Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores!!!
Fiquei super animada vendo os comentários de vocês (olhinhos brilhando)
Bem, sei que querem ler logo, então não vou ficar aqui atrapalhando, boa leitura e nos vemos lá em baixo.



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Sacudi a lata de spray e apertei a parte de cima, um jato de tinta preta molhando a lataria do carro. Seth estava do outro lado, meio desajeitado, se sujando mais do que realmente pintando a Ferrari.

         -Eu ainda não credito que mudou a cor da minha Ferrari para vermelho, Alice – eu reclamei.

         -Quando formos parados pela polícia e eles nos dispensarem por causa da placa e da cor do carro você vai me agradecer – ela me contestou enquanto trocava as placas novamente.

         Enquanto Seth me vigiara dentro de Concluán, Alice mudara a cor e a placa do carro para facilitar nossa fuga. Agora estávamos parados no meio do nada, literalmente, Edward inconsciente dentro do veículo.

         -Hei, o que foi aquilo que você deu ao cara? – Alice perguntou.

         -É um tipo de calmante, mas muito potente, usado na comida de cavalos – expliquei.

         -Onde você arrumou aquilo? – Seth perguntou surpreso.

         -Pet shop – respondi com simplicidade.

         Eles me encararam com medo, depois chacoalharam a cabeça, surpresos.

         Alice terminou seu trabalho e foi nos ajudar, ela tinha mais prática com spray de tinta do que eu e Seth e, num tempo recorde de quinze minutos, conseguimos cobrir toda a lataria, devolvendo ao carro sua cor natural.

         -Vamos sair daqui – Alice mandou reunindo as latas de spray, a placa forjada e as roupas da garota que eu usara numa sacola plástica preta.

         Havia dois galões de gasolina no porta-malas, parar em um posto não estava nos nossos planos, ela pegou um deles e derramou o líquido em cima da sacola e dentro dela, atirando fogo em seguida e se afastando da explosão inicial.

         -Sem rastros, sem provas – ela citou satisfeita.

         Entramos no carro e eu olhei para trás, preocupada. Estendi a mão e toquei a pele ardente dele, um cheiro desagradável saindo de seu corpo.

         -Parece algo podre – Alice comparou franzindo o nariz.

         -Os machucados dele são muito profundos, a pele está em estágio de decomposição e o calor acelera o processo – expliquei angustiada – Se não cuidarmos logo dele, ele pode morrer cozido pela própria febre.

         Alice abriu a boca, assustada com a imagem que se formou na mente dela. Sem perceber, ela se afastou um pouco dele, enojada. Eu não disse nada, apenas coloquei o carro para correr enquanto Seth fechava a porta.

         Tentávamos um novo caminho para chegar em minha casa, mais demorado, porém mais seguro, levaria cinco dias de viagem ao invés dos três, mas de repente aquilo não incomodava, era melhor passar cinco dias num carro do que ser pego pela polícia.

         Franzi a testa, comparando meu agora com minha vida há um ano atrás. Há um ano atrás eu nunca tive medo dos soldados ou da polícia, pelo contrário, eles representavam segurança proteção, não tinha porque fugir deles. E agora… Bem, segundo as últimas notícias que Seth pesquisou pelo computador, éramos o grupo mais procurado do país.

         O tempo escorregou entre nós, aumentando nosso cansaço físico e emocional, e o cheiro ruim que vinha de Edward. Num dado momento Alice gritou para pararmos e saiu do carro, vomitando nossa última refeição.

         -Vamos trocar, você dirige Seth – eu disse pulando do carro – Alice, vá para frente e abra as janelas, eu fico com ele lá atrás.

         Mudamos as posições e Alice ficou melhor, pelo menos o tom esverdeado de seu rosto foi passando e seu bom humor voltou. Lá atrás as janelas estavam fechadas, Edward enrolado no coberto, nossas blusas de frio em seu corpo. Se o calor acelerava o processo de putrefação de sua pele, o frio seria sua sentença de morte.

         Já era noite quando a fome nos invadiu. Dividimos a comida para aqueles cinco dias, eu ficando com algumas garrafas de água a mais para poder alimentar Edward.

         -Ai, que saudade de um prato de arroz com feijão – Alice suspirou mordendo o biscoito duro.

         Não passávamos por nenhum restaurante, Seth preferiu uma rota que passava por rodovias secundárias e quase abandonadas por transeuntes do que as grandes que nos levariam direto para os policiais. Eu esmiucei dois biscoitos duros de chocolate num copo, adicionando água até formar um tipo de papa. Com cuidado, levantei melhor a cabeça de Edward do meu colo, deitando-a na barriga e jogando água em sua boca ardente, o alimentando em seguida e terminando com mais água.

         Terminei o processo difícil de alimentar alguém inconsciente com bolachas duras e água morna, com a barra da manga da blusa limpei sua boca. E deitei sua cabeça em minhas pernas, elevando ela do resto do corpo. Meus dedos tocaram seus cabelos, jogando as mechas vermelhas para trás, sua testa gotejava suor e óleo, acariciei seu rosto com delicadeza e ternura, o calor de sua pele queimando meus dedos.

         Ergui a cabeça e dei com Alice virada para trás, nos olhando.

         -Bella – ela começou tão baixinho que mesmo Seth ao lado dela teria dificuldade de ouvir.

         -Sim – eu incentivei.

         -Você devia ficar com ele – ela disse meio sem jeito – Ele te ama, e você também…

         -Alice – eu interrompi cansada.

         -Não, me escuta Bella – ela pediu séria – Sabe, quando eu estava com Seth esperando vocês saírem daquele inferno, eu comecei a pensar em você e no que você estava fazendo por ele…

         -Vocês também estavam lá – eu lembrei, não queria ter aquela discussão, não naquele momento.

         -Sim, mas por motivos diferentes. Seth foi lá por que eu o convenci a ir – e um tom vermelho de vergonha surgiu em seu rosto – Eu consegui fazer ele deixar Laura e vir para nos ajudar. E eu aceitei fazer parte desse plano por que eu não tenho muito que perder. Nasci nas ruas, me criei nas ruas, não tenho para onde voltar quando as coisas se acalmarem, e, mesmo se tivesse, eu não sei se voltaria, eu gosto do que eu sou, não me importo, e tenho uma tendência para planos suicidas e combates épicos com a polícia. Para mim, tudo foi uma grande aventura, a melhor da minha vida até agora – e ela sorriu.

         Seth suspirou comigo, eu podia imaginar ele sacudindo a cabeça, desistindo da idéia de tentar por um pouco de juízo na cabeça daquela menina.

         -Mas você é diferente, você tem para onde voltar – ela continuou nos ignorando – Ou pelo menos eu pensava assim. Enquanto esperava por vocês, eu comecei a pensar e percebi que você não estava lá por peso de consciência ou por compaixão, você estava lá por que ama esse garoto, mas ama de verdade, porém mais do que isso, estava lá por que sabe que ele te ama de verdade também, diferente de Jacob.

         -Como? – eu perguntei começando a perder a paciência.

         -Bella, eu jamais mandaria alguém que amo para um grupo de inimigos. E ele fez isso.

         -Não – eu discordei – Eu me ofereci, eu escolhi…

         -Por culpa, você mesma me disse isso uma vez. Mas no final o que você sentia por ele – e apontou para Edward – Foi muito mais forte do que a culpa, ou qualquer compromisso que você tinha. Você arriscou sua vida por esse rapaz, isso é amor. O que Jacob fez pode ter vários nomes, mas não um de quatro letras, pois mesmo que ele não tenha te obrigado, ele concordou, ele aceitou que você corresse perigo para ter uma maldita promoção no Partido. Isso não é amor, não por você.

         Eu abaixei a cabeça, confusa, nunca tinha pensado daquela forma.

         -Bella, me responda com sinceridade: Jacob invadiria Concluán para salvar você?

         -Não – eu sussurrei depois de um longo silêncio – Mas isso não significa…

         -Ele invadiria – Alice me cortou, a voz cheia de convicção enquanto nós duas olhávamos ele dormindo – Ele faria qualquer coisa por você. E não se engane, você também faz qualquer coisa por ele, desde a invadir uma prisão a agüentar esse cheiro horrendo.

         Rimos um pouco, a tensão do momento diminuindo.

         -Não me importo tanto com o cheiro – contei com sinceridade – Apesar de ser enjoante, significa que ele está aqui, e não lá.

         -E você ainda me diz que não o ama – ela brincou rindo da minha resposta e voltando para frente.

         Eu encostei a cabeça no encosto macio, meus pensamentos cansados se esforçando para raciocinar com coerência no que Alice acabara de me dizer. Quase me bati, irritada por não ter percebido o óbvio: que tipo de noivo deixa sua futura mulher ir com os anarquistas só para que ele ganhe uma promoção?

         Na época tudo me pareceu muito lógico, a Bella daquela época, ou melhor, a Isabellaquerida aceitara tudo com obediência e doçura, como haviam me ensinado todos os dias. Sorri, entendendo como eu mudara em menos de um ano, estava praticamente irreconhecível, e não era por causa do rosto, ele estava quase perfeito, só com uma cicatriz eterna em uma das faces. O que mudara era dentro de mim. Eu era uma garota diferente. Era Bella.

         Eu não obedecia, pelo contrário, às vezes eu mandava e as pessoas me obedeciam, aceitando que eu as liderasse em alguns momentos, eu discutia minhas idéias, eu brigava… céus, eu gritava! E ainda batia para me defender ou para ajudar um amigo. Eu tinha ajudado a colocar uma nova vida no mundo, eu trabalhava todos os dias, cozinhando, lavando, limpando, minhas mãos, antes delicadas e suaves, tinham marcas do trabalho físico. Eu dividia meu quarto e minha comida, eu distraía as crianças quando estavam entediadas e contava história para elas dormirem, ajudava Carlisle num pequeno hospital, cuidando de narizes quebrados, bocas cortadas e sangrando e outras coisas realmente desagradáveis.

         Mas a principal mudança era que eu estava… Feliz!

         Apesar da dor, dos meus sonhos, da solidão, eu me sentia feliz, inteira, como se tivesse passado minha vida toda incompleta, pela metade, e só agora achasse minha outra parte. Edward estava certo, eu sempre fui Bella, mesmo quando todos só conheciam a Isabellaquerida, por isso eu nunca fui totalmente feliz, apenas cinqüenta por cento, eu precisava por para fora essa outra parte minha, adormecida por inúmeras regras de etiqueta e convenções sociais ridículas.

         Lembrei do meu pai e quando ele me falara sobre os diamantes:

         -Princesa, os diamantes são coisas feias quando você os acha, eles estão cheio de outros minérios, sujos, sem brilho, não tem valor. Mas quando o joalheiro pega essa pedra tosca, ele a limpa, ele tira os excessos de rochas estranhas, ele lapida as facetas e dá forma ao diamante, depois expõe em sua vitrine e pagamos muito caro por ele. Às vezes a vida faz isso conosco, ela nos limpa, ela tira nossos excessos, lixa nossas arestas e nos dá formas belíssimas para que tenhamos algum valor.

         Naquele carro, naquele momento, naquele exato segundo, eu me sentia como um diamante numa vitrine, livre da sujeira, dos excessos, com forma e brilho. E amei me sentir assim.

         Minha mão repousou na testa de Edward, ficando quente na hora, encarei seu rosto vazio e gostei do que vi. Deitado no meu colo eu tinha o mais lindo rubi do mundo.

         -Meia noite – anunciou Alice bocejando.

         Agora só faltavam mais quatro dias.

         Foi só no fim do terceiro dia de viagem que Edward recobrou a consciência, ele tinha falado antes, gemendo muito em seus delírios, as vezes até gritando de dor, o corpo se contraindo em convulsões violentas.

         Primeiro ele se mexeu inquieto, depois balbuciou algumas palavras desconexas, abrindo os olhos, confuso.

         -Bella? – ele perguntou, a voz rouca e seca.

         Entreguei uma garrafa de água para ele, fiz bem, Edward estava sedento, ele entornou o líquido com pressa, engasgando no processo.

         -Calma – eu pedi segurando sua cabeça um pouco erguida, ele ainda estava deitado.

         -Bem vindo de volta – Alice desejou rindo e olhando para trás enquanto ele sentava com cuidado, muito confuso.

         -O quê…? – ele começou.

         Mas não continuou, ficou perdido em seus pensamentos e devaneios, nos encarando de vez em quando com incredulidade.

         -Confuso? – Seth perguntou sem olhar para trás, os olhos pregados na pista.

         -Bastante – eu respondi rindo com alívio.

         -Acorda rapaz, você está bem – Alice soltou com impaciência – Te tiramos de lá.

         -Vocês… – ele me encarou, a expressão meio retardada – Vocês… Invadiram… Concluán? – ele gaguejou, a dúvida em cada palavra.

         -Isso mesmo – Alice concordou com felicidade, como se ele tivesse perguntado se ela tinha pintado a Mona Lisa.

         -Vocês são loucos? – ele perguntou irritado – Vocês podiam ter morrido…

         -Não se exalte.

         Eu pedi, segurei seu rosto ardente entre minhas mãos e olhei fundo em seus olhos, buscando acalmá-lo.

         -Você está doente, não pode se exaltar dessa maneira. Tudo acabou bem, você está seguro agora, assim como nós.

         Ele deitou seu rosto no meu, nossas testas se encontrando.

         -Você é louca – brincou, sua respiração dançando em meu rosto.

         -Até o inferno, lembra? Eu não estava brincando.

         Alice virou para frente, rindo, mas eu não me importei, tudo o que importava eram seus olhos profundos, a troca de calor exagerada entre nossas testas e sua respiração em meu rosto. Principalmente sua respiração, pois ela era a maior prova de que ele estava vivo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Sim, eu sei,demorou para ela entender certas coisas, mas ainda bem que temos a Alice para mostrar para a Bella as coisas óbvias, né?
E ai, o que acharam? Comentem!!! Beijos e até o próximo capítulo.



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