A Little Help escrita por giuguadagnini


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Oi amorecos!
Como vocês estão?
Bom, desculpem a demora de duas semaninhas, é que eu estive um pouco fora do ar...
Hoje não vou enrolar muito. Este capítulo começa na mesma noite da briga do Draco e da Hermione.
Espero que curtam. Boa leitura *-*
P.S. Este aqui também é com uma música só!



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[Shattered - Trading Yesterday (Instrumental)]

Devia ser um pouco mais de uma da manhã quando escutei a porta do dormitório abrir e fechar com cuidado. Blaise e eu havíamos decidido dormir a alguns minutos, quando apagamos as luzes e ficamos em silêncio. Eu, ao contrário dele, escutei o barulho na porta, já que não estava roncando e babando no travesseiro.

Não me mexi, porque me sentia cansado. Draco que deitasse e não fizesse barulho. Eu realmente precisava de uma boa noite de sono depois de ter encontrado Gina mais cedo.

A todo o momento eu tinha a sensação de que meu peito se apertava, se enchia por completo de angustia e inquietação. Talvez fosse esse o motivo de ainda não ter pegado no sono. Flashes e mais flashes de ela chorando, me abraçando e pedindo desculpa preenchiam minha cabeça de segundo em segundo, o que não era nada bom.

Por muito tempo eu fiquei me sentindo mal por não poder acabar com aquele sofrimento dela, mas a real é que eu também estava chateado. Eu nunca, em toda minha vida escolar, tinha passado por uma situação como aquela, no refeitório. Nunca ninguém conseguiu colocar todo o corpo de alunos para rir de mim como o Potter havia feito, e não vou negar que isso me deixou realmente para baixo nos últimos dias.

A humilhação, a vergonha, o lembrete de todo mundo durante todos os dias, fazendo piadinhas, imitando violinos toda vez que passavam por mim... Olha, vou te dizer que foi um saco, mas a maneira com que Gina nem se importava em me olhar, em atender o telefone nas vezes que liguei ou até mesmo falar alguma coisa durante as aulas, quando passava por mim para se sentar no seu lugar, foi muito pior. Foi como se eu não existisse.

Pare de pensar nela, pelo amor de Deus! Ou simplesmente pare de pensar.

Eu tinha o direito de estar um pouco magoado. Eu tinha que ter!

Decidido, eu me concentrei em respirar fundo e me focar apenas naquilo, em somente escutar minha respiração indo e vindo. Contudo, meus ouvidos captaram mais alguma coisa:

Draco havia soluçado.

Abri os olhos, tentando escutar mais um pouco para ver se eu não havia me confundido com um som vindo do lado de fora da janela.

Aconteceu de novo, só que dessa vez com intervalos maiores entre um soluço e outro, como se ele estivesse tentando se controlar.

Virei-me entre os lençóis, tentando vê-lo. Draco estava deitado na cama, ainda com a roupa que havia saído mais cedo, para encontrar Hermione. Estava virado de lado, meio encolhido, olhando para a parede. Suas costas tremiam.

– Draco – eu sussurrei, sentando na cama, preocupado.

Ele soluçou mais uma vez, só que mais forte, como se ouvir minha voz chamando por ele fosse algo que pioraria a situação, sendo ela qual fosse.

– Ei cara, o que aconteceu? – falei baixinho, para não correr o risco de acordar Blaise. Fui levantando da cama, mas Draco fez um sinal com a mão, para que eu parasse.

– Não é nada. Volte a dormir – ele falou com a voz embargada. – Sério, volte pra cama.

Concordei, mas também não disse nada. Ele certamente não sentia vontade de falar sobre aquilo, ainda mais há essa hora, com Blaise roncando ao lado. Deitei novamente a cabeça no travesseiro, tentando relaxar. Eu faria com que ele me contasse durante o dia.

Alguns minutos se passaram e eu finalmente havia conseguido ter meu momento de descanso, mas não pensei que iria acordar várias vezes durante a noite. Eu praticamente despertava de duas em duas horas, o que de jeito nenhum me dava conforto.

Quando pensei que finalmente tinha engatado em um sono só, o despertador tocou, o que me deixou pra lá de incomodado. Eu mal havia aberto os olhos e já estava puto. Esperei que alguém desligasse, mas aquela merda ficou berrando sozinha por quase um minuto até eu perceber que eu mesmo teria de desativá-la.

O quarto estava vazio, a não ser por mim. As camas de Draco e Blaise ainda estavam desarrumadas, o que me fez deduzir que os dois haviam ido tomar banho ou algo do tipo.

Com preguiça, eu levantei e fui me arrastando até o outro canto do quarto, onde aquela sirene dos bombeiros em forma de um reloginho praticamente se esgoelava de tanto gritar. Dei um tapão em cima dele, o que resultou em um silêncio quase que sepulcral.

Respirei fundo. Eu ainda tinha um longo dia pela frente, e simplesmente me negava a começar desse jeito, como se minha única vontade fosse voltar para a cama e dormir até o fim do século. Não que isso não fosse verdade, mas qual é? Iniciar o dia de mau humor não era comigo.

Peguei uma toalha e rumei para o banheiro, onde tomei uma ducha rápida. Quando voltei ao dormitório, Blaise e Draco já estavam lá.

– Bom dia meus amores – eu adentrei ao quarto só de toalha, com os braços para cima, como se fosse uma alegria imensa poder vê-los.

Blaise riu e fingiu uma cara maliciosa.

– Já disse que você tem que levar sua roupa para o banheiro, docinho – ele brincou. – Você assim, só de toalha, me faz sentir calor.

– Eu sei – eu pisquei pra ele, entrando na brincadeira. – Eu faço isso só pra te provocar, delícia!

Nós dois começamos a rir, e só então notei que Draco estava muito quieto. Ele estava terminando de arrumar o edredom na cama e, pelo jeito, não estava a fim de papo.

– Ei... Draco – eu o chamei.

– Quê? – ele havia terminado de botar umas roupas amassadas em seu cesto de roupa suja e já estava colocando a mochila por cima do ombro.

– O que você tem, cara?

Ele apenas me olhou, e então saiu do quarto, sem dizer uma mísera palavra.

Me virei para Blaise.

– Nem adianta me olhar desse jeito – disse ele, colocando um livro de biologia dentro da sua mochila. – Eu estou tão por fora quanto você. Também tentei conversar e ele me respondeu com o mínimo de sílabas possível.

Suspirei, me sentindo meio impotente.

– Alguma coisa aconteceu – declarei.

– E a gente não vai saber tão cedo – Blaise tratou de completar. – Você sabe como é o Draco. Ele vai guardar para si mesmo até sentir vontade de explodir.

– O que deve ser logo – eu fui até meu armário, para separar uma roupa. – Você viu o estado dele?

Blaise concordou com a cabeça, mas não disse mais nada também. Tratei de me vestir o mais rápido possível, porque queria chegar a tempo para o café da manhã.

Quinze minutos mais tarde eu já estava servindo meu prato com ovos mexidos e dois croissants salgados, colocando ao lado na bandeja um copo de suco de laranja bem cheio.

Olhando para os lados, eu tentei achar uma mesa com pessoas conhecidas – já que não via Draco em lugar nenhum -, e acabei por encontrar Hermione e Luna em uma mais ao fundo. Rumei para lá, equilibrando tudo na bandeja.

– Bom dia, senhoritas – eu puxei uma cadeira e me juntei a elas.

– Tem certeza de que é mesmo um bom dia? – Hermione encarava seu prato de cereal quase como se tivesse vontade de jogá-lo do outro lado do refeitório.

Busquei o olhar de Luna, que balançava a cabeça em negativa ao mesmo tempo em que revirava os olhos para cima, como se achasse tudo aquilo um exagero.

– Puxa vida, viu – eu mordi meu croissant. – O que tá havendo? Surto de mau humor? Acho que isso é contagioso.

– Como assim? – Hermione virou o rosto para mim, mas ela não estava com uma cara de quem realmente se importasse com aquilo.

– O seu namorado, que acordou com o pé esquerdo hoje – eu levantei o rosto para olhá-la, e em seguida notei que eu não devia ter dito aquilo daquele jeito.

– Ele. Não. É. Meu. Namorado. – sibilou ela, pausadamente.

Franzindo o cenho, eu voltei a olhar para Luna, que dizia claramente que eu devia parar de falar, que não era uma boa ideia insistir no assunto.

O clima ali estava bem mais pesado do que eu poderia imaginar. Voltei a comer, em silêncio. Algumas mordidas depois, notei que Luna estava olhando para algum ponto atrás de mim, e fazia um gesto com a mão para que quem quer que fosse, se aproximasse. Virei para trás e encontrei Blaise e Draco, os dois meio perdidos no meio do refeitório.

Blaise veio até nós no momento em que nos viu, mas Draco continuou lá, parado, apenas olhando para nossa mesa – mais especificamente para Hermione, que estava observando alguma coisa pela janela.

Fiquei olhando para ele, até que ele desviou os olhos até mim.

– Vem pra cá, cara! – eu fiz o mesmo sinal que Luna havia feito antes, pedindo que ele se aproximasse também.

Ele olhou para sua bandeja, para os dois lados e, dando um suspiro que parecia esbanjar derrota, veio caminhando até a mesa. Puxei uma cadeira para ele, do meu lado, e Draco sentou, mas parecia mais desconfortável ali do que se eu o tivesse jogado dentro de um tanque cheio de tubarões.

Puta que pariu, o que estava acontecendo com esses dois?

– Ei pessoal – eu ouvi a voz de Pansy. – Como vocês estão? – ela largou a bandeja em cima da mesa e falou um pouco mais baixinho depois: - Para com isso Gina, senta aqui com a gente.

Só então que eu parei de olhar para Draco e Hermione e a notei ali, bem atrás de Pansy. Gina parecia muito introvertida, como se não quisesse estar ali. Pansy, com toda a certeza, tinha a arrastado até nossa mesa.

– Senta aí, menina – ela deu uma puxadinha na manga do casaco que Gina usava, enquanto Blaise puxava uma cadeira para ela, tentando ajudar. Notei que ela tinha feito uma trança lateral no cabelo, meio solta. O cabelo dela ficava legal daquele jeito, não escondia o rosto.

Gina sentou e... olhou para mim. Isso havia sido raro nos últimos dias. Sustentei seu olhar por alguns segundos e, então, com um misto de vergonha ou sei lá o quê, peguei meu copo de suco e tomei quase até a metade. Ela tratou de se distrair com as torradas que trazia no seu prato, provavelmente se sentindo um tanto quanto deslocada, assim como eu.

A mesa estava em completo silêncio, se você descontasse os barulhos de garfos batendo nos pratos e os sons de mastigação. Era quase como se a mesa de café da manhã fosse um campo de guerra muito frágil, e ninguém se arriscava a falar nada para não vir a destruir com tudo.

Draco estava muito reto na cadeira, o que claramente indicava que ele estava tenso. Em qualquer outro dia, ele estaria mais jogado, com a postura mais largada e as pernas mais abertas. Agora não, ele não parava de tremê-las de propósito, de cima para baixo, como se estivesse nervoso.

Hermione havia pescado sua bolsa e fingia estar procurando algo realmente importante, embora eu soubesse que ela só estava fazendo aquilo porque queria ter um motivo para não olhar diretamente para Draco. Só faltava ela enfiar a cara lá dentro para se esconder.

Eu também não podia falar nada, porque estava com tanta vontade de desaparecer quanto eles dois. Acho que Gina também se sentia assim, pois de vez em quando me olhava um pouquinho e depois desviava os olhos para o centro da mesa, onde não tinha absolutamente nada.

Os únicos normais naquela mesa eram Pansy, Luna e Blaise, que comiam como se nada estivesse acontecendo, principalmente esses dois últimos, que ofereciam comida na boca um do outro e trocavam sorrisos toda vez que se olhavam.

– ATCHIM!

Todo mundo levou um susto.

Pansy estava assustada.

– Que isso, gente? – ela deu um meio sorriso. - Ninguém pode mais espirrar, não? Por acaso estamos fazendo o jogo do silêncio?

Blaise começou a rir, e não tenho certeza do por que, mas eu estava tão tenso que ri também. O resto da mesa apenas trocou sorrisos, o que não chegou a durar muito, já que o clima estava tão pesado que era praticamente impossível mudar tão drasticamente com apenas um espirro.

Aos poucos o tempo foi passando, o que significava que teríamos de ir para as aulas. Assim que o primeiro sinal tocou, Draco nem quis saber de esperar. Ele levantou feito um raio e saiu do refeitório a passos largos, sem dizer nada. Hermione o observou o tempo todo, e ela não parecia de jeito nenhum estar numa boa com aquilo.

– Estamos indo também – Blaise levantou e colocou a bolsa de Luna sobre os ombros. – Até mais, galera! Ah, Nott... temos ensaio hoje, depois das aulas.

– Ensaio? – minhas sobrancelhas se enrugaram.

– O show de talentos, panaca! – ele deu um tapão na minha nuca. – Vê se não esquece, hein. Foi uma luta conseguir reservar a sala de espelhos para treinarmos.

– Ah tá – eu lembrei que havia aceitado participar, ainda meio lerdo. – Mas e o Draco? Ele já está sabendo?

– Não, mas eu dou meu jeito de avisar – Blaise pegou a mão de Luna, que havia levantado da mesa naquele segundo, e foi se afastando com ela. – Tenham um bom dia, meus queridos!

Restavam Hermione, Pansy, Gina e eu na mesa. Todas elas estavam muito quietas. Então, percebendo que eu estava sobrando ali, eu me pus de pé.

– Estou indo – eu coloquei a cadeira no lugar.

– Vou com você – Hermione levantou também, levando a bolsa consigo.

Enquanto esperava que ela chegasse ao meu lado, direcionei meu olhar para Gina e... ela já estava me olhando. Ficamos assim por um tempo e, quando senti Hermione me puxar pelo pulso, dizendo que o segundo sinal já iria tocar e que chegaríamos atrasados, eu desviei os olhos e segui em frente.

Quando chegamos ao corredor, notei que Hermione ainda estava estranha.

– É impressão minha ou você e Draco não estão mais juntos?

– É impressão minha ou eu posso fazer a mesma pergunta para você, em relação à Gina? – Hermione rebateu, virando o rosto para me olhar.

Estreitei os olhos para ela, que me deu uma cutucada na costela.

– Hein? – ela quis saber.

– Eu perguntei primeiro – me defendi, levantando o rosto para intimidá-la.

– E eu em segundo, mas isso não significa que seja menos importante – ela levantou o rosto também, arqueando a sobrancelha ao mesmo tempo.

Seguimos caminhando, alguns segundos de silêncio intercalavam nossos passos.

– Não – ela acabou respondendo, vendo que eu não daria o braço a torcer. – Não estamos.

– É uma boa hora para eu perguntar o porquê?

– Definitivamente não – ela riu, mas de um jeito meio triste. – E quanto a você? Digo... a vocês dois?

– Eu não sei – foi o que eu murmurei, e era essa realmente a verdade. Eu não sabia, e tinha medo de acabar descobrindo.

– - -

Algumas horas mais tarde, Blaise, Draco e eu já estávamos na sala de espelhos, prontos para começar o ensaio.

Preciso destacar que Blaise estava com uma faixa amarela na cabeça, daquelas de ginástica, e eu não conseguia me concentrar em nada do que ele falava, principalmente por ele estar totalmente empolgado e falando uma coisa atrás da outra, tudo de um jeito muito rápido.

Draco havia tirado a jaqueta de couro e estava sentado, encostado na parede, olhando para seu reflexo no espelho. Mas ele não parecia estar se admirando, muito pelo contrário! Ele estava se encarando, como que tentando enxergar seus defeitos mais íntimos, mesmo que vendo apenas a parte de fora de si mesmo.

– EEEEEEEI – Blaise começou a bater palmas na frente do nosso rosto. – Por acaso vocês ouviram uma palavra do que eu disse?

– Alguma coisa sobre usar várias roupas... – disse o Draco, revirando os olhos. – Sério, nós temos mesmo que fazer isso?

– Como assim, criatura? – Blaise colocou as mãos na cintura, o que, junto com aquela faixa amarela na cabeça, não contava muito para o padrão másculo. – Você estava todo animado há uns dias... O que há de errado contigo?

– Nada – ele se pôs de pé. – Vamos ensaiar, então.

Draco definitivamente não estava com pique para sair dançando, mas fez aquilo apenas para mudar de assunto. Ele não diria o que estava acontecendo, pelo menos não naquele momento.

Acabamos optando pela música mais ridícula, mas a ideia que Blaise havia tido não era das piores. Começamos a ensaiar, pensando em que movimentos seriam mais legais e como deveríamos usar o palco ao nosso favor.

– Você precisa se soltar mais, Draco – disse Blaise. – Tá todo duro, sem ginga.

– Foi mal se eu não sou a Beyoncé – disse Draco, irritado.

Os minutos foram passando, acertávamos algumas coisas e nos enrolávamos em outras. E claro, o humor de Draco ia piorando gradativamente.

– Se vocês acham que eu vou conseguir rebolar desse jeito, podem tirar o unicórnio da chuva. Eu me recuso!

– Mas vai ficar hilário – eu sorri, tentando imaginar a cena vista do público.

– Vão é rir da gente!

– Exatamente! – interviu Blaise. – É pra ser divertido.

– Divertido pra quem? – Draco jogou os braços para cima e foi até onde havia deixado sua jaqueta. – Pra mim já chega.

– Como assim? – foi a minha vez de me irritar. – Você está mesmo desistindo desse jeito? Qual é a sua? Acha mesmo que...

Blaise me interrompeu, colocando o braço na minha frente, como se fosse necessário me parar.

– Acho melhor encerrarmos por hoje – disse ele, tirando a faixa da cabeça ao mesmo tempo em que revezava o olhar entre mim e Draco. – Continuamos amanhã, no mesmo horário.

Draco nos deu um último olhar e saiu da sala, assim como havia feito mais cedo, no café da manhã.

– Ele tem que parar de fugir da gente, Blaise – eu o ajudei a guardar o equipamento de som no lugar. – Estou falando sério!

– Eu sei. E até iria atrás dele agora, tentar fazer com que ele botasse pra fora, mas prometi a Luna que iria encontra-la para tomar um café e ajudar a decidir a decoração do show...

– Tudo bem – eu peguei meu casaco. – Aproveite seu encontro e deixe o Draco comigo.

Blaise sorriu.

– Valeu irmão – ele bateu a mão na minha e me deu um abraço daqueles rápidos, que mais se parecem com um choque de peitoral. – Fico te devendo uma.

Apressado, eu saí da sala de espelhos e fui procurar por Draco. Andei por cerca de vinte minutos, cruzei o campus de um lado para o outro, fui até o dormitório e simplesmente nada dele.

Quando comecei a pensar em desistir, em apenas deitar na minha cama e apagar, notei uma coisa: o cesto de roupas sujas. O de Draco não estava mais lá.

Peguei o meu, que só tinha duas cuecas, uma camiseta e alguns pares de meias e saí do quarto, rumando para a lavanderia. Cada prédio tinha a sua, equipada com várias máquinas de lavar e secar.

Assim que cheguei, notei Draco, que estava de costas, apoiado em uma das máquinas. Ele parecia instável, com a cabeça baixa e o corpo cansado. Não havia mais ninguém lá.

– Certo, está na hora de lavar a roupa suja – eu falei, o que foi meio cômico, já que podia ser interpretado tanto como aquela expressão famosa – como a que diz “vamos botar tudo em pratos limpos” – quanto podia não significar absolutamente nada, como se eu quisesse apenas lavar minhas roupas.

Draco se assustou. Ele se virou para ver quem era e notei que seus olhos pareciam um pouco inchados.

– Então é pra cá que você vem quando tem vontade de fugir? – perguntei, abrindo uma máquina e jogando minhas cuecas e meias brancas lá dentro.

– Sabe como é... – ele enrolou. – Cheiro de sabão em pó me acalma.

Ri. Se ele estava fazendo piada, era porque não queria que eu sumisse de lá.

– E do que exatamente você está precisando se acalmar? – eu me aproximei dele, me encostando à máquina de lavar ao seu lado.

– Da vida.

Suspirei. Quanto drama.

– Daria para você ser um pouquinho mais específico?

– Tudo bem, vejamos... – ele deu um impulso e sentou em cima da máquina. – Você quer a verdade?

– Não. Minta para mim – eu fiz uma cara óbvia.

Draco sorriu com o canto da boca, olhando para baixo, e quando voltou a me observar, ele parecia realmente pronto para falar.

– Meus pais estão se separando, mas isso ainda é um segredo, já que a imagem da família é tudo o que ainda temos. Recentemente descobri que meu pai bate na minha mãe quando eu não estou por perto, e que com certeza ele tem outra mulher, pois sempre chega tarde em casa e dá a desculpa do trabalho. Tenho um casamento no sábado, no qual eu convidei uma menina que eu mal conheço para ir comigo, pelo mesmo motivo de imagem. Não convidei Hermione para não ter de passar vergonha com os meus pais. Não por ela, mas por eles. Acho que se ela os conhecesse, terminaria comigo na hora. E bem, isso fez com que brigássemos, porque eu praticamente disse que ela não era bonita o suficiente para ir comigo a esse casamento e conhecer meus pais, enquanto a mensagem que eu queria passar não era essa. Você sabe como eu me enrolo nas palavras. Agora ela acabou comigo. Ou pelo menos não está falando mais comigo, porque não dá para acabar algo que nunca começou. Eu nem cheguei a pedir em namoro...

Meus olhos estavam arregalados. Foi como se eu tivesse levado dezessete tapas na cara, um atrás do outro.

– Está bom para você? – indagou Draco, descendo da máquina.

Como eu não disse nada por alguns segundos, ele começou a andar em volta das máquinas de secar, que ficavam no meio da lavanderia. Ele estava praticamente andando em círculos.

– Eu sou um desastre – murmurou ele, dando um chute em uma delas. – Um completo desastre.

Acordei do transe em que havia me metido. Eu precisava falar alguma coisa.

– Draco, eu... eu nunca imaginaria nada assim.

– Eu sei – disse ele, ainda andando na volta das máquinas. – Eu consigo esconder as coisas muito bem. Aprendi com os melhores, não é? – ele sorriu, triste. Draco colocou as mãos no bolso da calça, mas isso mais parecia um jeito de se encolher a meu ver. – Pois é, bem vindo à família Malfoy, irmão.

A máquina de lavar parou, indicando que o trabalho já havia acabado. Draco permanecia parado, olhando para o chão. Eu nem sabia o que dizer.

Foi então que eu vi os lábios dele se comprimindo, os ombros ficando tensos e a testa se enrugando. Eu nunca o tinha visto desse jeito, nem mesmo ontem à noite. Nunca havia presenciado uma lágrima no rosto dele, um sinal de fraqueza ou fragilidade.

Draco não era a pedra que eu pensava.

– Vem cá, cara – eu andei até ele, que permanecia onde estava. – Se deixe ficar triste, pelo amor de Deus. Pare de fingir. Comigo você pode.

Draco soluçou forte, o rosto foi ficando vermelho. E então, finalmente, ele estava chorando, explodindo, se deixando cair no chão enquanto sentava. Sentei com ele e apenas fiquei ali, dando o maior apoio que eu podia.

– Nunca mais guarde tudo isso para você – eu coloquei a mão sobre seus ombros. – Até parece que você não confia na gente, Draco. Eu e o Blaise somos praticamente seus irmãos. Comece a ser um ser humano. Eles choram, sabia? E isso é mais do que normal.

O gesto foi quase que imperceptível, mas ele fez que sim com a cabeça. O puxei para cima de mim, para poder abraça-lo, e me surpreendi ao ver que ele não estava protestando nem nada.

Eu o deixei chorar, porque era isso que eu iria querer fazer no lugar dele. Apenas fiquei lá, ao lado dele, e isso pareceu ser o suficiente quando ele murmurou:

– Conta para alguém que você me viu chorando que eu arranco as suas bolas.

Ri, dando um tapa na orelha dele.

– Viu? Você já está voltando ao normal!


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Ficou bastante sentimental, talvez até um pouco de mais, hahaha.
Mas acho importante mostrar esse lado mais profundo de vez em quando. Vocês curtem capítulos assim?
Hmmm, o que vocês acham que eles irão fazer para o show de talentos? Alguém se arrisca a chutar?
Bem, vou ficando por aqui.
MAAAAAS antes eu tenho que dizer BEM VINDA DE VOLTA MARI! Estava com saudade dos seus comentários em A Little Help!
E por falar em comentários, estamos em 194 reviews. Será que conseguimos ultrapassar os 200 para o próximo capítulo?
Bom, isso é com vocês, hahaha.
Me contem o que acharam, se algo não lhes agradou ou se por acaso acharam algum errinho de português... Escrever de madrugada dá nisso, kkkkkk.
Um grande beijo e vejo vocês no próximo! ♥
P.S. Olha, até que a montagem do final não ficou tão ruim, hein! Estou melhorando nisso. Gostaram?