As férias tinham enfim chegado. Eu gostava de ir para a escola, mas não tem nada que se compare a dormir até tarde. O dia estava bem quente, e Percy tinha me ligado para irmos ao parque tomar um sorvete. Thalia e Nico quase não saíam conosco mais. E, quando saiam, ficava só se beijando e abraçando. Percy e eu ficávamos sem graça, então na maioria das vezes só saíamos nós dois.

Mas eu sempre conversava com minha amiga. Ela sempre me contava o que acontecia, quando brigava com Nico, com seu pai, sempre era comigo que ela vinha desabafar. Dias atrás ela estava preocupada, seu pai andava cada dia mais desconfiado, tanto por ela, como por Jason. Já tinha dito à Thalia que era melhor ela contar para seu pai sobre Nico, mas ela tinha medo de dar a louca nele e a mandar para um colégio interno na Suiça.

Com relação ao meu casal preferido, estavam cada dia mais juntos, eles se amavam, todos nós podíamos notar. Nico não era como um certo cabeça de alga que não consegue enxergar nem um palmo além do nariz. Depois daquele beijo acidental, ficamos meio estranhos um com o outro, mas logo voltamos ao normal. Contei para Thalia o que tinha acontecido e ela quase surtou. Depois foi a minha vez de surtar quando ela me contou sobre o plano que ela e Nico tinham bolado. Fazer o que se eu tinha a melhor amiga do mundo?

Como a tarde estava quente, fui para o parque com meu shorts jeans, chinelo e uma bata rosa. Estava relmente quente, nada melhor do que um sorvete.

Caminhei até o parque fritando, me senti grata ao chegar perto das árvores. Logo avistei um garoto de cabelos escuros e camiseta verde sentado embaixo de um Carvalho. Corri até ele.

Percy observava o lago. Quando me viu, abriu um enorme sorriso e veio me abraçar. Aquele perfume... seu perfume era um dos únicos cheiros que eu conseguia sentir mesmo que estivesse a quilometros de distância. Era o melhor cheiro do mundo.

Olhei para o lago e vi alguns patinhos nadando.

– Queria ser um pato, assim poderia dar um mergulho nesse lago e acabar com esse calor insuportável.

Percy deu risada.

– Quer acabar com o calor? - ele disse me carregando - Pode deixar comigo!

E depois saiu correndo em direção lago.

– Percy me solta! - eu gritava, mas ele continuava correndo.

Chegamos no lago e ele fingiu que ia me jogar na água. Levei um susto, mas ele não me jogou de verdade. Aquilo foi só para me deixar aflita.

Consegui me soltar e cai no chão praticamente sentada. Me levantei e comecei a andar em direção a Percy. Ele ia recuando para trás, sabia que eu ia me vingar dele.

– Você me paga cabeça de alga! - eu disse lhe dando alguns tapas.

A única coisa que ele fazia era dar risada. Provavelmente estava raxando de rir da minha cara de assustada quando fingiu que ia me jogar no lago. Mas eu não posso abusar, não sei nadar, então eu preferia ficar em piscinas, não muito fundas de preferência.

– Calma Annie, já se recuperou do susto? - ele disse segurando meus braços.

Percy era muito mais forte do que eu, então não consegui me soltar.

– Quer tomar sorvete ou não? - eu disse me soltando.

Ele sorriu e começou a mexer no meu cabelo. Meu coração acelerou. Desde aquele beijo, não tínhamos tido mais nenhuma aproximação. Mas depois vi que ele apenas tinha tirado uma folha que estava entre meus fios.

Seguimos pelo parque até encontrármos um carrinho com sorvete. Pedi um de morango e Percy pediu um de abacaxi.

– Acha que Thalia vai ficar muito brava quando souber que estamos saindo sem ela? - ele disse pagando seu sorvete.

– Quando ela sai com Nico ela não nos chama. - eu disse abrindo a embalagem do meu.

– Com namorados é diferente. - Percy disse dando uma lambida no sorvete.

– Talvez, somos os únicos encalhados!

Percy riu e se sentou na grama. Fiz o mesmo, me sentando ao seu lado.

– Lembra da noite em que fomos para o Tártaro? - ele me perguntou ficando vermelho.

Era óbvio que eu lembrava, como poderia esquecer? Levei tanto tempo para poder parar de pensar, então esse cabeção me lembra e tudo volta. Senti meu estômago revirar co a lembrança.

– Claro. - eu disse sem graça, devia estar parecendo um pimentão.

– Então, naquele dia, mais tarde, voltei para a casa de Nico, e você não vai acreditar no que eu vi.

Eu tinha medo quando Percy falava assim.

– Ah meu Deus Percy, o que você viu?

– Thalia e Nico num momento um tanto... íntimo. - ele disse ainda mais sem graça e vermelho.

Minha amiga comentava mesmo que as coisas tinham esquentado. Ela me contava que Nico tinha uma mão muito boba, mas que ela gostava. Thalia de santa não tinha nada. Achei engraçado, queria ter visto a cara de Percy na hora que ele os flagrou.

– Você o que? Mas você viu... alguma coisa... ? - eu lhe perguntei.

– Se eu tivesse chegado alguns minutos depois, provavelmente sim. - ele riu e abocanhou o sorvete.

Não consegui imaginar aquela cena. Não conseguia nem me imaginar numa cena assim, imagine com os outros então?

– Você não sabe se eles já... ? - Percy me perguntou olhando para frente.

Senti meu rosto esquentar. Thalia nunca me disse nada sobre ela e Nico terem ido além de alguns amassos quentes.

– Ainda não, eu acho.... Mas pelo jeito não vão aguentar muito tempo. - eu disse percebendo que ele também estava vermelho.

Para mim, e para boa parte das meninas, acho que a primeira vez tem que ser especial. Tem que ser romântica e lenta. Tem que ser no momento certo, com a pessoa certa. Por isso que eu pretendia me casar virgem, podia ser difícil, mas eu ia conseguir. Sabia que Percy não era mais virgem, e isso me incomodava um pouco. Se um dia começássemos a namorar, será que ele esperaria o meu tempo? Era difícil saber. Os meninos são seres totalmente diferentes de nós mulheres.

– Você é virgem, não é sabidinha? - ele disparou cortando meus pensamentos.

– Lógico, nem namorado não tive direito, você acha que o que, eu sairia por ai dando pra qualquer um? - eu disse com um pouco de raiva. Não acreditei que Percy poderia ter pensado por um minuto que eu já...

– É assim mesmo que se diz dona Annabeth, só depois do casamento. - ele disse dando risada.

– Mas você não esperou. - soltei a bomba, e percebi que sua expressão mudara, agora ele estava sério.

– Tem razão, e me arrependo por isso. Acho que ainda não encontrei a menina certa. - ao dizer isso, Percy olhou em meus olhos. Era a primeira vez naquele dia que ele fizera isso. Senti meu coração acelerar e meu rosto esquentar.

Eu sabia que ele e Rachel nunca se amaram de verdade, ele me contava. Nunca sequer falaram um "Eu te amo" um para o outro. Era difícil falar isso, pelo menos pra mim. Eu só falava para minha mãe, nem para meu pai eu nunca dizia. E por falar nele, ele ainda insiste para eu ir morar com ele, mas eu já disse que não vou. Kate agora já nem fala mais comigo direito, ela e minha madrasta viraram amiguinhas. São duas bruxas, isso sim!

Percy ainda olhava para mim, eu estava começando a ficar sem graça. Desviei o olhar e percebi que ele fez o mesmo.

– Então... como vai o coração? - perguntei, tentando acabar com aquele clima estranho.

Ele deu risada e me disse:

– Batendo, e o seu?

Percy era a pessoa mais irônica que eu já cohecera. Deu risada e lhe disse:

– Não foi isso que eu quis dizer, você sabe!

Ele ficou sem graça e voltou a olhar para mim. Aqueles olhos verdes estavam me encarando novamente. Eram os olhos mais lindos que eu já vira. Meu estômago revirou, fazendo com que eu voltasse para a realidade.

– Ele vai bem, como sempre foi. - ele me disse deitando a cabeça na minha coxa.

– Não tem ninguém ocupando um espaço especial ai dentro?

Eu perguntei porque sabia qual resposta queria ouvir. Era um sonho. Boa parte da minha vida, eu sempre sonhava com o dia em Percy se declarava para mim. Queria muito ouvir ele dizer: "Sempre foi você Annie". Mas eu sabia que era quase impossível por três motivos. Primeiro: aquele cabeça de alga é lento demais para perceber que eu o amo. Segundo: e se não dessemos certo? E se começássemos a namorare só depois percebessemos que éramos diferentes demais? Tudo que ia restar de mim era um coração partido. E terceiro: eu não queria, não podia perder meu amigo. Eu o amava como amigo muito antes de descobrir o que eu realmente sentia.

– Não... sei... - Percy me respondeu com um olhar confuso. Ele parecia longe, seus olhos estavam distantes.

Passamos a tarde toda assim. Deitamos na grama e ficamos conversando. Falamos sobre tudo, sobre meus pais, sobre os pais de Percy, sobre nossos irmãos e como seria legal se Tyson e Kate se casassem, já que tinham a mesma idade... Falamos sobre Lee e sobre Drew, e também sobre como odiávamos Rachel. Devo admitir que fiquei mordida quando ele me contou que ela tentou agarrá-lo na casa de Nico naquele dia em que fomos para o Tártaro, se eu estivesse por perto provavelmente voaria naquela cabeleira ruiva!

O tempo passou rápido demais.Quando dei por mim já eram quase 6h da tarde. Disse para Percy que eu precisava ir embora, ele concordou e disse que me levaria até minha casa. Tentei argumentar, dizendo que ele chegaria muito tarde, mas ele insistiu tanto que eu acabei desistindo.

Estávamos andando pela calçada quando avisto um moço moreno, não muito alto do outro lado da rua. Ele usava uma camiseta sem maga branca e um shorts cinza. Eu o conhecia de algum lugar, só não sabia de onde. Mas... espere... essa não! Era ele, tinha que ser!

Cutuquei Percy e apontei para o menino, logo ele também o reconheceu. Ele apenas moveu os lábios, dizendo: LIam. Sim, era ele!

– Quer ir conversar com ele? - Percy perguntou.

Eu estava um tanto nervosa. Era a primeira vez em meses que eu o via, e ele continuava lindo.

– Já volto. - eu disse olhando para os dois lados da rua para poder atravessar.

Comecei a andar pela rua até que senti meu celular vibrar. O olhei e vi uma mensagem de Thalia:

"Preciso de você Annie, eu e Nico quase transamos!"

Minha amiga estava louca, só podia ser isso. Senti um estranho arrepio na espinha ao ler aquilo. Parei no mesmo instante para respondê-la. Queria dizer para ela esperar, mas sabia que no caso deles era difícil. Ambos queriam, estava escrito na testa. E eles eram perfeitos um para o outro. Porque pólos iguais não se atraem, pura física. Mandei para Thalia:

"Vai ter que me contar essa história direito, já chego ai"

– Annabeth! - ouvi Percy gritar e logo depois alguma coisa me derrubou alguns metros dali, e teve aquele barulho.

Pneus cantaram e depois um a leve batida. Ohei para trás e meu coração quase parou quando o vi. Vi Percy jogado no chão com um enorme rasgo na testa. Lágrimas escorreram por meus rosto.

– Percy! - eu gritei, mas sabia que ele não poderia me ouvir.

Como eu podia ser tão burra? Quem para no meio da rua para responder uma mensagem? Tentei me levantar, só então percebi que meu braço esquerdo estava todo ralado, mas eu não me importava, só queria ir para o lado de Percy. Ele não podia me deixar.

Corri para ele, mas alguém me segurou. Eu mal parava em pé. O dono do carro que o atropelou saiu e me viu aos prantos. Não conhecia aquele homem, mas mesmo assim não podia culpá-lo pelo que tinha acontecido. Aquilo era minha culpa!

– Alguém chame uma ambulância! - ouvi alguém gritar.

Se eu perdesse Percy, certamente boa parte de mim também iria embora.