Só de pensar em trabalho todo dia de manhã, me dá vontade de vomitar.

Ver aquele nojento novamente, sorrindo sarcásticamente para nós também. Mas a esposa dele até que não era tão ruim quanto ele. Eu nunca soube o nome verdadeiro dela, mas todos a chamavam de Eiko-sama. Ela quase nunca aparecia e eu só a conhecia de vista. Mas, pelos olhares que ela lançava para nós, ela tinha pena. Eiko não podia fazer nada por causa de seu marido idiota. Nossas acomodações?

Eu morei por dez anos em um quarto cheio de feno apertado com outros 20 monstros. Beleza. E eu também dormia em um beliche super desconfortável com muito feno. Fazia muito tempo que um novo monstro não entrava para o circo, então eu conhecia todos os meus semelhantes. Assim que eu me sentei na ponta da beliche, Asaye Minazuki apareceu de surpresa. Asaye era a garota que dormia na cama acima da da minha, e era ótima em cuidar de machucados. Sempre que alguém chegava depois dela, lá ia Asaye passar um remédio, colocar curativos e tal. Mas nem ela consegiu dar um jeito nas chicotadas do dono do circo.

- ULQUIIII!!!! - Ela berrou ao me ver. Levei um leve susto, mas já estava acostumado com os ataques de Asaye.

- Oi, Asa-san... - Falei, sério.

- Hoje você demorou - Asaye disse, se sentando ao meu lado - O Cara te machucou de novo?

Fiz com a cabeça que sim. Asaye puxou o meu casaco, deixando minhas novas marcas à mostra.

- Deus... - Ela disse - Esses machucados são graves... O que ele fez, te esfaqueou?!

- Não... - Falei - Ele usou o chicote mesmo, bêbado de novo

- Ulqui, tem um machucado aqui que está me preocupando. Está sangrando muito e parece que a sua pele foi fateada

" Merda " pensei " Ele pegou pesado novamente... ".

- Você consegue dar um jeito? - Perguntei, me virando.

- Eu até posso, mas vai ser difícil - Asaye respondeu - Vai doer um pouco...

- Eu fiquei dez anos aguentando chicotadas, uma dorzinha de nada não deve ser tão rui...

Quando Asaye começou a passar o primeiro (!!!) remédio eu empalideci. Tinha esquecido o quanto aquilo doía. Me controlei para não emitir um som. " Calma... Calma... ULQUIORRA! " Pensei " ULQUIORRA SCHIFFER!! Deixa de ser idiota! Pensa em outra coisa! ". Olhei para a única janela do quarto apertado e vi o público do dia. A primeira coisa que eu vi foi uma garota ruiva com cabelos mais claros e lisos e olhos cinzentos. Ela usava um vestido rosa e parecia estar perdida. Paralisei quando vi.

- Ulqui... - Asaye parou - O que houve?

Continuei paralisado.

- Ulqui... Você está me assustando... O que foi?!

- Ah... - Acordei - N-Não foi nada

Aquela garota consegiu me surpreender. Ela era muito... Muito... Perfeita. Ela ia me assistir no show... Corei um pouco ao pensar nisso. Essa garota ia me ver sendo humilhado? E talvez fosse rir disso? " Eu sou um fracasso " pensei. Asaye continuou jogando remédio nas minhas costas. De repente, o Haruhiro, outro monstro, veio até nós.

- Gente, é melhor se arrumarem - Ele disse, um pouco esbaforido - É a nossa vez