Chicago Softcore escrita por KingTrick


Capítulo 3
Capítulo 3




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Acordei na segunda-feira me sentindo muito bem. Levantei antes do despertador tocar e tomei banho, coloquei o uniforme e fui até a cozinha tomar café. Lawrence estava lá, uma xícara na mão e o cabelo bagunçado.

- Oi.

- Oi - Ele nem virou para me olhar. Peguei uma maçã e uma faca e me sentei ao seu lado na mesa.

- Por que escreveu aquilo, Lawrence? - Comecei a tirar a casca da maçã e cortá-la em diversos pedaços.

- Sei lá... E-eu queria falar com você, mas você não tinha voltado...

- Quer falar agora?

- Quando você voltar da escola. A gente vai ter mais tempo - Ele levantou e me deu um beijo na bochecha antes de sair da cozinha. Toda aquela nova intimidade ainda era estranha, mas agora eu sentia que tinha que ajudá-lo.Terminei a maçã e voltei para o quarto. Arrumei minha mochila, coloquei meu boné na cabeça e saí para a escola. Ainda estava adiantado.

Cheguei e, como Joe demoraria a aparecer, fui até a biblioteca. Fazia tempo que eu não saboreava um bom livro. Dan estava lá no balcão e acenou para mim assim que entrei. Estranhei a presença dele lá, mas me aproximei e sorri de volta.

- Olá, Patrick. Procurando alguma coisa especial?

- Só queria achar alguma coisa boa pra passar o tempo. O que faz aqui, Dan?

- Bom, nossa bibliotecária está doente, então vou ter que assumir daqui pra frente. Se bem que...

- Se bem que?

- Patrick, o que acha do trabalho de bibliotecário por meio período? 

Meu queixo foi ao chão. Sim, eu adorava a biblioteca. Era o único lugar da escola que prestava, mas trabalhar lá? Wow. Não era uma coisa que eu havia planejado.

- E-eu hm...

- Filho, é só por um tempo, está bem? E não é tão ruim. Você vem à tarde e fica até as cinco e eu aumento sua média em qualquer matéria. Que tal? Hein?

- Bom, eu... Ai, Dan. Tá, eu pego.

- Bom menino.

- Vou poder faltar detenção? Quer dizer, se eu tiver... Algum dia...

- Tá. Fechado então? Você começa amanhã.

- Fechado.

O sinal, pontual como sempre, tocou às sete e meia em ponto. Dan me entregou as chaves da biblioteca e eu saí correndo para a sala. No corredor para a minha sala, vi Pete. Ele acenou para mim e eu apenas fiquei lá parado sorrindo feito um idiota. Joe me acordou pra realidade e entramos. Sentamos nas mesmas cadeiras de sempre e esperamos para a aula de Física começar. Não era minha matéria preferida, mas era uma das únidas aulas que eu prestava atenção. Joe dormiu duas vezes e não foi pego. Sortudo.

A aula terminou e Massucco entrou. Como eu detesto esse homem! Ele chegou cheio de marra e parecia que tinha levado uns bons socos na cara. Eu queria sair dali e jogar xadrez com o Dan, mas não queria desapontá-lo. Fiquei e tentei prestar atenção no que o babaca dizia. Joe dormiu mais uma vez e não escapou: Uma semana de detenção. Não se brinca com o Massucco. Nunca.

Saímos para a cantina no segundo em que o sinal tocou. Pete estava no corredor e sorriu para mim. Eu sabia que tinha que ficar consolando Joe, mas não resisti e fui até ele. 

- Oi...

- Oi.

- Olha, sobre ontem: Eu queria... - Ele agarrou meus braços e me deu um selinho. Acho que eu apaguei por alguns segundos.

- Acho que a gente devia namorar. Tipo, a partir de agora. Pisquei algumas muitas vezes e sorri, tentando antender o que ele tinha dito. Aquilo não podia estar acontecendo.

- C-c-claro - Ele me deu outro selinho e segurou a minha mão, me fazendo corar. Caminhamos de mãos dadas até a cantina.

Joe tinha sentado em uma mesa bem no centro do saguão e, como eu já tinha minha maçã em mãos, deixei Pete pegar o prato dele e fui até lá. Ele até que não estava tão mal como eu pensava. A família dele era daquele tipo judaico-psicopata e toda vez que alguma coisa ruim acontecia, por menor que fosse, jogavam o pobre Joe na fogueira. Essa era apenas a quarta ou quinta detenção da vida dele, que nem se comparava às minhas 25, só naquele mês. Já tive que ficar até às oito da noite na escola. Não foi um dia feliz.

Pete chegou com sua bandeija e eu quase vomitei com o cheiro da pizza. Fazia quase dois meses que eu não comia queijo.

- O que aconteceu?

- Joe pegou uma semana. A mãe dele vai surtar!

- Uma semana? Pelo que?

- Dormir na aula de história.

- Vocês ainda tem aula com o Massucco, né? Ainda bem que eu me livrei desse idiota.

- Sortudo.

- É... Ai, vocês estão livres nessa sexta?

- Hm, Dan quer que eu fique na biblioteca por um tempo, até nossa bibliotecária voltar...

- Ah, e no sábado?

- Eu tô livre, eu acho.

- Eu não... - Joe bateu a cabeça na mesa tão forte que a bandeija de Pete pulou.

- Eu tava pensando em ensaiarmos na minha casa... Sabe, vai ter um festival ai e eu tava pensando em inscrever a gente. 

- Eu tô dentro. Joe, se quizer, eu falo pra sua mãe que temos que fazer uma trabalho e sei lá, qualquer coisa. E ai?

- Tá...

- Então tá certo. Vou falar com o Andy.

O sinal tocou de novo e voltamos para a sala. Era o tempo de educação física e Dan apareceu com panfletos de diversos clubes que se instalariam na escola até encontrarmos um professor substituto. Joe se alistou no clube de xadrez e no de debates apenas porque 90% dos que participam disso são judeus. E garotas. Saímos 50 minutos mais cedo e fui andando para casa. Quando cheguei, Lawrence estava vendo desenho na sala e não tinha nenhum sinal da minha mãe ou do pai dele. Deixei minha mochila no quarto e voltei para a sala, me sentando no sofá com ele. 

- Saiu mais cedo?

- Não temos mais professor de educação física.

- Eles foram no mercado.

- Tá.

- É...

- Sabe, eu tenho uma banda.

- Com aquele judeuzinho?

- É, ele mesmo. Vamos ensaiar no sábado.

- Legal, cara.

- É... Ai, sobre o que queria falar comigo?

- Bom... - Ele desligou a tv e tirou o celular do bolso. Ficou mexendo no aparelho por um tempo e depois o deu pra mim - Isso.

Na tela, uma foto de um garoto branco, olhos verdes e cabelo tingido de vermelho-fogo, sorrindo ao de Lawrence, que, pelos cachos dourados caídos sobre os ombros e o piercing no septo, tinha, no máximo, 17. Analisei o rosto dele e toda a situação e devolvi o telefone, um sorriso se formando em mim.

- Piercing, sério?

- Cala a boca. Na época era legal... Mas não é isso.

- Eu sei, é o cara - Ele corou um pouco e voltou a guardar o celular no bolso - Ficha completa, por favor.

- O nome dele é Scott. 23. Estudamos no colegial. Ele toca piano.

- Legal... E ai?

- Dois meses depois de começarmos a sair, meu pai descobriu e... - Opa, William, o que fez com seu filho?

- E...

- E ele... Bom, ele não gostou muito de saber que eu saía com um cara e, tipo, me proibiu de vê-lo. Quer dizer, não de vê-lo, só de tocá-lo e conversar com ele...

- Velho, sério, seu pai é um babaca.

- Não fala assim... 

- E como ficaram vocês?

- Ah, a gente continuou a se ver por um tempo, mas ele teve que se mudar pra San Diego depois da formatura e nós meio que terminamos.

- E... - Eu queria chegar logo na parte interessante para fazer os pensamentos de esganar William passarem - Continua.

- Ele... Ele meio que voltou pra Chicago. Um lance de trabalho ou algo assim... Ai, umas semanas atrás ele ligou pra mim e, meio que a gente voltou, eu acho.

- Isso... Isso é ótimo, né? Qual o problema?

- O problema que papai vai surtar outra vez quando ele descobrir e ele vai descobrir, porque eu não vou namorar escondido.

Ri da última parte, mas ele não achou muito engraçado, então me recompus. Ele estava com medo do pai não aceitá-lo de novo. O que, do jeito que ele ama me ver falar do Pete, é bem provável. Conversamos um pouco mais e eu contei pra ele do beijo na festa. Conversar com ele não era tão difícil quando tínhamos realmente o que falar. Nossos pais chegaram ao meio-dia e decidimos conversar mais depois. Com certeza, aquele assunto não iria parar por ai.


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