POV Leticia

Quando abri os olhos de novo já estava de manhã. E meu pai estava sentado na cadeira da qual Jess levantara e saíra correndo. Ele estava me chamando.

- Pai,não quero ir ao colégio hoje tá? – eu disse olhando para ele.

Pelo menos foi o que eu tentei dizer. Não estou bem certa de que foram essas palavras que meu pai ouviu, por que o som que saiu da minha boca não parecia nada com isso.

Em vez de discutir comigo, porém, papai levantou a mão à boca e começou a chorar. Foi quando notei que ele não era a única pessoa no quarto além de mim. Atrás dele estavam Jess e algumas pessoas de jaleco branco que eu nunca vira antes.

- Leth. – disse Jess, tentando parecer feliz, sem sucesso. Diga-se de passagem. – Hã... Você sabe quem nós somos?

Êpa. O que quer que eu tenha feito para ir parar no hospital deve ter sido sério mesmo.

- Hã, sei – respondi- Você é Jessica Mastrianni, uma das minhas melhores amigas. E ele é Henri Pazin, meu pai.

Parece que eu não falei de forma tão clara, pois assim que pronunciei aquelas palavras Jessica se virou para olhar a janela, e meu pai continuou a chorar, baixinho.

Nesse meio tempo, um cara de jaleco branco se aproximou de mim e se apresentou.

- Sou o doutor Holcomb, Ana Leticia.

- Ah – respondi – por que minha voz está tão estranha?

Dr. Holcomb pegou uma lanterna e acendeu nos meus olhos.

- Você está sentindo alguma dor? – ele quis saber.

Eu não sabia ao certo se ele estava ignorando a minha pergunta ou se apenas não havia entendido.

Uma mulher de jaleco e cabelo preto preso em um coque disse:

- Sou a Dra. Higgins. Você pode mexer os dedos dos pés para mim, Ana Leticia?

Foi difícil – eu ainda estava muito cansada -, e não consegui, fiquei assustada.

- O que aconteceu comigo? – perguntei

- Você pode acompanhar o meu dedo com os olhos, Ana Leticia? – pediu o Dr. Holcomb. – Não mexa a cabeça. Apenas acompanhe com os olhos.

- Você consegue apertar a minha mão, Ana Leticia? – perguntou a Dra. Higgins.

Eu fiz o que ela pediu.

Sério – eu falei agora irritada – Eu perdi muitas aulas? Estou matriculada em todas as aulas de programa avançado, é muito difícil recuperar.

- Já vamos falar sobre isso – respondeu o Dr. Holcomb, desligando a lanterna – Só que mais tarde, Ana Leticia.

- Leth – corrigi – me chame de Leth.

- Claro, por que você não dorme um pouco? Está tudo bem por aqui, não se preocupe. – ele disse sorrindo.

A médica de coque mexeu em alguns fios e eu fiquei com mais sono ainda. Então, fechei os olhos para tirar mais uma soneca.

E, quando acordei de novo, já era noite e três meninas estavam em pé diante de mim.

- Ah Então você acordou. – disse Jen quando notou que eu estava olhando para ela.

Então elas sorriram.

As máquinas ao lado da minha cama começaram a apitar LOUCAMENTE no ritmo dos meus batimentos cardíacos.

- Ah, não - disse Jess enquanto olhava para a máquina – será que a gente fez alguma coisa?

- AAAAH MENINAS! FINALMENTE EU PUDE VER VOCÊS. ALGUÉM ACENDE A LUZ PRECISO VER COMO VOCÊS ESTÃO – eu disse animada.

Alguém acendeu a luz, logo reconheci Clarisse, loira e baixinha.

- Nossa Jess, você tá com uma roupa normal hoje. Até que enfim. – eu disse rindo.

- É claro, não é você que anda sendo perseguida por paparazzis dia e noite. – ela disse irritada. – Culpa do Harry, né.

- O que ele fez que eu não estou sabendo? – eu digo curiosa

- Ah, nada demais ele só se declarou para mim em um programa de TV, aí mostraram uma foto minha e dele, daquele dia da praia saindo, horríveis. A partir daí eu estou me vestindo bem. – ela disse, como se isso fosse a pior coisa do mundo.

- Você está melhor Leth? – disse Clarisse pegando em minha mão. – o Liam mandou um beijo, daqui a uma semana ele volta.

- Estou melhor sim, o que aconteceu comigo? – eu disse intrigada.

Elas se olharam, Jessica foi para a janela, como que se quisesse evitar aquele momento, Clarisse abaixou a cabeça e ficou passando a mão nos meus cabelos. Por fim Jen falou:

- Você foi atropelada, disseram que você praticamente foi jogada para cima. Na hora o Liam a levou no hospital, e avisou a todos. Você ficou em coma por uma semana, no dia que eles foram embarcar para os Estados Unidos o Liam não queria sair de jeito nenhum daqui do hospital, perto de você. Ele fala que a culpa é dele. Ele só saiu quando eu, Jesse e Clarisse prometemos ficar aqui grudadas em você, todo dia depois de escola.

- É, essa está sendo nossa vida a uma semana, aí você acordou. – disse Jessica se virando da janela – quando eu liguei para o Liam, contando que você tinha acordado, ele estava praticamente morrendo, falando que precisa ver você.

- Ah meu Deus! Mas o Liam não tem culpa de nada, o que eu não entendo é: por que minhas pernas não estão se movendo? Parece que elas estão cansadas, não sinto nada. – eu disse duvidosa.

Ouvi um som de fungado vindo de Clarisse, Jessica só ficou parada me olhando triste e Jen estava praticamente abrindo um berreiro.

- Eu não sei se a gente pode te dar essa notícia. – disse Clarisse olhando para o chão.

- O negócio é o seguinte Leticia – disse Jen olhando para a parede, a coisa estava séria para ela me chamar pelo nome, e não pelo apelido. – Depois que você sofreu o acidente, sua vida ficou por um fio, então para te salvar, você perdeu os movimentos nas pernas.

- Você está dizendo que eu sou paraplégica? – eu disse horrorizada, agora eu estava abrindo um berreiro. – EU NÃO POSSO MAIS ANDAR É ISSO? – ninguém me respondeu, elas nem me olharam. – HEIN? ME RESPONDAM É ISSO MESMO, VOU ANDAR DE CADEIRA DE RODAS DAQUI A FRENTE?

- É Leth é isso aí mesmo. – disse Jen – você não pode mais andar, e não sente nada em suas pernas. O médico disse que vai ser difícil você recuperar os movimentos, mas tudo é possível. A gente tentou de tudo, de tudo mesmo. Você não tem noção de quanto nós estávamos sofrendo com isso, e ainda estamos.

- AI MEU DEUS EU NÃO ACREDITO NISSO – eu digo gritando e chorando, muito. – NÃO PODE SER PELO O AMOR DE DEUS EU NÃO QUERO ISSO.

Jessica correu pelo quarto e me abraçou, muito forte e ficava repetindo ‘’calma, vai ficar tudo bem’’ ‘’você vai melhorar’’. Jen e Clarisse vieram em seguida, todas abraçadas.

- NÃO VOU FICAR CALMA, NÃO VAI FICAR TUDO BEM. EU NUNCA MAIS VOU ANDAR. COM CERTEZA O LIAM NÃO VAI QUERER UMA MENINA ASSIM – eu paro por um instante. – ALEIJADA, É ISTO QUE SOU AGORA.

Jessica se afastou por um instante, olhou para mim assustada, não estava chorando, mas parecia muito assustada.

- Letica, por que você não dorme um pouco? – ela disse, parecia a menos abalada sobre tal situação – vai ficar tudo bem, eu prometo. Você quer que eu cante para você?

Alguém apagou as luzes, e ela começou a cantar, bem baixinho I wish, mexendo em meu cabelo, alguém estava segurando a minha mão direita. Aos poucos, fui me acalmando, e logo adormeci.