pov. Bella 

   “A única coisa segura sobre a sorte é que ela mudará.”

     Quem dera isso fosse verdade. Anos se passaram, na verdade a minha vida inteira... e nada mudou. Dezessete anos e sempre a mesma coisa. Deboches. Risadas maldosas. Zoação. Eu nunca entendi por que as pessoas me odiavam tanto. Por que o mundo me odiava tanto. Teve gente que me disse que já que o mundo me odiava eu devia odiar o mundo também. Mas não. Eu não odeio o mundo. Tampouco as outras pessoas.

     Desde que me conheço por gente sou zoada, mas tudo piorou quando eu entrei na escola, aos sete anos. Os alunos me escolheram para saco de pancadas e brinquedinho preferido para zoar. Quem começou a mexer comigo foi Edward e seus amigos idiotas. Eles achavam que a vida era só rir dos outros e só se preocupavam com sua reputação e em ferir os mais fracos. Meus apelidos variavam de “Etê”, “Estranha”, “Alienígena”, “Feiosa”, “Monstrenga”. Ultimamente resolveram me chamar de “Travesti”. Eu não sei por que eles são tão maus. Chamam-me de travesti por causa de minhas roupas grandes e folgadas, mas são essas as roupas que o abrigo para órfãos proporcionava para nós, as órfãs. Eram roupas usadas e que geralmente ficavam grandes demais na gente.

     Antes eles apenas me agrediam verbalmente, mas tudo ficou pior nos últimos tempos. Eles começaram a ficar violentos e agressivos. Parecia que estavam com raiva de tudo e de todos, mas principalmente de mim. Descontavam toda a frustração em mim. As coisas ficaram difíceis e eu nunca fiz nada. Eu sempre tive medo. Talvez fosse pior se eu contasse pra alguém, mas a verdade é que até os professores sabiam da situação, mas fingiam que não tinham visto nada. Não sei se eles também tinham medo.

     Eu sofri muito nos meus anos de escola. Sofri muito na mão de Edward e de seus amigos, mas nunca os odiei. Nem os odeio. Na verdade eu tenho pena deles. Precisam machucar os outros para se sentirem bem, precisam chamar a atenção para serem alguém, na verdade eles são vermes covardes que merecem pena.

     Apesar de tudo o que aconteceu comigo sempre, eu tenho uma amiga. É uma só, mas é a melhor amiga do mundo. Seu nome é Ângela e nós duas estamos no mesmo barco. Somos órfãs, moramos no mesmo orfanato, na mesma escola e na mesma série. E é claro, somos as duas zoadas e humilhadas na escola, mas temos uma à outra e tenho certeza que nossa amizade é pra sempre.

      O que eu quero realmente dizer é que minha vida está uma bagunça – mais que o normal – e que eu estou totalmente confusa, pois diversos novos sentimentos tomam conta de mim. O que parecia ser simples brincadeiras de escola estão se tornando coisas violentas. Pessoas estão sendo feridas. E eu sou uma delas.

      Vou contar minha história pra vocês. Não é uma história feliz, mas saiba que eu sinto que recebo amor, mesmo que de poucas pessoas. A verdade é que eu sou feliz, mais do que Edward e sua gangue jamais serão.