Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 23
Capítulo 23 - Danado




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Bati a porta do apartamento e soltei Lionel.

Caminhei até a sala me deparando com o prato sujo, levei-o até a cozinha, apoiando-me na pia logo em seguida. Fechei os olhos por um momento me perguntando só mais uma das centenas de vezes como diabos aquele garoto conseguia me enlouquecer.

 Enlouquecer? Eu disse enlouquecer? Eu quis dizer como ele consegue me enlouquecer, me deixar tonta, descabelada, confusa, insegura e principalmente tão boba como eu estava. Quando havia virado feito àquelas menininhas dos livros de romance? Tirando o fato que nossa única semelhança era gostar de caras idiotas (segundo eu, porque o homem perfeito é gay, sim sim. Jô Soares também concorda comigo). Nós não tínhamos nada em comum, porque eu me achava com um guardanapo fosforescente grudado na testa depois de ter comido a coxinha recém-mergulhada no óleo em festa de criança com ele escrito “idiota” bem grande e também em baixo “tola” por acabar gostando de um menino feito o Diego, elas se achavam que não tinham o direito de gostar de um menino perfeito feito Diego.

Meus olhos estavam bem abertos e nítidos para saber que se eu tinha minha parcela de culpa (parcelada para 32 vezes no cartão), o Diego tinha uma boa pincelada da mesma. Eu diria até mais.

Porque o idiota aqui era ele.

Um idiota que acha muito bem que pode colocar seus sapatos altos e fingir que é a Globeleza e pisar por cima do que bem entender, mesmo estando na Páscoa.

Um idiota que eu estava completamente caída.

Dei um jeito na cozinha, lavando os pratos e panelas. Joguei-me novamente no sofá da sala tentando me acomodar a TV ligada num filme meloso e tirar um cochilo básico e só acordar no próximo milênio, quando finalmente tivesse carros voadores. Eu adoraria voar em carros voadores. Mas isso não vem ao caso agora.

Devo ter ficado jogada (vulgo: quase vendo a luz no fim do túnel) durante mais uns 30 minutos. Tempo suficiente para que eu cansasse do filme, cansasse de fazer comparações entre a mocinha e eu (porque ela era muito mais bonita) e cansasse de tentar esquecer que meu estômago roncava feito uma caminhonete de fazenda. Levantei com um pulo indo novamente até cozinha vasculhei todos os armários a fim de achar chocolate ou biscoito ou coisa que engordasse e tirasse minha tristeza, mas não tinha nada nem farelo de biscoito Maria.

Resmunguei alto. Minha boca parecia cada vez mais implorar para mastigar alguma coisa.

Era uma das minhas estranhas manias: esconder-se na comida para não encontrar nenhuma tristeza. Adira a essa campanha também.

Troquei de roupa, calcei meu tênis. Vistoriei todos os quartos fechando todas as janelas e por ultimo peguei o dinheiro na cômoda. Despedi-me rapidamente de Lionel em cima do sofá e fechei a porta do apartamento, trancando-a e colocando a chave no bolso.

Apertei inúmeras vezes o botão do elevador esperando que ele subisse feito trem bala com isso, mas ele demorou mais ou menos 300 bilhões de anos luz, aproximadamente, lógico. 

-Bom dia – balancei a cabeça para uma garota que estava no elevador.

-Bom dia – respondeu animada. Oh céus, porque as pessoas estavam animadas quando eu não estava e não animadas quando eu estava? Depois de relerem vocês conseguiram entender? Ok. – Você é nova aqui no prédio?

-Não. – respondi seca e a garotinha se encolheu. Droga, ninguém tinha nada a ver com meus problemas. – Eu... Meu irmão mora aqui e eu só estou visitando.

-Ah – ela respondeu. – Seu irmão é do 301?

-É do 300 encostado do outro lado da coluna – apontei para a direção onde o apartamento ficaria.

-Mas ai não tem nada – a garotinha franziu o cenho.

-Que estranho – concordei. A porta abria. Agradeci mentalmente, com direito a dançinha da vitória – Tchau.

-Até logo. – Ela acenou e eu sorri. 

 Escapei pela guarita. Não, na verdade eu pulei o muro do prédio porque isso seria algo muito mais “meu” e... Vocês já me conhecem o suficiente para saber que isso não se passa da minha imaginação fértil.

Caminhei até uma praça não tão próxima assim do condomínio, mas chutando que deveria ser a praça que Matt tinha dito. Muitas crianças e suas babás ou mães estavam por ali, a lanchonete estava do outro lado quando vi uma garotinha de uns 9 anos com um andar meio cambaleante puxando um labrador filhote pela guia, mas ele estava muito mais interessado em farejar o intruso na praça, que nesse caso seria eu. Prazer.

-Oi garotinho – assobiei e ele arrastou a garotinha que acabou caindo no chão. Segurei a guia – Você está bem?

-E-eu sabia que nã-não devia ter co-colocado o nome de-dele de Danado – resmungou ela, passando as mãos pelos joelhos sujos. Eu sorri brincando com as orelhas do canino.

-É só enquanto ele é pequeno.

-E me-melhora?

-Bem, se você educar direitinho enquanto ele tá assim...

Ela balançou a cabeça, voltar com o andar meio trôpego para mais perto do banco.

-Ma-mamãe disse que eu de-deveria ter escolhido ou-outro – Ajoelhou-se no chão, tentando pegá-lo no colo. – Mas eu go-gosto do Danado.

-Ele parece ser um cachorrinho bom – dei de ombros entregando à guia a garotinha.

-E é. – Falou, respirando fundo. Como se concentrasse para não gaguejar – Mamãe me deu ele depo-pois que o pa-papai morreu.

Acariciei as orelhas do cachorro vendo ali não o Danado que tinha dado a alegria de ter uma companhia a aquela garotinha mas sim ao Dougie. Exatamente aquela carinha que ele fazia quando estava cansado, aqueles olhos marrons brilhando em minha direção por algum motivo oculto.

Sorri torto.

-Porque não o chama de Calmo até lá?

Ela gargalhou. Abraçando ainda mais o cachorro e me fitando curiosa.

-Um me-menino me disse isso a um tempinho a-atrás, a me-mesma coisa – sorriu.

E com o impulso e a curiosidade martelando na minha mente e garganta, acabei escapulindo:

-Ah é? E como ele era?

Estranhou a pergunta, franziu o cenho, colocou o cachorro no chão, ajeitou os cabelos para logo depois dizer num salto animado, como se lembrasse:

-Ele era alto, alto... E be-bem bonito! – sorriu travessa, como se estivesse me contando um segredo valioso e ao mesmo tempo um pouquinho vergonhoso. – E o olho era a azuuul.

-Isa! – uma mulher de pele avermelhada gritou – Vamos Isa!

A garotinha levantou-se afobada, puxou a guia do cachorro e acenou para mim. Correndo até a mulher de maneira meio angustiante para quem vê.

Balancei a cabeça, a boca meio aberta ainda. Talvez ela tivesse se enganado, é, bem provável.  Mas e se... Não, por favor né Marina. Não e novamente não. Eu resmungava quando entrei na lanchonete que Matt tinha dito, mudei minha tática de se fingir de louca e joguei meu charme pro balconista. Sim, porque eu sou sexy, observem tamanha sensualidade.

-Oi – falei meio envergonhada. Só truque minhas caras, timidez é na verdade só lance.

Ele mal olhou pra mim respondendo um “oi” baixo. Adoro os que se dizem mais envergonhados também. Se fazendo de difícil né?

-Hã você pode ver o mais gorduroso pra mim? – Lembrem-se da campanha: para um mundo melhor, um mundo maior. Para caber mais comida.

-Pode ser o mais caro? – ele respondeu parando de escrever o que estava concentrado e olhando pra cima. Ele até que era simpático. A pele morena, o cabelo negro, os olhos castanhos, um físico legal e um porte alto. Adoro homens altos.

-O mais gorduroso é o mais caro?

-Depende... – Franzi o cenho.

-Tá legal, me dá logo o cardápio – estendi a mão para ele. Não tava conseguindo nem seduzir o amiguinho do balcão... Bem que se a loira da minha melhor amiga estivesse aqui...

Neguei com a cabeça, tentando tirar aquilo da mente.

-Você não queria o cardápio? – Perguntou confuso.

-Qual é o do número 16? – tratei de escolher pelo aleatório.

-Frango desfiado com...

-PERFEITO! – Bati o cardápio no balcão. – Dois desse e um suco de laranja.

-Não tem laranja.

-Então um suco de goiaba.

-Nem goiaba.

-Cacau?

-Não.

-Caja?

-Nem.

-Ok, então me da um guaraná.

-Só tem...

-Uma água tem?

-Só com gás.

-O número 16 parece ótimo. – Bufei impaciente. – E pra viagem. Os dois.

-Não te...

-Só me da muito guardanapo para eu mesma embalar, por favor.

Eu entreguei o dinheiro e ele me devolveu a metade da metade. Pelo menos não era uma fortuna e eu devolveria quase o dinheiro todo ao Matt. Soltei o ar, odiava depender dos outros, digo, outros que não fossem minha mãe.

-Demora muito?

-Aquieta ai dona – eu revirei os olhos – Senta na mesa que daqui a pouco eu mando o sanduíche e os guardanapos.

E eu passei os meus 40 minutos sucessivos sentada em uma cadeira branca de plástica que parecia ranger a cada movimento, brincando de origami com os guardanapos e tentando assistir TV globinho, mas a imagem da TV estava realmente ruim e possuía muitos chiados irritantes.

-Aqui – ele praticamente deslizou o prato até minha mesa solitária.

-Valeu. – Acabei com o estoque de guardanapos do lugar ao menos. Pedi na cara de pau uma sacola plástica, ele ia abrir a boca para dizer o previsto e eu respondi automaticamente. – Não estou perguntando se tem, estou pedindo uma, e não é possível que não tenha saco plástico, nem que seja aqueles de embalar pão eu...

-Eu ia dizer para você pegar nos fundos. – Interrompeu. Mau educado, interrompeu meu discurso que eu tinha preparado por 40 minutos.

-Hum...ok. – Balancei a cabeça. Já estava saindo finalmente com minha comida feliz quando o balconista berra:

-Volte sempre.


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Notas finais do capítulo

Desculpem meninas, mas eu realmente estou correndo horrores que nem o Ayrton para postar esse capítulo. Nem consegui acabar de responder uns reviews.
Minha vida tá uma correria realmente danada UASHAUSH
Obrigada a todos os parabéns adiantados ou atrasados, eu adoro todas vocês :3
Obrigada especial a Joyce Nunes pela recomendação. Obrigada por me chamar de atenciosa AUSHUASHUA Eu realmente gosto de dar uma atenção especial a todas (os) vocês. Vou fazer minha macumba do bem (sem sangue de galinha e tals) para você arranjar algum garoto de olhos azuis.
Merecedoras de um Diego mais qualificado: BelleDiniz, ameblifls_smart, allison, Sonhadora00, Leti Mathias,Joyce Nunes, ~AS MENINAS A PARTIR DAQUI, ME DESCULPEM MESMO POR AINDA NÃO TER RESPONDIDO O REVIEW, RESPONDO O QUANTO ANTES~ Nathalia, iMitch, Adriana Morais.
Espero que tenham gostado desse capítulo. Ele veio com o propósito de mudar um pouco o clima 'chorando na bacia' que estava se tornando a fic.
Adios mi muchachas.