Michi Yuki - Yuki no Michi escrita por bew


Capítulo 4
Capítulo 3- Crystal


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora """"



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 A morena fechou o diário, ainda atordoada. Pensamentos nada claros misturavam-se e ela já estava com dor-de-cabeça. Tentou dormir, sem sucesso. Passou a noite fitando o teto, lutando para processar a informação. ”Qual era o problema de Rozen ser neto de Nate?” Ela perguntava-se repetidamente, não achando nenhuma resposta. Não havia motivo para ela estar tão perturbada.

Depois do que lhe pareceram séculos, o sol começou a raiar. A garota levantou-se, indo para o banheiro. Ligou a água ainda procurando alguma razão para estar tão espantada. Suspirou, terminando o banho e indo ao armário. Pegou sua roupa preferida, uma blusa de manga curta com pedaços de couro nas pontas, que juntavam a manga com uma extensão de rede que seguia até a borda da luva que sempre usava, sem dedo com rebites, uma saia pregada com um shorts por baixo, o qual também tinha as tiras de couro prendendo a meia arrastão que começava no meio da coxa, um cinto de rebites, o coturno com três afiados pinos. Prendeu o cabelo como sempre e colocou os broches e pegou o seu livro, pondo a alça da mochila que havia preparado na noite anterior no ombro, finalmente saindo do quarto.

Sentou-se o mais próximo da parede direita possível, olhando pela janela o céu. O refeitório era grande, possuía quatro mesas extensas, cada qual com dois longos bancos iguais ao que ela estava, uma porta dupla que levava a cozinha, nas paredes haviam enormes janelas, as da esquerda mostrava a escola e as da direita um pedaço do lago, cada uma com seu próprio canteiro de rosas negras. Observando a louça, parecia-lhe ser de prata tingida de preta, talvez cobre. Descartou logo a possibilidade de ser estanho.

Entediada, acabou por resolver que iria ajudar as cozinheiras, seja preparando a comida ou simplesmente colocando-a na mesa. Mal levantou-se e ouviu uma voz atrás de si, virando-se e achando o louro o qual não desejava ver tão cedo cumprimentando-a. Respondeu um nervoso bom-dia, avisando-lhe de sua decisão de ajudar as empregadas, ao que ele resolveu juntar-se a ela. Ela concordou, embora isso a deixasse mais apreensiva. Ainda não entendia a razão de seu espanto.

Abriram as portas, questionando as cozinheiras se podiam ser úteis, ao passo que logo pediram a Alice para ajudar a terminar os ovos mexidos, cortar as frutas e fazer o suco, e Rozen para começar a levar as coisas já prontas e arruma-las na mesa. O pensamentos da morena foram momentaneamente esquecidos, a mesma entregando-se totalmente a tarefa a ela designada. Cozinhar fazia-a ignorar toda e qualquer ideia ou problema.

Acabando de preparar a comida, a morena colocou-a na mesa, sentando-se cansada no mesmo banco que estava antes, Rozen logo após largando-se ao seu lado, ambos famintos; sentir o cheiro da comida sem poder experimentar fora uma tortura para os dois, principalmente na hora dos doces, sendo o louro e a morena viciados. Quase atacaram o chocolate na hora em que o viram, sendo segurados pelas cozinheiras que assustaram-se com a reação dos ajudantes por uma simples barra do doce marrom.

Nada falaram, a morena tão sonolenta que não conseguia nem levantar-se depois de comer. Rozen a levantou, puxando-a e apoiando-a até o ônibus, levando sua mochila e a dela, não parecendo sentir o peso nem delas nem da garota, mais preocupado com a morena. Colocou-a a seu lado, em um dos assentos do meio, a parte geralmente mais silenciosa do veículo. Olhou-a preocupado, acariciando-a e tentando descobrir o que poderia ter feito-a passar a noite em claro. Suspirou, ajeitando-a para que ficasse mais confortável e admirando-a. Estranhou o que sentia. Sabia que o sentimento era forte, só não conseguia compara-lo com nada que tivesse sentido antes.

O ônibus iniciou seu trajeto, e logo eles estavam longe da escola. A morena acordou quando pararam para comer, quatro horas depois de deixarem o reformatório. Bocejou, espreguiçando-se cansada. Seguiu o louro e sentou-se com ele, a mente entorpecida demais para que ela raciocinasse direito. Olhou a sua volta languinhosamente, para então deixar-se cair sobre a mesa, adormecendo novamente. Após outro suspirou, Rozen cutucou-a, tentando faze-la acordar para pelo menos comer. A morena relutou, mas semi-cerrou os olhos, não abrindo-os completamente, e fitou o louro sem parecer realmente vê-lo.

-O que foi? Eu quero dormir.- A voz saiu rouca e abafada, um arrepio passando pela espinha do louro, fazendo o tremer um pouco. -Rozen, eu vou dormir de novo, não me acorde.- Por breves segundos, a morena pareceu reconhece-lo, até que ele percebeu que ela não o vira e simplesmente falara seu nome, como se... Como se estivesse... Sonhando com ele? Não, não era possível. O louro sacudiu a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos, sentindo-se imensamente feliz apenas pela hipótese dela sonhar com ele.

-Alice, acorde. Vamos, depois que você comer pode voltar a dormir, eu te carrego até o ônibus.- Ele sacudiu-a, conseguindo finalmente desperta-la e fazer com que ela comesse algo. Depois dela ter terminado, o louro deu para ela uma caixa de Pocky, vendo-a comer e beber sua Coca, para logo após ela sentar ao seu lado e apoiar a cabeça em seu ombro, ao passo que o garoto abraçou-a para que ela ficasse melhor acomodada, sorrindo preocupado. Ainda não sabia o que fizera ela ficar deste jeito. Deixou-a dormir; ela não era pesada, então não seria problema nenhum para o louro leva-la de novo ao ônibus, e ele esperava que a morena estivesse bem acordada quando parassem na cidade.

Carregou-a até lugar dos dois, colocando-a no banco e prendendo o cinto, para então prender o dele e ajeita-la novamente. Ela abraçou-o, e um arrepio fez o louro tremer. Ele corou, olhando pela janela, tentando ignorar o que sentia. Surpreendia-o sua própria burrice de não ter notado antes. Aparentemente, não se conhecia tão bem quanto imaginava. Suspirou; já perdera a conta de quantas vezes suspirara desde que acordara por causa da garota. Encostou a cabeça na dela, pensando um pouco em como poderia esconder o que sentia por pelo menos algumas semanas, até ter coragem de declarar-se para a morena, logo adormecendo com uma ideia fixa em sua mente.

Acordaram três horas depois, quando já estavam parando. O louro despertou primeiro, desencostando da garota, mas deixando-se ser abraçado por ela. Quando ela abriu os olhos cinza-chumbo, ele sorriu-lhe, perguntando se havia descansado o suficiente. Ela bocejou, espreguiçando-se e devolvendo o sorriso sonolenta, mas respondeu que havia dormido o bastante. Em pouco tempo estava totalmente desperta, conversando novamente com o louro. A morena percebeu que ele olhava-a um tanto diferente, mas ignorou, acreditando que fora apenas sua imaginação. Ele não olharia-a do jeito que ela queria nunca, quanto mais após conhece-la por menos de uma semana. Embora ela já soubesse que o que sentia por ele era mais que simples amizade.

Desembarcaram, seguindo a monitora deles, uma mulher de vinte e poucos anos chamada Tira, ruiva, olhos verdes e pele um pouco mais escura do que a da morena e a do louro, mais branca do que as normais. Trajava roupas simples, um jeans de lavagem escura e uma camiseta preta, All Star da mesma cor. Os cabelos cobriam-lhe as costas inteiras, sua franja comprida virada para o lado esquerdo para quem vê. Parecia estar feliz, e hora ou outra olhava para o monitor de uma outra escola, a qual a morena logo reconheceu. O monitor e o colégio.

-Anne?! Shisato?! Gustav?!- Ela ainda encarava incrédula ao ver os amigos de sua antiga escola e o monitor que Anne costumava ‘dar em cima’ antes de conhecer Shisato. Procurou o violinista com os olhos, não achando-o. Perguntou-se onde ele estaria, embora estivesse aliviada por não encontra-lo. Afinal, o que diria? “Desculpe, mas eu já gosto de alguém, espero que possamos ser bons amigos”? Realmente, seria humilhante para os dois. Já lera e escrevera sobre amor e coisas do tipo, mas era a primeira vez que o sentia. E não sabia como contar aquilo para o violinista.

-Alice!!!!! Sua perua devassa, onde se tava que nem pra entra no MSN???- A “delicada” ruiva “discretamente” berrou chamando a “perua devassa” e se jogando em cima da mesma, fazendo-a rir. Shisato rumou para perto da ruiva de cabelos cacheados, retirando-a de cima da morena, colocando-a em seu ombro para cumprimentar Alice. Pouco depois largou a ruiva de olhos esmeralda que pousou no chão rindo. Era bem visível a marca do batom e dos dentes da garota no pescoço pálido de Shisato. O mesmo ficou vermelho, começando a discutir com a garota que não parava de rir. A morena gargalhava observando os dois, sacudindo a cabeça negativamente incrédula, e o louro olhava para tudo sem entender coisa alguma.

-Anne, o que vocês estão fazendo aqui?- Alice decidiu perguntar, após recuperar-se de seu ataque de riso e o moreno acabar o sermão, ao qual a ruiva nem prestara atenção. Rozen ainda fitava sem entender como aqueles três eram amigos. Alice era calma e delicada, apesar do visual; Anne era agitada e suas roupas parecidas coma da morena, mas nela ficavam agressivas ao invés de delicadas; Shisato era basicamente um poço de serenidade, mas isto mudava radicalmente após uma simples ação da ruiva. Ele sabia que poderia estar errado; não conhecia-os sequer há uma hora, e embora já falasse com Alice, ela não era transparente para que ele conseguisse decifra-la facilmente.

Depois de horas na excursão, parando a praticamente cada passo para ver um pormenor da cidade, Anne e Alice andavam na frente, e Rozen e Shisato atrás. Haviam tornado-se bons amigos. A “dupla dinâmica” conversava sobre o próximo show do Evanescence e quando a banda, o My Chemical Romance e o Tokio Hotel fariam, pelo menos, uma música juntos. Para elas fazia sentido as três melhores bandas do mundo tocarem e comporem unidas. O moreno e o louro, por sua vez, falavam sobre elas disfarçadamente. A queda já muito óbvia de Shisato foi confirmada e a de Rozen também, e logo eles já estavam discutindo o que fariam para criar a coragem que precisavam para declarar-se as duas.

Separaram-se não muito depois; Anne e Alice foram correndo para a loja de roupas favorita delas, Viva Rock, e Rozen e Shisato apenas ficaram na praça, sabendo que acabariam carregando as compras das garotas e cientes que elas tinham, cada uma, quatro cartões de crédito sem limite. Conversavam mais abertamente agora, sem elas por perto para ouvirem, mas mantiveram-se alertas caso a dupla aparecesse do nada. Tiveram uma brilhante ideia sobre como fariam para admitir a elas o que sentiam. Fariam-o no show, até porque também eram fãs da banda e da vocalista, por muitos considerada a musa do rock. Claro que fãs de outras bandas discordariam. Mas eles decididamente não ligavam. Amy era e pronto. Deviam promove-la a deusa do rock. É, eles tinham toda razão.

As duas consumistas voltavam de tempo em tempo, e sempre que isto ocorria eles fechavam a cara ao ver que elas traziam sacolas e sacolas, que já formavam uma grande pilha perto deles. A dor nos joelhos e nas costas depois seria insuportável, mas Anne e Alice conseguiam convence-los a carregar as compras fazendo uma cara que eles achavam simplesmente a mais linda e fofa do mundo. Pareciam anjinhos. E eram. Monopolizadores e malévolos demônios disfarçados de inocentes e puros anjinhos. E com apenas uma carinha um pouco mais caprichada, as duas fizeram o moreno e o louro carregarem a pilha cujo o peso era ainda maior do que aparentava.

Não permaneceram juntos por muito tempo; o ônibus que levaria Anne e Shisato de volta partiria em poucos minutos, ao passo que os outros dois ficariam hospedados no hotel por três dias. Rozen preocupou-se ao ver Alice murchar, de radiante passando a deprimida rapidamente. Ela queria manter seus amigos por perto, e, apesar de ter novas notícias sobre a escola e o violinista, sentia saudades. Não que não tivesse amigos no reformatório Amai Kirai, mas eles não eram aqueles com que ela aprendera a andar, falar, comer...conhecia Anne e Shisato desde que nascera, e o violinista desde os dois anos. Eram como sua família. Irmãos que nunca teve e duvidava que fosse ter.

Os alunos do colégio foram divididos em duplas para dividir um dos apartamentos do hotel Hana, sendo que Rozen ficara com Alice pelo fato de que ela não tinha amigos e um casal da escola, Bruna e Lucas, que quis ficar junto deixaram os garotos e as garotas em número ímpar. A diretora Mika não deixaria um casal ficar no mesmo quarto, mas todos os pais dos alunos envolvidos concordaram e Rozen acabou “interferindo” na decisão. E, convenhamos, a diretora foi forçada a aceitar. Alice não rejeitara a ideia, o que era a última esperança de Mika para poder separar o casal e proteger Rozen. Ela preferiria se ele dependesse dela para sempre. Mas, não havia nada que pudesse fazer a respeito.

Os quartos do hotel eram realmente bonitos e luxuosos, mas o pequeno problema era que haviam apenas camas de casal. A relutância de Mika em permitir a estada conjunta de um garoto e uma garota no mesmo apartamento se devia a isto. Fora isto, não havia nenhum problema.

O apartamento consistia apenas em uma suíte, um banheiro, uma cozinha e uma pequena sala, sendo bastante levando-se em conta que era, na verdade, o equivalente a um quarto de hotel comum. As cores eram pastéis, de um amarelo envelhecido ou salmão, e os móveis, também envelhecidos, de madeira fosca. O banheiro era inteiro de azulejos amarelo-claro, e a cozinha com a metade inferior coberta deles. O hotel não tinha serviço de quarto ou restaurante, eles apenas providenciavam o dinheiro para os hóspedes comprarem os alimentos a serem preparados ou diretamente consumidos. Alice e Rozen já haviam feito as compras e agora o louro encarregava-se da refeição e a morena da sobremesa. Trabalhavam rindo, embora ela ainda estivesse abatida pelo encontro com os amigos ter sido tão breve.

-Tem certeza que não quer que eu faça a sobremesa? Não sei se você consegue sozinha...

O louro mal teve tempo de respirar; Alice acertou bem em sua cara um punhado de farinha. Ele riu, jogando açúcar nela. No final da guerra de comida, que durou apenas dez minutos, a morena tinha os cabelos vermelhos de ketchup, com pedaços de pão e macarrão e outras coisas, a blusa suja de maionese e mostarda, com sal e açúcar, coberta de molho, as botas mal podiam ser vistas. Rozen não estava em melhor estado, tendo chocolate e geleia de laranja na blusa e os cabelos e o rosto brancos, e a morena havia ensopado-o, jogando uma garrafa de vinho branco que comprara sem que Mika percebesse inteira nele, o tênis All Star sob uma camada de algo não inidentificável. Os dois riram mais ainda ao ver o estado do outro, agradecendo por existirem dois banheiros no apartamento.

Após o banho, os dois foram jantar, eternamente gratos por não terem estragado a comida. Rozen fizera lasanha quatro queijos, sopa de milho e macarrão com almôndega, o que surpreendeu Alice, que achara a combinação meio estranho de inicio, por estar extremamente bom. A morena prepara uma torta holandesa, brigadeirão e taças de chocolate com frutas. Ambos ficaram extremamente satisfeitos em descobrir que o outro cozinhava excelentemente bem. Guardaram o que sobrou na geladeira antes de saírem; iriam ao shopping dar uma olhada nas lojas. Na verdade, a morena que queria ver, Rozen só a acompanharia pois Mika exigira e para ajuda-la a carregar as novas compras – ao menos era o que ele tentava fazer-se acreditar.

Andaram pelo shopping, parando quase sempre para Alice gastar mais dinheiro; não que ela se importasse; vinha de uma família rica e ganhava mais dinheiro ainda com seus mangás. Claro que ela se empunha limites; não era nenhuma mesquinha para sair esfregando que tinha um cartão de crédito sem limites. A morena resolveu que comprara demais um pouco depois, decidindo ir com Rozen comer no Pretelz. Todas as mesas estavam ocupadas, e uma ruiva disse-lhes que poderiam se sentar com ela. Agradeceram-na e acomodaram-se.

-Qual o nome de vocês?

-Eu sou Alice e ele é o Rozen, e o seu?

-É Crystal...vocês moram aqui?

-Não, estamos em uma excursão...vamos ficar por quatro dias hospedados no hotel Hana e depois voltamos...e você?

Nenhum deles via algo perigoso no outro, e logo Alice era amiga de Crystal e sabia muito mais dela. A ruiva trabalhava na Viva Rock, e vira ela e Anne comprando lá. Ela cursava a faculdade de design Ryûkô, e pretendia ser uma estilista da melhor loja de roupas do Japão, que era conhecida no mundo inteiro e sinônimo de luxo, a mesma para a qual trabalhava. Rozen olhava as duas conversarem, ainda pensando em como declarar-se para a morena e admirando-a quase hipnotizado. Não se demoraram ali; Crystal tinha que ir para a casa, uma vez que teria aula logo de manhã. Os três despediram-se, a dupla de “delinquentes” voltando para o hotel.

Após uma pequena discussão, os dois deitaram-se para dormir. O louro havia insistido que poderia muito bem dormir no sofá, coisa que Alice discordou, falando que ela mesma dormiria lá. Acabaram chegando a um acordo, apenas por não querer aborrecer o outro. Claro que o acordo tivera alguma consequência; os dois estavam completamente nervosos, e ambos coraram. Logo depois de um “boa noite” tremulamente murmurado, a dupla virou um para cada lado, esperando o sono vir e o nervosismo passar. Acordaram não muito depois, com os gritos vindos do apartamento ao lado, o único fora o deles daquele andar.

Vestiram-se rapidamente, batendo na porta do apartamento 25, sem resposta. Os gritos ficavam cada vez mais altos, e quem os soltava parecia sentir muita dor. Rozen conseguiu arrombar a porta, e ele e Alice seguiram na direção dos berros. Outro grito veio, desta vez da morena ao chegarem lá; duas mulheres estavam na sala, uma delas no chão agonizando, e a outra rindo, os olhos faiscando e a dor da outra lhe agradando. A satisfação no rosto dela era evidente, e isso perturbava a dupla que estava ali. Não aguentando, Alice atirou a pequena espada que usava em seu cabelo, agora solto, na outra morena na sala, que torturava a loura. A cena que viram perturbara ambos, Rozen tentando ajudar a garota no chão após a torturadora ter pula da janela com um profundo corte no braço. Alice pegou novamente a adaga, tomando cuidado para não machucar-se e retirando-a do caminho do louro que carregava a mulher desacordada. Mika logo veio em socorro, e a garota levada ao hospital mais próximo. A morena realmente não sabia o que pensar. Quem era a torturadora? Qual o motivo da tortura? Ela já fora capturada? E a loura? Por que fora a vítima? Qual a relação dela com a outra mulher? Mil ideias, hipóteses e perguntas surgiam em sua cabeça e nenhuma resposta aparecia. Começava a achar que encontraria aquela mulher novamente, um sentimento estranho invadindo-a como um mau presságio. Estava começando a ficar com dor de cabeça.

A dupla fora levada a delegacia, e após uma hora de interrogatório foram isentados da culpa que nem tinham. Voltaram ao hotel a contra-gosto, e saber que a loura não corria risco de vida e que veriam Crystal no dia seguinte tirava apenas um pouco do pesar e do medo que se instalara neles, apesar de alivia-los um pouco. O apartamento deles era o 24, sendo que ser vizinho do quarto onde a tortura havia ocorrido não lhes agradava em nada. Suspiraram ao voltar a dormir, uma adaga embaixo do travesseiro de Rozen e a outra, a mesma que a morena havia jogado para afastar a torturadora de sua presa, agora limpa, embaixo do de Alice. Sentiram-se mais tranquilos, embora não os acalmasse de todo.

O relógio indicava que eram 4 da manhã, e a morena abriu os olhos cinza-chumbo assustada e alerta. No escuro, vislumbrou uma sombra e dois olhos brilhantes e mal intencionados encarando-lhe. Ela berrou apavorada, seu grito abafado por uma mão gelada. Reconheceu as feições agora próximas. Era a mesma morena que torturara a loura. Debateu-se, ouvindo um gemido abafado. Olhou para o lado, vendo Rozen amarrado e amordaçado, olhando temeroso para ela. Temia que ela se machucasse, mesmo que um mísero arranhão naquela pele faria-o querer matar com suas próprias mãos a mulher que ria em sua frente, apertando as bochechas daquela que amava. Alice se debatia, fitando horrorizada o verme em sua frente, lutando para alcançar a adaga embaixo de seu travesseiro, enquanto o louro, já com a sua em mãos, tentava cortar as cordas que o prendiam e soltar-se.

Foi rápido; Rozen conseguiu se libertar, ao passo que a morena mais nova havia pego a arma e cortado o rosto da mulher a sua frente. O louro socou-a, sentindo os ossos do nariz partirem sob seu punho; com apenas um pequeno gemido de dor, a morena mais velha foi atirada longe, batendo contra o armário que abriu um corte fundo em sua cabeça. Os dois que estavam na cama jogaram as adagas, perfurando a carne da perna e da barriga da mulher. Ela amaldiçoou-os, e, praguejando, pulou pela janela, sem ligar que estavam no 13º andar, como fizera a poucas horas atrás. Ofegantes, os que restaram no quarto tentavam se acalmar, a descarga de adrenalina que aquele momento havia causado demorando para se dissipar por inteiro. Quando os batimentos cardíacos e a respiração normalizaram-se, rumaram, juntos, em direção ao apartamento que Mika e Dan dividiam.

-O que querem? São 4h30 da manhã!!!

Mika vestia um robe por cima de seu pijama, os cabelos completamente bagunçados e o rosto amassados, os olhos inchados de sono. A expressão sonolenta logo desapareceu, sendo substituída por uma preocupada e raivosa. Os dois na porta riram em outro momento e em outra situação, mas ainda estavam apavorados e desesperados para por um fim no pesadelo que fora aquela noite.

A diretora loura teve de voltar para o reformatório, a volta deles antecipada. Dan ficaria cuidando dos alunos, que as 5 da manhã foram despertados e rumaram para um restaurante, tomando o café-da-manhã praticamente dormindo. Dan, Alice e Rozen continuaram alertas, olhando para os lados a cada mínimo barulho e procurando a sombra da torturadora por todos os cantos. O medo foi afastado em parte quando Crystal apareceu e os distraiu, perguntando-se mentalmente qual seria o motivo de tanta tensão.

Acabara o café. Todos saíam do local. Alice não prestou atenção ao atravessar a rua. Rozen gritou. o carro avançara. Alice foi jogada para o lado. Seu sangue preencheu a calçada; o de outra pessoa, a rua.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado """
Kissus
Yuki