Entre O Brilho Das Estrelas escrita por Anny Andrade


Capítulo 14
Capítulo 14: Coisas da Vida


Notas iniciais do capítulo

Sim. Eu finalmente postei depois de séculos... Desculpem essa autora cruel e sem criatividade e aproveitem a leitura.



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Existem momentos na vida em que não sabemos como nos comportar. Não sabemos o que sentir, e tudo torna-se uma mistura de alegria com desespero com uma pitada de surpresa. Hermione estava sentido tudo isso, e dentro dela um medo do inesperado quase a deixava completamente paralisada. Fazia muitas horas que ela tinha chegado a casa, muitas horas que ela tinha pronunciado suas ultimas palavras, e muitas horas que lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— Estou começando a ficar preocupada. — Gina disse olhando para Hermione que abraçava uma almofada.

— Hermione... — Luna foi até a amiga e a abraçou. — Isso é algo bom, não precisa se desesperar.

— Eu... Luna... — Hermione deixou que a loira a envolvesse em um abraço e que acariciasse seus cabelos. De uma coisa ela tinha certeza: Luna seria uma excelente mãe, meio excêntrica e um pouco maluca, mas uma ótima mãe. Mas sobre ela mesma não tinha certeza alguma. Nunca tinha pensado sobre o assunto, mas obviamente gostaria de se casar, ter filhos, montar uma família, mas era especificamente nessa ordem. Aparentemente pulou uma etapa dos planos.

— Hermione tudo vai ficar bem. — Luna sorriu. — É só se acalmar.

— E contar para o Ron. — Gina disse sorridente. — Eu acho que ele desmaia, já imagino meu irmão caindo e batendo a cabeça, e todos saindo correndo com ele.

— Não vou contar... Não ainda... — Hermione disse rapidamente.

— Como não? Ele precisa saber, vai ficar feliz. Todos vão ficar. — Gina disse exasperada. — Hermione você não estaria pensando naquela palavra com A né?

— Palavra com A? — Luna perguntou por um instante. — Oh meu Deus, diga que não.

— Não estou pensando nisso. — Hermione conseguiu falar. — Nunca pensaria nisso. Só quero respirar um pouco, quero me encontrar antes de contar a qualquer pessoa que seja. Só vocês vão saber por enquanto.

— Hermione eu acho...

— Luna, eu vou contar. Só não vou contar agora.

— Eu sou especialista em segredos, mentiras e afins. E acho que deveria contar logo. — Gina disse séria. — Você já demorou a descobrir, precisa tomar alguns remédios que tirem os enjoos e que reponha vitaminas. Rony vai desconfiar.

— Gina, eu não vou mentir, nem guardar esse segredo pra sempre. Eu só preciso de um tempo, minha cabeça está girando, pesada, e doendo. Estou confusa. E estou com medo. — Hermione suspirou. — Estou grávida.

— E todos sabem que não podemos ir contra as vontades de uma grávida. — Luna sorriu. — Mas é melhor contar ao Rony o mais rápido possível.

— Eu vou contar. Eu prometo. — Hermione sorriu.

— Tudo vai dar certo. — Luna voltou a abraçar a amiga.

— Vamos fazer dar. — Gina sorriu e foi para junto delas.

Fazer dar certo”, essas palavras martelaram na mente de Hermione repetidas vezes ao longo de sua vida. Fazer com que as coisas acontecessem, se dedicar, ir em frente, conquistar os sonhos. Ela tinha feito dar certo. E ela poderia novamente, ainda mais que agora não estaria sozinha. Só precisa acreditar. Só precisava acreditar que tudo daria certo. E esperar que Rony não desmaiasse com a notícia.

xxx

Foi difícil fazer com que Rony acreditasse que não havia nada de errado com Hermione, mas no final a garota conseguiu fazer com que o assunto fosse desfocado e o ruivo deixou que os enjoos e vômitos de lado para aproveitar os beijos da mulher de sua vida. Gina não parecia muito de acordo com a omissão, mas tinha prometido deixar que as coisas acontecessem no tempo que Hermione determinasse ser o certo. Mas algo dentro de si dizia que aquilo não era uma boa idéia, e nem precisava dos olhares interrogadores de Luna em direção a Hermione para que tivesse certeza de que a loiro também sentia que algo estava errado.

Os dias foram passando e com eles as coisas foram tomando caminhos importantes, além de irem se acertando nos detalhes, nos sorrisos, e nas certezas que se tornavam mais fortes.

Katty estava se saindo bem com as sobremesas, na verdade algumas pessoas iam até o restaurante apenas para comer um pedaço de bolo ou torta. Suas receitas eram diferentes das outras pelo simples fato dela ter o diferencial. A garota trouxe uma pitada de seu tempero, um monte de amor, e a doçura dos seus sonhos. No final a mistura tinha sido perfeita, e Rony parecia satisfeito com os clientes novos que surgiram.

O ruivo precisava entregar seus últimos dois trabalhos para finalmente enfrentar uma bancada de jurados e obviamente conseguir seu diploma. Não que isso fosse importante quando se tem um restaurante e possui clientes fieis, mesmo que poucos. Mas era parte do que ele buscava. Era parte do sonho. Então pegaria o diploma nem que fosse para dá-lo de presente para a mãe que parecia muito mais empolgada que ele mesmo. E o melhor de tudo era que seu romance estava indo tão bem quanto o que ele esperava que fosse.

Hermione ainda não havia contado sobre sua gravidez, e mesmo que sua barriga começasse a crescer ela ainda conseguia disfarçar com determinadas roupas. Não se sentia segura para contar a Rony, não se sentia segura para contar a ninguém. Aquilo fugia do que ela era, do que ela planejava ser, fugia do seu padrão e ela tinha medo das reações. Não tinha perdoado seu pai o que só piorava a situação toda. Sempre que Philipes aparecia no apartamento ela se negava a conversar com ele, mesmo com a insistência de Rony e de sua mãe. Ela queria perdoar, queria conversar, mas tinha medo de que fosse apenas um fingimento, e naquele momento parecia que uma simples palavra dita da forma errada conseguia fazer o coração dela se despedaçar. Estava se sentindo um poço de sentimentalismo e não gostava muito disso.

            Luna estava feliz em conseguir se livrar dos preparativos do casamento fugindo para o apartamento que Draco estava comprando aos poucos. O lugar estava vazio, mas ela não se importava era muito melhor ficar por lá com Flavinho e Gina falando sobre pratos, toalhas e salgados. Ela só deixou claro que Rony deveria fazer as comidas e em seguida saiu correndo para longe dos dois. Não que não estivesse empolgada com o casamento, era só que ela já tinha se casado e gostaria que entendessem isso.

            Draco ficaria alguns dias longe tocando com a banda e guardando um pouco de dinheiro para finalizar a compra do apartamento. Usava seu colar sempre, e cantava como se estivesse cantando para Luna, dessa maneira era mais fácil enfrentar a saudade. E quando o sol nascia normalmente estava ao telefone com ela e esses eram os melhores momentos dos dias.

            Gina estava feliz em se ocupar com a festa do casamento de Luna, isso fazia ela não pensar nos outros problemas. Em como de repente sua vida não tinha um sentido. Em como as coisas fugiram de suas mãos e ela estava apenas seguindo em frente, sem planos, sem amores, sem idéias. Apenas seguindo e tentando se recuperar de todas as decisões erradas. E aos poucos ela estava conseguindo se transformar naquilo que esperava. Em alguém legal, mesmo que sozinha.

            Harry nunca imaginou que passar as suas noites ajudando Rony com o restaurante fosse algo tão interessante, mas era. E ele entendia de vinhos como mais ninguém ali, e os clientes gostavam de conversar e ele conhecia pessoas legais, e estava aprendendo que alguns doces mudavam de sabor dependendo da bebida que os acompanhava, assim como os pratos salgados. E normalmente ele acertava em cheio nas sugestões que dava, o que fazia com que ele levasse muitos elogios e pela primeira vez em muito tempo se sentia útil e fazendo o certo.

            Brian passava muito tempo no restaurante também, mas estava começando a entender o real motivo, mesmo que para os outros negasse firmemente. Ele gostava de ficar conversando com Katty, de rir com Rony e Harry, e de poder dizer que tinha amigos. Além de conseguir um tempo longe da chefe perfeccionista que Hermione era, e do romance grudento de Léo e Flavinho. O restaurante era o esconderijo perfeito e ele ainda conseguia muitos pedaços de tortas.

            Flavinho e Léo estavam mais felizes que nunca, e o empresário que tinha lançado o primeiro livro de Hermione estava ansioso para a sequência e insistia que a garota se dedicasse mais do que nunca, pois os fãs de seu pseudônimo estavam ansiosos para novas histórias, novos romances e obviamente novas confusões. E ele estava gostando da nova cidade e planeja passar muito tempo morando ali, assim como Flavinho que nos últimos tempos parecia nas nuvens planejando festas e casamentos.

            As coisas estavam seguindo rumos diferentes, nem melhores e nem piores. E isso é o bom da vida. Não existem histórias perfeitas, existem apenas momentos que valem a pena. E eles estavam vivendo momentos que valem a pena.

            — Quando vai contar sobre a... — Gina pensou um pouco. — Qual o nome da nossa princesinha?

            — Não tem nome, nem sei se é menina ainda...

            — Hermione, a Luna disse que é menina e eu aprendi a confiar nela. — Gina sorriu.

            — Onde ela está por falar nisso?

            — Não sei, ela sempre some nos momentos mais inusitados. E não fuja do assunto. Quando vai contar ao Rony, a sua mãe e ao seu...

            — Gina, eu vou contar está bem? — Hermione gritou aborrecida.

            — Não precisa gritar. — A ruiva se encolheu.

            — Desculpa, é só que... Me desculpa.

            — São os hormônios... — Gina disse. — Mas conta para o Rony, por favor.

            — Por que quer tanto que eu conte?

            — Não sei, só acho que deveria contar.

            — Parece a Luna falando. — Hermione riu. — Eu vou contar o mais rápido possível.

            — Promete?

            — Prometo, senhorita estranha. — Hermione de risada. — Está esquisita. Precisa de calmantes.

            — Não preciso, o médico disse que estou bem.

            — Eu preciso trabalhar, mas fica calma eu vou contar ao Rony. — Hermione disse pegando sua bolsa e saindo.

            Quando a porta bateu Gina permaneceu olhando para o lugar que a amiga ocupava. Ela não sabia o porque, mas sabia que se Hermione não contasse até o fim da semana ela mesma contaria.

            XXX

            Ele estava sentado novamente na mesa mais afastada do restaurante esperando para falar com o dono. Já tinha perdido a conta de quantas vezes já tinha passado pelo mesmo ritual sem nem mesmo conseguir uma melhora no que buscava. Não entendia como e nem porque o garoto estava tão disposto a ajuda-lo, e em como dava informações exatas que sua mulher lhe negava, e que nunca descobriria de apenas ficar em frente ao prédio da filha.

            Ele queria perdão, mas não sabia que ele viria justamente da pessoa que mais tinha prejudicado e julgado. A vida sempre te mostra o quanto errado você pode ser, e o quanto as pessoas podem te surpreender.

            — Senhor Granger... — Rony disse sentando-se em frente ao senhor que nos últimos meses tinha adquirido um ar cansado e muito fios brancos.

            — Só queria saber se está tudo bem.

            — Hermione está ótima. — Rony sorriu. — Muito envolvida com o próximo livro, tendo alterações de humor que as vezes me mantem bem longe do apartamento das meninas. Mas ela está sendo a Hermione de sempre.

            — Teimosa. — O pai da garota disse com um sorriso no rosto. — Igualzinha a mãe...

            — E ao pai. — Não foi Rony quem disse isso. Mas seus olhos sorriram ao ver de quem vinha a informação.

            — Rosa o que faz aqui?

            — Vi seu carro parado em frente a esse restaurante encantador e quis ter certeza de que não estava tentando assar o dono ao invés das deliciosas tortas que vendem aqui. — Rosa disse sentando-se. — Como vai Ronald?

            — Bem... — Rony sorriu enquanto a Rosa batia amigavelmente em sua mão. — Já que acha as tortas tão deliciosas vou buscar uma para vocês.

            — Obrigada. — Rosa agradeceu esperando o ruivo se afastar para encarar o ainda marido. — O que está tentando fazer?

            — Ele me mantem informado sobre nossa filha. — O homem respondeu a contra gosto. — O que você não faz.

            — Philipes... Hermione já é adulta ela sabe muito bem como viver não precisa vigiá-la e ainda por cima usar o namorado dela para isso.

            — Não estou a vigiando...

            — Um namorado que você afastou dela sem se preocupar nem um pouco com o tanto que nossa filha sofreria. Um rapaz tão bom que mesmo depois disso ainda deixa você se sentar aqui e interroga-lo sobre ela.

            — Sinto falta dela. — Philipes disse por fim. — Sinto falta da minha única filha.

            — Eu sei...

            — Não, não sabe. Ela te atende, ela deixa você abraça-la, conversa com você por telefone. — Ele limpou uma nítida lagrima que não deveria está em seus olhos. — Essa é a única maneira de me sentir perto dela.

            — Eu já tentei fazer com que ela converse com você, Querido. — Rosa pegou na mão do marido. — Mas talvez ainda não seja a hora certa.

            — Então enquanto essa hora não chega, eu apenas venho aqui saber se está tudo bem. Que mal pode existir nisso?

            — Não sei, só acho que ela não gostaria de saber que Rony está falando sobre ela com você.

            — Não estou tentando fazer com que eles terminem novamente, estou tentando apenas me sentir como um pai. — Ele apertou a mão de Rosa. — E gosto de ficar aqui.

            — Em um restaurante de um mero cozinheiro? — Rosa sorriu.

            — Tudo bem, é isso que você quer ouvir. — Philipes deu de ombros. — Eu estava errado.

            — Repita isso, por favor, preciso gravar em algum lugar.

            — Rosa, eu sei que estava errado. Sei que ele é um bom rapaz, só tinha medo de perder minha filha... E acabei a perdendo... Eu só queria conversar com ela e dizer exatamente isso, mas ela não deixa.

            — Ela está triste e magoada ainda. Um dia vai poder dizer cada palavra.

            — Me perdoa. — Philipes disse segurando agora as duas mãos da mulher.

            — Já te perdoei.

            — Por que não volta pra casa?

            — Porque não é o momento ainda. — Rosa sorriu. — Eu sempre vou te amar Philipes Granger.

            — Eu também sempre vou te amar minha Rosa.

            Eles permaneceram de mãos dadas apenas se olhando enquanto Rony observava a cena percebendo que um dia iria dizer exatamente a mesma coisa para Hermione, com uma única exceção. Ele diria que sempre amaria sua estrela guia. Porque era exatamente isso que Hermione significava para ele, uma estrela que o guiava a seguir em frente, em realizar sonhos, em sorrir. Uma estrela com um brilho próprio que mesmo quando não estava sendo vista permanecia presente.

            Talvez os pedaços de torta devessem esperar um pouco mais para chegar à mesa de um casal que mesmo juntos há anos pareciam ter acabado de se conhecer. Com as mãos dadas sobre a mesa, com os olhos brilhantes e trocando sorrisos.

            — Hermione, acho que vou ter que fazer você perdoar seu pai. — Rony disse sorrindo e balançando a cabeça sem acreditar no que acabará de dizer.

            xxx

O dia já estava chegando ao fim. Depois de horas trabalhando, e tentando encontrar um plano suficientemente bom para fazer com que Hermione e seu pai se acertassem Rony desabou em uma das cadeiras da cozinha do restaurante. Pensou em trancá-los no apartamento, mas isso tinha resolvido os problemas de Draco e Luna e era mais fácil Hermione se trancar no banheiro e se recusar a sair até seu pai ir embora. Seu estado era tão critico que tinha até pensado em um passeio de balão onde obviamente seria impossível fugir da conversar a não ser que ela pulasse.

— Hermione seria capaz de pular, é mais teimosa que uma mula...

— O que? — Harry tinha acabado de entrar na cozinha. — Será que sobrou algum pedaço de torta?

— Sobrou sim está na geladeira, e não acredito que ela pulasse seja lá de onde for, não no momento. — Katty respondeu.

— Quem vai pular de onde? — Harry parecia confuso e começou a cortar um pedaço de torta.

— Estou tentando achar um jeito de Hermione aceitar conversar com o pai dela. — Rony suspirou cansado. — Minhas idéias são todas péssimas.

— Mesmo depois de tudo vai ajuda-lo? Isso que eu chamo de amor verdadeiro.

— Harry ele veio pedir desculpas, e agora só falta Hermione aceita-las. Mas ela é teimosa, cabeça dura, e todos os adjetivos parecidos com esses.

— Rony talvez não precise de um plano, só peça para ela. — Katty disse solidaria.

— Eu tentei, mas ela me ignora e no fim pergunta se eu estava falando sobre algo.

— O casamento de Luna e Draco está chegando... — Harry começou.

— Mesmo que eles já tenham se casado e achem isso algo dispensável. — Katty sorriu.

— Exatamente, o casamento que Draco e Luna aceitaram apenas para agradar a doida varrida da Gina... — Harry continuou.

— Minha irmã não é doida varrida, só um pouco confusa...

— Enfim, aproveite o casamento para fazer com que Hermione converse com o pai. Afinal todas as mulheres, garotas e afins ficam emocionadas com casamentos. — Harry sorriu.

— Até que me parece uma boa idéia. — Rony disse sério e encarou o amigo. — Harry, você pensa.

— Muito engraçado Ralph, muito engraçado...

— Não me chame de Ralph, senhor quatro olhos...

— Ralph... Ralph... Ralph...

— E agora é minha deixa para sair enquanto as duas crianças brigam. — Katty sorriu. — Boa noite, e eu concordo que a idéia do casamento seja boa, mas talvez pudessem conversar antes.

— Katty não saia sem me dar a idéia completa.

— Rony, faça um jantar. Isso aqui é um restaurante. — Katty saiu.

— Por que não pensei nisso? Por quê?

— Porque sempre pensa nas idéias ruins como quando tentamos escapar do acampamento de verão e você teve a brilhante idéia de atravessar o rio a nado e começou a se afogar antes da metade do caminho. — Harry começou a rir. — Hilário... Ainda me lembro do salva-vidas te resgatando e tentando fazer respiração boca a boca.

— Ótimo Potter se quer mesmo se lembrar da nossa infância que tal aquela vez que tentou espiar as meninas no banheiro da escola? — Rony disse sorridente.

— Ok. Parei.

— Sabia que pararia.

— Então, qual idéia vai usar?

— Vou tentar o jantar e se não der certo eu recorro ao casamento. — Rony suspirou. — Por enquanto só preciso ir embora e dormir.

— Por sorte eu estou de carro.

            — Que bom. Você fecha o restaurante, e eu vou embora uns minutos mais cedo com minha boa e potente...

            — Motocicleta dos anos 20?

            — É clássica e não velha... — Rony disse. — E boa noite.

            — Moramos no mesmo prédio. Na verdade no mesmo apartamento ainda vou te ver. — Harry disse sério.

            — Nada de festa hoje? Está ficando velho Harry?

            — Tchau Ralph... — Harry disse fechando a porta da cozinha na cara do ruivo. — Posso muito bem tomar um vinho antes de ir para casa enquanto como o resto dessa torta. Sozinho.

            Harry olhou em volta tendo a certeza que às vezes a solidão não é algo bom. Que algumas vezes o amor pode ser muito bom, como no fim de noite. Ter que voltar para alguém, e se esquecer dos problemas nos braços e lábios de uma pessoa que faz o mesmo com você. Harry teve a certeza de que a solidão muitas vezes é uma droga.

            Xxx

— Oi Rony, tudo bem? Eu preciso te dizer uma coisa... Não, não, eu não vou viajar novamente e ficar dois anos longe. E não eu não quero terminar nosso relacionamento outra vez... Rony eu quero dizer que estou grávida... Sim vamos ter uma linda criança em nossas vidas. Viva! — Hermione suspirou.

A água da torneira já estava escorrendo há algum tempo e ela já tinha lavado o rosto milhares de vezes, daqui a pouco o rosto perderia as linhas de expressões de tão limpo que ficaria. Essa era a pior maneira de falar sobre uma gravidez. Como ela poderia contar algo que ela não entendia, algo que parecia ser a história de outra pessoa.

— Grávida. Eu. A garota mais responsável que eu conheço. Eu estou grávida. Como isso aconteceu? Tá eu sei como aconteceu... Em um banheiro... Fiquei gravida em um banheiro, depois de uma briga, só posso dizer uma palavra: Deplorável. — Hermione voltou a jogar água no rosto. — Mas estou grávida e isso é algo real, algo imutável.

A garota se sentou na privada e segurou a cabeça entre as mãos na esperança que surgisse a idéia perfeita de como contar para Rony sobre a gravidez só que nenhum jeito parecia o jeito certo. Na verdade nenhum jeito poderia ser o certo, mas ela tinha que falar, precisava falar, mas não conseguia falar.

— Socorro... Eu vou enlouquecer... — Hermione disse abalada.

— Achei que já estava louca, está ai falando sozinha há horas... — Gina disse entrando no banheiro. — Eu até tentei esperar você sair, mas comecei a ficar com medo.

— Gina, não seja dramática todos precisam de um tempo sozinho para colocar a idéia nos lugar. — Luna sorriu. — Hermione só precisava de um tempo.

— Luna esse tempo está se esgotando daqui a pouco ela vira uma bola e meu irmão não sabe que será papai.

— Gina... Eu já disse que vou contar... — Hermione falou enquanto se levantava. — Só não sei como...

— É só chegar e dizer: Rony vamos ser pais. — Gina sorriu e bateu palmas. — Eba!

— Eu acho que desse jeito ele iria sei lá sofre um desmaio. — Luna disse sensatamente. — Mas talvez você pudesse contar calmamente. Aos poucos para que ninguém morra do coração.

— É isso que eu quero, mas eu não sei como fazer isso... Luna me ajuda... Me ajuda... — Hermione implorou abraçando a loira.

— Calma Mione... Nós vamos te ajudar, somos melhores amigas. — Luna disse a abraçando de volta e chamando Gina para também abraça-la.

— Tudo vai dar certo. Rony te ama mais que tudo. — Gina disse e também a abraçou.

— Mas um filho, agora? — Hermione suspirou.

— Tudo vai dar certo...

Xxx

Quando o dia amanheceu Hermione já estava mais calma e possivelmente graças aos chás que Luna tinha lhe dado, e também graças aos bolinhos que Gina misteriosamente tinha lhe arranjado. Ficar a noite toda com as amigas por perto, sabendo que estava segura e pela primeira vez acreditando que realmente tudo ficaria bem e daria certo.

Há algum tempo já não sentia enjoos e estava de volta ao seu habitual, escrevendo pouco a pouco a continuação de seu livro. Precisava se concentrar em alguma coisa para mantes a cabeça no lugar. E mesmo que estivesse assustada e com medo também sentia uma felicidade enorme, uma felicidade que algumas vezes parecia não caber somente dentro dela.

Naquele momento ela quase podia sentir o perfume de Rony no quarto. Quase podia sentir os braços dele afundando seu colchão. Quase podia sentir seus lábios em sua face. E a voz.

— Bom Dia...

— Rony! — Hermione abriu os olhos e empurrou o ruivo para longe. — O que está fazendo aqui?

— Eu também te amo Hermione. — Ele disse tentando se levantar.

— Eu... Você... Você me assustou... — Hermione disse se ajeitando na cama e puxando o cobertor até o pescoço.

— Hei... Está tudo bem? — Rony voltou a se aproximar, mas agora com um pouco de cautela.

— Está... Eu só estava dormindo, me assustei... — Hermione sorriu fracamente enquanto recebia um beijo doce na testa.

— Preciso conversar com você.

— Precisa?

— Sim... Tem certeza que está bem?

— Estou Rony... O que quer falar? — Hermione se ajeitou na cama nervosamente.

— Estou pensando em fazer um jantar...

— Como aquele quando eu voltei? — Hermione perguntou. Quem sabe seria uma boa idéia começar a contar sobre o fato dela está gravida e não ter ficado assim sozinha.

— Exatamente, com nossos amigos e algumas outras pessoas. — Rony sorriu nervoso.

— Que outras pessoas?

— Seria como um presente para Draco e Luna, um jantar pré-casamento. — Rony sorriu fracamente, sempre foi péssimo em mentiras e ainda não entendia como Hermione tinha acreditado naquela história com Lily.

— Rony... Isso é tão bonito... — Hermione sorriu orgulhosa. — Tão romântico.

— É?

— Sim. Rony eles vão ficar tão felizes. — Ela deu um selinho no ruivo.

— Então... As 21h no restaurante e pode deixar que aviso os outros. Tchau. — Rony disse rápido e saiu antes que alguma coisa desse errado. Quando estava na porta deu alguns passos atrás e voltou a falar. — Eu te amo.

— Eu também te amo. — Hermione sorriu e observou o garoto ir embora. — Mas não posso te contar que estou gravida, não ainda.

xxx

— Isso não vai dar certo.

— Como pode saber?

— Essas armações nunca dão certo...

— E você sabe disso porque sempre foi a rainha das armações. É se ela tá dizendo realmente não vai dar certo.

— Por que você não tira esses óculos horríveis e os engole? Quem sabe engasga e nunca mais precisaremos ouvir sua voz chata e estranha.

— Pelo mesmo motivo que você não queima esse cabelo horrível e para de cegar as pessoas. Meus olhos queimam, nem a Medusa faz isso com as vitimas.

— Acho difícil queimar seu olho, passar por essa lente seria impossível. Suas retinas estão salvas.

— Mas eu me preocupo com os outros que são obrigados a fechar os olhos para não morrerem ao te ver.

— Desse jeito não vai dar certo mesmo, por que mesmo que o Rony trouxe eles? — Draco cochichou.

— Bom... Aparentemente Harry está trabalhando aqui, e Gina é irmã dele né? — Luna respondeu assistindo a cena que se seguia.

— Harry trabalhando? Isso realmente é novidade. — Draco disse rindo.

— Eu voto nele. — Katty se aproximou com um saquinho de pipoca. — A ruiva tem problemas comigo.

— Eu votaria nela, mas consegui me desligar da imagem do personagem e ela não é tão legal assim. Então, voto no Harry também. — Brian disse. — Me liguem quando um deles vencer, preciso distrair Hermione.

— O que estão fazendo? — Rony perguntou ao se aproximar e ver Luna, Draco e Katty comendo pipoca, enquanto Harry e Gina falavam alto e pareciam extremamente vermelhos.

— Nós estamos assistindo, e esperando para ver quem ganha mais. — Katty sorriu. — Apostamos.

— O que?

— Eu apostei na Gina por companheirismo. — Luna disse. — Vai lá amiga!

— Eu apostei no Harry porque aparentemente ele tem mais razão nos argumentos. — Draco disse. — E segui Katty e Brian.

— Ok. Chamei vocês para ajudar e não para isso. — Rony disse passando as mãos nos cabelos.

— Obviamente você sabe quando as armações não funcionam né? Como quando me traia com o Dino só que nós chegamos mais cedo em casa. E teve aquela “brilhante” idéia de viajar pelo mundo, e justamente quando eu ia... Enfim, te encontrar com um desconhecido. É armações que envolvem Gina Weasley não dão certo. Felizmente para as outras pessoas. — Harry falou tudo quase tudo que estava entalado em sua garganta.

— Harry... — Luna tentou finalmente interferir na discussão.

— O que ia fazer? Me dizer que estava tendo um “caso” com a atendente de uma loja de quinta categoria? Oras eu fui mais rápida. — Gina gritou com raiva.

— Eu ia... ia...

— O que Harry Potter? O que ia fazer?

— Ia te pedir em casamento. — O moreno disse com raiva, e saiu pela porta da frente.

— Ótimo... Eu não esperava isso. — Draco disse boquiaberto.

— Luna poderia levar a Gina para algum lugar? Katty me ajuda com o jantar, e Draco... — Rony começou a falar.

— Já sei faço o que o Harry faria, o que ele faria?

— Vinhos...

— Ok. Vinhos. — Draco disse saindo.

— Isso não vai dar certo né Katty? — Rony perguntou.

— Claro que vai... Tudo vai dar certo... Vamos cuidar do jantar. — Ela sorriu, mas não estava tão convicta.

— Não esperava que Harry e Gina fossem se ignorar, mas isso foi...

— Tenso. Muito Tenso. — Katty disse. — Mas Luna sabe cuidar das pessoas nesses momentos.

— Mas quem vai cuidar do Harry? Ele parecia meio transtornado.

— Rony algumas vezes as pessoas precisam desabafar as mágoas para finalmente se curar, ele vai ficar bem. Foco agora no fato de juntar sua namorada com o pai dela em uma conversa reconciliadora.

— Dia ruim... Dia ruim... — Rony suspirou.

xxx

Katty estava certa, e Harry se sentiu um pouco melhor em dizer todas aquelas palavras. Não que a dor e a raiva fossem passar tão rápido, mas quem disse que as coisas importantes vão ou chegam depressa? Ele simplesmente sentia que já tinha passado da hora de dizer tudo que sentia. E mesmo que naquele momento estivesse andando sem rumo e com o rosto molhado por algumas lágrimas insistentes que nem deveriam existir, ele estava bem. Estava bem na medida do possível.

Entrou em um taxi e nem percebeu as palavras que saíram em forma de ordem ao motorista. Algumas vezes nossa mente nos faz fazer coisas e nem nos damos conta disso. Como quando estamos escutando música e por um momento deixamos de ouvir e quando voltamos às faixas já passaram todas. Harry estava no automático. E era bom está no automático. Quando se está assim não se sente tanto, simplesmente se respira.

Quando finalmente chegou a onde sua mente achava que era o lugar certo finalmente deixou de apenas respirar. Olhou em volta. Se quarta estivera sempre da mesma maneira. As pessoas acham que homens não amam tanto quanto mulheres, mas a verdade é que quando amam, eles amam muito mais. E eles também guardam fotos, e momentos. E eles também sofrem. E isso só faz deles pessoas melhores, homens melhores. Porque sofrer por amor faz parte da vida e também faz com que você cresça.

Ele não iria destruir o quarto inteiro, ou se livrar de roupas velhas. Naquele momento só tinha uma certeza. O problema não era ele, nunca foi ele. Ele tinha que se orgulhar e gostar de quem era. E naquele momento gostava, se orgulhava, e sabia que estava se livrando da única parte que fazia com que ele se sentisse mal ou egoísta. Ele estava se livrando de uma pessoa que não queria ao seu lado, não mais.

De uma das gavetas do guarda-roupa retirou várias fotos, de tanto tempo atrás que quando olhava para os rostos não se reconhecia, e também não a reconhecia. Um passado que tinha realmente deixado de existir. Risadas, gritos, conversas longas, tudo invadiu o silencio do quarto. O primeiro beijo no quarto dela, o namoro escondido, e por um instante até um natal dentro de um porão. Passado. Tudo passado. Não que fosse se esquecer dos detalhes, ou se livrar das memórias, mas estava se livrando dos sentimentos. Não existia mais amor, apenas mágoas e viver de mágoas não é nada bom. Então, ele se decidiu também se livrar das mágoas e de tudo que não estava fazendo bem a nenhum dos dois.

Escolheu uma foto. Pegou uma folha qualquer de um caderno largado há muito tempo atrás no fundo do guarda roupa. Rabiscou umas palavras, sem se importar com os erros, ou com a caligrafia. Apenas escreveu. Também achou um feio de fita que deveria está ali há muito tempo, vindo de algum presente antigo que possivelmente nem existia mais. O importante é que a fita serviu perfeitamente. Junto o papel meio amassado meio dobrado e o colou junto com a foto dentro de um envelope também antigo e perdido entre suas coisas. Fechou com a fita. Pegou o resto das fotos, o resto da raiva, e o naquele instante sentiu como se finalmente estivesse de volta.

Aquele Harry que sabia ser um bom amigo, que brincava com as coisas e não com as pessoas. Aquele garoto que na maior parte do tempo era calmo e não guardava raiva. Naquele momento ele estava cem por cento de volta. Harry Potter estava novamente no seu corpo e finalmente sem linhas que o prendiam, sem raivas que o maldavam, simplesmente ele do jeito que queria ser. Do jeito que deveria ser.

Quando saiu do apartamento deixou o envelope com a fita na porta da frente. O nome Gina em tinta preta chamava atenção de longe. E o que também chamava atenção era a caixa que o garoto carregava consigo. Quando finalmente estava longe do prédio traçando o caminho de volta ao restaurante parou em qualquer esquina e lá deixou a caixa.

Talvez algum curioso achasse a caixa e abrisse para ver o que tinha dentro. Ele possivelmente olharia com cuidado para todas as fotos que estavam lá dentro. Imaginaria uma linda história de amor, e quem sabe até levasse as fotos consigo para usá-las como inspiração sem nunca saber o final da história daquelas duas pessoas. E Harry também não sabia o final de sua história, mas tinha a certeza que a traçaria do lado oposto do de Gina, não por raiva, apenas porque algumas histórias de amor não são eternas como outras.

XXX

            Quando Hermione saiu do apartamento encontrou o envelope que Harry havia deixado, ela achou estranho e por um momento sentiu curiosidade suficiente para que abrisse, mas ela não o fez. Por algum motivo apenas deixou a carta presa na geladeira com alguns imãs.

            — Preciso me apressar. — Disse enquanto olhava para o vidro da janela da cozinha e se enxergava de uma maneira diferente. — Talvez eu deva contar.

            Tantas coisas haviam acontecido. E ela ainda tinha medo. Hermione seguiu o caminho que levava até o restaurante e sua mente lhe perguntava a todo instante qual era o seu medo. Ela sabia que o Rony permaneceria ali, ao seu lado. Disso ela não poderia duvidar, não depois dos dois anos, não depois de ler a carta que ele tinha lhe pedido para ler somente no avião e que ela simplesmente guardou com raiva.

Rony era uma das únicas certezas de sua vida. Acontecesse o que acontecesse ele estaria ali, ele era a certeza dela. Certeza de sorrisos. Certeza de amor. Certeza de vida. Seu coração se encheu de um sentimento que quase nunca sentia, seu coração se encheu de segurança. E pela primeira vez sabia que nada poderia mudar o que sentiam, que ela poderia falar, simplesmente falar. Porque quando falasse sentiria não apenas segurança, mas amor.

Afinal era isso que ele era. Ele era puro e simples amor. O amor da sua vida.

— Vamos ter um filho Ron... – Ela treinou olhando pela janela, ignorando o motorista que a observava pelo retrovisor e sorria. — Rony está bem? Não desmaie, por favor.

Ela riu imaginando o ruivo desmaiando.

Suspirou ao descer do taxi em frente ao restaurante simples e bonito. Contou até dez. E andou diretamente para seu destino. Sem curvas e sem hesitação.


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Notas finais do capítulo

Então... Temos mais três capitulos pela frente e o fim. Então espero que desculpem a demora se isso vier acontecer. Obrigada por minhas leitoras lindas e fofas, vocês são demais e só por causa de vocês que a fic existe e terá um fim! Espero que gostem desse capitulo e venham comentar... Eu amo reviews e msgs, por isso mandem!!!!
Beijinhos!
PS: Capítulo dedicado à Milena, que é super fofa e que me mandou recomendações mais fofas ainda, e que adoro ler as msgs!!!



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