A Love That Has Withstood Time escrita por alessia


Capítulo 3
Sem ele, sem vida.




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Ainda eram 12:57 da tarde, sábado. Eu havia comido um peixe assado, pequeno, que consegui pegar no riacho. Eu não queria ficar sem fazer nada. Isso me faria pensar demais, e me faria ter mais lembranças do tempo que passei aqui, com Jack. Eu não tinha muita escolha, para ser sincero. Então, peguei o cavalo, mais uma vez, e fui dar uma olhada na cidade. Tinha uma grande chance de eu encontrar Joe Aguirre, o dono das ovelhas que pastorei no verão de 63. Foi dito e feito. O trailer dele estava aberto, então, amarrei o cavalo num poste que havia ali e fui, até lá.

Entrei no trailer, e o vi sentado em sua cadeira, atrás daquela velha mesa de madeira, um pouco bagunçada. Ele me olhou, e eu notei o espanto dele ao me ver, depois de tanto tempo. Retirei o chapéu, pousando-o sobre meu peito, e o cumprimentei, com um breve sorriso.

- Quanto tempo... - Ele pausou, tentando recordar o meu nome.

- Ennis del Mar. - Disse, fazendo ele me olhar com um certo sinismo.

- Ennis del Mar... foi você quem veio aqui com o peãozinho metido a homem, pastorar minhas ovelhas, há 20 anos atrás. - Ele recordou-se de Jack, como se ele fosse um verme. Não gostei muito de tal comentário, mas não fiz nada, além de afirmar.

- Sim, fui eu. Estive aqui com o Jack Twist. 

- Jack Twist... este sujeito nunca mais veio procurar trabalho aqui. Tem notícias dele? - Ele era frio, ao tratar de Jack. Mechia com uns papéis sobre a mesa, sem fitar meu rosto. 

- Ele... faleceu. - Minha voz estremeceu, e meus olhos, como de costume, embargaram, assim que terminei a frase. Notei o olhar de Joe Aguirre larçar-se em minha direção. Sua feição era séria, e ele não demonstrava sequer espanto.

- Faleceu, hm? Quando, isto? 

- Abril de 83, senhor. - Respondi à ele, sem fitá-lo. Não queria que percebesse minha tristeza. Eu mechia com meu chapéu, e olhava minhas botas, vez ou outra.

- E você, Ennis... como fica? - Ele perguntou, esperando que eu respondesse que a tristeza me consumia por dentro. 

- Eu? Ahn... bom... não é fácil suportar a morte de um amigo, hm? - Respondi, lançando o mesmo olhar que ele lançara para mim.

- Amigo... - Ele mangou, voltando a se concentrar nos papéis. - Se veio procurar trabalho, rapaz, saiba que não há vagas para você, aqui.

- Não vim atrás de trabalho. - Parei, por uns instantes, mas logo voltei a falar. - Apenas vim fazer uma visita, já estou de saída. Até logo, Sr. Aguirre. 

- Tchau, rapaz. - Ele respondeu, e observou eu me retirar do local. 

Montei em meu cavalo, e sai pela cidade, lentamente. Ia caminhando pela estrada, até que parei diante de um espaço, largo, que havia entre duas casas. 

Jack estava com o braço apoiado na porta da caminhonete, me olhando. Eu estava encostado no capô do veículo, revirando minha mochila, enquanto resmungava baixo.

- Não acredito que deixei aquela blusa lá. Porcaria!

- Vai fazer isso de novo, no próximo verão? - Jack me perguntou, então me virei para ele, fitando seus olhos claros e apertados, por conta da claridade.

- Bem, talvez não. Alma e eu vamos nos casar em Novembro. Então vou tentar algo num rancho, eu acho. Você? - Respondi-lhe, observando a feição desanimada, que tomara conta de teu rosto.

- Talvez eu vá lá pro meu pai, ajudá-lo no inverno. Eu posso voltar aqui, se o Exército não me pegar.- Ele comentou e esboçou um leve sorriso.

- Bem, acho que a gente se vê por ai, hm? - Palpitei, esperando a resposta dele.

- Certo. - Foi apenas o que ele respondeu. Abaixou a cabeça, por alguns segundos, e voltou a me olhar, sem ter o que dizer. Fiz um pequeno gesto, com a mão, e fui andando pela estrada reta. O vi entrar na caminhonete e seguir em frente, passando à minha frente, rapidamente.  Fiquei o observando de longe, até que entrei num espaço que havia entre duas casas. Larguei minha mochila no chão e me agaixei. Retirei meu chapéu e apoiei minha cabeça na parede, colocando o chapéu na lateral de meu rosto, cobrindo-o para quem passasse na rua.

Chorei. Chorei sem piedade, entre leves soluços e pequenos gritos. Eu dava leves murros na parede, como se aquili me livrasse da dor que sentia. Percebi, então, que um homem encontrava-se parado, na estrada, me olhando. Olhei, pelo canto do chapéu, e perguntei, cheio de ódio.

- Que porra você está olhando, hã? 

Eu o havia deixado ir. Sem nem sequer dizer o quanto foi bom. 

Abri os olhos, e olhei, um pouco mais, para o espaço entre as casas. Passei a mão pelo rosto, e dei dois tapinhas no cavalo, fazendo-o andar, novamente. Iria voltar para a montanha. Para o meu canto, para a minha paz. Não só para isso. Mas para todas as minhas lembranças enterradas no peito, que aquele verde me fazia lembrar, tão bem.

Continua...


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