Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 7
Capítulo 7




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Erick estava todo lambuzado de sorvete, eu tentei limpar sua boca, mas Edward deteve meu gesto.

–É inútil, ele vai se sujar de novo assim que você terminar de limpá-lo.

Eu afastei o pano dele, enquanto Erick, presunçoso, sorria seu sorriso meio desdentado.

–Quanto vai ganhar por esse dente, Erick? – Jacob perguntou afagando os cabelos do meu irmãozinho.

Erick se contraiu com o gesto e balançou a cabeça furiosamente, espirrando calda de morango em mim e em Edward que estava do outro lado dele. Eu olhei feio para meu irmãozinho, mas ele abriu seu sorriso cândido e eu tive que sorrir para ele também, meu coração enchendo de amor por aquele garotinho.

–Ela está bem?

Olhei surpresa para Jacob, parecia que havia algo de errado com aquele diálogo. Ele não devia sugerir uma quantidade em dinheiro pelo dente de meu irmão? Ou tudo era fruto da minha imaginação? E por que a voz dele estava tão… feminina?

–Eu não sei, ela parou de delirar, e isso é bom.

Agora era Erick que falava, sua voz grave, madura de mais para um garotinho de apenas seis anos. O que estava acontecendo ali?

–O que aconteceu com ela? – Jacob perguntou com a mesma voz feminina e errada. Tudo estava errado.

–Ela se machucou enquanto eu tentava fugir da linha de fogo.

Bem, pelo menos a voz de Edward estava certa, embora eu ainda não gostasse daquele tom de cansaço e ódio que pairava sobre ela.

–Você devia ter deixado ela para trás. Eles a matariam e nem perceberiam em quem estavam atirando – Jacob sugeriu friamente.

–Atira antes, pergunta depois – Erick falou irritado.

–Isso seria desumano – Edward falou bravo.

Bem, pelo menos aquilo não tinha mudado também: Edward continuava a não se dar bem com Jacob.

–E trazê-la para cá é bem humano – Jacob provocou – Aliás, o que pretende fazer com ela? Não pode deixá-la trancada em um quarto para sempre!

Trancada num quarto? Aquilo parecia familiar, pobre garotinha, devia ser horrível ficar presa dentro de um quarto, um dia inteiro sem nada para fazer. Mas eu parei de sentir pena dela e continuei prestando atenção naquela louca conversa. Talvez, em algum momento, eu entendesse por que tudo estava tão confuso.

–Eu não pretendo deixá-la no quarto para sempre – Edward devolveu – Eu vou contar a verdade a ela, mas para isso preciso dela acordada.

–Que idéia brilhante – provocou Jacob. Ele estava muito petulante ultimamente – É claro que ela vai vir para o nosso lado, afinal ela não tem nem sequer noção do que está acontecendo de verdade. Coitadinha, ela é uma pobre e inocente moça.

–Ela não é má – berrou Edward furioso.

–O noivo dela está metido nisso até a cabeça e você acha que ela não tem nada a ver com isso? Ela tentou te entregar para a polícia e você acha que ela não sabe de nada? Acorda Edward, essa garota não é inocente, há mais sangue nas mãos dela do que nas mãos de quem matou seus pais.

–Cala a boca – berrou Edward.

Eu olhei espantada para ele, ele parecia bem calmo ao lado de Erick, na verdade ele sorria enquanto enrolava os pequenos cachos de meu irmão no seu dedo mindinho, mas eu sabia, pelo seu berro, que ele estava prestes a perder o controle.

–Saiam daqui vocês dois – Erick mandou imperiosamente – Estão atrapalhando a menina, ela precisa de paz para se recuperar.

–Ou o senhor precisa de silêncio para descobrir o que ela tem – Edward revidou, malcriado.

–Eu não sei o que ela tem, você está certo – Erick concordou com cansaço e vergonha – Mas eu não sou médico, sou apenas um enfermeiro, não sei de tudo…

Naquele momento meu cérebro prometeu explodir, a confusão dançando sobre ele, pisoteando o pobrezinho.

–Fiquem quietos – eu resmunguei debilmente.

Como por um milagre, o silêncio surgiu, dando fim àquela intranqüila tarde na sorveteria.


Meu nariz franziu com o cheiro de remédio e soro, minha garganta estava seca, um gosto ruim de álcool impregnava minha língua, entretanto não era nada com que eu não pudesse lidar, eu estava acostumada com o cheiro, meu pai sempre vinha para casa com aquele cheiro, e se eu me esforçasse, poderia até mesmo decifrar quais remédios impregnavam aquele ar.

Estava em um tipo de hospital, não era preciso ser gênio para saber, nem se quer precisava abrir os olhos. Mas eu o fiz. Não havia muita luz, o que condizia com minha idéia de um hospital. Fui, então, tomada por uma indizível emoção. Talvez eu finalmente tivesse saído do covil dos anarquistas, talvez eu estivesse com Jacob, talvez…

E o terror me inundou quando eu entendi que, se estava num hospital, isso significava que Jacob me encontrara e, por conseqüência, achara Edward.

–Não – eu balbuciei sem ar.

Ignorando toda minha tontura, eu sentei no colchão fino e fechei os olhos, tentando me controlar. Duas mãos grandes e pesadas repousaram nos meus ombros, tentando me pôr deitada novamente, mas eu me sacolejei para me livrar delas.

–Não me toque – eu pedi ainda de olhos fechados.

Momentos antes meu corpo ansiara por aquele toque, quisera desesperadamente os braços de Jacob ao meu redor, entretanto a consciência de que Edward estava preso mudara tudo. Eu sentia nojo de mim mesma por aquilo.

A pessoa me obedeceu, soltando meus ombros. Mas me desobedeceu quando seus dedos passaram pelo meu rosto, deixando um rastro molhado por onde passava e um cheiro de remédio que ardeu nas minhas narinas. Ao mesmo tempo em que eu abria meus olhos, minha mão se ergueu para afastar aquela mão molhada do meu rosto.

Todavia meu gesto parou pela metade quando eu reconheci quem me tocava.

–A… Edward? O que…?

Senti meu queixo cair, olhei ao redor, procurando Jacob. Eu tinha tanta certeza que ele estaria ali, sentado ao meu lado, me esperando acordar. Mas, além do homem ruivo ao meu lado, não havia mais ninguém.

–Edward! – eu repeti.

Uma risada beirando histeria irrompeu pela minha boca, uma risada quase desvairada, e antes que um comando racional fosse dado eu me pus de pé com rapidez e o abracei, feliz pelo milagre que era sua presença ali. Ele não correspondeu meu abraço, atordoado de mais com minha atitude. Sua imobilidade me trouxe a razão e eu me separei dele rapidamente, meu rosto corando enquanto meu riso sumia, a vergonha brotando em meu ser e extravasando em meu olhar.

–Desculpa – eu pedi abaixando a cabeça.

–Tudo… tudo bem – ele gaguejou, a voz tensa – Você está bem?

Eu sabia que ele perguntava pelo meu estado físico. Só aquilo podia lhe interessar, e não minha mente conturbada e em guerra que me impedia de raciocinar direito. Respirei fundo, tentando apagar meus últimos pensamentos, tentando esconder de mim mesma a verdade que borbulhava no meu sangue e que eu escondera por tanto tempo. Por que nunca aquela verdade deveria ser proferida por lábios humanos. Era errado.

Em silêncio, tentei colocar alguma ordem na minha cabeça, mas não há como ter uma ordem numa guerra, eu sabia disso mais do que ninguém, numa guerra os lados adversários se misturam quando um batalhão busca destruir o outro, uma dança de cores e sangue surgindo enquanto eles se enfrentam, se consomem… Sem entender bem por que, me lembrei de uma frase de Shakespeare que marcara minha adolescência: “Estas paixões violentas têm fins violentos, como fogo e pólvora que, num beijo, se consomem.” Na guerra da minha cabeça, os dois lados se misturavam naquela dança atormentadora e morriam, consumidos por seu ódio e por sua determinação.

–Bella?

A voz dele me trouxe de volta a realidade, o tom irritado havia diminuído, mas ainda estava lá, seus olhos profundos eram misteriosos, me escondendo a profundidade de seu sentimento e o caráter dele, embora eu pudesse supor qual era: ódio.

–Estou bem, um pouco dura por ter ficado na maca, mas não sinto mais dor. Nem enjôo. O que os médicos disseram que eu tenho? – perguntei, mais uma vez olhando ao meu redor e esperando uma enfermeira entrar com um pacote de remédios para que eu tomasse.

Ele não me respondeu, seu silêncio estranho sugerindo desconforto. Eu o encarei, buscando o motivo de seu desconforto, ele ficou levemente ruborizado, a pele dourada se parecendo um pouco mais com seus cabelos ruivos.

–Bella, você não está em um hospital.

–Não? Mas onde eu estou? – aquilo parecia muito com uma sala de hospital.

–Está… – ele hesitou, a mão jogando os cabelos para trás até que ele escolheu uma resposta apropriada – Está na enfermaria, eu tive que te tirar do quarto e te trazer para cá quando você vomitou sangue.

A lembrança me inundou: minhas mãos vermelhas de sangue, brilhando naquele quarto sujo, a sopa no chão, a fúria nos olhos profundos de Edward enquanto meu rosto latejava…

–Você me bateu! – eu exclamei surpresa, meus olhos ficando arregalados.

–Sim, mas você que começou – ele se defendeu com simplicidade – Por sua causa eu quase fui preso, por minha causa você quase morreu. Então acho que estamos quites.

–Me desculpa Edward… – eu comecei, até que entendi suas palavras – Como assim eu quase morri por sua causa?

–Digamos que eu tive alguns problemas enquanto eu tentava te livrar dos cachorros que apareceram na sua casa. Por isso você passou mal. Mas agora já está tudo certo com você, um dos nossos cuidou de você, descobriu por que você vomitou sangue e conseguiu dar fim a sua hemorragia interna. Então, acho que está tudo bem, a não ser que você sinta alguma dor – e me olhou sugestivamente, esperando que eu revelasse alguma dor.

Porém eu estava pensando no que ele me dissera, tentando entender exatamente suas palavras. Supus que os “cachorros” de que ele falara eram os policiais que invadiram minha casa, isso dava mais sentindo a sua história. Não conseguia imaginar quais problemas ele poderia ter tido enquanto me tirava dali, minha fuga havia sido planejada, os policias deixariam que eu escapasse. Deixei aquela dúvida para mais tarde, me concentrando no meu diagnóstico: hemorragia interna. Aquilo não era nada bom, meu pai sempre dizia que uma hemorragia, por mais pequena que fosse, podia facilmente derrubar um soldado do primeiro escalão.

–Certeza que estancou a hemorragia? – eu perguntei, pela primeira vez tocando meu corpo na busca de algum sinal de dor.

–Certeza.

Enquanto ele repetia que o médico deles cuidara de mim da maneira correta, eu descobri uma cicatriz sobre minha roupa fina de hospital (na verdade uma camisola quase transparente). Toquei a região, percebendo que a cicatriz cortava quase toda a parte da frente da minha barriga, no sentido horizontal, um pouco acima do meu umbigo. Senti vontade de vê-la, mas para isso precisaria levantar a barra da camisola e eu não faria isso na frente de um homem. Na verdade, provavelmente não faria isso nem na frente de uma mulher, nunca senti vontade de mostrar meu corpo para alguém, sempre tive dificuldade com decotes exagerados, mini-saias e micro shorts. Edward parara de falar e olhava meu exame, os olhos fixos no movimento das minhas mãos, vez ou outra procurando no meu rosto inexpressivo o que eu pensava.

Quando percebi que ele olhava para minhas mãos, que no momento estavam fechadas na região da cicatriz, eu as separei e as coloquei cada uma do lado do meu corpo. Ele piscou os olhos com meu gesto brusco, ficou desconfortável e me deu as costas, escondendo qualquer coisa que se passava em seu rosto quadrado.

–Então, estamos quites? – eu perguntei.

Não estava interessada na resposta, eu não me sentia quite com ele, na verdade eu sentia que aquela cicatriz só simbolizava uma diferença ainda maior entre nós: ele me levara de casa tentando me proteger, ele perdoara minha traição para poder me salvar, e depois buscara uma cura quando me viu doente. E o que eu tinha feito em troca? A resposta, ou só a simples sombra dela, deixava bem claro como nós estávamos em patamares distantes da escada da justiça. Eu jamais conseguiria ficar quite com ele.

Mas eu precisava ouvir sua voz, ela sempre teve uma propriedade mágica sobre mim: me acalmava, me aquecia, fazendo meu coração bater mais forte, mais saudável. Mais feliz. Meus melhores momentos, a alegria suprema era sempre com ele. Assim como minha dor suprema.

Me contraí com a lembrança, minha respiração sumindo por alguns segundos. Esse era outro fator que jamais permitiria que fossemos quites: nunca eu faria algo que causasse a mesma dor nele como ele causou em mim. Não que isso justificasse meus atos, agora eu via isso, ele ser um assassino ou não, não justificava eu ser uma traidora ou uma mentirosa. Um erro jamais justificava outro, era uma das lições mais antigas que eu conhecia, que eu ensinara a Erick quando ele agira de um modo parecido com o meu naqueles últimos dias.

Lembrei com clareza o dia que ele chegou, os olhos brilhando de uma ferocidade que eu jamais vira em seu rosto cândido. Ele puxara a barra da minha blusa e mostrara dois lacinhos cor-de-rosa com alguns fios cacheados de cabelo castanho, dizendo que os tomara de Frida quando a menina não estava olhando. Eu sabia da implicância de Frida com meu irmãozinho, muitas vezes eu tive que intervir e chamar a atenção da menininha para que ela deixasse meu irmão em paz, mas não defendi a atitude de Erick, pelo contrário, o peguei nos braços e disse que o erro dela nunca justificaria a atitude dele. Uma pessoa melhor não era aquela que devolvia na mesma moeda, não importando o quanto o outro provocara, uma pessoa melhor era aquela que tomava para si o peso dos seus atos. E Erick foi até a casa de Frida, devolveu os lacinho e jamais fez aquilo de novo.

–Sim, estamos quites – Edward concordou me tirando de minhas lembranças

–Posso voltar para casa? – perguntei sem esperança, certa que ele negaria.

–Está insultando minha inteligência – ele disse com sarcasmo – Acha mesmo que eu vou te libertar para você contar a eles onde eu estou?

–Não, mas eu não podia deixar de tentar, quem sabe você não teria um minuto de insanidade…

Aquela conversa brincalhona nos fez sorrir. Eu não estava acostumada com seu sarcasmo tão evidente, ele só o usava quando se dirigia a Jacob, mas nós sempre brincávamos, e aquilo me era familiar. A lembrança do meu melhor amigo.

–Bella, se eu tivesse um momento de insanidade eu não o usaria para te tirar daqui.

Um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto cansado, ele ergueu a mão e tocou minha face machucada, seus dedos fazendo uma pressão dolorida no meu machucado, com um toque gentil afastei sua mão do meu rosto, a mão em concha tapando meu ferimento.

–Você é delicado como um urso – eu provoquei sorrindo.

–Nem todos têm o toque de fada seu.

–Claro que não, isso tem que estar no sangue, vem de família – e eu parei de sorrir pensando em quem me ensinara a ser delicada.

–Bella, precisamos falar sobre sua família – ele disse com sua voz cuidadosa e fria. A voz que eu odiava.

–Eu não quero…

–Mas Bella…

–Eu não quero! – berrei saindo da maca e ficando de pé.

É claro que eu devia ter pensado antes de fazer aquilo. Tinha saído de uma cirurgia depois de ficar horas deitada, meu equilíbrio estava tão fragilizado quanto meu estômago vazio, mas a dor tirou minha razão e me ergui, meu corpo tombando em seguida, ele não esperou eu restabelecer meu equilíbrio, estendeu os braços ao meu redor e me trouxe para junto de seu corpo, os pés firmes no chão, a estabilidade que qualquer um invejaria. Meu corpo não reclamou quando sentiu seu corpo forte e quente me envolver. Na verdade ele simplesmente amoleceu, radiando felicidade por encontrar o calor de outro corpo. Com Jacob nunca havia toque, nunca havia abraços demorados, era tudo muito sério, muito respeitoso… Eu nunca pensei que precisaria daquilo.

Mas o corpo de Edward junto ao meu mostrou que eu estava enganada, eu queria calor, queria proteção, queria…

E estremeci quando meus pensamentos se finalizaram no meu maior segredo.

Não, eu não podia pensar naquilo.

–Eu não quero falar sobre eles. Eu não agüento falar sobre isso – eu sussurrei contra seu peito.

Ele me abraçou com mais força, não ajudando em nada a manter meus pensamentos em ordem.

–Acho que você deve falar, ficar guardando as coisas dentro de si não é uma das coisas mais inteligentes do mundo – ele contestou, as mãos mexendo em meus cabelos úmidos de suor – Eu quero te ouvir, quero ouvir seus pensamentos, sua dor. Compartilhe isso comigo e deixe que eu compartilhe meu lado da história com você. Por favor Bella…

Eu me separei dele. A voz dele voltara ao tom antigo, meio brincalhão, meio doce, terno e baixo, trazendo um jorro de lembranças à minha cabeça.

–Como vai seu grupo de anarquistas? – eu soltei meio irritada – Eles concordam com minha presença aqui?

O rosto dele endureceu com a pergunta, os lábios se comprimindo em fúria.

–Você realmente sabe ser desagradável – ele revidou irritado.

–Você é que está sendo desagradável. Fez sua escolha…

–Não antes de você fazer a sua – ele lembrou acidamente.

–Sim, mas eu respeito isso – e levantei a mão direita, a aliança dourada brilhando na fraca luz da sala – E você?

Nós dois olhamos ao mesmo tempo para sua mão esquerda, onde um anel prateado com pequenas flores num cinza escuro repousava imperiosamente, o anel símbolo dos anarquistas.

–Nós dois fizemos escolhas sem volta na vida – ele disse baixinho.

–Mas minha família não devia ter morrido por isso.

Dei as costas para ele e fui até uma cadeira, desabando nela, minha cabeça enterrada nas minhas mãos enquanto lágrimas rolavam no meu rosto.

–Bella, não fui eu, você tem que acreditar. As coisas não são como você pensa, o mundo real é absurdamente diferente do que você imagina.

–Eu não sou idiota, Edward, eu não fico sentada dentro de quatro paredes sonhando com um mundo melhor. Eu sei qual é a realidade…

–Não sabe – ele interrompeu bravo – Você não tem a mínima idéia. Você não sabe o que é Concluán, não sabe da barreira, não sabe das fábricas de mineração…

–Concluán é a prisão de segurança máxima do nosso governo. Para lá vão os piores tipos de homens que pisaram no nosso país – eu comecei a explicar desafiadoramente – A barreira foi uma criação feita para impedir que estrangeiro entre e invadam nosso país e para finalizar as fábricas de mineração… Bem, eu não sei sobre elas, mas com certeza foi alguma coisa criada para melhorar nosso país. Como pode ver, eu não sou tão desinformada assim.

Mas ele sorria, como se minhas palavras fossem exatamente o que ele queria ouvir.

–Concluán é a cópia de um campo de extermínio nazista no nosso país, a barreira foi feita para impedir que as pessoas vissem o que realmente acontece nesse país e as fábricas, localizadas do lado de fora do campo, são locais de trabalho escravo onde pobres, desprezados e opositores são enviados.

–Interessante, nossas versões são bem diferentes, mas eu não acredito no que você me diz, a menos que possa me provar – eu desafiei.

–Era isso que eu estava esperando. Posso provar que estou certo, mas você vai ter que colaborar. Vem comigo?

Olhei com indecisão para a mão que ele me estendia. Por fim suspirei e lhe dei a minha. Eu queria que houvesse alguma forma dele estar dizendo a verdade. Eu queria acreditar que ele era o mesmo Edward que eu conhecera quando pequena, que nada havia mudado entre nós. Desde o primeiro momento, desde quando eu ouvi os anarquistas sendo acusados da morte de meus pais, algo dentro de mim, uma pequena parte no inicio, berrou que aquilo era tudo mentira, Edward nunca permitiria isso. E agora ele me pedia uma oportunidade para provar que estava do lado certo, me pedia uma oportunidade de provar o que eu mais queria que fosse verdadeiro.

–Até o inferno – eu respondi me rendendo com um pequeno sorriso.

–Talvez seja mesmo o inferno para onde vamos – ele me disse muito sério – Mas não se preocupe, eu cuidarei de você. Confia?

Isso me fez lembrar Jacob e meu coração ficou apertado e pequenino.

–Não – respondi com sinceridade.

–Tudo bem – ele falou sem se deixar abalar – Eu vou conquistar sua confiança de novo – e piscou para mim.

Então eu tive que rir. Jamais poderia ficar brava com ele, assim como ele comigo. A raiva passara de seus olhos profundos, sua presença não me incomodando mais. Não tinha medo, estava com meu melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

Comentem :) Espero que tenham gostado!!