A chuva estava forte e assustadora nas ruas de Londres, a população escondia-se em casa, orando para que a chuva não atingisse sua moradia. Acredite se quiser, mas naquela época as pessoas se importavam mais com os móveis da casa, quando pediam a defesa da mesma, do que com a própria vida e a de seus familiares. Existiam aqueles que arriscavam andar nas ruas, às vezes por necessidade de buscar algum ente querido, às vezes por pura adrenalina, outras vezes, aproveitando que a cidade está deserta, fugiam para o mais longe possível. É claro que poucos destes sobreviviam às chamadas "Cachoeiras celestes". Dos que buscavam seus entes, achavam-nos mortos, e logo se juntavam a eles. Dos radicais, sobreviviam ao seu modo. Os moradores de rua, pobres coitados... E então os "fugitivos", ah, os fugitivos... 

Mesmo com todo esse alvoroço todo, a enorme catedral subterrânea mantia-se silenciosa, não se ouvia uma gota sequer. Os bancos de madeira polida estavam ocupados completamente por damas vestidas com um vestido vermelho berrante, que refletia nas paredes da catedral. Eram mulheres, em sua maioria, de pele imensamente branca, e cabelos pretos, que usavam, além do vestido, um pequeno enfeite no cabelo, e um batom em seus lábios carnudos, ambos vermelhos berrantes, como o vestido. Todas estavam sentadas eretas, sem expressão facial, com as mãos sobre as pernas, sem se movimentar. 

E então, quebrando o silêncio, um barulho de saltos pisando no solo de vidro. Uma senhora, de cabelos grisalhos, mas vestida igualmente às outras. Ela passou por entre os bancos, e posicionou-se sobre o palco, bem ao meio. Instantaneamente, quando se virou, todas as mulheres se levantaram de uma vez só.

A senhora colocou as mãos atrás das costas, pigarreou e então pronunciou em voz alta:

- Olá, Roses.