A cafeteira estava quase que com todas as suas mesas ocupadas naquele dia e Ja.y sorriu enquanto tomava o último gole do seu cappuccino antes de se levantar e levando o seu violão, que momentos antes ocupava a outra cadeira da mesa a qual estava sentada.

Sextas era o seu dia favorito, logo sendo seguido pelo sábado. Eram os dias em que ela se apresentava ali. Era um público pequeno e a maioria nem sequer lhe dirigia um olhar enquanto estava cantando, mas todos os melhores músicos precisavam começar de algum lugar, não é? Próximo ao balcão de atendimento havia um banquinho já colocado especialmente para ela, onde ela se sentou e arrumou o violão sobre sua coxa direta e dedilhou sobre as cordas com leveza, apenas para ter certeza que o instrumento estava afinado. Ela lançou um olhar ao salão abarrotado de clientes, mas apenas meia dúzia a olhava com curiosidade para saber o que ela faria ali. Ela dirigiu um sorriso simples para essas pessoas antes de começar a assobiar uma melodia que andava muito popular por aqueles dias. As notas começaram tímidas, mas aos poucos conforme as pessoas mais próximas a ela silenciavam, as mesas mais afastadas podiam ouvir e também se calavam. A maioria dos clientes começaram a prestar atenção quando reconheceram a letra que a garota cantava.

Ni nuneul bomyon

Nan Trouble Maker

Ni gyote somyeon

Nan Trouble Maker

Um belo sorriso surgiu nos lábios da garota ao ver que conseguira a atenção da maioria das pessoas que estavam no estabelecimento no momento, e então ela fechou os olhos, deixando que a canção a levasse.

Desde pequena Jae Young amava cantar, inicialmente apenas para seus familiares, depois para seus amigos e finalmente para quem quisesse ouvir. Ela nunca tinha sido do tipo que tivesse constrangimento em lidar com o público e por isso suas performances eram cheias de naturalidade. Seu maior prazer era cantar e atingir as pessoas com sua voz, fazer as pessoas sorrirem com sua música, e mesmo que cantasse para uma ou duas pessoas apenas a ouvirem, ela estaria já estaria contente.

Ni ipsureul tto humchigo                                

Molli daranaboryo

Nan Trou-ah-ah-ah-ble

Trouble

Trou-Trouble Maker

Jae Young sequer cobrava para o dono do estabelecimento deixá-la tocar ali, na verdade, era ela quem quase havia implorado por uma chance para cantar. Embora ela desejasse de toda a alma ser uma cantora, era difícil conseguir um emprego nesse ramo a não ser que se tenha contatos para ser produzida por uma grande gravadora, ou tivesse a sorte de ser descoberta por alguma pessoa com os contatos certo. Infelizmente para ela, ela não tinha nenhum dos dois. Por isso ela se virava da maneira que conseguia.

O estabelecimento não possuía equipamento de som e muito menos microfone, mas aquilo não era problema algum para Jae Young. Sua voz era forte e controlada e conseguia fazer até mesmo as pessoas que sentavam mais ao fundo escutar sua voz.

O lugar permaneceu imerso no silêncio enquanto ela cantava, todos pareciam até mesmo hipnotizados pela voz da garota e embora ainda estivesse com seus olhos fechados, ela tinha completa noção de que toda a atenção estava voltada para si e exatamente por isso que ela não se descuidou para errar uma nota ou tom.

Quando a música chegou ao fim, o silêncio seguiu-se por mais dois segundos até que alguém começou a bater palmas, timidamente, mas logo foi seguida por uma grande maioria das pessoas.

Jae Young levantou-se num pulo e curvou-se completamente numa mesura em agradecimento, antes de voltar para a sua mesa com um grande sorriso nos lábios. Com certeza, não havia sentimento melhor do que aquele para ela. Ela recolocou seu violão na cadeira à frente da sua com cuidado e então tomou seu lugar. Mexeu no copo de café que estava bebendo minutos antes e um pequeno suspiro de frustração escapou de seus lábios pintados de rosa ao lembrar-se que o líquido já havia acabado. Estava a meio movimento de erguer o braço para chamar uma das garçonetes para lhe trazerem outro cappuccino quando alguém parou ao lado de sua mesa. Ela ergueu rosto confusa para o homem de meia idade parado ao seu lado.

- Sim? – ela perguntou ao ver que o homem não parecia que iniciaria aquela conversa. Ela já tinha uma vaga idéia do que ele poderia querer.

- Você tem uma voz muito boa, ahn... – ele deixou a frase no ar, e Ja.y entendeu que ele queria saber como chamá-la.

- Kim Jae Young.

- Kim Jae Young. – ele repetiu e sem pedir licença para algum dos ocupantes da mesa ao lado da sua, ele puxou uma cadeira vazia para se sentar com ela.

A garota não conteve um franzir de sobrancelhas ao vê-lo fazer aquilo, mas nada disse.

- Tem uma ótima voz. Você fez aulas?

- Quando eu tinha 12 anos, mas eu fiz por pouco tempo e larguei. – respondeu com sinceridade.

- Imagino que queira ser uma cantora. – ele sugeriu.

Ela riu.

- É o que parece, não é? – apesar da ironia em seu tom, não havia malícia, muito embora ela sempre acabasse irritando aqui por seu constante sarcasmo.

- Entendo. – o homem mexeu no paletó do terno que parecia bem caro e tirou um cartão do bolso interno, o qual deslizou pela mesa até ficar na frente da garota. Os olhos da garota se alargaram ao ler “Chief Executive Officer” sob o nome do homem. Ao lado havia o emblema de uma gravadora, mas no momento ela não conseguiu lembrar-se qual era. Ela encarou o homem com incredulidade, duvidando de que aquilo podia ser real. Ele apenas continuou a falar como se a reação da menina não o surpreender-se. – Você sabe dançar, Jae Young?

- Sei. Quer dizer, eu sei um pouco. Eu sei algumas coreografias, mas eu não danço tão bem assim. – ela respondeu com um nervosismo aparente na voz. Era verdade que sabia algumas coreografias que acabava aprendendo após assistir tantas vezes as performances, mas não significava que ela era uma boa dançarina.

O homem riu do nervosismo dela. Provavelmente já estava acostumado a esse tipo de reação.

- Você é muito bonita, Jae Young, tem uma ótima voz. Dançar... – ele fez um aceno com a mão, como se essa não fosse uma questão com a qual ela devesse se preocupar. – Nós podemos te ensinar.

Jae Young mordeu o lábio inferior, perguntando-se se não estava sonhando. Ou se aquela não era uma brincadeira muito cruel de algum dos seus amigos.

- Você pode fazer melhor do que cantar em lanchonetes. – o homem continuou diante do silêncio da jovem. Ele puxou de volta o cartão que permanecia na mesa e tirou uma caneta de seu bolso, anotando alguma coisa no pequeno pedaço de papel e devolveu a ela. – Pense nisso, e caso você queira aprender a dançar, venha me ver.

Ela pegou o cartão dessa vez e olhou o que ele havia escrito. Era um endereço.

Da J.Tune Entertainment.

Aquilo parecia mentira. Ela já havia tentando audições para a SM e a Cube, mas sua falta de habilidade na dança nunca a havia levado longe. E agora ela estava sendo convidada para ser trainee da J.Tune, sem nem mesmo ter feito uma audição.

Os devaneios da garota foram interrompidos quando o homem levantou-se para ir embora. Num impulso ela levantou-se junto, chamando a atenção dele, e de algumas pessoas que estavam em volta dos dois.

- Eu quero aprender a dançar. – ela não precisava de tempo nenhum para pensar sobre aquilo, ela tinha certeza.

- Apareça amanhã nesse endereço, então. – o homem sorriu. – Vou pedir pra que preparem um contrato para você.