Como num sonho doentio e real, eu atirei a última flor ao caixão branco sujo de terra. Uma pequena flor negra, meio despetalada, incrivelmente frágil e feia.

-Vamos Isabella – Jacob disse segurando meus ombros.

-Claro.

Uma voz parecida com a minha respondeu deixando ser guiada para longe dali enquanto cobriam de terra o caixão branco. Estávamos quase terminando de sair quando alguém nos interrompeu segurando firmemente o braço de Jacob.

-Ela deveria ficar. Pelo menos até o fim.

-Ela já viu mais da metade disso tudo – Jacob discordou com ódio – Eu não vou obrigá-la a ver mais do que isso.

-Ela é forte, ela agüenta – o outro discordou com convicção.

-Eu sei disso, mas não vou infligir mais dor a ela. Agora cale a boca e nos deixe ir, se não eles terão mais um corpo para enterrar.

Tremi com aquelas palavras, mas não disse nada. Não me importava realmente em ir ou ficar lá. Nada mais importava. Eles já estavam mortos, e eu não podia mudar aquele quadro.

Quando finalmente passávamos pelo portal do cemitério ouvi o final de uma conversa que chamou a minha atenção.

-Certeza que foram eles?

-Mas você duvida? Vivemos em tempos difíceis, meu amigo, onde nem todos percebem o bem que a paz e a ordem podem trazer.

-Eu sei que temos problemas com eles – o outro concordou – Mas daí a concluir que foram eles… Nunca tivemos esse tipo de problema, eles nunca mataram desse jeito.

-Há sempre uma primeira vez para tudo – o segundo discordou com fervor – E isso só é o começo do que está por vir. Se não dermos um jeito neles, mais famílias boas e corretas morrerão sem motivo.

Jacob me abraçou ainda mais forte e acelerou para que eu não ouvisse mais nada. Mas não precisava. Eu já sabia quem tinha matado meus pais e aquilo me atormentou profundamente, porque, de certa forma, eu tinha ajudado aquilo. Eu defendera aquelas pessoas, dissera que, talvez, elas estivessem com um pouco de razão. Porém agora, depois de enterrar meu pai, minha mãe e meus dois irmãos mais novos, eu percebia o quanto eu estava enganada. Eles não estavam com uma parte da razão. Eles estavam completamente contra ela, não buscavam a paz, buscavam a guerra, eram monstros que mal pareciam humanos.

Agora eu acreditava no que me diziam, que eles tinham o olhar duro e feroz que podia matar qualquer um, que seus corpos eram duros e fortes, mas sem o calor humano que poderia lhes abrandar a monstruosidade, pois só criaturas como aquelas podiam matar minha família.

-Tudo vai ficar bem – Jacob me prometeu enquanto entrávamos no carro – Eu pessoalmente cuidarei de você e cuidarei que os culpados recebam sua punição. Prometo que mais nada vai ferir você, minha querida.

Eu deitei minha cabeça em seu ombro enquanto o chofer nos tirava dali, me sentindo melhor por ter Jacob ao meu lado. Podia confiar na sua promessa, ele era humano tanto quanto eu, não me trairia como aqueles monstros me traíram.

Sim, Jacob me daria segurança e me ajudaria, com ele tudo poderia voltar ao normal, nós nos casaríamos e teríamos uma linda família, ele ganharia uma posição de destaque no Partido e teríamos uma bela casa de frente pro mar para que nossos filhos brincassem. Ali, deitada no peito dele, eu vi meu futuro e decidi que gostava dele. Tinha que gostar.

-Vai ficar tudo bem – Jacob repetiu acariciando meus cabelos.

Eu assenti e fechei os olhos. Faria a vontade de meus pais, estando eles vivos ou mortos. Eu me casaria com Jacob Black.