Ela acordou assustada com o barulho do celular tocando, atendeu antes mesmo de ver quem era.

- Alô. – disse ela com uma voz sonolenta.

- Bia, você estava dormindo?

- Estava. – disse ela bocejando. – Quem é?
Justin ficou surpreso por ela não reconhecer sua vez, mas deu um desconto, ela havia acabado de acordar.

- É o seu namorado. – disse ele rindo.
Ao ouvir aquilo Bianca até sentou de susto.

- Ah, é você amor! – disse ela. – Que horas são?

- É quase meio-dia. – disse ele rindo um pouco ainda. – Desculpa te acordar, não sabia que você dormia até tarde nos domingos.

- Não tem problema não bebê. – disse ela. – Me fale, o que você quer?

- Quero saber aonde você quer ir hoje. – disse ele.
Na hora que ele falou isso, Bianca teve uma idéia brilhante para testá-lo.

- O que você acha de irmos ao mesmo lugar que fomos na primeira vez que saímos juntos?

- Ah Bia, você quer ir na sorveteria? – disse ele. – Não está tão calor para tomar sorvete.
Ao ouvir aquilo Bianca ficou chocada. Como ele podia lembrar?! Foi aí que ela percebeu que Justin era diferente e que realmente gostava dela.

- Nossa amor, você ainda lembra? – disse ela.

- Lógico que lembro, eu não vou esquecer nunca. – Pelo tom de voz dele, ela percebeu que Justin estava sorrindo.

- Você é um lindo mesmo né! – disse Bianca. – Mas é verdade, não está tão quente assim. Não sei então, aonde você quer ir?

- Ah, eu não sei. – disse ele.

- Bebê, você sai mais que eu, eu não conheço quase nada aqui. – disse ela rindo um pouco. – Mas quero de preferência um lugar bem sossegado onde haja só nós dois.
Justin ficou em silêncio alguns segundos e depois voltou a falar.

- Bom, tem uma praça que é bem longe, nunca tem ninguém lá porque é no meio de um bosque, pode ser lá?

- Sim! – disse Bianca animada. – Podemos até fazer um pic-nic, o que você acha?

- Adorei a idéia! – disse ele também animado. – Mas pode deixar que eu levo tudo ok?

- Ah bebê, tem certeza? – disse ela.

- Claro que sim! – disse ele. – Não ouse em querer levar nada!

- Ok capitão. – disse ela rindo.
Justin riu também e voltou a falar.

- Que horas posso passar na sua casa para te pegar?

- Ah, por mim tanto faz. – disse ela.

- Três horas eu passo aí ok? – disse ele. – A hora que chegar na frente da sua casa eu te dou um toque.

- Ok então bebê, até depois. – disse ela.

- Até minha linda. – disse ele. – Beijo, te amo.

- Eu também.
Bianca desligou o celular e levantou pulando, não podia conter a alegria que estava sentindo. Aproveitou que estava disposta, tomou um banho e colocou a roupa que iria. O sol brilhava forte, mas havia um vento fresco, então colocou um short jeans e uma blusa de manga comprida, mas fina. Logo depois foi até a cozinha, sua mãe estava lá com Claudia.

- Nossa filha, estava indo agorinha te chamar para almoçar. – disse sua mãe.

- Uma pessoa foi mais rápida que você. – disse ela rindo.

- E acho que essa pessoa é o Justin, acertei?

- Sim. – disse ela. – Ele me ligou para nós combinarmos de sair.

- E aonde vão? – disse sua mãe.

- Vamos numa praça fazer um pic-nic. – disse ela animada.

- Ah, que legal filha! – disse sua mãe.

- Também achei patroinha. – disse Claudia.

- Eu também amei! – disse ela. – Não vejo a hora de ir.

- Que horas vocês marcaram filha?

- Três horas ele vai passar aqui em casa para me pegar. – disse Bianca.

- Ah, ok então. – disse sua mãe.
Elas ficaram em silêncio mas Bianca voltou a falar.

- Cadê o pai?

- Foi levar o carro para lavar. – disse sua mãe. – Só estou esperando por ele para almoçar.

- Ah tá. – disse ela.
Elas continuaram conversando e logo seu pai chegou, durante o almoço ele ficou comentando sobre as conversas dele com os amigos na lavação. Como não tinha muito tempo vago durante a semana, no final de semana ele aproveitava para vê-los e conversarem.
Quando terminaram de almoçar, Bianca e sua mãe ficaram na cozinha com Claudia e seu pai foi dormir. Quando Claudia terminou de arrumar as coisas, se arrumou e foi visitar uma de suas irmãs, sua mãe aproveitou para ir dormir também e Bianca foi para seu quarto. Viu em seu celular que eram quase duas da tarde, ainda faltava uma hora para Justin chegar. Pensou em entrar na internet, mas não estava com paciência, então decidiu fazer chapinha. Ligou e foi fazendo mecha por mecha, mas como o silêncio estava a incomodando, ela ligou o som e ficou ouvindo música enquanto fazia aquilo. Quando terminou, se olhou no espelho e pensou por que seu cabelo não era assim sempre, ficava muito melhor. Olhou no relógio e viu que ainda eram duas e meia, então desligou o som, pegou seu livro e foi ler na sacada, como precisava passar o tempo, nada melhor do que ler.
Ela acabou se concentrando na leitura e só se desligou dela quando o celular tocou, viu que era Justin e rapidamente levantou e olhou para o portão: Lá estava ele, sorrindo lindamente. Ela também sorriu e fez um sinal com a mão para ele esperar, foi então que ela percebeu que ainda faltavam alguns detalhes. Escovou os dentes e colocou o tênis ao mesmo tempo, passou rímel e perfume e desceu as escadas rapidamente. Como seus pais ainda estavam dormindo ela preferiu não incomodar, então pegou dinheiro num potinho da cozinha e fechou a porta ao sair de casa.
Foi rapidamente até o portão, saiu e Justin a recebeu com um forte abraço.

- Oi meu amor. – disse ele. – Já estava com saudade.

- Eu também. – disse ela.
Os dois deram um beijo rápido e foram caminhando de mãos dadas.

- Jus, esse lugar é muito longe? – disse Bianca.

- Ah, não muito, só temos que pegar dois ônibus. – disse ele rindo.

- Nossa! – disse ela surpresa, mas acabou rindo também.
Agora Bianca não se importava mais, onde quer que ela fosse, se Justin estivesse junto, ela estaria feliz.
Depois de pegarem os dois ônibus que Justin havia dito e andarem quase 1 km, eles finalmente chegaram. A entrada do bosque era uma trilha aberta em meio às árvores e tinha várias folhas secas no chão, que faziam barulho quando eles pisavam ao andar. Caminharam pela trilha durante cinco minutos, e no final chegaram ao tal parque. Apesar de ser um parque não muito movimentado, ele estava bem cuidado. A grama estava cortada e havia vários bancos de madeira ao redor.

- Bia, vamos sentar aqui na grama mesmo? Eu trouxe uma toalha para colocar no chão.

- Pode ser. – disse ela sorrindo.
Justin sorriu também e tirou sua mochila das costas, se ajoelhou no chão e começou a tirar as coisas que havia trazido. Bianca estendeu a toalha no chão e se sentou, enquanto Justin abria os potinhos com frutas, bolachas e balas.

- Justin, o que você trouxe? – disse ela.

- Ah, como eu comprei tudo de última hora, teve que ser meio correndo, então comprei uva e morango, bolacha recheada, chiclete, bala e suco de laranja, você gosta?

- Gosto sim! – disse ela sorrindo. – Mas deve ter saído caro.

- Não se preocupe com isso, você merece. – disse ele sorrindo.
Bianca também sorriu e se aproximou dele, deu alguns selinhos em Justin e depois um beijo.
Depois de terminar de arrumar as coisas, ele se sentou ao lado dela e eles começaram a comer, Justin como sempre muito brincalhão, ficava fazendo cócegas e cutucando Bianca e não a deixava comer direito.

- Bia, deixa eu deitar no seu colo. – disse ele.
Ela esticou as pernas e então ele deitou com a cabeça em cima de suas coxas, ela começou a mexer em seu cabelo e deu um morango em sua boca.
Os dois se olhavam e sorriam um para o outro, aquele momento estava sendo tão bom que eles poderiam ficar ali para sempre.
De repente, Justin levantou rapidamente e olhou sério para ela.

- O que houve? – disse Bianca.

- Bia, já que nós estamos namorando de verdade, tem umas coisas sobre mim que você precisa saber.
Nessa hora Bianca se assustou um pouco, o que Justin poderia ter feito? Várias idéias mirabolantes passaram por sua cabeça, mas a história que Monique havia comentado sobre os pais de Justin, ela não lembrou. Uma pena, porque era exatamente sobre isso que ele falaria.

- Pode falar. – disse ela mordendo o lábio inferior, e apreensiva.
Justin deu um suspiro e começou a falar.

- Olha Bia, vou te confessar que não é um assunto que eu goste de falar, até porque pouquíssimas pessoas sabem sobre isso, mas como eu te amo e você é minha namorada, acho que você tem o direito de saber.

- Justin, você está me deixando com medo.

- Não fique! – disse ele rindo um pouco. – Não é nada demais, só eu que não sei lidar com isso direito.

- Entendo. – disse ela.
Justin sorriu e voltou a falar.

- Bia, você lembra do meu pai? – disse ele.

- Lembro sim! – disse ela sorrindo. – Ele é um querido.

- Então Bia, - Justin abaixou a cabeça por alguns segundos e voltou a olhar para ela. – ele não é meu pai de verdade.
Ao mesmo tempo em que Bianca ficou perplexa, tudo começou a fazer sentido. Ela se lembrou de tudo que Monique havia a contado. Por isso Justin não gostava de falar sobre seus pais, simplesmente por isso.

- Como assim? – disse ela tentando parecer o mais natural possível.

- Desculpa, eu não soube me expressar direito. – disse ele. – Ele é meu pai, mas é meu pai adotivo, eu sou adotado Bia.
Cada palavra dele a deixava cada vez mais surpresa, mas ao mesmo tempo ela ficou feliz por ele estar confiando nela e contando aquilo.

- Então sua mãe, - Bianca parou e depois continuou a falar. – também é adotiva?

- Sim. Deixa eu te explicar melhor. – disse ele.

- Tudo bem. – disse ela dando um pequeno sorriso.
Justin deitou em seu colo novamente e ficou olhando para ela enquanto falava.

- Os meus pais adotivos me pegaram em um orfanato, eu tinha quase um ano de idade. – disse Justin. – Só que o problema maior não é esse, é que eu nunca vou conseguir descobrir quem são meus pais de verdade.

- Por que não? – disse ela.

- Porque eu fui deixado na porta do orfanato Bia, ninguém sabe por quem e por que. Meus pais adotivos falaram com todos os funcionários do orfanato, mas ninguém soube quem me deixou lá, me acharam em uma manhã, dentro de uma cesta e com um bilhete pedindo para que cuidassem bem de mim.
Enquanto Justin falava, Bianca percebeu que seus olhos se enchiam de lágrimas, então em uma forma de tentar consola-lo, ela começou a fazer cafuné nele.

- Depois que eles me adotaram, - continuou ele. – eles foram em todos os hospitais da cidade para ver quem havia tido filhos no dia do meu aniversário, porque isso minha mãe escreveu no bilhete, o dia que eu nasci. Mesmo assim eles não acharam nenhum registro, então é capaz de eu nem ter nascido aqui.
Ele parou de falar e olhou para ela como se esperasse uma resposta, mas ela nem sabia direito o que dizer.

- Nossa amor, - disse ela. – que coisa...
Bianca não achou a palavra certa para terminar aquela frase, então Justin a terminou.

- Para mim é estranho. É por isso que eu não gosto de falar disso Bia, sempre que alguém fala dos meus pais, eu acabo lembrando dessa história entende? Eu tento falar disso numa boa, mas é muito difícil pra mim.

- Mas Jus, - disse ela. – os seus pais adotivos te tratam bem?

- Nossa, demais! – disse ele. – Eles são maravilhosos, sempre me deram tudo que eu precisei, me tratam como se eu fosse filho de verdade deles, e isso me deixa muito feliz, até porque eu tenho eles como meus pais de verdade.

- Ah, que bom. – disse ela sorrindo carinhosamente.
Justin também sorriu e continuou olhando para ela.

- E quantos anos você tinha quando eles te contaram? – disse ela.

- Não faz muito tempo, foi com doze anos. – disse ele. – Acho que é por isso que eu ainda não sei lidar muito bem com essa história toda.

- Sabe amor, eu não sou muito boa em dar conselhos, mas eu acho que você devia levar isso numa boa sabe? – disse ele. – Acho que não tem motivo nenhum para ter vergonha ou medo de dizer que é adotado, é uma coisa tão linda. Mesmo que seja difícil, tente levar isso na normalidade, porque o que seus pais fizeram foi lindo.

- Mas você tem que admitir que o que minha mãe biológica fez foi horrível. – disse ele.

- Claro, nada justifica abandonar um filho, mas pode ser que ela tenha pensado no que seria melhor para você. – disse Bianca. – E se ela não tinha condições de te criar?

- Você tem razão. – disse Justin mordendo o lábio inferior. – Eu nunca tinha pensado por esse lado.

- Tente se colocar no lugar dela, eu tenho certeza que você vai começar a entender melhor e vai saber lidar com a situação.
Justin levantou do colo de Bianca e sentou em sua frente, sorriu e voltou a falar.

- Você está certa. – disse ele ainda sorrindo. – Obrigada por me ouvir Bia, eu tirei um peso das costas.

- Não precisa agradecer, eu vou estar aqui pra tudo que você precisar. – disse ela sorrindo também.
Justin se aproximou dela lentamente, e antes de beijá-la, disse uma coisa que a fez vibrar por dentro.

- Eu tenho a melhor namorada do mundo.
Ela nunca havia se sentido tão útil, o fato de saber que Justin confiou nela e de que ela o ajudou a deixaram muito feliz.