Minhas aulas tinham acabado. As férias estavam apenas no começo, mas eu já senti que estas iriam ser as melhores. Passei cerca de uma semana ensaiando o que ia dizer para Annabeth, e ainda não sabia quais palavras usar. Eu estava nervoso, não sabia bem o que fazer. Era um começo de tarde de sábado. As 22h, eu teria que estar no ginásio para tirar um foto com todos da minha turma. Falei para Annie ir umas 22:30, mas como Thalia ia também, eu sabia que elas iam se atrasar mais um pouco.

Meu terno estava pendurado no guarda-roupa, eu fiquei o observando. Era preto risca de giz, usaria uma camisa branca por baixo e uma gravata vermelha. Annabeth não quis me contar a cor de seu vestido, frescura de menina. Mas eu sabia que ela estaria linda de qualquer jeito. Olhei no relógio e ainda não eram nem meio-dia. Já tinha até comprado uma rosa branca para dar para Annie, mas sentia que meu dia seria longo.

Decidi descer na cozinha e ver se o almoço já estava pronto. Me deparei com minha mãe fazendo macarrão. Meu pai sempre saia para trabalhar cedo. Ele tinha uma loja de equipamentos agrícolas, no qual eu trabalhava de vem em quando. Quando minha mãe me viu, notei que seus olhos estavam mais felizes do que o normal. Ela correu até a mesa e me entregou uma carta.

- Chegou hoje de manhã, querido.

Reconhi na hora de onde aquela carta veio. A abri com cuidado e com um aperto no peito. Me surpreendi ao ler  o que estava escrito lá dentro.

"Caro Sr. Jackson, nós do instituto Accua, de Londres, Inglaterra; temos o prazer de informar ao senhor que foi aceito em nossa universidade. Para efetuar a matrícula, pedimos com urgência que venha para Londres até dia 16 de Dezembro de 2012, para lhe mostrarmos seus aposentos e materiais necessários para cursar em nossas dependências. 

Atenciosamente, Universidade Accua, centro de Biologia Marinha"

Assim que terminei de ler, senti uma alegria enorme tomar conta de mim. Era uma das melhores universidade do mundo, e eu fora aceito! Dei um grito e abracei minha mãe. Ela parecia já saber do que se tratava. Ficamos que nem dois bocós pulando de um lado para o outro.

- Eu consegui, mãe! - eu gritava.

- Ah Deus, Percy. Temos tanta coisa para fazer então. Tem as passagens, e as malas, e você não vai ao baile hoje, certo?

O baile... Annabeth... nós dois... tudo aquilo voltou. Senti que o enorme sorriso que antes estampava meu rosto sumira. Minha mãe pareceu parceber, mas não disse uma palavra sequer. Apenas se voltou para o computador e começou a ver alguns sites de viagens. 

Meu peito estava apertado. Ir para lá sempre fora meu sonho, mas para isso, eu teria que deixar Annie. Por que nada dá certo, afinal? Por que eu tenho que ser tão burro? Demorei demais para perceber que amava Annie e agora... opa, amava? Sim, eu a amava. Mas esse "amar" queria dizer mais do que amiga. Eu a queria para mim, pra sempre. Não sabia se ela me esperaria. Eu sabia que voltaria em Dezembro do próximo ano para passar as férias com meus pais. Será que ela me esperaria até lá?

POV Annabeth

Eu estava inquieta. Andava de um lado para o outro do quarto. Fazia dois dias que não dormia direito. Por que o fato de dançar com Percy estava me deixando assim, tão nervosa? Thalia estava terminando de passar chapinha no meu cabelo. Eu estava cada vez mais nervosa só de pensar que a hora da dança estava cada vez mais próxima. Meu coração parecia querer sair de peito. Até minha respiração estava diferente. estava mais acelerada. Thalia percebeu.

- Tudo bem, Annie? Até parece que estamos indo para a sua formatura pelo jeito que você está nervosa. - ela disse me dando a chapinha para que eu terminasse a franja.

- Não sei, Thalia. Meu coração ta desse jeito desde cedo, e meu estômago... nossa, parece mais uma família de borboletas. E eu to com essa sensação estranha, já sentiu isso? Como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer? - lhe disse desligando a chapinha e a deixando no chão.

Thalia corou e se virou pra que eu fechar o zíper de seu vestido. Era preto (para variar), tomara-que-caia, baloné. Ela estava a coisa mais linda do mundo. Já o meu, eu emprestara de uma prima minha. Afinal, eu ia dançar com um formando, não poderia ficar de qualquer jeito. Era tomara-que-caia também, roxo, vinha justo até abaixo do seio e depois soltava em várias camadas. 

- Já senti isso uma vez - minha amiga começou - Na primeira noite que eu passei com Nico, assim que entrei no carro senti meu estômago revirar. Não sei como, só sabia que não dormiria em casa naquela noite.

Dei risada e coloquei meu vestido, como todo cuidado para não amassar. Assim que Thalia o fechou, fui para a frente do espelho. Fiquei admirada com o que vi. Não bem a Annabeth que via ali dentro, era uma outra mulher. Ela tinha os cabelos loiros, mas não tão cacheados como antes, agora eles estavam lisos. Os olhos que sempre pareciam tristes, hoje estavam mais alegres do que os olhos de uma criança ao comprar um brinquedo novo. Sorri para meu reflexo.

- Eu tenho a amiga mais linda do mundo - Thalia disse me abraçando - Só espero que Percy não deixe nada passar esta noite.

Demos risada e voltamos a nos arrumar. Um tempo depois, já estávamos prontas. E ainda eram pouco mais do que 22h. Vesti meu sapato preto e fui pegar minha bolsinha. Ela ficaria com Thalia, pra variar. Minha amiga estava com uma sandália gladiadora bege (ela tinha sandálias de todas as cores) e com o seu adorável make pesado nos olhos. Eu passei uma sombra dourada, lápis e rímel. E no peito, trazia comigo o belo colar de coruja que alguém muito especial me dera de aniversário. 

Pegamos nossos casacos e descemos para a sala. Minha mãe estava na sala assistindo TV. Era o primeiro dia em que ela estava em casa tão cedo. Thalia pegou a chave do carro e eu fui me despedir de dona Atena. Ela me disse o mesmo de sempre: "Tome cuidado", "Não aceite bebidas de estranhos" e "Não chegue muito tarde". Nos despedimos e vesti meu casaco. 

Olhei pela janela da sala e estava nevando. Por esse e outros motivos, o inverno era minha estação preferida. Ao sair de casa, mesmo com nossos casacos, sentimos o frio.

Thalia dirigiu com calma até o ginásio, e meu estômago estava cada vez mais inquieto. Quando chegamos, fiquei procurando o novo Volvo dele. Esse fora seu presente de aniversário. E o meu, bem, foi um velho camaro preto. Ele quis infartar quando descobriu que meu pai comprara seu antigo carro. Mas eu ainda não tinha tirado carta, então não dirigia o meu carro.

Minha amiga parou o carro e nós entramos. Estava tudo muito lindo. Coincidêmcia ou não, a decoração era toda em tons de preto, roxo e prata. Estava tudo maravilhoso. Tiramos nossos casacos e caminhamos até encontrar Piper e Jason.

- Jason Grace, o que faz aqui? - Thalia perguntou ao irmão irritada.

Ele apenas riu e bebeu mais um gole de ponche.

- O mesmo que você, eu creio. Além do mais, eu sou maior de idade, e estou acompanhando minha namorada no baile de formatura dela.

Piper deu risada. Ela estava muito bonita. Seu cabelo estava preso em um coque bem firme, que não deixava nenhuma fio fora do lugar. Ela usava um vestido rosa, bem justinho, que ia até um pouco menos da metade da coxa. Eu jamais usaria um vestido curto como aquele, mas para ela que é magrinha, ficou lindo.

- Até que enfim você chegou, sabidinha. - ouvi a voz  vindo por trás de minhas costas.

Me virei e dei de cara com um homem muito bonito. Ele usava um terno preto risca de gis, com uma camisa branca e uma gravata vermelha. O vermelho da gravata pareciam destacar ainda mais seus olhos verdes. Senti meu rosto queimar quando o vi daquele jeito. E Percy também parecia muito surpreso. Ele me olhava com a boca aberta. Parecia querer falar alguma coisa, mas palavra alguma saia de sua boca.

- Você... está... linda! - ele gaguejou.

Consegui apenas sorrir constrangida. Percy nunca falara daquele jeito. 

Depois daquele momento constrangedor, Thalia foi dançar com Nico, enquanto eu e Piper falávamos dos vestidos das outras formandas. O de Clarisse era um dos mais bonitos. Era verde-água de um ombro só. Ela e Chris ficaram o tempo todo de mãos dadas. Me perguntei se isso um dia aconteceria comigo e com Percy. 

Quando deu meia-noite, a diretora da escola chamou apenas os formandos e seus respectivos pares para o centro do ginásio. Percy foi me buscar. Senti um arrepio assim que ele tocou minha mão. Minha mão foi para seu ombro e sua outra mão para a minha cintura. Logo escutamos a valsa começar a tocar. 

Tentei não olhar para ele, mas não tinha como. Estávamos muito próximos, ele segurava minha cintura firmemente. Seus olhos percorriam meu rosto. Eles pareciam curiosos, e ao mesmo tempo com medo. Sentia que Percy estava triste, pois seus olhos estavam um tanto tristes. Queria perguntar o que estava acontecendo, mas resolvi esperar a valsa terminar. 

Estava tão hipnotizada por aqueles belos olhos verdes, que só me dei conta que a música tinha acabado quando a diretora falou no microfone:

- E estes foram os formandos do ano de 2012. Agora, que comece a festa. - E uma música eletronica começou a tocar. 

Percy me soltou e disse:

- Quer ficar aqui, ou prefere ficar lá fora?

Meu coração acelerou mais ainda, se é que isso era possível.

- Não tava querendo ficar tem muita...

- Gente. - ele me completou.

Eu ia dizer bagunça, mas isso também servia. Fomos até a entrada e peguei meu casaco pois sabia o quanto estaria frio lá fora. Saimos e caminhamos pelo jardim, estava todo branquinho por causa da neve. Tinha parado de nevar, então eu poderia ficar tranquila quanto a minha chapinha.

Depois do jardim externo, Percy me levou para um jardim interno. Sim, a escola dele, além de ter um jardim fora, tinha um jardim dentro. Tinham muitas flores e samambáias. Era realmente bonito.

Notei que Percy parecia inquieto, e seus olhos estavam ainda mais tristes. 

- O que aconteceu Percy? - pergunto chegando mais perto dele.

Ele suspirou e notei que algumas lágrimas se formaram em seus olhos.

- Fui aceito na Accua, Annie. Vou pra Londres ainda hoje.

Senti como se aquilo fosse uma faca atravessando meu peito. Percy sempre me falara dessa universidade, era uma das melhores quando se tratava de Biologia Marinha. E ele fora aceito. Seria ótimo para ele, mesmo tendo que morar em Londres e... não o vê-lo por um bom tempo. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas também.

- Isso é.. ótimo, Percy. Essa faculdade é muito boa. - tentei parecer empolgada.

Ele forçou um sorriso e deixou uma lágrima escorrer. Depois, retirou o celular do bolso e o atendeu.

- Oi mãe.

Era Sally. Ele tentava parecer animado, mas percebi que Percy não estava muito a fim de ir. Murmurou coisas como: "Claro", "Pode deixar" e "Já estou indo". Em seguida, desligou o celular e o guardou de novo.

- Tenho que ir, Annie. Meu voo... - ele não terminou, apenas limpou mais uma lágrima e me abraçou.

O abracei também, o mais forte que consegui. Soltei o choro que estava preso em minha garganta. Seria melhor para Percy isso, afinal estávamos falando de uma faculdade. E aquela era a faculdade. 

O soltei e voltamos para o ginásio. Ficamos parados do lado de fora, esperando Sally chegar. Quando uma caminhonete vermelha apontou lá na frente, Percy se virou para mim e disse:

- Adeus, Annie. Nos vemos em breve. - ele olhou para meu colar e sorriu. Depois disso, virou as costas e começou a caminhar.

Eu não podia o deixar assim, não iria vê-lo por um bom tempo. Seria difícil demais ficar sem ele. Meu coração batia forte.

- Percy! - eu gritei e ele olhou para trás.

Após isso, corri até ele e abracei seu pescoço, lhe dando um beijo. Pensei que ele ficaria confuso, mas não. Ele segurou forte minha cintura e me beijou de verdade. E aquilo... seus lábios nos meus... poder sentí-lo assim, tão perto... era indescritível! Ele retribuira meu beijo! Era só nisso que eu pensava. Estávamos em sincronia um com o outro, podia sentir isso. 

Quando me afastei e olhei em seus olhos, neles estavam um misto de surpresa com mais alguma coisa. Não sabia o que fazer depois daquilo. Não conseguia falar, nem me mover, fiquei apenas olhando em seus olhos, ele fazia o mesmo. Notei que Sally nos observava de longe. Me voltei para Percy e ele ainda não dissera nada. Devia estar chocado demais para dizer alguma coisa.

Então fiz a única coisa que uma pessoa como eu faria: sai dali correndo. Me soltei de seus braços e voltei correndo para o ginásio.

- Annabeth! - ouvi a voz dele me chamar, mas não voltei.

De que adiantaria? Percy estava a caminho de Londres, logo estaria longe o suficiente de mim para esquecer o que acabara de acontecer. Entrei no banheiro de casaco e tudo e comecei a chorar. Eu acabara de beijar a única pessoa que eu mais queria em toda a minha vida, e também acabara de saber que ele estava indo embora de Nova Iorque.