Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, o Edward vai aparecer. Espero que gostem e comentem!



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-Vai ficar bem? – Jacob perguntou quando o carro parou na frente da casa dos meus pais.

-Eu vou.

-Qualquer coisa me ligue.

-Eu vou ficar bem Jacob – e sorri.

-Sabe que pode desistir a qualquer momento, não sabe?

-Jacob, eu sei me cuidar, nada de mal vai acontecer comigo. Você ainda vai ter que se casar comigo, mocinho.

Ele riu da brincadeira, beijou minha testa e esperou eu sair do carro conversível e entrar em casa, antes de arrancar e disparar pela rua escura.

Assim que fechei a porta eu sorri meio sem querer. Estava na minha casa, meu espaço, meu lar. Acendi as luzes e me espreguicei, satisfeita. Minha casa!

Peguei o controle perto da bancada e liguei o aparelho de som, sabendo que o CD que tocaria era o meu preferido, afundei na minha poltrona preferida e fechei os olhos, lembrando de cada momento feliz que eu tive naquela casa, as lágrimas rolando de meu rosto, livres pela primeira vez.

Não demorou muito e o telefone tocou, ainda de olhos fechados eu atendi.

-Pronto.

-Bella? É você.

Abri os olhos e enrijeci. Só uma pessoa falava o meu nome com aquela voz firme e séria. Fora mais rápido do que eu pensei.

-Sim, sou eu. Edward?

-Sim. Vai ficar em casa está noite?

-Sim.

-Está sozinha?

-Sim.

-Posso te ver?

Eu respirei fundo, inquieta. Edward sempre ligava quando queria falar comigo, aquilo era normal, e eu sabia que tinha de vê-lo logo, entregá-lo para a polícia logo, mas mesmo assim eu não podia deixar a inquietação de lado.

-Bella? Você está aí? – ele perguntou quando eu demorei a responder.

-Estou. Pode vir, vou deixar a porta dos fundos aberta.

Ele desligou o telefone em seguida, sem se quer se despedir. Eu levantei e fui para a cozinha, tropeçando nos meus próprios pés. Abri a referida porta e sentei no chão, arquejando involuntariamente. Eu sabia que estava fazendo o certo. Então por que eu não me sentia bem com isso?

Ele chegou meia hora depois, entrando na cozinha silenciosamente. Eu sabia que ele estranharia me ver jogada no chão daquele jeito, mas eu não ia conseguir me levantar, não com a dor das lembranças e da traição que eu estava prestes a fazer. Ou deixar de fazer, tudo dependia do ponto de vista.

Sem dizer uma palavra ele caminhou até mim e sentou na minha frente, esperando que eu o olhasse. Com esforço eu ergui a cabeça e minha mente gravou seu rosto mais uma vez: os cabelos ruivos, quase escarlate, os olhos profundos, a expressão séria e fria. Meu melhor amigo assassino.

-Edward – eu sussurrei.

-Bella…

Ele deitou a cabeça para me olhar melhor. Foi quando eu vi o ferimento na sua face esquerda, um corte profundo que tomava a forma de um N desproporcional. Ainda havia um pouco de sangue e muito pus no local, o que indicava uma infecção. Fora isso que o levara até ali, eu achei. Ele precisava de remédios. Ele matava meus pais e depois vinha atrás de remédios como se nada tivesse acontecido. Senti um impulso muito forte em bater nele, mas me controlei a tempo. Tinha que fazer seu jogo, até que ele caísse no meu.

-O que aconteceu com seu rosto?

-Nada de mais, apenas o de sempre.

Outro assassinato era o de sempre? Será que ele dava alguma chance de suas vítimas escaparem com vida? Ou ele as matava sem piedade, como fizeram com minha família?

-Vai infeccionar – eu disse tentando manter a voz inalterada, algo que eu sabia fazer muito bem – É melhor eu cuidar disso.

Eu ia me levantar quando ele me puxou para baixo com força, fazendo que eu caísse no chão de forma dolorosa.

-Acha que eu vim aqui por causa disso? – ele estava irritado, muito irritado – Eu quero que meu machucado vá a merda, não ligo se vai infeccionar ou não. Eu vim aqui para saber como você está!

Ele era um grande mentiroso, agora eu percebia isso. Era tão fácil acreditar que ele estava dizendo a verdade, que ele não estava sendo mau. Se eu não soubesse que ele sabia da morte dos meus pais e consentira com isso, eu não teria desconfiado de nada.

-Eu estou… eu vou ficar bem – diferente dele, eu não sabia mentir tão bem quanto o assunto era o que eu sentia.

-Sinto muito Bella, sinto mesmo. Eu queria ter vindo antes, mas quando soube já era tarde de mais, você não estava mais aqui e eu não achei seguro te procurar em outra casa. Esperei até o dia em que você viria para cá.

Ele sentia muito? Ele sabia da morte dos meus pais e sentia muito? Eu quase perdi a cabeça outra vez, então me concentrei no machucado em seu rosto, era mais fácil ser coerente com meu papel quando eu olhava aquela ferida.

-Eu preciso limpar seu machucado.

Ele tentou me impedir de levantar de novo, mas eu me esquivei do seu toque e ele desistiu, me seguindo pela casa. Agora eu apagava as luzes quando atravessa os cômodos estranhamente vazios. Fomos parar no banheiro do meu quarto, era lá que eu guardava minha caixa de primeiro socorros e remédios. Sem esperar que eu mandasse, ele sentou no vaso sanitário e virou a face machucada na minha direção.

Com cuidado, eu limpei a região ferida, tentando não machucá-lo, depois apliquei um gel para cicatrizar e dei um analgésico contra a dor para que ele engolisse.

-Obrigado Bella, você continua com as mãos mais delicadas que eu já senti – ele elogiou.

Eu não respondi.

Guardei minhas coisas no lugar, joguei fora o que eu tinha usado e fui para o quarto, sentando na beirada da cama. Edward me seguiu, sentando ao meu lado e ficando em silêncio.

-Há comida na despensa, é pouco, mas pode levar o que achar – eu disse sem emoção – Já quanto aos remédios eu comprei um bom lote alguns dias atrás, pode levar todos eles.

-Eu já disse que não vim aqui para isso – ele continuava irritado – Eu só vim aqui porque eu precisava te ver, saber como você está…

-Saber como eu estou? – tinha acabado de perder a paciência – Se ninguém te contou, ou se você ainda não percebeu, há um motivo para eu estar sozinha uma hora dessas aqui em casa. Meus pais morreram, meus irmãos morreram, como é que alguma coisa pode estar bem? Quer saber como eu estou? Se joga de um prédio de altura suficiente para que você agonize por um bom tempo antes de morrer. É assim que eu me sinto.

Eu estava de pé, sem saber ao certo quando eu levantara. Provavelmente quando eu começara a gritar, embora eu não me lembre também de quando fizera aquilo, as lágrimas ferviam nos meus olhos enquanto tremores e soluços assomavam meu corpo. Eu tinha perdido o controle.

-Ah Bella.

Ele se levantou e me abraçou. Eu resisti, lutei contra aqueles braços fortes como ferros, tentei empurrá-lo para longe de mim, mas ele ignorou minhas fracas tentativas e me abraçou com mais força ainda, até que eu me rendi e desabei em lágrimas de dor e revolta.

-Eu sinto tanto Bella. Se eu pudesse fazer alguma coisa para mudar isso, eu juro que faria.

Mentiras que soavam tão verdadeiras para mim! Como ele era bom em me enganar, ou seria eu muito fácil de ser enganada? Não tinha uma resposta para aquilo e continuei em seus braços, chorando como Erick, meu irmão mais novo teria feito.

A noite já ia longe quando eu finalmente me acalmei e parei de tremer convulsivamente. Sem palavras, ele me fez deitar no colchão e me cobriu, sentando ao lado da minha cabeça.

-Durma Bella, amanhã será um novo dia.

-Você vai estar aqui ainda? – eu precisava saber.

-Vou. Vou ficar com você a noite inteira.

Eu assenti e fechei os olhos. Por mais que eu odiasse admitir, estava mais calma por saber que ele estaria comigo aquela noite. Tentei repetir a mim mesma que tudo aquilo fazia parte do plano, mas eu sabia que era mentira. Eu não estava calma por isso, eu estava calma por que, pelo menos naquela noite, Edward não correria nenhum perigo, ele estaria seguro ao meu lado, até que o dia raiasse. Com amargura, eu percebi que aquilo também era uma mentira. Edward não estava seguro comigo, eu o trairia, eu o entregaria de bandeja para os policiais.

Não sei se foi o sono ou se realmente eu ouvi, mas tive a impressão de que Edward cantava baixinho, como se fosse me ninar. Eu conhecia o ritmo, mas não conseguia distinguir muito bem as palavras, só me lembro que falava sobre uma flor e um canhão, até que o sono me apagou.

Lá estávamos nós, dividindo o mesmo quarto, uma traidora e um assassino.


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