Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 11
Capítulo 11




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Matt

 Acordei cedo naquela manha. Não iríamos para a arena antes da 10 da manha, mas mesmo assim seria impossível ficar tranquilo sabendo daquilo. Sai da minha cama, fui tomar banho e quando sai, sentei em uma cadeira, lembrando do dia da colheita.

 Eu havia sido escolhido, meu pai foi me ver e me dar um ultimo adeus.

 - Filho, sinto muito por isso, nada disso deveria acontecer, mas quero que saiba que as pessoas irão parar isso antes que piore.

 - Não se desculpe, eu sei o quanto tanta gente sacrificou para que o povo tivesse paz, pelo menos por alguns anos.

 - Eu quero que me faça uma promessa, e você pode ficar muito brabo por eu pedir isso, mas realmente é necessário.

 - O que você quer pai?

 - Caso a filha de Katniss Everdeen seja escolhida como tributo hoje, eu quero que você a proteja e não deixe a garota morrer de jeito nenhum. Eu tenho certeza que Katniss não merece mais nenhuma perda assim.

 - Você quer que eu de a minha vida para proteger uma garota?

 - Sim, sei que é difícil entender, mas é isso que eu estou pedindo.

 Eu não entendia o porquê ele estava me pedindo isso, mas senti na sua voz que era serio e vi o medo em seus olhos, coisa que acontecia muito raramente.

 - Eu prometo pai. Protegerei a filha de Katniss com a minha vida se for preciso.

 E aqui estou eu, sentado em uma cadeira, relembrando uma promessa que nem precisaria ser feita, por quando conheci Alice, senti que tinha que protegê-la de qualquer maneira. Ela tinha uma certa fragilidade na aparência e era pequena para a sua idade, mas sua mente era de uma pessoa adulta e suas atitudes eram fortes e independentes, o que não combinava muito com o seu jeito doce e delicado. Depois de conversar cinco minutos com a garota, senti como se ela fosse minha irmãzinha que eu tivesse que manter viva.

 Hoje começaria o teste, não seria nada fácil. A arena poderia ser qualquer coisa. Desde um campo, totalmente a céu aberto e coberto de gelo, com poucas arvores para se esconder, como também podia ser um deserto com sol escaldante, onde teríamos que nos matar por água ou morrer de sede. Era difícil prever.

 Sai do meu quarto e dei uma volta pelo andar, quando estava voltando encontrei Sandiri, a garota que veio comigo. Pequena, cabelos loiros escuros, olhos profundamente azuis. Mas não se podia subestimar Sandiri, ela tinha uma incrível habilidade com o arco e flechas. Poderia ter acertar a quilômetros de distancia.

 - Oi, Matt – disse ela.

 - Oi, Sandiri.

 - O que faz aqui? – ela parecia nervosa.

 - Nada, apenas dando uma volta, e você?

 Ela olhou ao redor, como se estivesse tentando ter certeza de que não havia mais ninguém nos escutando.

 - Eu acabei de voltar do centro de treinamento, queria treinar mais antes de ir.

 - Como se você precisasse treinar. Pode acertar uma flecha estando muitos metros longe da pessoa. Tenho certeza que você ira matar muita gente.

 Seus olhos brilharam. Na mente psicopata de Sandiri, matar as pessoas era ótimo para ela, e ela quando diziam que ela era uma assassina, aceitava como um elogio.

 - Então cuidado, garoto cinzento. Você pode ser o primeiro a morrer pelas minhas flechas.

 - Vai sonhando – eu disse, rindo. E ela voltou para o seu quarto. Garoto cinzento. Sandiri me chamava assim por causa da cor dos meus olhos.

 Quando nos encontramos a primeira vez, quando éramos crianças, olha olhou para mim com puro desprezo, mas depois, naquele mesmo dia, se mostrou uma pessoa que, apesar de zangada era muito engraçada, mas ela sempre implicou com a cor dos meus olhos, então quando nos despedimos e fomos para casa no dia em que nos conhecemos, ela com o seu jeito de criança, mas ainda zangada, me disse:

 - Boa noite Garoto dos olhos cinza.

 E vem me chamando assim desde então.

Eu não sabia mais o que fazer ate a hora do café da manha. Decidi quebrar um pouco as regras e ir ate o quarto de Alice para ver a nossa estratégia para a arena. Tomei o elevador e subi ate o 12. Tentei descobrir aonde era o quarto de Alice, mas os andares eram totalmente diferentes uns dos outros.

 Mas resolvi ir para o fim do corredor e bater na ultima porta, para ver se tinha sorte. Esperei alguns segundos e uma figura pequena atendeu a porta, ainda com os olhos pesados de sono.

 - Te acordei? – perguntei.

 - Sim, - disse ela. – Matt? O que você esta fazendo aqui?

 - Vim para nos conversarmos sobre nossa estratégia na arena. Já que durante o banho de sangue não teremos tempo nem de ver direito para onde estaremos correndo.

 Agora ela estava bem acordada. Fitou-me com os seus olhos azuis penetrantes e doces, mas terrivelmente frios. Eu não conseguia entender sua expressão.

 - Teremos que ter um sinal, algo para sabermos onde cada um esta, mas que seja imperceptível para outros. Algo que apenas eu, você e Guto saberemos o que é.

 - Mas o que seria? Nem sabemos como é a arena.

 - Bom, nós podíamos nos encontrar na Cornucópia quando o banho de sangue acabar e os carreiristas saírem procurando os tributos que sobraram. É só prestar atenção.

 - Isso parece bom se nenhum de nos três morrermos no banho de sangue.

 - Não iremos.

 - Então você fala para August sobre isso?

 - Sim, eu farei isso.

 Eu estava com a mão na maçaneta da porta quando olhei para o meu pulso e vi a minha pulseira, que o meu pai havia me dado quando eu estava me despedindo dele. Era a minha lembrança de casa. Uma prova de confiança. Virei-me para Alice.

 - Fique com isso – eu disse entregando a pulseira para ela. Era uma pulseira feita de cipó, mas que tinha um grande valor sentimental, e eu havia ganhado um pingente do meu pai para colocar ali. Um pingente de uma espada. – É uma prova de confiança.

 - Não posso ficar com isso, é injusto, você não terá nenhuma lembrança de seu distrito ou de sua família na arena.

 - Mas eu quero que fique com você, já que serei seu aliado isso também estará comigo. Mas eu quero que me prometa uma coisa.

 - Claro é só pedir.

 - Se eu morrer e você estiver por perto chegar antes de levarem o meu corpo, me prometa que eu voltarei para o meu distrito com a pulseira que o meu pai me deu, e que ninguém naquela arena ira chorar por mim.

 - Não sei se a segunda parte será possível cumprir afinal você parece bem popular entre os tributos. Talvez alguns deles chorem por você. Mas tenha certeza que a pulseira volta com você.

 - Obrigada.

 Agora sim, sai do quarto e voltei para o meu andar antes que alguém percebesse que eu não estava lá.

 Cheguei bem na hora do café da manha e agi como se estivesse ali o tempo todo. Eu, Sandiri, e os nossos mentores fomos tomar o café.

 Tudo ocorreu muito quieto, todos estávamos nervosos sobre o que poderia nos esperar. Depois voltamos para os nossos quartos, onde encontramos nossos estilistas, que iriam nos levam para a arena.

 Wrigart, minha estilista, era muito estranha. Seus olhos tinham um tom de vermelho doentio e sua pele era tingida de um tom de amarelo. Seu cabelo era cinza, quase como meus olhos.

 - Está pronto para nos irmos? – perguntou ela.

 - Não tenho certeza se estou pronto, mas tenho que ir de qualquer jeito, não é?

 - Bem, seria tudo mais fácil se não tivesse de ir, mas tenho certeza de que você iria ver todas aquelas pessoas morrendo e iria querer ter morrido no lugar delas.

 Talvez fosse verdade, mas eu não iria admitir isso tão fácil. Fomos para o telhado do prédio, aonde um aerobarco chegou e baixou suas escadas para nós. Subimos no primeiro degrau e uma corrente elétrica nos manteve presos enquanto éramos puxados para cima.

 Quando sentamos, uma mulher com uma seringa me espetou no braço, e meio surpreso, soltei um “Ai”.

 - É apenas o rastreador, para sabermos aonde você esta naquela arena. – disse Wrigart.

 Depois de 45 minutos depois o aerobarco pousou em um lugar muito escuro e cheio de corredores. Seguimos por um caminho complicado de curvas e portas e finalmente chegamos aonde eu teria que trocar de roupa.

 Wrigart me trouxe um casaco pesado, cheio de pelos e um capuz forrado com lã, todo preto. Uma calça que me parecia muito quente, uma camiseta básica, o que eu não sabia se era para ajudar, um cinto de utilidades preso a minha cintura e botas de cano alto, que iam até perto dos meus joelhos, todas revestidas de couro e lã.

 - Quer comer ou beber algo antes de ir? – perguntou ela.

 - Não, obrigada, eu não tenho certeza se posso comer alguma coisa.

 - Será a sua ultima chance de ter uma refeição decente por algumas semanas.

 Recusei a comida, mas pedi um copo d’água, que eu fiquei tentando tomar até a hora de irmos.

 Finalmente era a hora. Fui colocado em uma chapa de metal e envolvido por um cilindro transparente. Olhei uma ultima vez para o rosto da minha estranha estilista, e então a plataforma começou a subir.

 Fui passando por um túnel escuro e a próxima coisa que eu sabia era que o sol estava cegando meus olhos. Senti o ar gelado e puro do inverno, o que era bom, pois deixava a minha cabeça limpa para eu poder ver o que estava acontecendo ao meu redor.

 O mundo havia virado gelo. E a cornucópia estava a pelo menos 50 metros a minha frente. Lá estava a minha chance de sobrevivência, mas havia um problema. Eu não sabia o quando o gelo que cobria o chão era fino, e a cornucópia estava em uma depressão íngreme. Tentar sair dali durante o banho de sangue seria difícil, mas ainda havia algumas partes planas para onde poderíamos correr. Além de todo aquele gelo, havia uma floresta de pinheiros eu acho. Mas pelo que eu conseguia ver, o chão ainda seria coberto por gelo e neve.

 Os 60 segundos em que teríamos que ficar em nossas plataformas começaram a soar. Caso pisássemos no chão, seriamos explodidos por minas terrestres. O que também seria uma forma terrível de morrer. Tentei localizar Alice ou August. Vi que August estava 5 tributos a minha direita e Alice estava alguns tributos ao lado dele. Não seria fácil para ninguém chegar as armas.

 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... E o som que indicava que poderíamos sair tocou. Os Games haviam começado oficialmente.

 Sai correndo direto para a cornucópia, eu precisava de armas antes que o banho de sangue começasse. Ainda bem que eu era rápido e fui um dos primeiros achegar ao chifre dourado que era a cornucópia. Peguei uma lança e uma mochila que eu havia conseguido coletar enquanto corria. Eu queria me afastar dali, mas quando me virei, vi uma faca voando em minha direção.

 Desviei-me e tentei correr para a floresta, mas não havia os caminhos planos na minha frente, eu teria que dar a volta para conseguir chegar lá. Eu teria que participar da matança.

 Peguei a lança com forca e fui a guerra. Tentei ao máximo não matar ninguém, mas todos que vinham me atacar acabavam mortos ou pela minha lança, ou por armas que voavam de um lado para outro.

 A única coisa que me deixou aliviado, foi que vi Alice pegar uma espada e uma mochila e disparar para a floresta, sem muitos perseguidores por enquanto. Mas August não teve a mesma sorte. Vi ele tentando pegar um kit com fios, cordas e algo que parecia metal. Ele conseguiu, mas quando estava tentando fugir, acabou sendo acertado no ombro por uma das flechas que Sandiri havia pegado. Mas não pude ver o que aconteceu com ele, pois naquele momento, o tributo do distrito 4 estava tentando me matar com um punhal.

 Eu tinha que prestar atenção nos movimentos dele, já que se ele chegasse muito perto, poderia me matar. Peguei a lança e finquei em seu ombro e, quando arranquei vi que havia deixado um buraco enorme ali. Agora, muita gente já havia morrido depois eu poderia ver quem eram. Sai correndo dali e, quando estava chegando à floresta, uma faca atravessou a minha frente e senti algo cortar sobre a minha sobrancelha direita, mas não podia parar para ver quem havia jogado, ou os danos que havia feito. Abaixei-me rapidamente para pegar a faca e entrei na floresta correndo a toda velocidade.

 Alguns minutos depois diminui o ritmo. Não conseguia enxergar nada por causa do sangue que escorria para os meus olhos. Subi em um pinheiro, e fui ver o que havia dentro da mochila. Foi então que eu comecei a escutar os canhões que anunciavam que o banho de sangue havia terminado.

 12 canhões dispararam. 12 pessoas haviam morrido. Metades dos tributos ainda estavam vivos e prontos para matar.

 Voltei a minha atenção para a mochila em minhas mãos. Lá havia uma garrafa com água, um saco de dormir, algumas frutas secas, um kit medico bem básico e um moletom extra.

 Nada com que sobreviver muito tempo, mas por enquanto eu tinha que dar um jeito de estancar o sangramento da minha sobrancelha. Tomei um pouco d’água e depois rasguei um pedaço do moletom para limpar o sangramento e então, usei a única faixa que havia no kit para fazer um curativo. Minha cabeça doía, o banho de sangue havia durado horas. O dia já estava escurecendo, então resolvi dormir um pouco para ver se a minha dor passava enquanto esperava para voltar para a cornucópia e encontrar Alice e August.

 No meu pesadelo vi todas as pessoas que eu havia matado. Elas pareciam zangadas e vinham para mim com lanças, facas e punhais. As pessoas começaram a me torturar, lentamente cortando cada centímetro do meu corpo, até que uma garotinha pequena que eu acho que era do distrito 7 pegou um machado e fincou no meu coração.

 Acordei agitado, com medo de estar gritando, mas tudo estava quieto. Devia ter dormido por umas duas horas, pois agora estava escuro e o hino de Panem começou a tocar. Agora os rostos dos mortos seriam projetados no céu. Começou com a garota de distrito 3. Então eu sabia que Geridia, Griffor e Sandiri ainda estavam vivos. O que eu já esperava, já que eles eram carreiristas. O garoto do 5, ambos do 6, a garotinha do 7, ambos do 8 e 9, o garoto do 10 e ambos do 11, acho que a garota deste distrito se chamava Barilin. Todos eles haviam morrido. Depois o céu se apagou e tudo caiu em um silencio eterno.

 Alguns minutos depois, pássaros começaram a fazer barulho e eu me obriguei a descer da árvore para ir até a cornucópia novamente. Chegando lá, eu vi Alice, me esperando, mas não havia sinal de August. Corri até ela.

 - Olá – eu disse.

 - Olá.

 - Onde esta August?

 - Deveria estar aqui, mas já deve estar chagando.

 Então ouvimos barulhos na floresta e August apareceu, com o seu ombro cheio de sangue, mas não tão mal quanto meu corte.

 Mas mesmo quando ele se juntou a nós, os barulhos de passos não passaram. Então uma lança veio voando em nossa direção. Havíamos caído em uma armadilha e eu teria que enfrentar os profissionais pela segunda vez no mesmo dia.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam da arena *-*