Á Sombra Do Ciúme. escrita por viiviangodoy


Capítulo 1
Ciúme Cloe


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Pov: Cloe.

Era a décima roupa que eu provava diante do espelho. Nada servia. No último ano eu tinha engordado mais uns cinco quilos pelo menos. Estava tudo estourando em mim. Não era só a roupa, não. Era TUDO mesmo.

Estava estourando de gorda, de raiva, de inveja, me sentindo um balão a ponto de explodir se alguém ousasse chegar perto de mim. Naquele momento tudo o que eu queria era ter um acesso, um siricutico, que era pra ver se eu me acalmava e fazia uma cara bem blasée (não é assim que se diz entediada em francês?) na hora em que eu fosse entrar naquela maldita festa do Ryan.

Ah, tenha a santa paciência! Eu tinha todo o direito de estar daquele jeito, sabe? Estava cheia de razão!

Sabe lá o que é ter uma irmã linda e loura? Literalmente maravilhosa, porque a Ashley tem os olhos azuis mais azuis do mundo e os cabelos louros da Michelle Pfeiffer. De fala mansa, que nunca se altera e resolve tudo como se recebesse flores. Sabe lá o que é ver seu pai e sua mãe repetindo o tempo todo que você precisa ser menos estourada, que ‘’olhe-só-a-sua-irmã-como-é-calma-e-por-isso-consegue-sempre-o-que-quer’’? Sabe lá o que é agüentar uma irmã magra, que nunca precisou fazer regime na vida, que, aliás, acha isso uma bobagem e que namora o mesmo cara há mais de um ano? Se bem que ele é meio babaca, vive fazendo tudo o que ela quer, como um cachorrinho bem mandado. O maior cara sem personalidade!

Não, ninguém no mundo sabe o que é isso. Só eu, euzinha que sei, entende? Eu, Cloe, dezesseis anos, gordinha (ai, como eu odeio ter que admitir isso! Eu com meus cinqüenta e dois quilos! Já tentei discursar ‘’ene’’ vezes diante do espelho dizendo que ‘’não vou sucumbir ao modelo estereotipado de beleza desta sociedade capitalista e vazia’’, mas, definitivamente, isso não me convenceu), estourada e que nunca consegue namorar mais do que três meses com ninguém (meus namoros só duram o tempo de uma paixão de filme: Nove e meia semanas de amor...), não merecia uma irmã como a Ashley! Não mesmo!

Por que a gente tinha que ser tão diferente assim, hein? A gente nasceu do mesmo pai e da mesma mãe (isso eu já chequei direitinho, pois teve um tempo em que eu tinha sérias dúvidas de que teria sido enjeitada na porta da casa destes meus supostos pais), recebeu a mesma educação (sempre estudamos na mesma escola, sabe? Desgraçadamente, porque é muito comum algum aluno novo chegar e dizer: ‘’Nossa, você é a irmã da Ashley? Vocês são tão... sei lá... diferentes...’’), teve as mesmas oportunidades (estudamos balé, inglês, natação essas coisas que todo mundo acha que criança tem que fazer pra ser alguém na vida) e sempre viveu debaixo do mesmo teto, não é incrível que a gente possa ser tão absurdamente desigual?

Vocês podem até pensar que eu não gosto da Ashley, falando assim. Mas não é isso, não. Eu gosto dela pra caramba. Gosto mesmo, de verdade. Mas é que quando me olho assim no espelho, quando começo a me preparar pra uma festa como essa, em que a galera, todos os nossos amigos vão, aí é que a coisa pesa. Ser irmã da Ashley vira uma carga, uma responsabilidade, um dever de casa impossível de ser feito. Eu simplesmente não posso ser linda como ela é.

– Está pronta, Cloe? O Chaz já está lá embaixo esperando a gente. E você sabe como ele é impaciente...

– O namorado é seu Ashley! Vai lá dar uns beijinhos nele, que ele espera até eu experimentar o guarda-roupa da mamãe e o seu, além do meu, inteirinhos! Ele é ‘’como neném, só sossega com beijinho...’’- cantarolei eu, irônica.

Ashley deu de ombros e fechou a porta do quarto, devagar. Ela sempre fazia isso quando eu respondia com uma de minhas ironias cortantes. Ashley nunca me respondia, também não brigava comigo. Ela apenas aprontava. É, sem avisar nada, com aquele jeitinho manso dela, fazia só o que queria e como queria. Não discutia nem pedia a opinião de ninguém, apenas armava e se dava bem.

Olhei-me de novo do espelho e me lembrei de uma festa que tínhamos ido há mais ou menos um ano. Eu tinha dado mais uma das minhas ‘’alfinetadas’’ sei lá por que, e a Ashley tinha saído assim, de mansinho, igualzinho tinha acabado de fazer. Quando desci, certa de que ia encontrar os dois aos beijos no carro, não havia ninguém lá embaixo. Subi e desci de novo, procurei pelo quarteirão inteiro, e nada. Eu não acreditei, a Ashley tinha me deixado ali, plantada, sozinha. E agora, como podia ir à festa?

Fui de táxi, furiosa. Pelo caminho imaginava que diria à Ashley, de que modo a destruiria com minhas palavras afiadas. Estava fumaçando! Realmente, ao chegar lá, disse- lhe umas tantas que nem lembro mais (como esqueço o que falo! É que, no fundo, não guardo mágoa de ninguém mesmo, vou falando por aí tudo o que me dá vontade), e ela apenas me olhou nos olhos. No fundo dos seus, havia um brilho azul- escuro.

Pra resumir: voltei de carona pra casa. Ashley saiu da festa sem me avisar e eu ainda tive que pagar o pato por ter entrado em casa tocando a campainha e acordando a mãe (pois a chave, é claro, estava na bolsa da Ashley-que-nunca-esquece-nada), que me passou um carão dos maiores , querendo saber por que eu ‘’não tinha vindo cedo com minha irmã ajuizada’’. Um saco!

Quando entrei no quarto, Ashley estava sonolenta. Abriu os olhos por um segundo. Eu li a mensagem: ‘’Não brinque comigo. Eu sempre dou o troco, e da melhor maneira possível, porque eu ganho todas’’. Desabei em cima da cama e comecei a fazer o meu discurso, só que não gritei porque meu pai estava dormindo e aí ia ser pior para mim se ele resolvesse vir ver o que estava acontecendo. Mas fui dormir com o corpo quente, pegando fogo, de raiva da minha irmã.

Sacudi a cabeça, querendo apagar essas lembranças, e concluí que era melhor eu ir logo, senão não chegava à festa do Ryan. O babaca do Chaz adorava os beijinhos da Ashley, mas não tinha paciência eterna. Terminei de me vestir, e me olhei no espelho, gostando do resultado. (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=46497632&.locale=pt-br)

Desci e não deu outra: os dois estavam agarrados, se beijando. Entrei no carro esbaforida, e a Ashley não disse nada, o Chaz que reclamou da minha demora. Eu não respondi, dei de ombros e me pus a pensar no Justin, nosso amigo de infância. O Jus ia estar nessa festa e toda a minha angústia era por isso.

O Jus é um cara muito especial, sabe? Daqueles que não têm dois no mundo. Ele é bonito, mas não como o Chaz, por exemplo, que tem cara de príncipe encantado, de modelo de capa de revista, assim... Meio perfeito demais para ser gente como a gente. O Jus tem a pele clarinha, tem os olhos e cabelos castanho claros, nem muito alto e nem muito baixo, também não é uma montanha de músculos trabalhados em academia, tem um corpo equilibrado, gostoso de ver. Ele é lindo...

Ele é lindo porque a gente pode sentir ele inteirinho quando ele fala, quando mexe as mãos, enfatizando trechos de uma história, que se ele não viveu ou viu, inventou. O Jus é bom contador de casos, é inteligente, um daquele que leu um monte de coisas interessantes na vida, viu muitos filmes, viajou pra caramba, experimentou o mundo. E ele não é muito mais velho que o pessoa da galera, não (tem dezoito anos), mas parece saber mais do que todos os outros garotos. Ah... ele é o máximo!

Dizem que quando eu e ele estamos juntos na mesma roda de amigos ninguém fica sem rir. É que nós dois temos essa mania de contar histórias. As vividas, vistas e inventadas, então fica fácil animar qualquer lugar. E é muito legal quando fico assim, junto dele, rindo com ele, ouvindo, falando, trocando coisas. Pode ter um milhão de pessoas ao redor de nós, mas para mim, é como se existisse só eu e ele. São momentos como esses que eu guardo na memória do meu coração, que ficam lá, num cantinho mágico, que eu abri pra mim sempre que as coisas aqui fora ficam duras de mais.

Eu estava indo para a festa do Ryan e o Justin ia estar lá. A gente ia, mais uma vez, animar a festa... Mas sabe o que eu queria de verdade? Estar magra, linda, loura, misteriosa, com poucas palavras, cheia de charme e fazer com que ele se interessasse por mim como mulher e não como companheira de palhaçadas... Queria que nós não fôssemos um par como o Gordo e o Magro, mas uma paixão como Romeu e Julieta... Queria... queria dar um beijo nele, ser abraçada e apertada num banco de carro, linda e loura... como num filme de Hollywood.

Olhei pro banco da frente enquanto o Chaz estacionava na porta da festa. Já estava lotado, o colégio todo devia estar dentro da casa do Ryan. Também, com uma mansão dessas... Bom, não perdia muito para minha casa, mas lá minha mãe não nos deixava dar festas. Os fios louros me lembraram que era a Ashley quem estava lá. Linda, loura, misteriosa, de poucas palavras. Como uma deusa de Hollywood. Meu coração se desfez de amargura. A história que eu tinha acabado de sonhar cabia perfeitamente pra ela. Uma lágrima rolou, proibida no canto do meu olho esquerdo. Por que eu teimava em sonhar os sonhos de Ashley?



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Notas finais do capítulo

Continuo?



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