Castigada escrita por Lucas


Capítulo 1
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Bem gente, essa é a primeira fic que posto aqui, espero que gostem, deixem seus comentários, e sugestões, agradeço desde já, se puderem recomendem. Estou dando o máximo de mim, aproveitem!



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- Escolhas, tudo acontece por conta das nossas escolhas, estou certo Srta Stella? -  Disseo professor.

Era perceptível, na verdade perceptível até demais que a Stella não estava prestando atenção na aula, afinal ela nem precisa estudar para passar de ano, basta os seus pais (totalmente ricos) subornarem o diretor da escola e voa-la, acertou em cheio. Confesso que às vezes eu simplesmente olho pro céu e pergunto para Deus e para mim mesma "por que as coisas não são tão fáceis para mim?", mas fazer o que né? Não sou provida de uma vida justa e infelizmente não posso fazer nada; ao contrário de muitas pessoas eu sou obrigada a ser assim e não tenho escolha.

- Não acredito que você estava pensando nisso! - Escuto e logo me viro, meio que assustada.

- Como assim? Obvio que você não sabe no que estou pensando. - Faço uma pausa, ainda indecisa e claramente assustada com tudo e todos a minha volta. - Quer dizer, você pode ser bastante inteligente, mas eu te garanto que se tem uma coisa que você não sabe, é ler mentes. - Finalizo!

- Claro que não sei ler mentes nem nada muito sobrenatural, se bem que seria uma boa, mas... - Felipe responde rindo, aquele mesmo sorriso de sempre já gasto e que não transmite nenhuma alegria, mesmo depois dessa brincadeira infantil e um tanto ridícula que quase me deixou com um tanto de medo. - Fala sério Laurie, você está bem? Nunca te vi tão pensativa quanto hoje! - Completa, dessa vez mais preocupado do que deveria.

- Ah, não é nada, para falar a verdade é só o clima em casa que não está tão bom, sabe né? O meu pai chegou em casa bêbado de novo e dessa vez chamando o nome de outra mulher. - Respondo gaguejando, mas tudo bem, ele é o meu melhor amigo e merece saber. Vamos Laurie, isso vai passar.

- Você precisa de ajuda? - Ele pergunta, com os olhos cheios de preocupação, mesmo sabendo que não pode me ajudar de jeito nenhum, só se por um milagre a mãe dele o mande parar de estudar por uma hora, minuto ou segundo qualquer, mas isto está fora de cogitação.

- Não precisa, de verdade, não mesmo. - Respondo rápido demais, deixando bem claro para nós dois que não sou uma boa mentirosa.
 Ah, qual é? Não estou afim de começar com essa conversa hoje, de verdade, não estou bem, não continue puxando assunto, por favor não puxa mais assunto. Mas ele está prestes a continuar quando minha sorte resolve sorrir e somos ligeiramente interrompidos pelo sermão do Mr. Henderson:

- Algum problema Laurie e Felipe? Espero que não, já que não estou de bom humor hoje!

Tudo bem, confesso que estou super a vontade de confrontar professor de matemática lindo e maravilhoso. Não sou nenhum tipo de louca por professores, tarada ou algo do tipo, só qe aqueles olhos absurdamentes azuis atrai qualquer garota, isso é um fato!

- C-claro que não Mr. Henderson, só estava a ajudando em uma duvida de física, só isso. - Felipe logo responde, com um pânico e nervoso tão perceptíveis em seu rosto, que chega a ser patético, fazendo toda a sala rir.

 Do nada o sinal toca, sendo que ainda faltam 1h e 26 minutos exatamente para o fim da tão longa, dolorosa, deprimente e tediosa aula em que o assunto principal são números (e letras), coisas de que eu geralmente costumo fugir.

- O que será que aconteceu para sermos liberados mais cedo? O sistema aqui é sempre tão rígido que se a polícia chegar aqui, com certeza vai fechar isso tudo, afinal... Abolição da escravidão aconteceu a muito tempo atrás. - Felipe pergunta, dessa vez revirando os olhos e preocupado como sempre.

- Não sei e nem quero saber, e aposto que só você e o outro nerdzinho da sala estão precoupados com isso. Se bem que não quero ir para casa e aturar aquele inferno outra vez. - Digo (mais sincera que nunca) enquanto arrumo minhas coisas na bolsa de couro preto que minha mãe me deu dias antes de morrer junto com absolutamente todo o resto da minha família, e só sobrou, infelizmente, o meu pai (que bebe descontroladamente desde então.

- Ok, acabei de ser informado que tenho que deixar vocês, então podem ir para casa! Estão liberados. - Mr. Henderson avisa, batendo palma e com um tom de voz sarcástico até demais, coisa que prefiro ignorar.

 - Ei Felipe, o que acha de passarmos na baiser glacés para tormarmos um milshake? Sua mãe não precisa saber, estamos no horário da escola! - Pergunto me virando para ficar de frente para Felipe, que logo faz um sinal positivo com a cabeça.

 Fomos andando até a esquina da escola, eu o olhava e em retorno recebia outro olhar, ambos forçando a barra, ele sem conseguir me olhar depois de descobrir o que eu estava passando e eu que não estava afim de puxar nenhum assunto fora do normal, mas fui obrigada a quebrar esse silêncio:

- Olha, me perdoe.. – As palavras fluíram, não pretendia dizer isso, não mesmo, agora o que era para ser um básico, espontâneo e divertido passeio vai ser tomado por uma conversa de crise pré-adulta.

- Perdoar pelo que? Não lembro de ter te feito algo. Sério, você está bem? – Ao ouvir suas palavras senti minha pele ficando gélida, ciente de que agora mais do que nunca serei obrigada a dar um discurso sobre crise de existência para o meu melhor amigo, o qual eu só deveria ter momentos felizes e esquisitos, como era de costume.

- Hum hum. – Interrompeu a garçonete. – O que vão querer hoje?

- Um milkshake de baunilha no maior copo que vocês tiverem, usem uma vasilha, um balde ou algo parecido, mas tem que ser grande e por favor, coloque milkshake até transbordar. – Ordenou o meu grande amigo, assustando a mim e a garçonete, Mary, uma grande amiga nossa.

- E você Laurie? – Pergunta Mary.

- Vou querer um também de baunilha, só que num copo bem menor, se possível num de 500 ml. – Nós três rimos. Mary logo anota nosso pedido e entra por um porta bem estreita e barulhenta.

- Olhe só para você, como esses cachos escuros porém presos e essa maquiagem pesada sobre a pele pálida, nem parece que estamos crescendo, ou como dizem, amadurecendo né? Parece que foi ontem que éramos 4ª série, você com cabelos presos em duas tranças super hilárias que todos da escola puxavam para lhe pirraçar! – Eu o observo dizer enquanto lembro daqueles dias horrorosos, penso que não tinha como ficar pior, o primário foi um pesadelo, mas logo volto a realidade e interrompo essas palavras tão melosas e provocativas:

- Ah, para de tanto sentimentalismo e lembranças ruins. Tanto para mim quanto para você o primário foi nada mais, nada menos que um pesadelo, dos piores.

- Hora da diversão, Um pote (Quase balde) de incontáveis litros de milkshake para o nosso querido Felipe, e uma simples tigela para a sem graça e mão-de-vaca da Laurie. – Olho sem saber se levo na esportiva ou a encho de desaforos, mas logo ela reage. – Era uma brincadeira, você além de uma boa cliente é uma ótima amiga. – Ambas sorrimos, e logo ela se despede. – Volto para pegar o dinheiro assim que acabarem, é só chamar, divirtam-se!

- Hoje vamos pegar na conta, então... – Tanto Mary quanto eu o observamos, até por que não tem uma conclusão lógica para essa frase, mas ele logo continua, provando para nós duas que é um grande bobalhão. – Mereço um beijo de despedida, não acha?

- Verdade! – Mary se incline e dá um beijo na bochecha do Felipe (que de propósito, tentou virar, mas não conseguiu) e saiu sorrindo, respondendo docemente à cantada mais sem graça que já presenciei na minha vida.

Me despeço de Felipe e Mary e vou andando, por mais que a preguiça tente me dominar, eu quero e preciso pensar um pouco, e ir andando para casa é uma ótima oportunidade, tanta coisa ruim acontecendo ao mesmo tempo, o único pensamento que me conforta é o de “Não tem como as coisas ficarem pior!”. A minha sorte grande é ter o Felipe comigo, por mais que eu não queira admitir, ele é tudo que eu tenho agora, além do meu pai alcoólatra e mulherengo (e que sinceramente, preferia não ter).

Paro na porta de casa, sentindo tudo tão solitário, tendo saudades de quando minha mãe alegrava a todos fazendo a vida parecer tão fácil e generosa, saudades do meu porquinho-da-índia branco e marrom que minha avó tinha acabado de me dar e que não tinha nem um nome ainda. Agora está tudo tão escuro e frio, como se estivesse perdendo vida, na verdade, está sim perdendo tanto a vida quanto meu animo. Sento-me no segundo dos três degraus que facilitam a chegada à porta sentindo-me exausta. Todas as cores somem do meu campo de visão e meu estômago dá uma reviravolta tão dolorosa que me sinto obrigada a levantar – mesmo cambaleando – para ir pro quarto.

- Pai, o senhor está aqui? – Sussurro com a voz falhando e quase esgotando. – Preciso da sua ajuda! – Completo enquanto praticamente me rastejo subindo as escadas para o quarto.

 Quando chego ao topo da escada uma rasga-mortália* passa cantando de forma assustadora pela janela, me senti completamente pior do que já estava, aquela incerteza de que as coisas não podiam piorar, fizeram minha perna estremecer. Entro no quarto, o coração acelerando e ao mesmo tempo parando, me senti apavorada ao encontrar o quarto vazio já que o Henry só podia estar em dois lugares, no bar da esquina no qual eu passei por perto e não o vi, ou aqui, exatamente aqui nesse quarto, bêbado ou até mesmo com alguma mulher, daquelas aberrações drogadas, tatuadas e alcoólatras como ele, mas para o meu azar ele não estava. A preocupação começou a tomar conta de mim, por mais que eu não me sinta a vontade com o Henry, ele é a única pessoa que sobrou da minha família. Estou prestes a sair do quarto sem animo e de cabeça baixa quando avisto perto da cama um pouco em baixo do criado-mudo, um envelope, ou uma carta, algo que provavelmente meu “querido” pai já deve ter lido e ignorado. Fui na direção do envelope, me abaixei e peguei, tinha escrito “Para Henry”, não pude me conter, era a letra da mamãe, estou sendo tentada a abrir, e não pensei duas vezes. Tinha pouca coisa escrita, mas parecia dizer muito, para a minha sorte ou azar, comecei a ler.             

 Querido Henry
Sei que estávamos em crise, mas, por favor,
você sabe o quanto precisamos da nossa Laurie.
Nos separamos para protegê-la, mas fizemos a coisa errada,
se ela não descobriu nada até agora provavelmente não descobrirá tão cedo, precisamos orientá-la juntos, antes que me matem ou venham atrás de mim, você e todos os outros envolvidos, essa é a nossa chance de realmente protege-la,
ficarmos juntos e...


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Notas finais do capítulo

*rasga-mortália = Passáro que simboliza a morte.
Espero que tenham gostado do primeiro capitulo!