Pov Annabeth Chase
–Vocês não tem... Não sei, uma noção de tempo talvez? -Perguntei e minha voz soou fraca e cansada. Thalia estava em coma a uma semana, e tudo o que os médicos sabiam nos dizer era que não sabiam o que havia acontecido de errado. Eu estava cansada, magoada, queria minha amiga de volta, mas nada mais conseguia me fazer acreditar numa melhora. Thalia emagrecera, seus olhos estavam fundos e envoltos por olheiras negras, seus batimentos cardíacos fracos e silenciosos. Era quase impossivel acreditar em uma melhora.
–Eu sinto muito. Só temos especulações, não posso confirmar nada. -Com apenas um aceno de cabeça pedi que continuasse, mesmo que fossem só especulações, eu precisava saber. -O organismo de Thalia vinha sofrendo muito com as constantes dores, seu cérebro implorava descanso, mas como você mesma me contou ela não conseguia dormir muito bem à noite e tinha crises de dores. Então esse coma é um meio de descanso para seu corpo... Mas não podemos dizer até quando ela dormirá. -Terminou com os olhos cravados em mim.
–E para ela, como é estar "dormindo"? -Perguntei tolamente, só queria algo tosco para pensar enquanto tentava conter novamente as lágrimas. Ele me fitou longamente com um brilho melancólico nos olhos, para por fim me dar uma resposta que me inquietou mais do que eu esperava.
–Ora, como é dormir?! Ela sonha. -Esperei que ele falasse mais alguma coisa, mas apenas pediu licença e se retirou, me deixando paralisada no corredor. Quando recuperei um pouco do controle sobre minhas pernas, andei até a porta do quarto de Thalia, tamborilando os dedos no pote que trazia comigo.

Naquela noite, depois da faculdade fomos ao St. Mary, todos nós, com a expectativa de encontrar uma Thalia desesperada para sair logo do Hospital enquanto repetia que Nico devia ter ido para a faculdade em vez de espera-la. Queríamos encontrar a boa e velha Thalia. Mas ao contrário de tudo que imaginamos, nos deparamos com um Nico desacordado e com Thalia em coma. Nico não comera o dia todo, e na situação em que estava isso o prejudicou demais, acabando por ter que tomar substâncias pela veia. Quando acordou se manteve ao lado da cama de Thalia. A vida fugira de seus olhos, orbes antes de um preto luminoso e alegre agora estavam cinzas enevoados, não falou muito conosco. Não que estivéssemos em condições de manter uma conversa equilibrada, mas era como se ele não nos visse, quando olhava para quem quer que estivesse falando com ele, seus olhos se mantinham longes, carregados de nostalgia. Nico fechara-se em si mesmo.

Entrei em seu quarto, respirando a brisa fria da noite. Sempre que Nico ficava com Thalia (o que era mais frequente que achá-lo em casa), deixava as janelas abertas para que os dois aproveitassem o ar puro. Encontrei-o debruçado sobre algumas folhas na mesinha, quando entrei ele levantou os olhos, estes que estavam permanentemente vermelhos e fundos. Nico sorriu para mim. Aquilo me pegou desprevenida, não o via sorrir a dias. A uma semana para ser mais exata. Não deixei que minha surpresa transparecesse então apenas sorri me aproximando dele.

–Trouxe para você. -Coloquei o pote em cima da mesa e dei o copo de café em sua mão. Ele agradeceu com um aceno e dobrou as folhas que antes estavam espalhadas pela pequena mesa. -Como você está? -Perguntei e ele voltou a mexer nas folhas, como se as organizasse.

–Melhor eu acho. Ainda dói demais Annie. -Fez uma pausa e olhou o corpo inerte de Thalia na cama, e lentamente um sorriso se formou em seus lábios. -Nós conversamos. -Falou, como se para si próprio. -Eu toco para ela, e canto. Posso ouvir sua voz com a minha, posso ver seus lábios se abrindo em sorrisos durante as partes que ela mais gosta... Posso sentir sua vida. -Continuou e eu encontrei com os olhos seu violão junto a cama. Depois de uma semana de completo isolamento, eu senti Nico vivo enquanto falava. Vê-lo tentando manter a esperança, tentando manter Thalia viva, mesmo que só com memórias trouxe lágrimas aos meus olhos. Fui até a cama de Thalia e lhe beijei a testa, sentindo sua respiração bater contra meus dedos que se encontravam entrelaçados com os seus em sua cintura.

–Volte para nós. Sentimos sua falta. -Pedi baixinho e levantei controlando minhas lágrimas. Nico já sofria demais por conta própria, não precisava de uma amiga inconsolável agora.

Desde o início soubemos que seria devastador para Nico, mas não esperávamos que fosse tanto. Nos primeiros dias, Nico não comia, não falava e não saia do quarto. Com os dias se passando conseguimos arrancar algumas palavras dele e que concordasse em voltar a frequentar a faculdade, e a comer. Principalmente comer. Essa última semana tinha se encarregado totalmente de levar a sanidade mental e dez quilos de seu corpo. Mas nos últimos dias ele se alimentava, não o suficiente para nutri-lo, mas o mantinha em pé. Ver que ele estava tentando manter a fé me deixou mais feliz do que eu poderia exprimir, era como ter um peso a menos nas costas.

–Tenho novidades. -Nico revelou enquanto comia o que eu trouxera para ele.

–Conte! -Pedi animada e tive que esperar pacientemente até que ele engolisse.

–Não estou mais fazendo Psiquiatria. -Contou sorrindo. -Mudei para Letras.

–Sério? Que incrível Nico! Fico muito feliz, mesmo. Mas porque a mudança repentina? -Perguntei interessada, afinal com Thalia em coma ele estava visivelmente inconstante, poderia ser uma mudança drástica demais.

–Não fui feito para entender a loucura dos humanos. Me acho mais útil no mundo das letras, acho que ela apoiaria isso. -Olhou para Thalia com o olhar divagando.

–Claro que apoiaria. -Sorri para ele e me abaixei ao lado da cama. Senti que chegara a hora certa. Peguei a caixa e a puxei para a luz, Nico pareceu surpreso, mas não fez perguntas. Coloquei a caixa em seu colo e lhe dei um beijo na testa.

–Thalia queria que você ficasse com isso. -Não lhe dei tempo para questionar, apenas beijei Thalia novamente e saí do quarto, deixando um Nico chocado para trás.

POV Nicolas Di Ângelo

Encarei a caixa em meu colo. Pesada. Grande e pesada. Estava com medo de abrir, temia o que ia encontrar. Passando os dedos pela superfície lisa da tampa percebi que minha mão tremia. Talvez não estivesse pronto para qualquer coisa que me fizesse ainda mais dependente de Thalia. Estava tentando me manter firme, tentando comer, conversar e prestar atenção nas aulas, mas doía demais para que eu pudesse simplesmente agir normalmente. Estava dando tudo de mim para não deixar a depressão acabar comigo, e um dos principais motivos era Josh.

Desde que Thalia entrou em coma o garoto não tem mais alegria em nada. Come, vai para a escola, faz lições e dorme. Além de tudo ele não conversa com ninguém, apenas comigo. É pouco e difícil que ele fale, mas ele conversa comigo. Em seu tempo livre ele desenha, desenha os pesadelos que tem, com cores fortes e imagens distorcidas. Quase toda noite, Silena me contou, ele acorda gritando por Thalia, assombrado por monstros em seus pesadelos. Tento ficar o máximo que posso com ele, e acho que isso tem ajudado aos dois.

Coloquei delicadamente a caixa em cima da pequena mesa e levantei. Comecei a andar pelo quarto, de vez em quando lançando olhares inquisitivos para a caixa e para Thalia até que finalmente a curiosidade me venceu. Me aproximei da mesa e lentamente tirei a tampa da caixa, a deixando por ali mesmo. Dentro encontrei um grande caderno e uma caixa menor no canto, não havia nenhum bilhete. Retirei a outra caixa e peguei o livro em minhas mãos. Era pesado, encapado em couro preto, o virei na mão e me surpreendi com o que achava ser a capa, era uma foto que ocupava todo o espaço. Mais do que isso, era uma foto nossa. Thalia e eu. No dia em que fizemos uma competição para ver quem aguentava ficar com mais marshmallows na boca. Eu conseguira dezessete e ela doze, antes de engolirmos ela propôs por meio de gestos uma foto. E alí estava ela. Era um album de fotos.

Como num flash, a lembrança daquele dia me veio a mente.

"-Onde você tava? Ta todo molhado! Se não demorasse tanto não pegava chuva. -Thalia me recebeu rindo histéricamente, me deu espaço e entrei na sala confortável e quente.

–Nossa que engraçado Thalia, realmente cômico. -Respondi com um sorriso irônico, ela só fez rir mais ainda.

–Vou pegar umas roupas, espera aí. -Falou ainda rindo. Eu sempre deixava algumas mudas de roupa em sua casa para alguma emergência. Como esta. Logo ela voltou me entregando as roupas. -Pode se trocar no banheiro.

–E meu beijo de olá? -Perguntei confiado e seu sorriso sumiu.

–Nem pense nisso Nicolas Di Ângelo! -Começou a andar para trás, virando de costas e começando a correr, mas antes que ela pudesse alcançar dois metros de distância eu já segurava ela pela cintura a molhando toda. -Eu vou te matar! Me larga Nico! -Pediu esperneando e se debatendo, eu apenas ria de sua pouca força em meus braços. Com o tempo desistiu, ficando emburrada.

–Quem é que ta encharcada agora? Ops... -Ri e ela não me respondeu, de cara fechada. A virei para mim, suas roupas estavam molhadas e até alguns fios de cabelo. Ficava linda assim. Thalia não me olhava, observava uma formiga andando por ali. -Thalia? Vai fala comigo... -Pedi mas ela apenas cruzou os braços. -Fala comigo coração. -Não respondeu, mas vi um pequeno sorriso se formar no canto de sua boca. Ela gostava que eu a chamasse de coração. -Te amo. -Segredei mas ela não olhou para mim. -E trouxe marshmallows. -Terminei e ela virou rapidamente para mim procurando pelo meu corpo o pacote.

–Onde tá?

–Diz que me ama primeiro.

–Te amo... -Sorri lhe entregando o pacote de doces coloridos. -E amo marshmallows."

Sorri involuntáriamente enquanto virava a capa. Vi as mais variadas fotos, pessoas desconhecidas, paisagens, Thalia, Josh, as garotas, os rapazes. Tudo e todos, fotos dispostas em ângulos estranhos e em formações estranhas. Em cada foto eu sentia a essência mais sincera de Thalia. Mas superando os numeros das outras fotos, tinha eu. Eu estava em quase todas as páginas. Falando, rindo, sério, comendo, pensando, até dormindo. A maioria das fotos eu não sabia da existência, Thalia podia ser bem sorrateira quando queria.

Ao contrário do que imaginei, as fotos não me deixaram para baixo, mas me fizeram lembrar da verdadeira Thalia, uma garota alegre, com quem eu passei os melhores momentos da minha vida.

Não sei quanto tempo fiquei ali, olhando as fotos, lembrando... Totalmente mergulhado em nostalgia. Mas uma hora as fotos acabaram, deixando muitas folhas esperando serem preenchidas. No canto da folha em que a última foto estava, um bilhete fora rabiscado com pressa. Na foto, eu, ela e Josh. Sorrindo felizes. Virei lentamente o grande album e li para mim mesmo:

"Get up, get out, get away from these liars

Levante, vá embora, saia de perto desses mentirosos

´Cause they don't get your soul or your fire

Porque eles não tem sua alma ou sua chama

Take my hand, knot your fingers through mine

pegue minha mão, entrelace seus dedos entre os meus

And we'll walk from this dark room for the last time

E nós sairemos deste lugar escuro pela última vez

Every minute from this minute now

Cada minuto a partir deste agora

We can do what we like anywhere

Podemos fazer o que gostamos em qualquer lugar

I want so much to open your eyes

Eu quero tanto abrir seus olhos

´Cause I need you to look into mine

Porque eu preciso que você olhe dentro dos meus

Tell me that you'll open your eyes [x8]

Me diga que você abrirá seus olhos [x8]

All this feels strange and untrue

Tudo isto parece estranho e falso

And I won't waste a minute without you

E eu não vou perder um só momento sem você

Aqui te deixo um pedaço de mim.

Estarei para sempre com você Nico, afinal, almas gêmeas não se separam tão facilmente."

E ali acabava. Numa dor dilacerante.

Quando me senti preparado para mais peguei a outra caixa e a abri me surpreendendo com o conteúdo. A Canon de Thalia se encontrava alí. Era a câmera preferida dela. Uma única frase estava escrita na caixa.

"Cuide bem dela."

Lentamente deixei tudo em cima da mesa e levantei andando até a janela. Respirei fundo algumas vezes tentando por os pensamentos em ordem. Era coisa demais para uma noite só.

Por horas fiquei ali. Apenas olhando Londres de cima, podia ver o Big-Ben, o London Eye, as avenidas e as casas. Tudo estratégicamente silêncioso. Deixei que a brisa levasse embora todos os meus pensamentos, me deixando enfim leve. Quando não conseguia mais pensar em nada voltei ao quarto e peguei meu violão, sentando no sofá e dedilhando as primeiras notas de uma canção que eu não tocava a anos.

(http://www.youtube.com/watch?v=sVVx87qjHRQ)

Closer

Perto

I've had enough, of this parade.

Eu já tive o bastante, deste desfile

I'm thinking of, the words to say.

Eu estou pensando nas, palavras pra dizer

We open up, unfinished parts,

Nós abrimos, partes inacabadas,

Broken up, its so mellow.

Terminar, é tão maduro.

And when I see you then I know it will be next to me

E quando eu vejo você então eu sei que estará perto de mim

And when I need you then I know you will be there with me

E quando eu preciso de você então eu sei que você estará aqui comigo

I'll never leave you...

Eu nunca vou te deixar...

Just need to get closer, closer,

Só preciso estar mais perto, perto,

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now,

Conte comigo agora

closer, closer,

Perto, perto

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now.

Conte comigo agora

Keep waking up (waking up), without you here (without you here).

Continuar acordando (acordando), sem você aqui (sem você aqui)

Another day (another day), another year (another year).

Outro dia (outro dia), outro ano (outro ano)

I seek the truth (seek the truth), we set apart (we set apart)

Eu procuro a verdade (procuro a verdade), nós nos separamos (nós nos separamos)

Thinking of a second chance (a second chance).

Pensando em uma segunda chance (uma segunda chance)

And when I see you then I know it will be next to me

E quando eu vejo você então eu sei que estará perto de mim

And when I need you then I know you will be there with me

E quando eu preciso de você então eu sei que você estará aqui comigo

I'll never leave you...

Eu nunca vou te deixar...

Just need to get closer, closer,

Só preciso estar mais perto, perto,

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now,

Conte comigo agora

closer, closer,

Perto, perto

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now (lean on me now).

Conte comigo agora (conte comigo agora).

And when I see you then I know it will be next to me

E quando eu vejo você então eu sei que estará perto de mim

And when I need you then I know you will be there with me

E quando eu preciso de você então eu sei que você estará aqui comigo

I'll never leave you...

Eu nunca vou te deixar...

Just need to be closer, closer,

Só preciso estar mais perto, perto,

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now,

Conte comigo agora

closer, closer,

Perto, perto

Lean on me now,

Conte comigo agora

Lean on me now (lean on me now).

Conte comigo agora (conte comigo agora).

Closer, closer... closer, closer.

Perto, perto... perto, perto.

Me sentia vivo enquanto tocava. Mais do que isso, sentia Thalia comigo. Não seu corpo inerte naquela cama, mas a minha Thalia. A garota sorridente e divertida que sempre fora.

Enquanto dedilhava os acordes observava a luz da Lua entrando pela janela, beijando a pele de minha pequena, doía. Ainda doía, e muito.

A dor da saudade.

Mas eu não poderia desistir de tentar, mesmo que doesse, mesmo que me torturasse. Não podia e não queria desistir.

Afinal, não se deve desistir da vida.

I'll never leave you...

X - X - X