— Mesmo?


— Mesmo. Por que você me odeia?


— Não. Claro que não te odeio Gina. — Harry disse sendo sincero e olhando nos olhos dela.


— Que bom. — Ela soltou o ar.


— É difícil né? Explicar tudo isso... Essa coisa estranha entre nós. — Harry coçou a cabeça.


— Muito... — Gina suspirou. — Mas eu ainda gosto de você.


— Eu...


— Eu sei... Você não gosta do que eu sou.


— Ultimamente você não é a mesma pessoa para quem deixei aquela carta. — Harry disse sendo sincero.


— Eu não gosto daquela Gina também. — Gina disse.


— Que bom, porque isso mostra o quanto eu poderia voltar a gostar de você. — Harry sorriu.


Eles se olharam e começaram a rir. Como antes. Como quando conversavam sem brigar, como quando eram apenas crianças. Porque ele sabia que nunca deixaria de amá-la, mas que no momento ficar como amigos era a melhor escolha. Gina primeiro se encontraria para depois deixar que o amor a reencontre. Existem momentos na vida que você é mais importante do que qualquer pessoa ou sentimento. Esse momento Gina tinha que se dedicar a ela, e ao que ela esperava de si mesmo.


Porém o amor fica adormecido até que o destino o resolva despertar. O amor de Harry e Gina iria esperar que o destino tomasse bem rápido a decisão de despertá-lo.


XXX


O sol estava se pondo e as primeiras estrelas começavam a surgir no céu tingindo em parte por laranja e em parte por um azul quase marinho. Em breve não se veria mais as variações de cores e o negro tomaria conta do céu deixando as estrelas darem seu espetáculo.


O lugar onde estavam dava uma paz enorme. Aquele lugar era deles mesmo que não fosse. E dali o céu parecia mais perto, como se fosse possível esticar a mão e tocá-lo.


Ele a observava enquanto ela olhava extasiada para o céu. Tudo ficaria bem. Porque a vida esconde surpresas boas e más e depois da tempestade sempre volta a aparecer o sol, mesmo que isso seja uma frase clichê e popular. Ele acreditava nela.


— Por que estamos aqui? — Ela perguntou se virando.


— Porque aqui é o nosso lugar... — Ele sorriu. — E estamos mais perto das estrelas aqui em cima.


— Minha estrela ainda continua lá?


— Agora ela tem uma companheira...


— Como?


— Sua estrela está cuidando da nossa estrelinha que precisou ir para céu.


— Rony... — Os olhos de Hermione ficaram brilhantes de lagrimas.


— Nossa estrelinha era boa demais para ficar aqui, então resolveram coloca-la no céu e assim iluminar a todos. Mas como ela é novata nisso de ser estrela, a sua estrela vai ensiná-la e ser perfeita, e também vai cuidar dela. — Rony sorriu com os olhos marejados.


— Eu...


— Eu te amo também.


— Sempre estamos de volta aqui, e sempre chorando. — Hermione disse com a voz embargada.


— Algumas vezes rimos também. — Ele se aproximou dela.


— Poucas...


— Mas são importantes também...


— Rony...


— Eu te trouxe aqui para dizer que vou te amar até quando for permitido, vou esperar você até você voltar, e vou sempre te dar estrelas sejam elas de metal, estejam no céu, ou venham andar pela terra. — Rony limpou uma lágrima do rosto de Hermione. — Eu te amo do pôr do sol até o brilho das estrelas.


The End.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e obrigada por ficarem até aqui!!!
PS: A música que aparece nesse capitulo é Ironic de Alanis Morisette!!! Beijos!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre O Brilho Das Estrelas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.