Inconsequente

Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por quê

Será que não sei o por quê? Ou o por quê seria a resposta que não gostaria de ouvir? O sono já se foi e com ele as lágrimas partiram deixando apenas  os questionamentos.

Chego a ter vergonha dos meus questinamentos , mas se meus  questionamentos me assombram ao ponto de serem meus fantasmas, me conduzem ao desespero e neste caminho me perco.

A noite é muito longa,
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer.

As tentações me assediam, e fazem que me corpo não responda mais por minhas vontades, então faço coisas que não queria fazer e nem creio que fiz logo após  ter cometido.

Será que alguma coisa,
Nisso tudo, faz sentido?
A vida é sempre um risco,
Eu tenho medo (do perigo).

Este medo me satifaz por um momento, me deixa eufórico, até a noite me abandonar , e só me resta a ilusão, fico como um bebê que depois de uma noite inteira de prazer e bom sonho acorda sem sua chupeta e chora.

È quando os primeiros sinais da realidade invadem minha alma  me mostrando que por todo este tempo estive sozinho, o dia chega e tudo parece ter voltado ao normal, as pessoas, o clima, a casa. Menos eu e menos nós.

Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê

A chuva como cúmplice de meu pecado, me prende dentro de um lugar que não me pertence, fazendo que as horas passem, que os momentos não passem,  que meus questionamentos aumentem, me atormentem  e que você... ahhh você....meu cúmplice maior, inconsiente e inconsequente, fica ali, preso, me observando. Não sabendo do que fiz, não querendo ter feito, mas tendo gostado, sei que gostou  e por isso sorri.

Da madrugada o que me restou foram as lembranças daquela gotas que desciam pela janela, e seu sorriso timido adormecido aprovando um ato que eu jamais aprovaria.

O mundo é muito injusto
Eu dou plantão nos meus problemas
Que eu quero esquecer

A realidade é dura. Ao ver que tinha tudo e ao mesmo tempo nada, sou obrigado concordar com a verdade, que nada passou de uma brincadeira minha. Porque inconciente como estava e inconsequente como sou penso em cada uma das vezes que ja fiz a mesma coisa. E como se conta carneiros para adormecer, eu tento esquecer até que o destino me proporcione novamente a mesma situação. Eu, você, a madrugada inteira, a insônia e a chuva que não deixa de cair.

Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos este instante

Nem que me amarrassem e eu  adormecesse,  como algumas vezes adormeci, mas sempre  acordo  no meio da longa noite que não passa enquanto não acordo, e a chuva não para enquanto eu nao enlouqueço, e o dia que não vem enquanto não mergulho nas minha vontades e volto a adormecer transformando minhas vontades em sonhos.

Até quando serei levado pelos meus desejos? Como explicar para mim mesmo que é errado, e como explicar para você que nada sabe, mas tudo sente? Por que não ouço sua voz, mas seu corpo, como sinal de seus desejos, me soam mais alto que um imenso grito e seu suor se pinta aos meus olhos como cada lágrima que derramei por ti.

Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto

Vou correndo contra as horas, para satisfazer minhas vontades, e transcorro meus dedos por caminhos prazerosos, e as horas vão, e escuto os primeiros sinais de intrusos que insistem em afogar meus desejos. E como o tempo não para, o dia vem chegando. Seu corpo palpitando por entre meus dedos, fazem com que eu queira mais e mais, mais uma vez, mais uma hora, mais um toque e cada vez mais forte e profundo, mais quente, com mais suor e com mais vontade, inconciente está você. Será? Inconsequente sou eu que insito em fazer sempre, de novo. Deixando aos demais que repartem a mesma habitação no suspense e na curiosidade, porque nada restou senão ... o cheiro do pecado no ar.