Um amor imperfeito escrita por Hachi182


Capítulo 30
Esperança


Notas iniciais do capítulo

Obrigada aos leitores Ana e Deedee pelos comentarios dos capítulos anteriores !! Vocês me motivaram a escrever um pouco mais dessa vez.

Boa leitura !



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/212162/chapter/30

No capítulo anterior...

O apoio de Pedro era essencial para o que eu estava prestes a fazer. Como filha do General Giotto, meu rosto é familiar para qualquer guarda da tribo, e se essa ordem realmente está sendo seguida, eu estava prestes a invadir uma reunião do meu próprio conselho.

……………………………………………………………………………………………………

Cassandra Narrando

Avancei em direção a arena, evitando outros guardas que patrulhavam o corredor.

Fingi frio e cobri minha cabeça com o gorro do casaco, e continue avançando firme.
A arquitetura da Arena era mais simples por fora do que por dentro. Para chegar aonde o debate estava acontecendo, foi preciso subir dois lances de rampas imensas, até que eu conseguisse ver o que estava acontecendo lá dentro.

Quando efetivamente consegui ver o campo, estava toda suada de ter corrido nas rampas até a entrada.
Todos pareciam muitos atentos ao discurso do menino moreno que se aproximava do centro cada vez mais.

A cena em si me pareceu muito confusa, pelo visto tinha perdido bastante coisa. Precisava chegar mais perto para ouvir melhor o que o garoto falava.
Os guardas estavam atentos demais na arena para perceber minha movimentação. Aos poucos consegui descer os degraus e ter uma noção melhor da situação.

No centro da Arena estava Kouta, apenas de calça e botas, mas o calor próximo dele era visível por causa da pequena evaporação ao seu redor. Me alegrou de ve-lo novamente a luz do dia, com as bochechas coradas e aparentando saúde, mesmo com algumas olheiras.

Consegui chegar próximo ao limite da arquibancada, o suficiente para ver os detalhes de tudo com mais clareza.
Focalizei os membros do conselho, visto em um canto mais elevado na periferia da arena , meu pai e o Ancião entre os conselheiros. Todos prestando atenção.

Olhei para os guardas na arena, 10 rodeavam e apontavam lançar afiadas na direção de Kouta. Olhei para Kouta novamente. Seu cenho estava franzido, seus orbes esverdeados focalizavam a figura que discursava a frente, o olhar sério e raivoso.

Olhei para o dito cujo. O braço e partes do rosto cobertos por ataduras, o discurso era bem gesticulado e todas as palavras ditas com muito afinco.

Os olhos com um brilho perigoso, em cada um de seus diferentes orbes azuis.

Lucas iniciava suas acusações contra Kouta, e por hora eu só poderia olhar.

………………………………………………..

Kouta Narrando

Sinceramente ? Os guardas estavam autorizados a me degolar.

Cada minuto que passava e eu continuava ouvindo aquele ser humano falando e eu realmente queria morrer.

Ok, morrer nao, mas fingir um desmaio ia ser legal pra fazer o sujeito calar a boca.

É impressionante quantas versões diferentes do mesmo argumentos ele consegue produzir. Até o próprio povo já estava cansado da ladainha.
Estava prestes a revirar os olhos para o sujeito quando uma nova figura entrou em meu campo de visão.

Lucas entrou calmamente na arena, se aproximou do guarda que discursava e com um tapinha nos ombros do mesmo, o silenciou. O guarda fez uma breve reverência e foi embora. A postura dos membros do Conselho mudou de tédio para puro interesse, e a minha postura firme permaneceu a mesma, caso contrário , acho que eu seria capaz de arrebentar mais um pouco o rosto desse cara.

As curandeiras fizeram um belo trabalho em seu rosto, falando nisso. Os hematomas mais fortes e algumas queimaduras foram amenizadas, o braço se movia com mais facilidade, e ele não aparentava mais desconforto no abdome.

— Obrigado ao meu caro compatriota pelo seu breve discurso. As verdadeiras acusações estão sob minha posse, estava apenas aguardando alguns últimos preparativos. - disse Lucas com seu discurso.

Os guardas atrás de mim devem ter percebido a mudança do meu olhar, pois alguns deles apontaram suas lanças em minha direção, como se fosse um aviso, e depois voltaram para sua posição original.

— Meu povo, fomos enganados desde o início por esse espião da Nação do Fogo !! Esses sanguinários ainda não se cansaram de derrubar nossa amada Tribo, e como prova temos aqui o traidor !

“Vocês não puderam presenciar sua chegada a nossa tribo, mas devo dizer que para um “não dominador” foi impressionante acreditar que ele conseguiu sobreviver ao frio do Polo Sul após uma terrível tempestade com apenas poucos casacos da ilha de Kioshi. Os pescadores que estavam presentes no barco podem confirmar o que estou falando. Encontramos o Traidor e a filha do General Giotto, Cassandra, com um pouco mais do que alguns pedaços de pano.”

“ Não satisfeito, o acusado após a sua chegada tentou renegar suas origens, afirmando para mim e outro compatriota que a verdade de ter conhecido Cassandra foi como empregado no Reino da Terra, quando a própria menina afirmou para o General Giotto que o havia conhecido como escravo do palácio do Senhor do Fogo. “

“ Ele achou que conseguiria conquistar nossa confiança, e aos poucos se infiltrou no dia a dia de nossa Tribo, ajudando pescadores, olhando por nossas crianças e socializando com os homens nas tavernas !! Mas sua verdadeira identidade foi revelada , quando em um surto de raiva pelo nosso povo, eu fui atacado com a dominação de fogo ardente desse sujeito !”

“ Muitos foram testemunhas do que aconteceu comigo e ao meu corpo, as curandeiras da vila sabem o estado em que estavam a minha pele e machucados. Mas valeu a pena, se foi por minha causa que conseguimos desmascarar o maldito disfarçado. Aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ver a dominação de fogo, vejam como a neve facilmente evapora próximo ao sujeito ! Agora, Tribo, eu pergunto a vocês : podemos ter um espião entre nós ? As provas apresentadas foram suficientes para que todos tomem a decisão correta ?”.

Devo admitir, se eu fosse da Tribo da Água, já teria mandado cortar a minha cabeça de verdade. Cada palavra proferida por Lucas carregava uma convicção cega e inabalável, como se ele estivesse certo do meu destino assim que seu discurso acabasse.
Olhei para os Conselheiros na periferia da Arena, eles não pararam de cochichar entre si desde o final do discurso, apenas Giotto e o Ancião se mantiveram calados. Depois de algum tempo de silêncio, a multidão nas arenas aplaudiu o miserável a minha frente, e o silêncio logo retornou assim que o Ancião pediu a palavra.

— Meu jovem Lucas, aprecio todo o trabalho que teve incriminando esse cidadão do País do Fogo. Porém, suas evidências não são provas o suficiente para que seja provada a aliança do rapaz a Corte Real do Fogo. Estaríamos fazendo aqui hoje o mesmo caso um de nossos dominadores fosse capturado por qualquer outra tribo e acusado de espionagem sem justa causa. Ao menos que tenha alguma coisa a mais para ser dita, o Conselho se reunirá para decidir a pena para a violência acometida ao senhor.

Soltei uma respiração que eu nem sabia que estava prendendo. O alívio se alastrou pelo meu corpo enquanto eu agradecia mentalmente a todos os Deuses por aquele Ancião ter mais sanidade que metade desse povo junto por terem acreditado que apenas a fala do Multicolor era suficiente para incriminar alguém.

Estava prestes a externalizar minha comemoração, quando Lucas fez um movimento pedindo a palavra novamente. Meu momento de tranquilidade durou menos tempo do que eu imaginei.

— Senhor, eu imagino que nem com todas as palavras do mundo eu seria capaz de convencer aos membros do Conselho, caso eu não tivesse provas concretas… - Ele mexeu em um dos bolsos do casaco, e de lá, um brasão brilhante e dourado surgiu - Permitam-me que eu mostre a Vossa Senhoria, um medalhão com o Brasão da Nação do Fogo, encontrado junto com as coisas do acusado no barco em que ele e Cassandra vieram.

Ouvi um suspiro de espanto vindo da platéia, e nunca na minha vida quis tanto que um buraco se abrisse no chão.
Como pude me esquecer do medalhão ?? Nem Cassie sabia que eu andava com um objeto que me incriminaria tão rápido assim…

Aquela era a minha única lembrança boa da Nação do Fogo, quando meu pai oficializou meu treino para os outros membros da corte, dizendo que eu seria o próximo General da família destinado a servir o Senhor do Fogo tão bem quanto ele estava fazendo.

Aquele medalhão era um símbolo do Exército da Nação do Fogo, foi motivo de orgulho quando o recebi pela primeira vez. Lembro-me da cara de Sophie quando me viu usando, ela quase arrancou o medalhão da minha farda de tanto ódio. Por ser mulher, ela dificilmente conseguiria um artefato desses do Exército.

Lembro-me de minha mãe colocando ternamente aquele pedaço de ouro em minhas vestes, antes da reunião oficial com os outros generais. Suas palavras não saiam da minha cabeça sempre que olhava para o brasão ...

“Meu filho, você é um líder nato. Tenho certeza que você está destinado a grandes feitos quando for mais velho. Eu amo você, meu pequeno guerreiro.”

Mas nesse momento o amaldiçoava com todas as minhas forças. Meu nome estava gravado no verso junto com a data que o recebi, aos 12 anos. Hoje, aos 18, me arrependo de te-lo guardado por tanto tempo.

Apesar de ter me distanciado do Exército desde os 14 anos quando fugi com Cassandra, tenho certeza que eles não dariam ouvidos ao meu apelo. Rendido, olhei para o Ancião, que agora segurava o medalhão, analisando a peça de todos os angulos possiveis.

Ele passou adiante o medalhão por todos os membros do Conselho, e cada um confirmou por si só a origem da peça.

O ancião se aproximou da arena mais uma vez, aquela estranha bola cristalizada em suas mãos.

— Meu jovem, Kouta… - a forma que ele disse meu nome soou muito distante, e de certa forma, culpada - Você nega envolvimento no Exército da Nação do Fogo ?

— Não senhor… Eu fiz parte do exército dos meus 12 até os meus 14 anos.

— E você tem como provar que não está mais no exército ? - perguntou o Ancião.

— BLASFÊMIA !! Ele já nos deu a confirmação que queríamos, a prova já foi avaliada por todos os membros do Conselho, ele não deveria ser digno de piedade !!! - Esbravejou Lucas.

Os outros membros do Conselho e alguns cidadãos esbravejam junto com Lucas. Parece que finalmente eles teriam um banho de sangue.
O Ancião se afastou de mim, e tão logo que o fez, os guardas estavam com as lanças em prontidão apontadas para meu pescoço e outra partes do corpo.

Eu estava amarrado pelas mãos e pés, a cabeça erguida esperando que todos retomassem seus postos.

O Ancião faria o pronunciamento. O silêncio reinou novamente.

— Creio que a vontade do povo já foi expressada, bem como a da maioria dos Conselheiros. Não havendo então a necessidade de votação, eu declaro Kouta culp-

— ESPEREM ! - uma voz na plateia gritou, interrompendo o Ancião.

Meu coração acelerou ao reconhecer a pessoa. Ela não perdeu tempo em vir no centro da Arena, e se ajoelhar perante o Conselho.
E eu que já havia desistido de lutar, pensando que seria inútil resistir , vi em Cassandra uma fagulha de esperança. Sua figura feminina estava de costas para mim, . A invasão repentina fez um movimento na platéia, e metade dos guardas que me ameaçavam, agora apontavam suas lanças para a morena.

Ela havia conseguido chegar a tempo. Ela viera mais uma vez me salvar, ciente de todos os perigos que corria ao demonstrar apoio a mim. E o melhor que eu poderia fazer para ajuda-la seria ficar imóvel e me mostrar uma pessoa obediente e pacífica.

……………………………………………………………………

Cassandra  Narrando

— Senhor Ancião, a decisão não pode ser tomada ainda !! - supliquei de joelhos para ele e todo o Conselho - Kouta me trouxe para casa em segurança, me acompanhando em uma jornada de 4 anos ! Não é possível que tudo o que ele fez por mim seja desconsiderado dessa forma !

Ao meu redor, só conseguia ouvir o barulho do vento. A agitação que o povo demonstrou após a “decisão” já não estava presente. Levantei a cabeça em direção do Conselho, e captei meu pai com uma cara de espanto. Minha visão periférica captou Lucas com a mesma expressão.

Me levantei aos poucos, olhando ao redor. Murmúrios começaram por toda a platéia enquantos os membros do conselho conversavam entre si. Meu pai tentava argumentar alguma coisa com eles, enquanto eles discutiam entre si.

Olhei diretamente para Lucas, e o espanto em seu olhar agora foi substituído por puro ódio, que eu correspondi com a mesma intensidade. Ele parecia que estava prestes a me atacar com a dominação, mas seu autocontrole não permitiu que ele fizesse mais do que trincar os dentes e fechar os punhos com força. Ele sabia que eu era a única pessoa que poderia ter argumentos a favor de Kouta e impedir a sua acusação, e assim eu iria fazer. E tudo isso poderia ter sido evitado se eu tivesse percebido as intenções de Lucas antes.

Me virei para trás em um movimento suave para não alertar os guardas, e atrás deles, meus olhos encontraram o rosto de Kouta. Tão perto, porém tão longe. Sua expressão estava tensa, e se suavizou quando nossos olhares se encontraram. Ele demonstrava um misto de admiração e encorajamento , de forma que eu quase podia imaginar um sorriso vindo daquele olhar.
De certa forma, olhar para Kouta e sentir que ele estava contando comigo me deu mais coragem para seguir em frente com o que quer que viesse a seguir. O olhar dele se virou para frente, e quando o murmúrio acabou , soube que eles tinham uma decisão.

O ancião iria se pronunciar.

— Minha querida, já que você demonstrou ter argumentos em defesa do acusado, gostaríamos de ouvir a sua versão dos fatos.

Respirei fundo antes de começar o relato.

— Meu Senhor, creio que antes de falar de Kouta, terei que falar um pouco sobre a minha viagem até o Polo Sul de forma geral, para que todos os aspectos dos argumentos fiquem claros. Há 5 anos eu iniciei minha jornada no Polo Norte com o objetivo de chegar ao Polo Sul, eu pretendia fazer toda a travessia pelo Reino da Terra.

“ Infelizmente durante o meu trajeto, eu fui vítima de um ataque da nação do fogo, e como resultado acabei indo para lá como uma escrava capturada. Servi o palácio por algum tempo antes de ser transferida como escrava particular de um dos generais. E nesse cargo foi que conheci Kouta..”

“Ele é o filho do general que eu servia, nos afeiçoamos e após quase 1 ano de convívio, ele descobriu sobre minha dominação de água. Mas ao invés de contar para os superiores e mandar me executar, ele me ajudou a planejar uma rota de fuga, que depois de alguns contra-tempos ele acabou participando do plano todo e fugindo comigo. Desde então, há 4 anos, ele me ajudou a atravessar o mar até o Reino da Terra, e continuou a jornada comigo pelo continente até chegarmos aqui.”

“Vejam senhores, ele é filho de um General da Nação do Fogo, que havia sido promovido em seu batalhão para iniciar os treinamentos para servir o Senhor do Fogo, e havia acabado de descobrir uma dominadora de água no castelo. Ao invés de me dedurar e ganhar algum mérito pessoal, ele me escondeu e me ajudou a fugir, e até mesmo a chegar ao Polo Sul, que era o meu objetivo desdes o início da viagem.”

“ E digo mais, ao se afastar do Castelo fugindo com uma prisioneira, ele se tornou traidor do Exército e procurado pela Nação do Fogo, tornando inviável a sua volta para casa. E tudo isso para me ajudar a chegar em casa sã e salva. Creio que todos aqui reparam na sua cooperação com a Tribo e vontade de ajudar desde a nossa chegada. Kouta não escolheu nascer aonde nasceu, nem com a dominação que tem, mas aconteceu, e ele se provou honesto e capaz de se adaptar Entendo que tudo o que eu disse aqui não anula o fato de que ele agrediu um dos nossos, mas peço que o Conselho leve essas informações em consideração antes de decidir a sentença final.”

Respirei fundo quando terminei o relato. Falei de forma resumida, mas foi o suficiente para comprovar que ele realmente me ajudou durante todo esse tempo. Olhei para cada um dos membros do Conselho, em especial para meu pai, que tinha seus olhos fixados em mim.

Eu queria ter a oportunidade de ter dito essa história pessoalmente a ele, com todos os detalhes e todos os porquês, mas em outra circunstância ele não estaria tão receptivo a tentar entender do que hoje, quando ele precisava mais do que tudo entender que aquela era a verdade sobre a minha trajetória.

A verdade sobre ele nunca ter me encontrado no Reino da Terra.

Todos os membros se reuniram novamente para discutir, mas eu não queria encara-los enquanto argumentavam entre si o que seria melhor, afinal o povo aguardava uma decisão.

Eu só estava cansada de tudo aquilo. Achei que tinha a situação sobre controle quando convenci Kouta de vir comigo até a Tribo do Sul, que caso viessem a descobrir sua verdadeira identidade eles seriam um pouco mais mente aberta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá.
Estamos acabando com a parte burocratica da historia, em breve teremos alguma açao hehehehe.
Deixem seus comentarios com criticas, reclamaçoes e/ou elogios.

Beijos da Hachi e ate o proximo cap.!

Ps.: espero que todos tenham um feliz ano novo !!