P.O.V. Thalia Grace

“-Fecha a boca garota.

—NÃO! PARA, POR FAVOR, PARA, PARA. MÃE!

—Cala a boca! –o homem desferiu um tapa contra o rosto da pequena garota que chorava encolhida.

—Não, não... por favor! Não! Para! AAAAAAAAAAAAH”

Acordei chorando no meio da noite, mas ao contrário das outras noites eu não gritei com ódio, eu me encolhi com medo.

—Shh... Calma, já passou, foi só um pesadelo... -Uma voz rouca e muito sonolenta chegou até meus ouvidos. Levantei os olhos e encontrei Nico me encarando com seus olhos negros sendo iluminados pelo luar que entrava pela janela. Ele estava extremamente fofo com os cabelos desgrenhados e a expressão sonolenta.

Eu ainda chorava meio que incontrolavelmente, Nico apenas me trouxe para perto de seu corpo e me abraçou protetoramente, passando seus dedos calmamente pelo meu cabelo. Além de estar profundamente assustada eu estava confusa com tudo isso, com Nico sendo tão amável comigo e eu estar gostando, gostando até demais... Acabei dormindo sentindo seu cheiro.

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Acordei cedo, acho. Mas não abri os olhos imediatamente, apenas repassei os últimos acontecimentos na minha cabeça, que por sinal estava muito dolorida, como se eu estivesse de ressaca. Estava tudo acontecendo tão rápido... Ontem estava entrando na minha faculdade quando de repente BUM! Todos esses problemas caem de paraquedas em cima de mim por meio de um telefonema.

Tentei me espreguiçar, mas dois braços musculosos me prenderam. Inspirei profundamente constatando o ser que dormiu comigo ali noite passada. Sorri involuntariamente, afinal ele não precisava ficar no hospital comigo, mas ficou. Nosso abraço tinha ficado muito mais estreito.

Levantei (mesmo sem querer), com muito cuidado pra não acordar ele e fui tomar um banho, passei rapidamente pelo meu pai que ainda estava dormindo. Separei uma roupa e tomei meu banho quente e aconchegante.

Quando voltei, Nico conversava com meu pai enquanto os dois tomavam café.

—Bom dia povo! -Falei dando um beijo nas bochechas deles.

—Bom dia filha.—Meu pai respondeu, sua voz estava fraca, o que me fez voltar à realidade.

Ele estava mal.

Ele não iria melhorar.

Ele iria morrer.

Eu estava ali esperando sua morte.

Mas não me deixei abalar, sorri para eles e ficamos conversando banalidades.

—Hey, eu vou em casa me trocar ok? Mas eu volto. -Nico nos informou já saindo. –Thalia. -Beijou minha mão. -Senhor Zeus. -Apertou a mão de meu pai com uma expressão séria. Rimos e ele foi.

Pov Nicolas Di Ângelo

Quando percebi que Thalia não estava mais na nossa “cama” me sentei no sofá repassando o que havia acontecido.

Meus planos não eram simplesmente ficar e dormir, claro que queria ficar com Thalia o maior tempo possível, mas ela precisava de espaço com seu pai também, porém acabou que eu estava tão cansado que caí no sono e várias coisas improváveis aconteceram:

1. Eu havia dito para o pai da Thalia que namorávamos sem motivo aparente;

2. Eu me senti muito mal quando a vi naquele estado;

3. Eu senti necessidade de ajuda-la;

4. Eu dormi com ela;

5. Eu quis protege-la dos pesadelos à noite e a abracei;

6. Ela não recuou;

7. Eu adorei poder dormir com ela em meus braços, tão pequena...

8. Eu adorei conhecer seu pai e me sinto mal por não poder fazer nada por ele;

9. Eu preferi passar a noite com Thalia e seu pai do que numa balada;

10. Eu me senti vazio quando ela saiu da nossa cama improvisada;

11. Acho que não suportaria vê-la novamente naquele estado do dia da enfermaria.

Será que eu estou apaixonado? Oh meu Hades! E por Thalia?! E ela? Será que gosta de mim? Eu queria que gostasse? Nicolas Di Ângelo, acorde! Meus deuses... Nunca fiquei confuso assim antes. Como isso é possível? Em menos de três semanas eu já estou apaixonado! Estou?

Estava começando a pirar quando meus pensamentos foram interrompidos pelo Sr. Zeus que acordara.

—Bom dia Nico.—Ele sorriu amigavelmente, porém sua voz estava mais rouca e sua respiração ofegante.

—Bom dia senhor. -Falei educado retribuindo o sorriso.

—Oh, por favor, não me chame de senhor, não sou tão velho quanto parece. —Ele riu me deixando confortável.

—Como se sente? -Perguntei realmente interessado.

—Acho que não tenho motivos para mentir para você meu jovem... Estou mal, muito mal. Me sinto fraco e abatido. Mas essa manha eu acordei com uma felicidade que preencheu meu ser... Passar esse tempo com Thalia era o que faltava para mim... Não vou mentir. Acho que partirei logo... Tudo parece tão belo nesta simples manhã... Aah meu rapaz, não fique triste por mim... Eu tive minha oportunidade de viver e apreciar as coisas boas da vida... Fiz muitas escolhas ruins e me arrependo da maioria... Mas ter Thalia fez tudo valer a pena. Ela é uma menina incrível... Mas acho que você já percebeu isso. —Ele sorriu fraco para mim. —Cuide dela meu garoto. —Assenti com a cabeça sabendo que iria chorar se falasse qualquer coisa. Não era algo que eu pudesse controlar, não era mentira, eu realmente gostava de Zeus e não aceitava sua morte assim, tão precoce. Conversamos mais um pouco e eu peguei café para nós dois, reparando que Thalia acabara de sair do banho.

—Bom dia povo! -Nos cumprimentou sorrindo.

—Bom dia filha. -Zeus respondeu alargando seu sorriso.

Eu apenas a cumprimentei com a cabeça e começamos a conversar.

—Hey, eu vou em casa me trocar ok? Mas eu volto. -Eu realmente precisava me trocar, mas voltaria com certeza. -Thalia. -Beijei sua mão meio desajeitado. -Senhor Zeus. -Apertei sua mão com uma serenidade estranha para mim, rimos e eu fui embora.

No caminho comecei a pensar. Será que eu estava realmente gostando de Thalia? Será que ela gostava de mim? Ou apenas precisava de um amigo nessas horas? Será que eu deveria perguntar? Todas essas perguntas rodeavam minha mente, mas eu sabia pelo menos a última resposta. Eu não deveria perguntar, afinal ela já estava passando por tudo isso e eu não queria confundi-la ou sei lá.

Confundi-la? Eu que estava confuso.

Cheguei em casa e os meninos não estavam, então apenas tomei meu banho frio e troquei de roupa. Tomei um café decente na cozinha e deixei um bilhete para os dois e afinal, onde eles se enfiaram?

Voltei para meu carro disposto a voltar para o hospital imediatamente. Fui ouvindo rádio, especialmente uma música: In The End do Linkin Park.

Time is a valuable thing

O tempo é uma coisa valiosa

Watch it fly by as the pendulum swings

Assista-o voar como o balançar de um pêndulo

Watch it count down 'till the end of the day

Observe a contagem regressiva até o fim do dia

The clock ticks life away

O relógio suga a vida fora

Sei que acabei dando uma pirada com a letra, mas nessa última parte algo realmente gritou dentro de mim e eu acelerei o carro.

Chegando ao hospital fui até a primeira enfermeira que surgiu em meu campo de visão.

—Por favor, um conhecido meu está no quarto 204 posso ir vê-lo?

—Só um segundo... Er, bem... Pode me acompanhar, por favor? –Ela parecia apreensiva e meu coração apertou dolorosamente, a segui até o corredor bem conhecido, porém o que vi me chocou, Thalia estava sentada no chão abraçando as pernas e chorando. Estava pior do que dá ultima vez que cheguei nesse hospital. Me apavorei e ao vê-la ali um nó se formou na minha garganta quando finalmente entendi.

Zeus havia morrido.

Thalia estava sem pai.

Corri até ela, mas ela apenas me olhou rapidamente antes de recomeçar a soluçar. Me joguei no chão ao seu lado e a abracei com as pernas a trancando e deixei que ela chorasse em meu peito. Eu estava mal, vê-la assim me cortou o coração.

Ela não falou nada, apenas devolveu meu abraço e chorou. Acabei chorando junto, só de imaginar aquele grande homem que a pouco eu havia conhecido estar morto agora. Só de vê-la assim.

Eu queria perguntar o que tinha acontecido, mas entendia que seus últimos momentos pertenciam a ela e a mais ninguém.

Eu queria dizer que ficaria tudo bem. E eu queria ter certeza disso também.

Mas não falei nada, apenas a abracei o mais forte que pude e me deixei chorar junto. Ela partilhou sua dor comigo e doeu em mim também.

O que a abalava, tinha o mesmo efeito em mim.

Não sei quanto tempo ficamos ali e isso também não importava. Não mais.