Dust Angels escrita por Nancy Boy


Capítulo 4
Capítulo 4 - Dying in the process


Notas iniciais do capítulo

Clipe de Sing agora... é.
Enjoy ;)



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Remote Heart foi até o túnel devagar, dando tempo para que os Dust Angels ficassem bem adiantados. Quando chegou, desceu da moto e andou cuidadosamente até o posto de vigilância da BLI, onde todos estavam muito agitados para notarem sua presença. O killjoy sorriu ao ver a destruição que os outros deixaram ao passar por lá.

Sem fazer barulho, ele se aproximou do primeiro Draculoid que viu e o apagou, a raygun grudada na nuca do inimigo, de modo que os outros não viram o raio de luz que se projetou. Logo, Remote Heart conseguiu matar mais um, e quando sua presença finalmente foi percebida, ele já estava com a arma apontada para o último Draculoid restante.

Ele notou que um alarme fora acionado e suspirou. A central já devia estar muito bem preparada para a chegada dos Dust Angels; aquele alarme devia ter chamado um batalhão da unidade SCARECROW.

Remote Heart voltou até sua moto e seguiu em frente, dessa vez a toda velocidade, sabendo que os outros já estavam em plena ação na missão de resgate.

Parou a alguma distância quando viu o carro do grupo estacionado. Rapidamente notou uma câmera ali perto e atirou nela, podendo ficar, sem ser visto, escondido atrás do veículo. Ele observou por alguns minutos, e logo viu a luz de dezenas de tiros vindos do salão logo à frente. Pegou o celular imediatamente e ligou para Dr. Death.

— Venham, agora.

Não esperou resposta. Levantou-se, e estava prestes a correr para ajudar os killjoys, quando percebeu de repente que algo não estava certo. Aqueles cabelos vermelhos estavam fazendo o que no chão? E aquele era Korse? O que o chefe dos Exterminators estava fazendo ali, se aquilo era algo que os Draculoids — supostamente — resolveriam sozinhos?

O choque o paralisou quando ele percebeu que Party Poison fora atingido... E Kobra Kid também. Ele viu Jet Star correndo para fora com a menina ao seu lado, e sentiu um aperto estranhamente forte no peito quando Fun Ghoul ficou para trás. Não, não Fun Ghoul, ele fora tão gentil...

Ouviu o som da van do Dr. Death chegando e não perdeu mais tempo. Ele não tinha mais o que fazer ali; esperara demais. Correu para onde sua moto estava enquanto a menina entrava na van, e partiu atrás dela, só dando uma olhada rápida para descobrir que Jet Star também estava morto.

Ele não sabia porque, mas lágrimas lhe subiam aos olhos. Ele mal conhecia os Dust Angels, mas poderia tê-los salvado! Era só ter chegado mais cedo, ou ter ido com eles, ou ao menos não ter ficado parado lá enquanto eles eram mortos! Qualquer coisa seria melhor do que ver os quatro estirados ao chão, com Korse sorrindo triunfantemente aos pés de Party Poison.

Em algum tempo, a van parou e Remote Heart estacionou também. Antes que tivesse tempo para descer da moto, viu a menina sair correndo, com Show Pony em seu encalço, e foi atrás deles.

— NÃO! Me deixa! — a garota chorava.

— Não foi culpa sua — Show Pony tentava dizer, mas sua voz era abafada pelos gritos da criança.

— Foi sim! Eles foram lá por minha causa! E morreram! É tudo culpa minha!

Remote Heart sentiu um novo nó na garganta ao ver essa cena. Criança nenhuma devia ter a responsabilidade de uma vida — que dirá quatro — em suas costas. Mas ele não sabia o que falar; no lugar dela, estaria sentindo a mesma coisa, o mesmo ódio e culpa esmagadores.

— Tudo porque eu ouvi ele falando... — a menina continuou a choramingar. — Que droga! Eu queria nunca ter nascido, nem escutado conversa nenhuma, nem ter perdido minha mãe pra eles!

Ela colocou a mão dentro do bolso da jaqueta e, para surpresa de todos, tirou de lá uma das rayguns da BL/ind. Remote Heart, que escutava confuso as frases aparentemente sem sentido da garota, agora olhou assustado para ela.

— Grace — ele murmurou. — Cuidado...

Mas foi em vão. Em sua raiva, ela jogou a arma no chão, que disparou acidentalmente. Por um momento, só o grito de Show Pony se ouviu na escuridão.

— AH, meu Deus! — a menina gritou, e parecia querer dar um tiro na própria cabeça. — Qual o meu problema? Desculpa, Pony, desculpa, você tá bem?

— Ai... tô, pegou só na perna...

Remote Heart sentiu um assomo de preocupação se apoderar dele enquanto se ajoelhava para Show Pony, ao mesmo tempo em que ouviu Dr. Death e outra pessoa correrem ao encontro deles, perguntando o que houve.

Remote Heart rasgou a calça do amigo, a partir de onde ela fora queimada, até poder achar o ponto certo do tiro, pedindo desculpas a cada “ai” que escapava da boca de Show Pony. Quando finalmente conseguiu ver, arregalou os olhos, sem entender.

— Ahn... Dr. D, vem aqui um pouquinho... Isso tá certo?

Um pouco abaixo do joelho de Show Pony, sua pele mostrava um grande e circular tom prateado.

Dr. Death também pareceu não entender.

— Prata? Sua pele tá prata?

A menina parou momentaneamente de chorar e se aproximou deles, enquanto o próprio Show Pony se curvava para ver o que estava acontecendo.

— Mas o quê...? — ele murmurou, analisando a própria perna como se fosse um objeto totalmente estranho.

— O que você tá sentindo? — Dr. Death perguntou.

— Ainda está doendo um pouco, mas tá passando... Acho que estou começando a sentir... dormência.

Remote Heart não conseguia tirar os olhos do pedaço prateado da pele do outro.

— Dormência? Sua perna tá dormindo?

— É, é como se estivesse sumindo... Não estou mais sentindo ela direito...

De repente, como se uma luz tivesse sido atirada em sua cara, Remote Heart levantou o olhar e ofegou.

— A BLI é Orwelliana... — ele sussurrou, fitando o nada.

— Quê? — todos perguntaram juntos, e ele focou o olhar em Dr. Death.

— George Orwell. O autor de 1984, nunca leram? — sem esperar resposta, Remote Heart prosseguiu, levantando-se e começando a andar de um lado para o outro. — Na história, um Partido totalitário domina a todos. Ele sabe de tudo, vê tudo...

— “O Grande Irmão está te observando” — Dr. Death disse. — Sei, conheço o livro. Mas não entendi aonde você quer chegar.

— Você não lembra? Eles não eliminam os traidores do Estado, não matam os rebeldes. Eles fazem lavagem cerebral. Capturam e torturam até trazer todos para o lado deles.

Dr. Death arregalou os olhos.

— Então você acha que é isso o que a BLI faz?

— Exatamente! — Remote Heart apontou para Show Pony. — As armas deles não matam, só incapacitam.

— Então... os Dust Angels...

— Estão vivos!

Ninguém entendeu direito a conversa, mas a última parte era o suficiente. A menina deu um pulo de expectativa, Show Pony gritou e tentou se levantar, para só depois se lembrar que não sentia parte da perna, e Dr. Death foi para a van.

Remote Heart e a mulher que dirigira a van até o momento ajudaram Show Pony a voltar para o veículo, e Remote Heart começou imediatamente a pegar tudo o que achava que seria útil, o que significava basicamente rayguns até não conseguir mais. Dr. Death conversava com alguém no celular, mas logo desligou e passou a falar com os presentes.

— Falei com um cara agora que me deu uma ideia de como reverter essa dormência — ele dizia enquanto se abaixava sob o painel da van e procurava alguma coisa. — Provavelmente ela passa depois de um tempo, mas não podemos ficar esperando. Pony, vem aqui.

Show Pony deu um breve gemido de medo, mas sentou-se ao lado do outro. Em alguns segundos, ouviu-se um grito bem alto.

— O que você fez? — Remote Heart perguntou, aproximando-se e colocando a mão sobre o ombro de Show Pony, que xingava baixo.

Dr. Death se virou e mostrou um taser em mãos.

— Como está a perna? — o homem questionou, ignorando a pergunta de Remote Heart.

— Tá... — Show Pony começou, e então esticou a perna, que voltara à coloração normal. — Ei! Deu certo!

Dr. Death sorriu.

— Arma de choque — explicou. — Mas tá no modo “Drive Stun”, não afeta o sistema nervoso, só dá um choque localizado.

— E doloroso pra caralho — Show Pony resmungou.

— Mas funciona. Leva ele — Dr. Death entregou a arma para Remote Heart. — Já pegou as nossas rayguns? Ótimo.

Enquanto ele ajeitava mais coisas, Show Pony foi para a parte de trás da van.

— Ei, Grace — ele perguntou. — Onde você conseguiu essa arma da BLI?

— Eu e o Kobra Kid tinhamos arrombado uma máquina antes de eu ser levada — ela respondeu, parecendo ainda triste apesar das notícias. — Eu podia ter usado, mas fiquei assustada... Mas eu posso ajudar agora, não posso?

Show Pony e Remote Heart se entreolharam.

— É melhor não — Show Pony falou, cauteloso. — Vai ser perigoso.

— Eu não me importo! Quero ajudar eles... por favor...

— Seria ótimo — Remote Heart exclamou. Antes que Show Pony o assassinasse com o olhar, porém, ele continuou: — Mas se o Party descobrir que eu te levei de volta pra lá, ele vai me matar assim que acordar.

A menina riu.

— Você não quer isso, né?

Ela negou com a cabeça e olhou para baixo.

— Estão prontos? — Dr. Death perguntou, praticamente empurrando Remote Heart e Show Pony para fora da van. — Invisible Star vai levar a menina pra minha casa, mas vai me deixar na porta da central de novo antes. Vocês vão precisar de ajuda lá dentro.

Remote Heart olhou para a motorista. Ela era bonita, loira, de óculos escuros, e com um sorriso simpático. Ele nunca a vira antes; e, considerando que fora ela quem guiara a fuga, ele achou que seu nome fora muito bem escolhido.

Ele se despediu dela e abraçou a menina.

— Traz eles de volta, tá? — Grace pediu em um sussurro. — São tudo o que eu tenho.

— Trago. Prometo.

Ela sorriu, com os olhos brilhando de lágrimas, e o deixou ir.

Logo, lá estava Remote Heart novamente sobre a moto, com Show Pony o abraçando apertado por trás. Mas dessa vez ele não precisava do vento para ter a sensação revigorante. Ele estava indo à sua própria missão de resgate, ter suas próprias lutas e glórias. Estava finalmente indo fazer o que sabia.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenha ficado bem explicado pra quem não leu 1984 (que, aliás, recomendo muito). Qualquer dúvida, podem perguntar, tá?
Beijos, e obrigado pelos reviews que virão, vocês seres mágicos e angelicais que os deixam -q