A Little Help escrita por giuguadagnini


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores!!
Então, eu passei muitos dias escrevendo esse capítulo porque eu nunca tinha tanto tempo para sentar e escrever. Mas deu um capítulo de sete mil e algumas palavras, então está valendo, não é?
Obrigada a todos os comentários e por estarem acompanhando comigo esta história. Um pedacinho de mim estará sempre por aqui, então se um dia estiverem tristes ou simplesmente não tiverem o que fazer, venham até aqui e releiam ALH, porque a autora que vos fala tem estado bastante lenta mesmo para atualizar muito rápido, kkkkk.
Enfim, capítulo engraçado com umas ceninhas mais hot's lá pelo meio porque eu sei que vocês gostam, com direito a um final meio WOW. Está bom para vocês? hahaha
Espero que gostem!
Boa leitura :D



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[Sing – Ed Sheeran]

– Draco, será que eu vou ter que implantar umas molas no seu quadril para você parar com toda essa ginga de pau de selfie? É sério, cara! Cadê seu molejo?

Blaise definitivamente tinha incorporado um coreógrafo bem exigente hoje à tarde. Draco revirou os olhos e respirou fundo, apoiando as mãos nos joelhos e deixando o corpo pender para frente, como se já estivesse exausto.

Ele não estava no seu melhor humor, é claro. O acontecimento do café da manhã de hoje cedo ainda rondava sua cabeça. Foi por isso que Blaise e eu achamos que a melhor alternativa era não deixar que ele tivesse tempo para sequer pensar em ficar triste.

Desde que Córmaco saiu do prédio principal com Hermione, Blaise e eu colamos em Draco quase como carrapatos. Afastamos pessoas que só queriam perguntar sobre ele e a Miller durante todo o período de aulas e do almoço. Fomos praticamente seus guarda-costas particulares, mas sem que ele pedisse ou notasse.

Gina e Pansy também nos ajudaram bastante. Além de dar-nos o natural suporte e apoio em afastar as pessoas que só tinham a intenção de perturbá-lo, elas ainda apareceram, depois do almoço, com um enorme sunday de chocolate cheio de baboseiras deliciosas por cima, como confeitos, cobertura e aqueles palitinhos gostosos que eu nunca sei nome.

“Só pra você, meu amor” – Pansy colocou aquela linda bomba calórica e açucarada à frente dele, na mesa. Gina bagunçou os cabelos dele, como que dizendo que também havia ajudado.

Ele sorriu, mesmo cabisbaixo daquele jeito, agradecendo.

“Obrigado, garotas” – ele se deixou ser abraçado pelas duas, que acabaram sentando uma de cada lado dele.

“E pra gente, não tem nada, não?” – reclamou Blaise.

Gina tirou da sua bolsa um saquinho de jujubas e as atravessou pela mesa até nós dois. Blaise e eu trocamos olhares de descontentamento, mas decidimos deixar quieto. Não éramos nós dois que precisávamos de agrados.

Luna, é claro, não apareceu pela maior parte do dia. Com toda a certeza do mundo estava com Hermione. Eram melhores amigas, portanto isso era mais que compreensível.

Fiquei pensando se eu não deveria ir vê-la, afinal eu também era amigo dela. Mas Draco também precisava de mim. E, além disso, tinha o detalhe chamado Córmaco McLaggen no jogo. Ele devia estar com ela e, pelo menos na minha cabeça, eu o via vindo pra cima de mim caso eu tentasse falar com Hermione. Muito provavelmente ele iria pensar que eu estava indo lá para fazer a cabeça dela para voltar com Draco, e não porque eu realmente me importasse com ela.

Situações assim sempre são difíceis. A questão, no entanto, não era escolher um lado para apoiar e declarar guerra ao outro, mas sim dar nosso apoio para os dois, só que em turnos diferentes. Pelo menos era isso que eu pensava que fosse o importante. Os dois eram nossos amigos, poxa vida. Tínhamos que dar nosso melhor.

Eu irei procurá-la mais tarde, decidi comigo mesmo.

– Nott! Acorda, cara! – Blaise gritava comigo, trazendo-me de volta para o presente. – Bora lá, estamos muito atrasados com a coreografia. E vê se ajuda essa coisa loira do seu lado. Temos que transformá-lo numa Beyoncé até o fim de semana.

– Vá sonhando! – Draco fez pouco caso, mas voltou à postura normal e deu uma soltada nos ombros. – Tá, me ensinem aquela parte em que a gente fica em fila de novo. Eu sempre confundo com que pé devemos girar.

– Antes disso – eu toquei seu ombro, para que ele me seguisse mais para frente, ficando mais perto do espelho. -, é importante que você ache seu ritmo. A gente não está seguindo a guitarra ou a bateria nessa coreografia. Estamos no ritmo do baixo. Dá para sentir? – eu esperei Blaise aumentar o volume da caixa de som. – Consegue identificar qual é a nossa direção?

Os olhos de Draco foram mudando, como se eu tivesse explicado facilmente para ele como funcionava o processo de viagem no tempo em dois passos simples. Ele começou a mexer a cabeça no ritmo do baixo e, devagar, isso foi passando para o pescoço, ombros e tronco.

Melhor, muuuuuuito melhor, pensei comigo mesmo.

– Isso – eu sorri em aprovação. – Ótimo. Agora, sem pressa, tenta me acompanhar. Não vamos seguir a coreografia, só quero que você entre no clima, ok?

Draco assentiu com a cabeça, abrindo e fechando as mãos, para que a circulação fluísse melhor para os dedos.

Esperei alguns segundos da música passarem para entrar em uma parte específica. Quando esse momento chegou, comecei a mexer os ombros de uma maneira ritmada, mas ao mesmo tempo como se seguissem o movimento de uma onda. Pelo espelho pude ver que Draco conseguia acompanhar meus passos.

– Venha, Blaise! – eu o chamei, mas continuei com os mesmos movimentos. – Entra nessa com a gente.

– Olha só – disse o moreno com aquele tom de contentamento, secando a testa com uma toalhinha amarela. Ele a jogou em cima de uns colchonetes de ginástica a um canto e veio até nós – Bora. Você faz e a gente segue, Nott.

– Beleza – eu aproveitei e emendei um movimento com o tórax ao que já estávamos fazendo com os ombros. Era mais ou menos como se estivéssemos abrindo e trancando o peito de um segundo ao outro.

Deixei que Draco se acostumasse e adicionei um pouco de ginga com o quadril. Blaise aderiu com facilidade, mas o loiro demorou um pouco para se acertar com todos os passos juntos.

– Vamos, Draco! – eu incentivei. – Só um pouquinho de coordenação! Você consegue.

– Tem que fluir, irmão! – Blaise já conseguia fazer a coreografia com os olhos fechados, e agora exagerava na parte do quadril para ver se animava Draco a segui-lo. - Deixa a Miley Cyrus dentro de você sair!

– Por acaso isso foi uma piadinha com o meu cabelo? – indagou Draco, mas continuou tentando. Estava quase lá.

– Se isso te deixar com raiva e te ajudar a acertar os movimentos... – Blaise deu de ombros no ritmo da música.

Acrescentei um movimento com as pernas, apenas observando a discussão deles pelo espelho.

– Se eu sou a Miley Cyrus, você pode ser a Nicki Minaj, Sr. Bunda Nervosa – Draco disse a Blaise, entrando na risada. – Ou então a Beyoncé, mesmo.

– Desculpa, gato – Blaise fez um movimento com a mão. – I woke up like this.

Ri, bufando ao mesmo tempo. Esses dois eram impagáveis.

– E o Nott, quem vai ser? – indagou Draco.

– Qual é! – interrompeu Blaise, ainda no ritmo da música. – Ele tem a maior cara de Shakira.

– Mano! – eu gritei. Eles riram de mim. – Fala sério! Shakira?

– Prefere Lady Gaga? – Draco arqueou uma sobrancelha.

– Quem sabe a Madonna? – Blaise se inclinou pra frente para poder me olhar. Eu revirei os olhos. – Like a virgin! – ele ia cantando - Touched for the very first time… – e descia as mãos pelo abdômen de um jeito nada decente.

– Calem a boca! – fechei meus olhos, como se já estivesse cheio daquilo.

– Ou ele pode querer pagar a dele de santinho e ser a Taylor Swift – Draco me deu uma cotovelada de leve na costela.

– Vocês querem parar de escolher uma diva interior pra mim e se concentrarem na dança? – tentei por um fim naquilo, mesmo achando engraçado.

Eles soltaram uns burburinhos de descontentamento, mas acabaram se concentrando de volta.

Por vários minutos nos focamos apenas na coreografia. Draco já estava bem melhor no ritmo, e eu e Blaise bolávamos novos passos para incrementar a apresentação, que querendo ou não estava muito longe de ser concluída. Pelo menos estava ficando bem engraçada e ensaiada. Fazíamos tudo praticamente ao mesmo tempo, o que dava um aspecto muito legal levando em conta todos aqueles espelhos a nossa volta.

– Blaise – eu podia sentir minha testa enrugando. Estava escutando um barulho estranho. – Esse chiado é da caixa de som?

Blaise parou de dançar e foi até lá. Draco parou também e me olhou sem entender o que estava acontecendo.

– Você não está escutando? – eu apontei para o meu próprio ouvido, o que o fez colocar o pescoço um pouco para frente e também olhar para baixo, como se essa fosse a maneira que ele havia achado para se concentrar em tudo o que ouvia.

– Não é daqui, não! – Blaise mexia no aparelho de som, ora aumentando o volume da música e ora o baixando. Nada.

– Que estranho... – eu comecei a duvidar de mim mesmo. – Eu podia jurar que tinha escutado alguma coisa.

– Será que as paredes estão rachando? – Blaise soltou a hipótese.

– Ou pode ter sido só o Blaise peidando – Draco apresentou sua aposta.

Revirei os olhos. Não era isso.

E então, eu escutei de novo. Blaise e Draco também pareciam ter escutado dessa vez. Eles iam começar a falar, mas coloquei meu dedo indicador em cima dos lábios o mais rápido que pude. Graças a Deus eles viram e ficaram calados.

Draco levantou as mãos e os ombros, como que me perguntando: E agora? Blaise só arregalou um pouquinho os olhos, ao mesmo tempo em que varria toda a sala com eles.

O barulho era como um chiado, de repente fosse um sussurro. Eu não sabia.

Draco apontou com o dedo para um amontoado de cortinas vermelhas a um canto, perto da porta, daquelas que pareciam especiais para colocar em um teatro. Pé por pé, com muita cautela, nós três fomos nos aproximando.

Agora que sabíamos de onde vinha o som, ficava claro que tinha algo se mexendo atrás daquelas cortinas. Era como se alguém estivesse respirando de encontro a elas.

Blaise chegou primeiro e, sem cerimônias, puxou a cortina para o lado com tudo. Dois corpos caíram pra frente, se enredando entre tanto pano vermelho.

O choque só não foi maior porque, vendo quem eram as fontes do barulho, deduzi que o tumulto que escutei mais cedo eram apenas de risadas trancadas. Draco e Blaise se juntaram a mim para encará-los.

Potter e Weasley estavam nos espiando.

.

[Summer – Calvin Harris]

– Que merda vocês dois acham que estão fazendo? – Blaise deu voz aos meus pensamentos.

– Pelo jeito estavam se pegando atrás da cortina – Draco cruzou os braços e continuou a encará-los. Eu ri com a hipótese.

Os dois estavam vermelhos, mas não deixaram de nos atacar de volta.

– Não, não estávamos nos pegando – disse o Potter, levantando do chão. – Só estávamos vendo três maricas treinando para passar vergonha no show de talentos. Não que vocês realmente precisassem treinar... Já fazem isso naturalmente, não é mesmo?

Ron deu uma risadinha medonha, se pondo de pé e chutando a cortina vermelha para longe.

– Maricas? – eu contorci meu rosto em ironia. – Esse é seu melhor insulto, Potter?

– Como se vocês dois soubessem dançar... – Blaise revirou os olhos e sorriu com escárnio. – Ou fazer qualquer coisa que exigisse mais coordenação do que um avestruz tentando ficar num pé só.

Potter inclinou o rosto, mas ao contrário de Ron - que já havia fechado a mão em um punho e ia ficando com o rosto da cor da cortina que ele mesmo havia pisoteado -, ele sorriu.

– Por acaso vocês estão nos desafiando?

Blaise, Draco e eu trocamos olhares. Nós estávamos?

– É, nós definitivamente estamos – Draco, que já vinha os observando de um jeito mais contido, deu um passo à frente. Apenas um palmo distanciava-o do Potter.

Blaise me olhava com o canto dos olhos. Eu quase podia ver um balão de pensamento, desses de história em quadrinhos, flutuando sobre sua cabeça, onde estava escrito “Mas que porra você acha que está fazendo, Draco?!”.

– É mesmo? – Potter inclinou o corpo para frente, como se não estivesse recuando nem um centímetro diante daquela situação.

Se eu não soubesse que aqueles dois se odiavam mais do que era possível contar ou medir em algum tipo de escala numérica ou emocional, eu até poderia dizer que estavam prestes a se beijar, de tão perto que se encaravam. Até o próprio Weasley estava olhando torto para o Potter.

– Espera aí, do que estamos falando, afinal? – Ron puxou Harry um pouco para trás, pelo ombro.

– Estamos falando de vocês dois – Draco apontou Potter e Weasley, respectivamente. – participarem com a gente no show. No mesmo número – ele fez uma pausa dramática, porém finalizou, dando um sorriso provocativo. - Dançando.

– Nem fodendo! – se exaltou Ron, com uma expressão decidida no rosto. – Se querem dar uma de ridículos na frente da escola toda, que façam sozinhos. Não é, Harry?

Nem eu mesmo acreditava no que estava acontecendo, mas Harry Potter estava mesmo pensando a respeito. Se era por orgulho de não querer amarelar na nossa frente ou apenas por burrice, eu não sabia.

Para falar a verdade, eu não sabia de nada do que estava acontecendo bem na frente dos meus olhos nos últimos dois minutos. Por que Draco estava fazendo essas idiotices todas? Ele havia ficado maluco?

– Harry...? – Ron tentava puxá-lo de volta a razão.

– Cala a boca! – ele deu uma cotovelada no ruivo, o que o fez ficar quieto. Blaise e eu continuávamos sem entender qual era a do Draco. – Desenvolve, Malfoy. Aonde você quer chegar com isso?

– Não fui claro o suficiente, Potter? – Draco deu de ombros, como se fosse simples. – Vocês se juntam a nós, fazemos o número de dança e depois dividimos um pouco da glória que vamos receber de todo mundo. Isso se vocês não forem um bando de maricas, é claro – ele destacou a palavra, o que me deu um pouco de orgulho.

Potter e Weasley se entreolharam, obviamente pensando se valia a pena.

Draco estreitou os olhos.

– Com medo, Potter?

Harry encarou o loiro de volta, e ali eu vi que Draco havia ganhado a discussão. Potter não suportava ser taxado de medroso.

– Não mesmo – respondeu ele, porém sem sorriso ou ironia alguma. – Estamos dentro.

– O QUÊ? – berrou Ron. – Não estamos, não!

– Cala a boca, Rony – Potter foi arrastando o ruivo para a porta. – Só me passem o horário do ensaio amanhã na aula. Vamos aparecer – ele apontou com o dedo indicador na nossa direção, e não me pergunte o porquê. Certamente o maluco viu aquilo num filme e achou que seria um ótimo jeito de fazer uma saída triunfante.

– Fale por você! – ia reclamando Ron. Dava para ouvir Potter debatendo com ele pelo corredor, até que suas vozes se transformaram apenas em sussurros.

– Tá... – eu suspirei. – Alguém me explica o que rolou aqui?

– Eu os impedi de estragar as coisas – disse Draco, como se fosse óbvio.

– Como assim? – Blaise também não havia entendido.

– Ugh, sério galera? Vocês não perceberam, não? – o loiro revirou os olhos e se pôs a explicar. – É óbvio que eles vieram aqui espiar e iam espalhar para todo mundo o que estávamos fazendo, para não ter graça nenhuma quando subíssemos no palco de verdade.

– E como, exatamente, colocá-los no grupo ajuda a nossa situação? – eu tive de perguntar.

– Se eles sentissem que ganhariam algo com isso, nem que fosse algumas garotas a mais na volta deles, eles entrariam no jogo, e não estragariam as coisas para o nosso lado. Está dando para entender?

Parando para pensar, até que fazia sentido. Draco, mesmo parecendo um baita tapado na maioria do tempo, tinha o dom de ser observador. Como eu não havia percebido uma coisa dessas? Era óbvio que eles não iam perder a oportunidade de tentar nos ferrar.

E chamá-los para o número não foi uma opção tão ruim assim. Na verdade, foi bastante inteligente. Se não acabássemos nos matando entre os ensaios, até que poderia ser uma boa ideia.

– Certo – compreendeu Blaise. -, mas como faremos com a coreografia? Eu fiz tudo pensando em só três caras no palco. Agora temos cinco!

– Relaxa – Draco nos tranquilizou. – Vamos ter que mudar tudo, inclusive a música – isso fez com que Blaise quase tivesse uma síncope, porém o loiro tornou a falar o mais rápido que pôde. -, mas vão ser passos simples e fáceis de decorar. Esses até eu vou tirar de letra! Eu já sei exatamente o que vamos fazer.

O que se seguiu foi um breve e incômodo momento de silêncio. Draco esperava nossa reação e eu e Blaise não conseguíamos fazer mais do que apenas piscar os olhos.

– Sei que temos só seis dias até o show – Draco tentou mais uma vez nos trazer calma. -, mas vai dar certo. Talvez fique até melhor do que tudo o que já havíamos planejado até agora. Espera, com certeza vai ficar melhor.

E começou a rir consigo mesmo, o que apavorou um pouco a mim e a Blaise.

– Como você pode ter tanta certeza disso? – a perspectiva de ter que começar tudo do zero me apavorava um pouco.

Minto.

Apavorava muito.

– Porque eu tenho um plano – disse ele, muito certo de si. – O plano perfeito.

– - -

[Burn – Ellie Goulding]

– Alô? – a voz dela soou do outro lado da linha.

– Boa noite, senhorita – eu forcei a minha voz a ficar mais formal. – Foi desse número que pediram pizza?

Gina riu. Botei um boné sobre meus cabelos bagunçados e saí do quarto.

– Hm, claro – ela entrou na brincadeira. – Foram oito pizzas de rúcula.

– Certo – eu já descia as escadas do prédio 6 e saía pela porta principal.

– Só que, no caso, são sem rúcula mesmo – Gina enfatizou, bem séria, pelo telefone. Tive vontade de rir, mas me segurei.

– Certo, anotado! Acredita que recebemos esse pedido toda hora? É o mais popular entre os clientes.

– Sério?

– Não! – eu ri, já me aproximando do prédio dela. – Qual é o seu problema, sua biruta? Quem pede pizza de rúcula sem rúcula?

– Eu e... Bom, pessoas extremamente inteligentes.

– Sei – fiz pouco caso, agora já adentrando o prédio e cruzando o saguão.

– Ouvi dizer que essa era a favorita de Albert Einstein, sabia?

– Claro, também ouvi esse boato – meus pés me guiavam escada à cima. – Mas, infelizmente, acho que é só rumor, mesmo. O Albert curtia algo mais apimentado.

Ela deu uma risadinha, mas dessa vez eu já podia escutá-la ao natural.

– É mesmo? Pois me conte como você ficou sabendo de uma coisa dessas!

– Ué, basta você procurar na internet. Ou achou que aquela foto dele com a língua de fora fosse só de zoação? O coitado tinha acabado de comer uma pizza tapada de pimenta e implorava por um copo d’água! – eu parei à porta do salão comunal, observando-a de costas para mim, com o celular no ouvido e os olhos presos à vista da janela, onde o céu já tomava suas medidas para escurecer.

E então eu podia ver suas costas tremerem devido a gargalhada que ela deu. Era engraçado poder vê-la e escutá-la ao natural, mas ao mesmo tempo pelo telefone. Algumas garotas presentes no salão comunal a olharam, curiosas, mas logo deixaram por isso mesmo.

– Você é inacreditável – sua voz soou ao meu ouvido, mas também do outro lado da sala.

– E incrivelmente bonito também – falei um pouco mais alto do que eu normalmente faria, o que a fez se virar pra me ver plantado na porta.

Gina fechou os olhos e sorriu para o chão, como se não acreditasse que eu havia feito tudo aquilo sem que ela percebesse.

Fui andando até ela, sob o olhar das garotas que estavam sentadas no sofá. Já havia visto todas elas por aí, pelos vários cantos do campus, mas nunca havia falado diretamente com nenhuma. Devia ter sido esquisito demais ter um cara adentrando a porta delas dizendo que era incrivelmente bonito, praticamente do nada.

Você precisa parar de ser esquisito, fiz uma anotação mental.

– Hey – eu cumprimentei de uma forma mais contida às três garotas, que riram e acenaram com a cabeça.

Nem preciso dizer que estava meio envergonhado quando parei à frente de Gina. Ela ficou me olhando de cima a baixo, como se procurasse por alguma coisa, e então perguntou:

– Cadê?

– Cadê o quê? – franzi as sobrancelhas.

– As oito pizzas de rúcula sem rúcula – ela sorriu. – Não me diga que você esqueceu?

– Ah, então era isso que eu estava esquecendo – eu me fiz de bobo e ela cruzou os braços na frente do peito. – Mas ainda tem o entregador! – encolhi os ombros até o pescoço e fiz cara de coitadinho, abrindo os braços na sua frente. – Serve?

A ruiva fez biquinho com os lábios e ficou me olhando por alguns segundos.

– Tudo bem, você está perdoado. Mas não faça isso de novo, você sabe que comida é um assunto sério pra mim.

Ri e assenti com a cabeça, trazendo-a para mais perto pela cintura. Gina se deixou levar e me beijou de volta quando pousei meus lábios sobre os seus, mas não deixou que durasse muito.

– O que foi? – sussurrei no seu ouvido enquanto a puxava para um abraço. Ela estava meio tensa.

– Nada – ela balançou a cabeça, como se não fosse nada demais. – Só não acho legal ficar agarrando você assim, na frente delas.

Desviei meu olhar do seu pescoço para as garotas, que nos olhavam discretamente de uns quinze em quinze segundos. Nada fora do natural.

– Então você não veria problema em me agarrar se elas estivessem de costas? Por que eu posso pedir a elas que...

– Shhh – ela tapou minha boca, mesmo que eu nunca fosse pedir que as garotas ficassem de costas pra gente. Só era legal deixá-la vermelha e apavorada. – Nem inventa.

Mordi seus dedos. Ela me olhou torto e apertou meu nariz. Beijei sua mão. Ela, sorrindo, fez carinho no meu rosto, ficando na ponta dos pés para encostar sua testa na minha.

– Senti sua falta – confessei.

Ela achou estranho.

– Mas a última vez que nos vimos foi só há umas horas atrás e...

– Eu sei – fechei meus olhos e rocei nossos narizes, subindo minhas mãos da sua cintura para poder segurar seu rosto. – Mas é diferente. Estou com saudade de ficar só com você – beijei sua bochecha, perto do canto dos lábios. – De ter você perto de mim, sem pessoas ou coisas que te deixem envergonhada. Só estou com saudade de eu e você.

Quando abri meus olhos, ela ainda tinha os seus fechados. Beijei seu queixo, o que a fez sorrir de lado e dar um suspiro de leve. Mas ainda assim, seus ombros pareciam tensos, meio pesados.

Ela abriu os olhos e me encarou intensamente.

– Você diz “saudade”... tipo do que rolou na festa da Hermione?

Não vou negar, mas o que senti foi um misto de querer dizer sim com uma vontade enorme de fazê-la ficar tranquila quanto ao assunto. Agora, como fazer os dois ao mesmo tempo, eu não tinha ideia.

– Não da coisa em si – me odiei internamente por usar a palavra coisa como um sinônimo para sexo, mas convenci a mim mesmo que não importava no momento. Eu já tinha errado com ela antes e precisava ir com calma. -, mas de poder ficar perto de você e aproveitar um pouco mais, sabe? Te fazer sorrir por outros motivos, descobrir mais de você do que eu já sei, assim como tenho vontade de te deixar saber mais de mim, também.

– Eu sei – ela segurou meus pulsos com carinho. – É só que... Eu sei lá, eu fico nervosa e não sei como te explicar o que eu sinto, então tudo o que eu faço é me afastar, como se isso fosse resolver alguma coisa. Acho que eu só tenho medo que tudo acabe como na última vez.

Seus olhos estavam tristes ao olhar pra mim dessa vez, e devo admitir que uma culpa enorme se alojou no meu peito. Eu a havia assustado e, como se isso não bastasse, a havia feito se culpar por eu ter agido do jeito que agi naquela noite.

Olhei em volta para ver se ainda tínhamos plateia. Por milagre, as três meninas não estavam mais lá, mas mesmo assim fiquei receoso. Aquele não era lugar para ter uma conversa daquele tipo. Eu precisava deixar Gina a vontade para me dizer tudo o que quisesse, e uma sala pública para garotas, que podiam entrar e sair a hora que quisessem, não era exatamente a minha ideia de local decente.

– Eu quero muito conversar com você – segurei sua mão e a apertei. – Mas vamos para um lugar melhor, pode ser?

Ela assentiu, apertando minha mão de volta.

– Tudo bem. Aonde você quer ir?

– Não sei – agora que ela havia concordado eu não sabia ao certo onde seria melhor levá-la. – Um lugar sem muita gente.

– Pode ser o meu quarto? – ela apontou para o corredor a nossas costas, sem malícia nenhuma. – Eu não divido com ninguém, então não vão atrapalhar...

– Você não se importa? – eu a olhei sério.

Ela revirou os olhos.

– Claro que não! Eu não sou nenhuma puritana, Nott! E você é meu namo...

Ela cortou a frase de repente. Fiquei parado, olhando pra ela. Um sorriso foi se formando no meu rosto.

– O que você disse? – eu não podia me conter. Ela havia me chamado de namorado!

– Que eu não sou uma puritana...? – ela estava ficando sem graça. E vermelha.

– Não, não – eu sorri mais ainda, para provocá-la. – A outra coisa.

– Não me lembro de ter dito nenhuma outra coisa – ela foi se dirigindo para o corredor dos quartos, escondendo o rosto entre os cabelos.

– Ah meu Deus, eu mereço – segui seus passos e adentrei o quarto depois dela.

Gina ficou olhando para todos os cantos do cômodo, como se não soubesse ao certo como se comportar e, então, para minha surpresa, ela sentou no chão.

– Que foi? – indagou ela, me olhando de baixo. – Gosto do chão.

Ri pra mim mesmo. Eu amava aquela garota.

Sentei-me a sua frente, encostando meus joelhos nos seus. Tirei meu boné e deixei em cima da sua cama. Ela ficou me olhando, tentando não rir.

– Que foi? – era a minha vez de perguntar.

– Seu cabelo está todo espetadinho. Parece um porco espinho – Gina começou a ajeitá-lo na minha cabeça, o que foi me deixando meio derretido.

Eu amava quando mexiam no meu cabelo.

Quando ela terminou, ficou olhando para o meu rosto e riu de novo.

– Você é ótima nisso – peguei suas mãos e fiquei mexendo nos seus dedos. Percebi que ela gostou de ter ouvido isso. – Viu? É disso que eu estou falando. Intimidade, saber do que o outro gosta. Descobrir coisas.

Ela assentiu com a cabeça, como se finalmente tivesse entendido do que eu estava falando.

– É que eu nunca tive um... – fiquei esperando que ela dissesse namorado de novo, mas a ruiva notou meus pensamentos e mediu muito bem as palavras. - ...um relacionamento assim com ninguém, sabe? Sei lá, que durasse mais do que uma noite ou uma mísera semana. É diferente pra mim.

Assenti com a cabeça, feliz de que ela finalmente estava se abrindo comigo.

– E... – ela tirou o olhar das nossas mãos e fitou meu rosto. – E eu estou feliz que eu esteja vivendo isso com você.

Um arrepio atravessou minha espinha, me deixando quente e frio ao mesmo tempo. Eu queria gritar de alegria e chorar logo em seguida. Eu era realmente importante para aquela garota, tão importante quanto ela era para mim.

– Você me faz querer desmontar – tudo em mim estava fervendo, mas eu me sentia calmo como nunca antes. – E eu não desmonto na frente de qualquer pessoa. Eu não me abro assim com ninguém desde... – eu parei para pensar, mas tudo na minha cabeça estava bagunçado. - ...desde nunca. E agora, sentado no chão do teu quarto, segurando tua mão e vendo teu olho brilhar assim, eu nem sei mais quem eu sou e se mereço que você seja tudo o que é pra mim.

– Nott, não... – ela chegou mais perto, meio apavorada de me ouvir falar tudo aquilo de uma vez só, mas também emocionada ao ponto de lágrimas se formarem no canto dos seus olhos.

– É sério – eu sentia minha voz embargando um pouco, então respirei fundo. – Eu fui um imbecil com você aquela noite, e acho que sei o porquê. Eu nunca tive algo que valesse tão apena assim – apertei mais ainda minha mão na sua. – Nunca tive tanto prejuízo quando estragava as coisas por bobagem. Mas naquela noite eu percebi, quando você foi embora, que um pedaço meu foi embora contigo.

Lágrimas corriam soltas pelo rosto de Gina. Nossas mãos estavam tão juntas que nossos nós dos dedos estavam ficando quase brancos.

– Você entende o que eu quero dizer? – eu estava me segurando, mas estava quase no meu limite.

Ela me olhou demoradamente e, com calma, fez que sim com a cabeça.

– Eu sei – disse ela, mordendo o lábio inferior e secando uma lágrima que lhe caía pela bochecha. – Eu sei.

– Vem cá.

Abri espaço entre as minhas pernas para que ela pudesse chegar mais perto e, assim que ela se aproximou, a puxei para um abraço de urso, forte e protetor. Ela finalmente respirava aliviada, sem mais aquele peso e tensão nos ombros. Eu podia mexer no seu cabelo e sentir o seu cheiro o quanto eu quisesse, e nada no mundo naquele momento podia me fazer querer sair dali.

– Desculpa por não falar sobre isso antes – ela fazia carinho no meu braço. – Eu só estava com medo da sua reação.

– Shhh – sussurrei no seu ouvido. Pude vê-la fechar os olhos e sorrir fraquinho de encontro ao meu ombro. – Você não tem que pedir desculpas por nada. Fui eu que errei contigo, eu que não soube te entender.

Fiz com que ela se afastasse um pouco, só o suficiente para poder me olhar nos olhos.

– Quero que você saiba que eu vou esperar – fixei meu olho no seu. -, que vou entender e respeitar seu tempo. Mas também que isso não significa que não possamos fazer nada, que não possamos nos divertir e ir aproveitando um ao outro, para chegar lá aos poucos, do jeito certo. Você concorda?

Gina fez carinho no meu cabelo, o que me fez virar quase uma poça humana, mas antes que eu chegasse nesse estado, ela trouxe seu rosto até o meu e me beijou.

E pela primeira vez naquele dia, eu sentia que as coisas estavam correndo bem.

Já havíamos nos beijado naquele dia, mais cedo, mas desta vez era melhor. Era sincero, com todas as cartas na mesa, com todos os sentimentos esclarecidos. Era sem peso e sem mágoa. Com lágrimas sim, mas não com dor. Era mais do que verdadeiro. Era certo.

Com uma mão na minha nuca e outra agarrando minha camiseta na altura do peito, ela me trazia para ainda mais perto. Com um pouco de cautela, fui subindo minha mão do seu joelho até a parte posterior da sua coxa, encaixando-a mais em mim.

Como ela não parou tudo e nem me deu um tapa, decidi que aquilo era um grande avanço, mas que não era necessariamente um sinal de vá em frente. Eu não devia passar dos limites assim, com tudo o que eu tinha dito sobre esperar e respeitar o tempo dela. O melhor a se fazer era deixar que ela ditasse até onde ir, e então simplesmente seguir a onda.

Seu peito estava contra o meu, nossas respirações se mesclavam ao mesmo tempo em que um investia mais sobre o outro. Gina ainda mantinha sua mão na minha nuca, só que agora ela me arranhava um pouco de leve e dava umas puxadinhas perfeitas na base dos meus cabelos.

Céus, por quê? Eu precisava me controlar.

Minhas mãos foram passeando na altura do seu quadril e acabaram entre a sua cintura e a parte das costas, onde se concentrava sua coluna. Apertei-a bem forte, mas não ao ponto de machucá-la. Sua boca se separou da minha por um instante, quando ela gemeu sem fazer barulho. Foi como um suspiro, como se eu a tivesse feito segurar o ar por algum motivo. Aquilo me fez sorrir de encontro aos seus lábios.

Puxei a ruiva pra cima de mim, já que estávamos meio que caindo sentados no seu tapete. Ela acabou parando em cima do meu quadril, com uma perna de cada lado das minhas coxas. Droga, o que aconteceu com o ir com calma para não fazer besteira?

Mas não me impedi de empurrar seus cabelos para trás dos ombros, para poder ter acesso ao seu pescoço. Comecei a distribuir beijos demorados por ali, enquanto ela mexia e puxava meu cabelo por entre seus dedos, ora deixando-os para passear com as mãos pelas minhas costas e laterais do tronco, me causando um arrepio do cacete.

Depois de beijar um ponto no seu pescoço, perto da orelha, senti sua pele se arrepiar também, de encontro a minha. Seu quadril sobre o meu não ajudava a me manter calmo, então comecei a puxar na minha mente por alguma coisa extremamente broxante, como Draco com aquela cueca do Super-Homem, ou no dia em que eu acidentalmente encontrei Blaise depilando as pernas no banheiro.

– Está tudo bem? – Gina segurou meu rosto pelo queixo.

– Uhn, claro – disse eu, ainda meio perturbado com a visão de Blaise e aquela gillette cor de rosa.

– É que você ficou com uma cara estranha – ela riu de mim, mexendo nas minhas bochechas. – Achei que tinha te machucado ou sei lá.

Ri.

– Ah é, você tá acabando comigo – eu dei um jeito de me levantar um pouco, forçando-a a se inclinar para trás.

Ela agarrou-se aos meus ombros, levando-me junto ao deitar com as costas no chão. Desta vez, pelo menos, eu fiquei por cima. Fiquei admirando suas maçãs do rosto irem ficando um pouco vermelhas, mas dessa vez acho que não era por vergonha. Era só calor, no seu mais puro sentido.

Com delicadeza e um pouquinho de força para dar efeito, segurei seus pulsos e os prendi contra o chão, ao lado de seus cabelos. Ela respirou e todo seu tórax seguiu o movimento de subir e descer. Algo queimou nos olhos dela, algo que eu nunca havia visto antes. Não sabia dizer se era desejo ou apenas a demonstração de que ela estava ali e me via, me sentia e me deixava fazer com que ela se sentisse viva, presente e ausente ao mesmo tempo.

Cheguei meu rosto perto do seu, mas não a beijei. Isso a deixou num empasse: ao mesmo tempo em que ela tentava entender o que eu estava fazendo, eu também a prendia na situação e a enlouquecia um pouquinho. Não tocá-la fazia com que ela quisesse que eu a tocasse. E eu estava adorando cada segundo daquilo.

– Você está fodendo com a minha cabeça, Nott – seus olhos penetravam os meus. Eu podia sentir seu batimento cardíaco bastante acelerado através dos seus pulsos.

– É mesmo? – eu me fiz de desentendido, roçando meus lábios sobre os seus, mas nunca chegando realmente a beijá-la. – Juro que não era minha intenção.

– Eu estou quase engasgando com tanta ironia – uma de suas sobrancelhas subiu, o que foi muito sexy.

Mergulhei de novo de encontro ao seu rosto, apenas posicionando meus lábios perto dos seus. Ela estava tão contrariada que chegava a ser bonitinho de ficar olhando. Quando eu ia rir, no entanto, ela mordeu demoradamente meu lábio inferior, prendendo-me do jeito que podia.

Certo, agora ela tinha me pegado.

Soltei seus pulsos devagar e ela aprofundou a mordida em um beijo. Nossas línguas se enroscavam da mesma forma que nossas pernas, que mais pareciam um emaranhado de membros que ninguém seria capaz de discernir onde começava um e onde terminava o outro.

Porém, algo me veio à cabeça. Algo importante.

– Gina – eu parei o beijo por uns instantes.

– O que foi? – ela me olhou sem entender, quase como se tivesse feito algo errado.

– A gente está namorando...

– Isso foi uma pergunta? – ela estava definitivamente confusa.

– Não, não. Só estou te avisando... Namorada.

Levaram alguns segundos para que ela absorvesse aquilo, mas quando ela percebeu que eu falava sério, um sorriso iluminado tomou seus lábios e ela começou até a rir.

Ri com ela, feliz de poder dizer namorada sem ter um treco ou passar mal. Céus, o que essa garota havia feito comigo?

Quando estávamos prestes a nos beijar de novo, uma batida da porta fez meu coração dar um salto triplo mortal carpado. Até a própria ruiva tinha os olhos arregalados e tinha dado um pulinho pra longe de mim, me jogando para o lado de repente.

– Quem é? – ela perguntou, aumentando a voz na direção da porta.

– Parvati! – respondeu uma voz feminina. – Vim pegar suas anotações de Química, lembra? Você disse que podia me emprestar...

Gina deu um tapa na própria testa, como se não soubesse o que fazer.

– Gina? – Parvati a chamava do outro lado da porta. – Está tudo bem?

– TÁ – a ruiva levantou de onde estava e começou a andar em círculos. – Estou bem, só um minutinho, estou trocando de roupa.

Era só o que faltava para a noite acabar bem. Eu ser pego no dormitório feminino, o que era terminantemente proibido, ainda mais à noite, com Gina toda descabelada e nervosa daquele jeito.

– Se livra dela – sussurrei pra ruiva, levantando também.

– Hmm, ai, tudo bem – ela foi até sua mochila e pegou um caderno de ursinhos. – Vem aqui – ela me levou para trás da porta, de modo que Parvati não pudesse me ver no quarto quando ela a abrisse.

– Ai Gina, sério, obrigada mesmo – agradeceu a garota quando Gina a entregou o caderno. – Estou perdidona nas aulas do Seboso. Ninguém merece! Mal amado do cacete, né?

– Aham – as pernas da ruiva tremiam de nervoso, e isso foi tudo o que ela disse à outra menina.

Se a situação não fosse trágica, eu estaria me matando de rir. Sério.

– Bom, valeu mesmo. Isso aqui vai me salvar – disse Parvati, parecendo ir embora. – Ah, e pediram para avisar que a monitora vai passar de quarto em quarto daqui a uns cinco minutos, para ver se todas as garotas chegaram antes de fechar o prédio.

Puta. Que. Pariu.

Eu estava ferrado.

– Obrigada, Parvati – Gina sorriu. – Vou dar um jeito no quarto, está uma bagunça por aqui. Boa noite.

– Boa noite, Gina – se despediu a outra, e Gina pôde finalmente fechar a porta.

– Eu vou ser expulso! – sussurrei gritando.

Gina pegou meu rosto com as mãos.

– Calma, não vai não! Mas você tem que sair daqui. Agora.

– Como?!

Gina pensou um pouco. Sair pela porta da frente era uma hipótese ridícula. O corredor devia estar tomado de garotas.

– A janela – disse a ruiva. – Você não tem medo de altura, né?

Paralisei. Sempre via isso acontecendo nos filmes de comédia romântica, mas nunca achei que eu chegaria nesse ponto.

– Claro, a noite tinha que acabar com um cliché – eu sorri, derrotado, peguei meu boné em cima da cama e me dirigi à janela.

Não era tão alto assim. E tinha um monte de arbustos embaixo. Acho que estava salvo.

– Tchau – eu tomei a ruiva pela última vez e lhe dei um selinho demorado. – Até amanhã, se eu estiver vivo. E andando.

– Anda logo, para de drama! – Gina ia me empurrando do jeito que podia. – Você vai sobreviver.

Quando já estava pendurado apenas pelos braços no parapeito da janela, pude ouvi-la dizer alguma coisa.

– O que você disse? – eu não havia escutado direito.

– Hmm, eu disse... Boa noite, namorado.

Sorrindo, eu me larguei do parapeito e caí. Gina levou um susto, mas logo levantei e pisquei pra ela.

– Boa noite, namorada – disse mais para mim mesmo, mas acho que ela pôde ouvir.

Olhei para os lados, com medo que alguém tivesse visto a cena toda da janela. Aparentemente não havia ninguém por perto daquele lado do prédio, só mais à frente, onde ficava a entrada.

Bati um pouco nas minhas roupas, tentando tirar todo o resíduo e folhas e terra de cima de mim, e saí andando, como se fizesse isso o tempo todo. Do tipo:

Pfff, que nada. Pulo de janelas todas as segundas-feiras à noite. Você não? Você precisa sair mais, cara!

Porém, quando estava prestes a virar a lateral do prédio, quase levei a mim mesmo e a outra garota ao chão. Quando vi quem era, até fiquei aliviado.

– Hermione, você tá bem? – eu a segurei no lugar, mesmo que ela não fosse mais cair.

– Estou. Não aconteceu nada – ela deu aquele sorriso simples, mas que confortava. – Você não se machucou?

– Não, estou inteiro – arrumei o boné sobre os cabelos. – Eu queria mesmo te encontrar, o dia foi longo.

Ela, que aparentemente voltava da biblioteca, ajeitou a bolsa sobre o ombro e fixou o olhar no chão, o sorriso se esvaindo a cada respiração.

– É, foi longo mesmo – e suspirou, parecendo cansada. – Luna e Córmaco não largaram do meu pé o dia inteiro, não querendo me deixar triste. O que talvez eles não saibam é que tristeza não se escolhe e nem se atrasa. Quando ela vem, precisamos senti-la. E eu preferia fazer isso sozinha, como todas as outras coisas na minha vida. Mas quem disse que eles me deram ouvidos ou direito de opinar?

Fiquei olhando para ela, questionando a mim mesmo se Draco sentia-se do mesmo jeito. Provavelmente sim.

– Desculpa não ter vindo te ver antes – os olhos dela estavam um pouco vermelhos. – Mas com o que você disse agora, acho que o que você menos queria era mais gente na sua volta.

Ela fechou os olhos e sorriu minimamente. Porém sorriu.

– Não, você é diferente. Você me ajudou mais cedo, está sempre comigo, mesmo que não estejamos sempre colados um no outro. Eu não teria me importado de te ver.

Meu coração quebrou um pouquinho.

– Vem cá – eu a puxei para um abraço e afaguei seus cabelos. – As coisas vão melhorar, você vai ver.

– Não sei se quero que melhorem – disse ela, sincera. – Sei lá, acho que tudo o que eu quero agora é ter meu tempo sozinha, para não pensar mais nisso pelo menos por essa noite.

– Eu entendo – a soltei devagar e olhei para ela. – Vou deixar você entrar, então. Tente descansar.

– Tentarei – ela apertou meu ombro e deu um meio sorriso. – Boa noite, Theo.

– Boa noite, Hermione – eu fiquei a olhando traçar seu caminho até a entrada do prédio, até que não pude mais vê-la.

Tudo o que eu podia fazer depois disso era voltar para o prédio 6. Apesar de não poder ajudar muito no problema de Hermione, pelo menos meu dia havia rendido bastante.

Ao entrar pela porta e deixar a noite lá fora, eu subia as escadas até o saguão com algo bom dentro do peito. Mesmo estando a um tempo envolvido com Gina, eu nunca havia me sentido tão perto dela como hoje. E nem estou falando isso por causa dos amassos incríveis que nós demos um no outro, mas sim porque finalmente ela confiava em mim. Aquele receio todo havia ido embora, deixando só tranquilidade e um tanto de possibilidades que agora podiam ser exploradas.

O quarto estava vazio, mas acho que fiquei feliz por estar. Eu podia deitar na cama e ficar só pensando, sem ter que sustentar conversa ou as piadas horríveis dos garotos.

Tirei os tênis e deixei que minhas costas afundassem no colchão. A aba do boné tapou meus olhos, o que foi ótimo devido á luz do quarto castigar meus olhos quando eu olhava para o teto.

Respirei fundo. Eu tinha sorte. Eu estava feliz. Eu tinha uma namorada.

Foi dada uma batida na porta. Fiquei em silêncio. Minhas energias estavam esgotadas até para perguntar um “quem é?”. Se fosse importante, iriam bater de novo ou falariam alguma coisa.

Silêncio.

Perfeito, eu me fingiria de morto e tudo acabaria bem.

Bem até um barulho esquisito, porém baixo, ser captado pelos meus ouvidos.

Tirei o boné da cara e sentei na cama. Eu ainda estava sozinho no quarto. Comecei a olhar em volta, já pensando que o barulho poderia ter vindo da rua, quando meus olhos captaram algo no chão. Levantei e andei até lá.

Na minha frente, um envelope branco simples jazia parado. Só que dessa vez, ao contrário do recebido por Draco na noite anterior, era diferente.

Ele estava endereçado a Theodore Nott.


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Notas finais do capítulo

BOOOOOOOOM, esse final destruiu famílias hein?! kkkkkk
Me contem tuuuudo o que acharam, desde o ensaio até as sacanagens do casal que tanto amamos e torcemos!
Eu nunca me aventuro tanto assim em cenas sensuais, então deem um desconto se não ficou tudo isso. Um dia eu melhoro, kkkk.
Aguardo suas opiniões.
Beijos e queijos, Giu



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