Acordei tarde naquele dia. Quando me dei conta que o sol já estava alto, peguei meu celular para ver as horas e vi que passara de meio-dia. Era uma quinta-feira, 19 de Setembro, véspera do meu tão esperado aniversário de 16 anos. Era dia de reunião de pais e mestres na minha escola, então não teríamos aula. Annabeth agradece.

Me levantei e fui para o banheiro. Acordei com um pouco de cólica, sabia o que significava. Que ótimo, passar o próprio aniversário menstruada. Tomei um banho e escovei meus dentes. Eu tinha que visitar Percy hoje. Toda semana eu fazia isso, e sempre esperava que ele acordasse. Minha esperança não morreu, pelo contrário, apenas aumentou. Seria um presente perfeito, ver os olhos de Percy novamente.

Sai do banheiro e fui até meu guarda-roupa. Coloquei uma calça jeans, uma camiseta preta com detalhes em branco que ficava um pouco comprida, e meus inseparáveis All Stars.

Desci para a cozinha. Estava com fome, mas não estava a fim de comer pão. Resolvi fazer um miojo, assim imendaria o almoço com o café. Comi o miojo na panela mesmo, e de pé, por preguiça de arrumar a mesa. Eu sempre fazia isso, minha mãe ficava louca comigo.

Quando estava terminado de lavar louça, ouvi a campainha tocar. Corri para atendê-la, e era apenas Thalia.

– Bom dia Thalia, entre. - eu disse fazendo sinal para que minha amiga entrasse.

Ela entrou. Apenas fez isso, não disse uma palavra. Então se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado.

– O que aconteceu? - lhe perguntei com um pouco de receio.

– Annie... eu contei para meu pai... sobre Nico.

Já estava mais do que na hora. Aqueles dois estavam juntos a quase 6 mêses, e Thalia ainda não tinha falado para Zeus sobre Nico. Pelo menos não até hoje.

– E o que ele disse?

– O que você acha? Disse que eu não poderia namorar alguém como Nico. Ele disse que conhece Hades e que sabe que eles não são como... eu. Me disse também para terminar com Nico. Mas eu não posso, eu não vou terminar com ele!

Thalia agora tinha os olhos azuis cheios de lágrimas. Zeus era um dos homens mais severos e antipáticos que já conheci. A mãe de Thalia e Jason que me desculpe, mas como alguém conseguia conviver com um homem daquele? Nem bom dia não dava para os próprios filhos.

– Como ele pode? Só porque Nico não é rico, não significa que ele não seja uma boa pessoa! - eu disse chegando mais perto da minha amiga.

– Não vou desistir no Nico, Annie.

Quando Thalia disse isso, eu a abracei. E, para variar, chorei junto. Minha amiga merecia o melhor sempre. Eu torcia para a felicidade dela e de Nico. Eles eram muito diferentes, por isso combinavam. Como dizem, os opostos na maioria das vezes se atrai.

Então tive uma ideia para animá-la. Corri para a cozinha e peguei um pote de sorvete de chocolate que estava guardado no congelador. Era nosso sabor preferido. Peguei duas colheres e voltei para a sala. O rosto de Thalia se iluminou quando ela viu o sorvete.

Ficamos chupando sorvete e conversando até 2h. Falamos sobre tudo e sobre todos. Fiquei curiosa quando Thalia disse que a bunda de Nico era muito boa, a melhor que ela já tinha apertado. Ela era um tanto safada com os meninos, não perdia a oportunidade de apertar um bum bum. Já eu, nunca tinha apertado, mas sempre tive vontade. Pensei na bunda de Percy, aliás que bunda? Ele parece uma tábua de passar roupa. Tá bom, não é tanto assim. Mas com certeza, a bunda dele, eu gostaria de apertar.

Quando me dei conta do horário, contei para Thalia que eu queria ir ver Percy. Ela ficou feliz. Desde o dia em que eu "me declarei", ela diz que, quando ele acordar, vai pular da cama e me agarrar. Eu sempre ria.

Thalia me ofereceu uma carona, disse que estava mesmo indo para a casa de Nico. Como eu ainda não tinha um carro, aceitei. Tranquei minha casa e fomos.

Algum tempo naquele trânsito dos infernos e lá estava eu de novo.

– Não se esqueça do beijinho de boa noite do Percy, Annie. - Thalia disse enquanto eu saia de seu carro.

Apenas lhe mostrei a língua e sai. Entrei rápido para que minha mãe não me vesse.

Logo que entrei senti meu celular vibrar. Era Liam. Depois do acidente, acabamos nos aproximando um pouco. Um pouco eu disse. Sua mensagem dizia:

"Fazendo o que de bom?"

As vezes ele me mandava isso, era só para puxar papo. Mas eu não dava muita bola. Na época que eu gostava dele, ele nem ligava para mim, e agora não sai do meu pé.

"To no hospital, vim ver o Percy"

Não lhe devia explicações, mas isso era só para ele saber onde eu estava e porque. E era por Percy.

Liam continuava muito bonito. Ele era moreno, tinha um corpo que meu Deus, deixaria qualquer uma louca, e o sorriso então, nem se fala. Mas ele era meio quieto, o que estragava um pouco. Não gosto de pessoas assim, que só conversam contigo se você falar com ela. Ele era assim. No começo pensei que meu sentimento fosse forte o suficiênte para aguentar a distância, mas depois de um tempo percebi que não era tão forte assim.

"Percy não acordou ainda? :/"

Eu sentia falta do meu amigo, muita. Palavras não eram suficientes para explicar como eu sentia falta.

"Não :/"

Entrei no elevador e guardei meu celular no bolso. Não queria ninguém bisbilhotando minhas mensagens. Quando sai, avistei a porta de seu quarto. O quarto 450. Não tinha ninguém por perto. Normalmente naquele horário, ou Sally ou Poseidon ficavam fazendo companhia para o filho. Mas hoje não tinha ninguém.

Abri a porta e espiei lá dentro. Nada mudara desde a minha primeira visita. O mesmo quarto, as mesmas cores, o mesmo cara deitado sobre a cama. Entrei e fechei a porta devagar.

– Boa tarde Percy, adivinha qual música vou tocar hoje?

Podem estar pensando que eu sou louca, mas sim, eu sempre conversava com ele. Além disso, sempre cantava um música também. Normalmente seria alguma lenta, e que falasse de amor. Mas hoje eu resolvi mudar, escolhi uma que me fazia lembrar Percy, mas era animada e contagiante.

Peguei o violão que ficava no canto do quarto. Eu comecei a deixá-lo ali porque dava muito trabalho ter que trazê-lo sempre que eu vinha ver Percy. Então achei melhor deixar meu violão querido no hospital mesmo, os médicos não ligaram, contanto que eu o mantesse sem poeira.

Me sentei e coloquei o violão no meu colo. Comecei a tocar os acordes.

Do you have the time
To listen to me whine
About nothing and everything all at once
I am one of those
Melodramatic fools
Neurotic to the bone
No doubt about it

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
I'm just stoned

Tava ai outra banda que eu aprendera a amar com Percy. Eu era louca por essa música.

I went to a shrink
To analyze my dreams
She says it's lack of sex that's bringing me down
I went to a whore
She said my life's a bore
And quit my whining cause it's bringing her down

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
I'm just stoned

Grasping to control
So I better hold on

Sometimes I give myself the creeps
Sometimes my mind plays tricks on me
It all keeps adding up
I think I'm cracking up
Am I just paranoid?
I'm just stoned

Terminei de tocar os acordes finais e coloquei meu violão no chão. Arrastei a cadeira para mais perto dele e segurei sua mão.

– Lembra de quando me mostrou essa música? Você me disse: "Annie, achei uma banda que você vai gostar" e então ficamos o dia todo cantando ela.

Cheguei mais perto e beijei sua testa. Seria o melhor presente do mundo ouvir sua voz novamente.

– Não sabe como me faz falta cabeça de alga. - lhe disse apertando ainda mais sua mão.

Senti meu celular vibrar novamente. Desta vez, era meu pai.

"Hoje te dou a honra de escolher onde vamos jantar. Vou ter que viajar amanhã com a empresa então comemoraremos seu aniversáio hoje"

Meu relacionamento com meu pai melhorara muito desde aquele nosso almoço. Agora sempre saiamos para jantar, ou almoçar. Até Kate sai conosco de vez em quando. A única que parecia não gostar disse era Dominique. As vezes, quando meu pai me levava para sua casa, para pergar a carteira ou alguma coisa assim, ela nem se dava o trabalho de me dirigir um "Bom dia". Mas eu não ligava, não precisava daquela mulher como amiga.

"Pode ser em algum restaurante chinês?"

Meu pai odiava comida chinesa, só ia por minha causa.

Estava tão entretida com as mensagens de meu pai, que demorei para perceber que algo se mexera em minha mão. Mas, espere, a única coisa que eu estava segurando era... a mão de Percy! Cheguei mais perto dele e lhe disse:

– Percy? Se você conseguir me ouvir, aperte minha mão!

Olhava para nossas mãos entrelaçadas ansiosa, eu não estava imaginando nada, eu senti que ele tinha se mexido. E ele fez de novo, apertou minha mão. Não foi forte, mas eu senti!

– Percy! - lhe disse novamente já com lágrimas nos olhos.

Ele se mexeu novamente, desta vez foi com a cabeça. Então fez algo que quase me matou. Ele abriu os olhos! Aqueles lindos olhos verdes, eu podia os ver de novo! Como eu sentia saudades!

Seus lábios então começaram a se mexer, ele queria dizer alguma coisa.

– Ann... Ann... - ele resmungou.

– Estou aqui Percy, bem do seu lado.

Ele estava acordado, Percy finalmente tinha acordado! Seus olhos, sua voz, estava tudo de volta. Até a cicatriz na testa já tinha quase sumido. Minha vontade era de agarrá-lo ali mesmo, mas me contive. Resolvi sair do transe em que seus olhos me colocaram e corri para chamar um médico.

POV Percy

Você já teve a sensação de ter dormido mais do que devia? Eu me senti assim. Depois daquele dia, em que Annie quase foi atropeladam não me lembro de mais nada. O que tinha dado em mim afinal? Atos heróicos não são comigo, mas naquele dia, quando vi que um carro se aproximava, e a burra da Annabeth continuava no meio da rua, senti que a única coisa que eu tinha que fazer era tirá-la dali.

Depois daquilo, era como seu eu estivesse hibernando.

Mas eu tinha vários sonhos, o que foi estranho. Porque foram muitos. Eu sempre escutava a voz de Annabeth. Ela conversava comigo, e cantava para mim. Era a voz mais doce que eu já escutara. E aquela frase... "Eu te amo Percy, só queria que você estivesse acordado para ouvir isso agora" isso não me saia da cabeça. E o pior que foi tão real, era quase como se ela estivesse falando comigo. Fora o sonho mais perfeito que eu já tivera.

De repente, comecei a ouvir "Basket Case", e era a voz da Annie! Mais um sonho? Acho que não. Desta vez tinha alguma coisa diferente, não era como os outros. Daquela vez, eu senti que poderia... acordar.

Ela então parou de tocar violão e senti um calor em minha mão.

– Lembra de quando me mostrou essa música? Você me disse: "Annie, achei uma banda que você vai gostar" e então ficamos o dia todo cantando ela.

É claro que eu me lembrava daquele dia. Depois de Panic! At The Disco, Green Day era minha banda favorita.

– Não sabe como me faz falta cabeça de alga. - ela disse apertando minha mão.

Eu queria acordar. Queria abrir os olhos e ver aqueles tão belos olhos acinzentados que eu sentia tanta saudade. Mas eu sentia que minhas pálpebra pesavam toneladas. Porém, se fosse preciso erguer essas toneladas para var Annabeth de novo, eu o faria. Não sabia explicar o que era, mas alguma coisa dentro de mim estava gritando seu nome,

Apertei sua mão. Assim ela saberia que eu estava acordado. Mas onde eu poderia estar? Provavelmente não era a minha casa, eu conhecia a minha cama.

– Percy? Se você conseguir me ouvir, aperte minha mão! - sua bela voz disse.

Eu queria fazer do que isso, queria abraçá-la. Sentia falta disso. Mas como no momento eu estava impossibilitado, apenas apertei sua mãozinha.

– Percy! - Annie disse novamente, e desta vez ela parecia querer chorar. Eu a conheço melhor do que ninguém.

Aos poucos, fui retomando o controle de meu corpo. Consegui enfim mover minha cabeça. E abri os olhos devagar. A imagem que estava na minha frente estava um pouco embaçada. Mas notei que era a minha loirinha de olhos cinzas que estava ali. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

– Ann... Ann... - tentei dizer seu nome, mas não consegui.

– Estou aqui Percy, bem do seu lado.

Era isso que importava. Annabeth estava bem ali, segurando minha mão. Percebi que estava dentro de um quarto de hospital. Eu devia ter dormido por um bom tempo. Mas sabia que depois minha sabidinha me contaria tudo. Ela então me soltou e saiu correndo, foi, provavelmente, chamar um médico.

E aquela frase: "Eu te amo Percy, só queria que você estivesse acordado para ouvir isso agora" continuava em minha cabeça.