Waiting For The End escrita por Raquel


Capítulo 33
Souvenirs


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo http://letras.mus.br/switchfoot/1966276/traducao.html
Por favor escutem enquanto estão lendo.
Eu sinto muito.
Happy Birthday Mandy xx



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POV Nicolas di Angelo


Here's to the twilight
Aqui está o crepúsculo
Here's to the memories
Aqui estão as memórias
These are my souvenirs
Estas são as minhas lembranças
My mental pictures of everything
As minhas imagens mentais de tudo
Here's to the late nights
Aqui estão as noitadas
Here's to the firelight
Aqui está a luz do fogo
These are my souvenirs
Estas são as minhas lembranças
My souvenirs
Minhas lembranças

Pousei a xícara quente na bancada de pedra e apenas rodeei sua borda com os dedos, enquanto observava minha família pela janela.

Era um cenário de filme, preciso admitir, a brisa suave carregava as folhas amareladas das árvores que perderam sua cor durante o outono e as entulhava pelo gramado, que parecia ganhar ainda mais vida salpicado das cores acobreadas. Um lindo por do sol de início de inverno esquentava levemente a paisagem, inundando de uma cor brilhante cada pedacinho de terra visível.

Mas nada disso faria sentido para mim se não fossem as quatro pessoas espalhadas pelo grande espaço.

Os gêmeos corriam atrás de Josh, este que nem chegava a correr, apenas dava passadas longas que não deixavam as ainda curtas pernas de Lucca e Ethan o alcançarem. Mas logo se deixou cair num monte de folhas secas, este que fora planejado previamente pelos dois garotinhos.

O mais velho já estava quase da minha altura, um homem formado, em seus dezoito anos cursava uma renomada faculdade nos arredores de Londres e nos visitava com frequencia, principalmente para finais de semana como esse. Quando nos reuníamos em nossa "casa de campo" apenas para passar um tempo juntos, fora do aperto da semana e da cidade grande.

Os pequenos que agora deitados ao lado de Josh jogavam as folhas quebradiças para cima, eram nossas "figurinhas repetidas". Ethan e Lucca já completavam seus oito anos, nossos bebês que já cresciam rápido demais. Eram parecidos apenas aparentemente. Mesma altura e um pouco magricelos. Mas eram totalmente diferentes.

Ethan sempre fora mais calmo que Lucca, mais centrado, mais concentrado posso dizer. Gostava de ficar em seu quarto lendo, ou vendo filmes conosco. Não era muito comunicativo, mas sempre que falava, era uma torrente de ideias extremamente criativas, e pensamentos já maduros para seus poucos anos de idade. Gostava de Procurando Nemo e moletons verdes, além de amar café de todo o coração, e isso eu posso dizer que puxou de nós dois. Não trocava tempo com Josh por nada nesse mundo. Os dois tinham uma união muito interessante, conversavam por horas sentados no tapete em frente a lareira. Naquelas noites, era uma guerra convence-lo de que devia ir para a cama logo. Tirava boas notas e gostava de Geografia.

Lucca pelo contrário era espoleta, brincava na rua e não ligava se fazia chuva ou sol, amava a terra, mesmo quando essa era lama pura. Tínhamos problemas para lavar suas roupas. Gostava muito de branco, o que para nós já se era um empecilho. Mostrava uma inteligencia superior a sua idade, amava Ciências na escola e tirava ótimas notas. Seu filme favorito era Sherlock Holmes, e isso o influenciou a amar sobretudos. Quase chorou para que comprássemos um cachimbo para ele também. Quando não estava na rua, estava desenhando dentro de casa. Desenhava muito bem, e logo já enchera seu quarto com eles, de modo que nem víamos de que cor eram as paredes.

Uma das poucas coisas que os dois compartilhavam era o amor pela música. Desde que estavam aprendendo a falar já se animavam ao ouvir qualquer melodia. Pegavam no sono quando bebês ouvindo alguns instrumentais que tratamos de comprar, e aos sete já discutiam música como adultos. Seus gostos eram extremamente parecidos, o que era engraçado, pois o defendiam com unhas e dentes.

É muito difícil dizer o que esses dois, juntamente com Josh fizeram conosco. Eu não posso explicar a ligação de pais e filhos, e falharia se tentasse, mas posso dizer com certeza que é a melhor sensação do mundo. É ter a oportunidade de ajuda-los com a visão de mundo, é poder mostrar tudo o que faz da vida tão incrível, uma dádiva. É desenvolver um instinto tão superprotetor que assusta algumas vezes, é ver o erro e mostrar como aprender. É ver um futuro. Não sei como expressar isso, mas é como se eu pudesse ver através desses três, um futuro melhor. Um mundo melhor.

Eles se tornaram o centro de nosso amor.

Antes que pudesse divagar mais, o microondas apitou, denunciando que as três canecas com chocolate quente em seu interior estavam prontas. Larguei minha xícara por ali para ir até a porta, logo a abrindo e sentindo a brisa fria.

—O chocolate está pronto. Vamos entrar?! -Gritei um pouco alto e logo vi os gêmeos começarem a correr em minha direção. Me ajoelhei perto do tapete e os recebi num abraço misto com meu calor e o frio de suas peles. Estavam sorridentes e com as bochechas rosadas.

—Papai tá quentinho. -Ethan murmurou com as mão em meu rosto, ri para ele e lhe beijei a testa.

—Batam os pés e entrem, tá bem? -Perguntei ajeitando seus casacos e eles assentiram rindo. Ethan entrou esfregando uma mão na outra para enquentá-las e Lucca logo já estava sentado ao redor da bancada, observando minha xícara de café com um sorriso travesso. -Nem pense nisso! -Tentei parecer confiante, ou até mesmo sério, mas ele só riu, por hora mantendo suas mãos longe.

Logo depois dos gêmeos estava Josh, que também logo entrou, corado e sorridente.

—Estou muito grande para um abraço pai? -Perguntou divertido, revirei os olhos rindo.

—Claro que não meu filho. -Lhe abracei com carinho e ele correspondeu feliz.

Sangue nunca foi algo que nos deixasse para baixo, ou que nos afastasse. Josh era meu filho mais velho, e eu me orgulhava de dizer isso para qualquer um que fosse.

Thalia me surpreendeu com um beijo logo que soltei Josh e o mesmo foi servir os meninos. Segurei na base de sua coluna e sorri no meio de seus lábios gelados. Depois de tantos anos a sensação ainda era a mesma, o gosto ainda era o mesmo, o arrepio ainda era o mesmo. Sem Thalia nada faria sentido. Nem mesmo minha vida faria sentido. Ela era como minha outra metade andando por ai. Só com ela eu estaria completo, tinha certeza disso. Se eu era bem sucedido hoje, no jornal em que trabalhava e na vida, foi por que ela estava comigo. Ela sempre me apoiou, em tudo. Thalia era e sempre será meu mundo.

—Entra coração, tá ficando frio. -Comentei e sorrindo me deu um selinho, logo indo ver o que os garotos estavam aprontando para rirem tanto. Fechei a porta observando os últimos raios de sol e as sombras tomando conta do gramado.

—O que está acontecendo por aqui? -Cheguei perguntando na bancada, onde Thalia, Ethan e Josh seguravam o riso, enquanto Lucca tentava esconder-se atrás de alguns potes. Entendi rápido o que aconteceu e engoli o riso, olhando para o pequeno sério. -Onde está meu café Lucca? -Perguntei interessadíssimo e ele me olhou rapidamente para depois brincar com as mãos.

—Eutomeiele. -Respondeu rápido, com um meio sorriso no rosto infantil.

—Você o que? -Provoquei com a voz denunciando falso choque e desapontamento.

—Eu tomei ele. Desculpa papai, mas estava muito bom. -Respondeu com simplicidade enquanto cruzava os braços, envergonhado.

—Não acredito que fez isso! -Repreendi e Josh soltou uma risada, sabendo o que estava por vir. Thalia e Ethan já tomavam seus chocolates enquanto trocavam algumas palavras.

—Desculpe. -Lucca me olhou, muito vermelho e sem graça.

—Vem aqui. -Pedi e lentamente o pequeno se levantou, se prostando na minha frente, os olhos baixos. Toda a atenção dos outros se voltou para a cena. -Você sabe que vou ter que lhe punir não é? -Perguntei séríssimo, e ele me olhou como se dissesse "poxa, tudo isso?", mas não disse nada, apenas um "não faço mais" baixinho.

Não consegui mais aguentar a pose de durão e comecei a rir, o atacando com cosquinhas, em baixo de mim o pequeno ria e se contorcia, os olhos se enchendo de lágrimas. Logo a família toda ria do momento, Lucca pedia piedade e os outros riam ainda mais, até que Josh gritou alto por cima dos risos.

—MONTINHO!!! -Pediu e logo foi atendido.

Minutos depois estávamos os cinco jogados no chão, um por cima do outro, num "montinho" rindo.

Assim se passou aquele resto de sábado. Todos unidos e se divertindo.

Depois de termos os chocolates acabados, fomos todos para a sala, jogar algum jogo de tabuleiro que Ethan propôs. Thalia saiu antes do fim da partida para ajeitar nossa janta e logo estávamos na mesa, conversando e elogiando a deliciosa comida que minha pequena tinha preparado. Quando todos já haviam comido a sobremesa, nos encaminhamos para a sala novamente, desta vez, acendendo a lareira e passando algumas horas contando histórias. Todos tinham sua vez, fantasia ou não, todas terminavam de um jeito engraçado.

Ao fim da última história de Thalia sobre um dragão malvado que aprendia com um rato como queijo era delicioso, os gêmeos já dormiam estirados pelo tapete felpudo. Com ajuda de Josh os levei para cima, enquanto Thalia apagava o fogo e ajeitava as últimas coisas no andar de baixo.

Deixando Lucca em sua cama, Josh me deu boa noite e se encaminhou para seu quarto, disse que estudaria alguns minutos e logo já dormiria, assenti e eu mesmo fui para o quarto. Thalia ainda não estava ali, então fui direto tomar um banho rápido.

Quando sai de meu banho, sai calmamente pela porta e andei silencioso pelo corredor, a cama fria e vazia não me parecia convidativa naquele momento. Faltava ela.

Eu já sabia onde a encontraria, mas não tive pressa nem nada parecido, ao contrário, fui lentamente até o quarto azul claro, que contava apenas com um abajur fraco na cômoda ao lado da cama. Estando encostado no umbral da porta, apenas consegui visualizar as três sombras difusas.

Cruzei os braços, observando minha morena na penumbra enquanto a mesma acariciava os cabelos de nossos pequenos, tapados até a cintura pela manta que eu os cobrira. Eu podia ver Lucca com a boca aberta e os bracinhos no pescoço de Ethan, que parecia sorrir. Tão lindos. E ali estava ela. Os enchendo com aquele carinho imenso que tinha, os tocava com amor e parecia suficientemente satisfeita em poder apenas observá-los dormir. Calmos, serenos.

Eu entendia aquilo tudo. Eram nossos filhos, frutos de nossa história, nossas figurinhas repetidas. Eramos uma família.

—Vamos pra cama? -Ouvi um sussurro próximo de meu ouvido, me tirando de meus devaneios. Olhei ligeiramente para baixo, encostando levemente meus lábios aos de Thalia, que sorriu para mim. Encostando nossos narizes num beijo de esquimó, seu sorriso subiu a seus olhos azuis vívidos.

—Vamos sim. -Concordei lhe fazendo um gesto e adentrando o quarto enquanto ela me esperava no corredor.

Me abaixei ligeiramente até a cama, beijando suas testas delicadamente e ouvindo suas respirações calmas. Desliguei o abajur e voltei para a porta, encostando-a sem fechar completamente.

Abracei a cintura de minha pequena e a levantei, a fazendo colocar seus pés em cima dos meus, onde para alcançar meu rosto teve de ficar na ponta dos dedos. A apertei contra mim, estava frio ali. Eu vestia apenas uma calça de moletom e ela só um moletom. Talvez por isso estava frio. Não adiantava, não mudávamos.
Suavemente ela enroscou seus braços em meu pescoço, alcançando minha boca enquanto eu andava como um pinguim em direção ao nosso quarto. Nós dois estávamos ligados demais aquela percepção nova de família. Era tão diferente, que olhando para trás, eu não sabia como havia acabado ali, não sabia em que momento fora capaz de virar um pai de família, mas virara, e estava ali agora, eu e ela. Estava tudo completo. Eramos felizes. Todos nós, eu e Thalia, Josh, Lucca e Ethan. Eramos um tudo. Um tudo de cinco. Um tudo feliz.

Enquanto espalhava beijos pelo meu rosto, minha morena dos olhos elétricos colou nossas bocas, num beijo calmo, onde sorríamos um para o outro. Me soltando apenas alguns centímetros, sussurrou com um brilho no olhar:

—Eu te amo Nico. -E me foi confirmado mais uma vez dentro de meu ser, que em todos aqueles anos e para sempre: ali era meu lugar. Nos braços dela, e o dela, nos meus.


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Notas finais do capítulo

Eu ainda mereço comentários?
Os amo, minhas amoras.



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