Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oi amores. Sei que andei sumida, me perdoem. Boa leitura,me justifico no fim



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-Ai meu pai! Bella, cadê você? – Alice gritava pelo corredor.

Eu saí do banheiro, a última gaze ainda na minha mão enquanto eu terminava meu curativo facial.

-O que foi? – perguntei trombando com ela enquanto ela corria até mim.

-Vai nascer. Carlisle mandou te chamar.

-Mas já?

Eu corri para a ala hospitalar, os gritos femininos ficando mais e mais fortes. Abri a porta com ímpeto e corri para limpar minhas mãos com álcool. A mãe, Charlote, estava na maca, já vestida com um paninho transparente meio esverdeado enquanto um monte de cabeças curiosas surgiam na porta de vez em quando. Carlisle estava tentando acalmá-la, fazer com que ela respirasse direito.

-Alice – eu chamei com autoridade – Traga a Maria e o Seth aqui e mande alguém cuidar das crianças, eu não quero que elas vejam isso.

Alice saiu correndo, berrando os nomes e dando ordens. Eu me aproximei de Carlisle e de Charlote e, sem cerimônia, levantei a barra da roupa que ela usava.

-A bolsa já rompeu? – eu perguntei praticamente afirmando, podia ver rastros do líquido ainda entre suas pernas.

-Sim – Carlisle respondeu, a voz um pouco descontrolada – E as contrações estão no limite, o bebê está prestes a nascer.

-Muito bem. Alice, Maria – eu gritei impaciente.

As duas apareceram, Seth logo atrás com cara de nojo e medo.

-Você duas, segurem as mãos delas e ajudem no apoio moral – orientei enquanto ela já tomavam cada uma um lado de Charlote – Carlisle, me ajude a trazer a criança para fora e Seth, prepare os panos em cima do balcão para receber a criança.

-Re… Re… – ele gaguejou aterrorizado.

-É Seth, receber a criança, alguém tem que ficar com o menino no colo quando ele sair – eu disse impaciente. Tinha o costume de ficar um pouco autoritária quando cuidava de pessoas.

-Nós já combinamos tudo isso Seth – Alice lembrou – Você acha que consegue fazer direito?

Todos nós paramos e encaramos o rapaz. Até mesmo Charlote parou de gritar para olhar para ele em dúvida. Seth respirou fundo, tentando se controlar, depois balançou a cabeça num sim e engoliu em seco, indo até os panos.

-Vai ser um parto difícil – Carlisle murmurou perto de mim.

-Eu sei. Seria melhor se Peter estivesse aqui para ver o filho nascendo. O apoio dele seria muito bom agora.

Peter fora acompanhar Edward e mais outros rapazes na reunião dos líderes. A volta deles estava marcada para hoje a noite ou amanhã, sendo que Charlote deveria ter seu bebê no domingo, e não na quarta-feira! Mas como não se pode atrasar a natureza, lá estávamos nós, prontos para fazer nosso primeiro parto.

-Respiração – eu lembrei a Carlisle enquanto tomava o seu lugar na massagem na barriga da futura mamãe.

-Vamos lá Charlote, como eu te ensinei – Carlisle dizia.

Ficamos naquele quadro por meia hora, eu fazendo massagens, Carlisle respirando com Charlote, as meninas segurando firmes as mãos delas e Seth com cara de quem ia vomitar a qualquer instante, até que um urro particularmente alto dela mostrou que o parto ia começar.

-Alice, ajude na respiração, Charlote faça a maior pressão que conseguir, sempre empurrando o bebê para fora, Carlisle, me ajude a manter as pernas dela afastadas e o caminho limpo, Seth, se aproxime e traga as garrafas com água.

Eles obedeceram e a luta começou. Foi o momento mais… único da minha vida, eu não tinha palavras para descrevê-lo, nunca me senti tão humana e tão máquina ao mesmo tempo, meu corpo estava entorpecido, eu não sentia nenhum dos cheiros desagradáveis de sangue e líquido amniótico, meus olhos estavam dilatados, fixos, minha mente concentrada em um único propósito. Todo meu corpo estava pronto para aquilo, eu sabia o que fazer, meu pai fizera dois partos em casa e me deixara ver e ajudar nos dois. Era uma experiência completamente nova quando eu era a responsável pelo parto e não apenas uma observadora aterrorizada que via com assombro uma vida sair de outra vida.

Charlote berrava de dor, o suor borbulhando em seu rosto. Carlisle me olhava com nervosismo e excitação que só um enfermeiro ou um médico podiam sentir. Não foi preciso que nós conversássemos, primeiro por que os gritos dela não deixariam que nós conseguíssemos ouvir qualquer coisa, segundo por que, quando chegou a hora, foi algo completamente instintivo, eu sabia exatamente o que fazer quando algo ovóide e cor de pele começou a surgir, eu não entrei em pânico quando o corpo da mãe tombou, exausto, enquanto o resto  do corpinho coberto de sangue caía nas minhas mãos estendidas. Carlisle, em sincronia, me passou a tesoura e eu cortei o cordão umbilical. Com júbilo minha mão tocou aquele milagre e eu disse:

-É uma menina!

Charlote sorriu, exausta, e seus olhos se encheram de lágrimas. Alice, massageando a mão, deu pulos de alegria e um beijo na testa suada de Charlote enquanto Maria buscava um segundo pano molhado para passar na testa da mamãe, o primeiro pano já cheio de suor. Foi quando o medo me tirou a gravidade e, antes que Carlisle dissesse, eu já tinha entrado em pane.

-Ela não está chorando – ele disse nervoso.

Eu tomei o bebê de seus braços, havia dado a menina a ele, para terminar de limpar o corpo de Charlote. A menina estava quietinha de mais, eu não via seu peito subir ou descer com a respiração. Olhei horrorizada para Carlisle e li em seus olhos o medo e a incerteza contidos nos meus. Não sabíamos o que fazer. Para aquilo meu pai não tinha me preparado.

-Minha filha – Charlote chorou com desespero.

Foi quando Seth fez algo inacreditável. Ele arquejou e se aproximou, tomando a menina dos meus braços. Correu com ela para uma mesa limpa e a deitou sobre panos macios, seus dedos finos tocando o peito da criança enquanto ele inclinava a cabeça gentilmente e dava um delicado beijo nos lábios pequeninos e sangrentos, soprando o ar para seus pulmões. Nós assistimos em choque, esperando fervorosamente que aquilo desse certo, paralisados por nossos medos e esperanças. Até que o choro estridente e alto encheu a sala e nos deu alívio imediato.

-Graças a Deus – Charlote suspirou caindo na maca e chorando em dobro.

Seth se aproximou da mãe, os braços segurando a criança com habilidade. Charlote sorriu para ele da maneira que só uma mãe consegue sorrir para alguém que salva a vida de seu filho e abriu os braços para receber aquele ser pequenino. Maria ajudou a tirar parte da roupa de cima de Charlote para que o bebê pudesse fazer sua primeira amamentação e todos na sala se uniram ao redor para observar aquela cena. Eu só percebi que estava chorando quando Alice tocou meu rosto, lágrimas rolando no rosto dela também, nós duas olhamos para Seth e estendemos as mãos para ele, que veio e ficou no meio de nós duas.

-Ela é tão linda! – Seth comentou.

-Obrigada – agradeci de todo o coração – Você agiu da forma certa, salvou a vida dela.

-Na verdade, eu tinha feito algumas pesquisas e visto alguns vídeos pela internet sobre partos – ele revelou sorrindo.

Nós três rimos, os olhos na mãe e na criança.

-Como vai chamá-la Charlote? – Carlisle perguntou.

-Ainda não sei, estou em dúvida entre Esperança e Vitória. O que você acha Seth?

Pego de surpresa, Seth pigarreou, indeciso, pensou por alguns instantes e respondeu, convicto.

-Esperança. Vitória é uma coisa boa, todos nós gostamos de vencer, mas nossa vida não é feita só de vitórias, ela também tem derrotas. Pode-se viver sem a vitória, mas jamais sem a esperança. A esperança não deve morrer, nunca.

Olhei para Seth com um pouco de assombro, percebendo um rapaz novo nele.

-Então será Esperança – Charlote decidiu – A minha Esperança.

Todos concordaram que era um belo nome e, depois de beijar a testa da mãe e da filha, Alice e Seth saíram do quarto para se lavar e contar as boas novas aos outros. Os que ficaram se afastaram da maca. dando um tempo de privacidade entre as duas. Eu sentei numa cadeira, Carlisle ficando do meu lado enquanto Maria velava a irmã e a sobrinha com ternura e amor.

-Uma grande experiência – Carlisle comentou.

-A maior de todas – eu concordei.

-Seu pai ensinou você muito bem. Aposto que ele era um bom médico.

-Sim, ele era. Mas ainda sim, se não fosse por Seth…

-Deus põe as pessoas certas nos momentos certos – Carlisle falou com sabedoria.

-Que bom, isso significa que aqui é o meu lugar certo – eu brinquei, mas de maneira respeitosa.

-Onde houver alguém precisando de ajuda, ali será o seu lugar certo. E nós precisamos de você.

Eu não fiz nenhum comentário e voltei a olhar para as duas, lágrimas descendo no meu rosto.

-É a cena mais bonita que existe – disse.

-É a cena do amor – ele traduziu sorrindo.

Eu concordei.

Quando o bebê terminou de se alimentar, eu o levei para seu primeiro banho, a água estava pronta, na temperatura certa, Maria auxiliava a irmã enquanto Carlisle me dizia o que fazer. Esperança chorou um pouco no começo, o que me fez sorrir, eu nunca pensei que fosse gostar tanto do choro de um bebê como agora, mas a água morna a acalmou e ela foi relaxando, seus olhos grandes e de cor indefinida procurando ao redor a origem dos sons que ela ainda não conseguia reconhecer e dos vultos que ela mal podia visualizar. Eu lavei seu corpo macio com cuidado, vendo suas veias azuis percorrerem todo seu corpo, visíveis sobre a pele fina de bebê. Quando não havia mais sangue nem nada estranho nela, eu a sequei com cuidado, tocando seu corpo com carinho. Meu pai, e depois Carlisle, falava que os bebês tinham que ser tocados, isso ajudava no seu desenvolvimento. Terminei de secá-la e Carlisle me deu as roupinhas e a fralda que ela usaria; com esforço nós tínhamos conseguido arrumar roupinhas de recém nascido, já que Edward se negava a me levar para fazer compras. “Muito perigoso… Não vou arriscar mais a sua vida” ele dizia quando eu o confrontava com a praticidade que seria me deixar fazer compras para o bebê.

-Aqui está ela – eu disse entregando o bebê nos braços de Charlote.

-Ela se parece com o pai – Charlote sussurrou com amor.

E realmente Esperança parecia, ela tinha o mesmo nariz arrebitado e os lábios finos do pai.

-Eles vão chegar logo – eu disse – E Peter vai amar essa menininha linda, vai ser o melhor presente de boas vindas que ele já recebeu.

Charlote sorriu para mim e beijou a testa do bebê, inspirando seu cheiro de sabonete.

Eu me despedi deles e fui procurar um banheiro, minha roupa coberta de sangue. No meio do caminho encontrei Laura e mais uma menina rondando o perímetro, curiosas.

-Já nasceu o bebê, tia? – Laura perguntou.

-Sim, já nasceu, é uma linda menina e seu o nome é Esperança – eu confidenciei.

-Nós podemos ver? – a menina perguntou.

-Agora não, agora temos que deixar as duas descansarem, mas amanhã vocês poderão ver a nova amiguinha.

Baguncei o cabelo das duas, recebendo suas caretas, e fui para o quarto pegar uma muda de roupa. Estava na porta do banheiro, esperando que Seth terminasse seu banho quando ouvi a agitação. Vinha da parte de cima da casa e era uma agitação estranha, algo com o qual não estávamos acostumados a ouvir. Meu primeiro instinto foi de ir ver o que era, mas o medo, não por mim, pelo bebê, foi mais forte e eu voltei correndo para a sala de onde saíra a pouco.

-O que foi? – Carlisle perguntou quando viu minha expressão.

-Tem algo estranho lá em cima – eu disse baixinho não querendo alarmar Charlote – Eu não sei o que é, mas acho melhor proteger o bebê.

Ele entendeu meu recado e saiu da sala, correndo assim que chegou ao corredor. O barulho era menor ali, quase inaudível; para quem não estava acostumado com o silêncio absoluto da sala o barulho era normal, ainda mais depois de momentos cheios de gritos, mas eu sabia que aquilo não era comum e meu coração começou a doer, batendo como louco, quase a beira de explodir. Tinha alguma coisa errada, eu sabia disso. Estava começando a perder o ar.

Então o barulho desceu e eu arquejei, procurando em vão oxigênio. Algo estava vindo para cá, para aquela sala, e meu coração não agüentava a dor avassaladora que me invadia.

Mas, para minha surpresa, quem entrou no quarto foi Carlisle, o rosto sombrio contorcido numa estranha máscara que ele tentava manter calma, atrás dele vinha Peter, as roupas sujas de terra e poeira, a camisa com uma grande mancha de sangue. Não tive tempo de olhar seu rosto, ele correu para a mulher e se jogou de joelhos ao lado dela, chorando como criança ao ver a esposa e a filha. Havia outros rapazes, alguns espiavam pela porta a cena lá dentro, todos muito sujos e com sangue nas vestes.

Porém não foi isso que chamou minha atenção. Foi a expressão deles. Havia muita agonia em seus rostos, era como se algo os despedaçasse por dentro, a mesma coisa que me despedaçava naquele momento. Suas expressões sombrias só vieram para confirmar minhas suspeitas de que algo estava muito errado, mas muito errado mesmo. Busquei o rosto de Carlisle, mas, estranhamente, ele estava de lado, olhando para a parede, evitando meu olhar.

-Hen… Carlisle – eu gaguejei com medo, minha voz mal saindo.

Ele se virou, a expressão irreconhecível.

-O que aconteceu? – eu guinchei me apoiando na parede enquanto meu mundo girava sem gravidade.

O silêncio de morte caiu sobre nós e eu pressenti, antes mesmo dele responder. Meu coração rasgou ao meio, jorrando dor para todo meu corpo.

-Houve uma emboscada… Eles sabiam onde passaríamos… – Carlisle contava aos arquejos, todos os rostos fixos em mim e nele – Pegaram o Edward.

-O quê? – eu sussurrei, sem saber se era realmente eu que falava, ou outra pessoa, tudo começou a escurecer e a desaparecer a minha volta.

-Prenderam Edward, levaram ele para Concluán – alguém explicou, mas eu não tinha idéia de quem.

Meu corpo caiu num abismo lento e escuro, o ar ficou espesso demais, denso de mais para que eu pudesse respirar, meu coração parou de bater acelerado e começou a bater sem ritmo, fraco, falhando, um enjôo muito grande me tomou, mas a espiral de dor em que caía não deixou que eu vomitasse. Tudo ficou vazio e eu sucumbi a dor avassaladora que me deu vontade de morrer a sentí-la.

Desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Oi :)
Bem, andei sumida devido a faculdade, sinto muito. Para compensar, vou postar 2 capítulos hoje. Bjinhos



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