-Não. – Falei por fim, batendo um dos pés no chão como uma criança birrenta.

-Será só uma semana.

-Não, Gabriela. – Voltei a repetir.

-Uma semana não doerá tanto. – Tentou me persuadir.

-Eu não vou para uma casa com o telhado caindo, a cozinha desmontando e com bichos não conhecidos pelos humanos, Gabriela. – Listei as catástrofes nos dedos.

-Não seja tão dramática.

-Você mesma que disse isso quando voltou de lá, nas férias de verão.

Bufei, jogando-me no sofá da sala, trocando rápido de canais.  Uma tentativa inválida de acabar o assunto. Não, minha melhor amiga nunca se contentaria com esse fim, não para ela, que já estava muito bem acostumada com aquele tipo de situação.

-Meus primos irão! – sua voz soou estranhamente mais animada.

-Mais um motivo para eu não ir. - Resmunguei, finalmente parando de cutucar o controle. Passava Friends.

-Mas... - e então ela começou a falar coisas que não pareceram tão importantes naquele momento quanto o famoso “How you doing?” do Joey Tribianni.  – Será ótimo.

-Maravilhoso.

-Ficaremos tão felizes. – Dei uma espiadela rápida em sua direção, ela estava ao lado do sofá, sorrindo para mim.

Suspirei fundo. Sabia que estava cometendo mais um dos erros da minha vida quando disse:

-Tá legal. Quando vamos? - Vi seu rosto se iluminar e ela comemorar com palminhas.

Só não imaginava que seria o maior deles.

-Não vai ser tão ruim. – Falou a garota loira do outro lado do telefone.

-Tem razão, poderá chegar ao péssimo. – Revirei os olhos.

-É ruim a visita ver por esse modo.

-Eu não estou sendo convidada, Gabi – murmurei, apoiando o telefone no ombro e tentando pegar uma das balas que eu sabia que estava no fundo falso da gaveta. – Estou sendo intimada.

-Vendo por esse ângulo... Parece muito mais policial.

-Prefiro classificar como terror.

-Você está fazendo um favor para sua amiga aqui.

-Um enorme favor.

-Ela só não quer ficar sozinha naquele lugar tenebroso.

-E arrasta sua inocente e ingênua amiga com ela para o quinto dos infernos.

-Bem de qualquer modo... – Ela estava tentando esquivar do assunto. – Nós te buscamos às 5 horas.

-Da tarde, não é?

- Da manhã, idiota.

-Ah é muito cedo, acho que não vou poder ir. - Apostei na minha ultima carta da manga.

-Esteja pronta, com mala arrumada e enfrente a porta às 5 horas amanhã ou irá com a roupa do corpo e sua única peça será o pijama do Pokémon pelo resto da semana.

-Eu não tenho mais o pijama do Pokémon - resmunguei, agradecendo que ela não estava conseguindo ver à vermelhidão pelo meu rosto.

-Não se esqueça de colocá-lo na mala. Tchau, tenho que desligar.

-Tchau. - falei em tom choroso.

-Até a amanhã.

-Até.

Coloquei o telefone na penteadeira e voltei à atenção a gaveta, finalmente conseguindo resgatar uma bala do meu esconderijo. Fitei-me no espelho. Qual era o problema das pessoas com pijamas de Pokémon?