Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 1
Capítulo 1




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Entre Gelo e fogo!

1

Katniss

 Era um dia normal para mim – pelo menos por enquanto – Peeta foi cedo para a padaria e eu levei as crianças para a escola.

 Alice, minha filha, tem 12 anos de idade e cabelos castanhos lisos, como os meus, mas tem os olhos azuis do pai. Ela estava muito animada, pois ela iria, dali a duas semanas, para o distrito 4, fazer uma viagem para conhecer o lugar. E iria reencontrar o seu amigo Finnick II, filho da minha velha amiga Annie.

 Já meu filho mais novo. Theo. Não estava com nenhuma vontade de ir a escola. Como ele estava com 10 anos, começaram a ensinar a sua turma o terror dos Hunger Games e ele estava apavorado pelo que as pessoas foram capazes de fazer aquelas pobres crianças. Mas ontem à noite, quando eu estava colocando-o para dormir eu simplesmente disse:

 - Não existem mais razões para você ter medo disso. Foi a muito tempo, as pessoas não fazem mais isso. Pode ter certeza que você ficará seguro! – e lhe dei um grande abraço, aninhando-o em meus braços até que ele dormisse.

 Deixei as crianças na escola e fui caçar o que para mim havia virado tanto uma terapia, como uma tortura. Eu sabia que podia fugir de tudo quando estava caçando, me concentrar apenas no mundo vivo que estava ao meu redor, cheio de árvores e animais. Mas também me trazia lembranças de um tempo sombrio, há muitos anos atrás. Eu, meu ex amigo Gale. Doía-me lembrar dele, o tempo que passamos juntos, caçando, tramando contra o capitol, tentando manter nossas famílias vivas, lutando contra a fome que se apoderava do distrito 12.

 Mas também me lembrava da minha irmã, que foi morta na guerra em que os distritos se rebelaram contra a Capital. Prim tinha apenas 12 anos, mas era uma pessoa muito boa, fazia de tudo para ajudar os outros e seu sonho era ser médica - como a minha mãe foi - estava até fazendo um curso quando estávamos no 13. Ela foi morta por bombas quem Gale e um homem do distrito 3 chamado Beete haviam inventado. Nunca o perdoei por isso.

 Sinto falta dos dois.

 - Pare de pensar nisso, Katniss – disse a mim mesma – Aconteceu a anos, Gale está feliz no 2. Construiu uma família. Prim está num lugar melhor! Se concentre na caçada.

 Andei pela mata com meu arco-e-flechas pronto para atacar qualquer animal que aparecesse, mas algo parecia errado hoje. Diferente.

 Continuei andando, até que vi uma sombra, alguém estava andando na floresta e não estava sendo muito cuidadoso. Fui atrás da pessoa misteriosa e cheguei até uma caverna, que eu nunca havia percebido que existia.

 Entrei e quase desmaiei quando vi quem estava lá. Era uma pessoa que foi muito importante na guerra há tantos anos atrás, eles estava mais velho, claro, mas pelo menos estava vivo, o que já foi uma grande surpresa para mim. Eu não o teria reconhecido se não fosse pela sua marca registrada.

 O seu delineador dourado.

 - Cinna! – eu disse.

 - Olá, Katniss! Faz muito tempo, não é? – diz ele abrindo um sorriso que me lembrou do primeiro dia em que o vi.

 - Eu pensei que você havia morrido, quando te espancaram aquele dia antes de eu ir para a arena.

 - Eu deveria ter sido executado naquele mesmo dia, mas o banho de sangue da arena prendeu a atenção de todos. Então mesmo estando paralisado e espancado eu consegui me arrastar para fora da cidade circular, para onde todo mundo estava em suas casas vendo o grande evento. Depois me escondi na loja de Tigris e me recuperei um pouco. Depois comecei a vagar por ai, tentando pensar qual seria o meu próximo passo. – ele faz uma pausa e fico imaginando o que eu teria feito no lugar dele. Acho que teria enlouquecido – Resolvi vir para o distrito 12, e como não podia entrar na cidade sem ser reconhecido por pacificadores, resolvi andar pela floresta e esperar alguém aparecer. – continuou ele – Então encontrei duas garotas andando por aqui, mortas de fome, e uma ainda estava com o pé machucado.

 Fiquei em choque, eu me lembrava dessas garotas. Elas haviam fugido do distrito 8, estavam procurando o distrito 13, acreditando que teriam uma vida melhor, mas durante o tempo que eu estava lá não havia sinal delas, mesmo que eu tivesse perguntado para os responsáveis inúmeras vezes

 - Bonnie e Twill – eu disse.

 - Sim, você lembra-se delas!

 - Eu pensei que elas haviam morrido na floresta, pois elas disseram que queriam chegar ao 13. E durante o tempo que estive lá, ninguém sabia nada sobre elas.

 Cinna me olhou com um olhar avaliador, como se estivesse tentando ler a minha mente. Depois de uns minutos ele apenas suspirou e disse:

 - Elas morreram, mas não antes de dizerem que mesmo se existisse mesmo um distrito 13, ele não iria sobreviver ao capitol, e se sobrevivessem, as pessoas iriam todas se tornar soldados, sem esperança, sem alegria e que todos os costumes cultivados nos distritos através dos anos seriam esquecidos.

 Parei para pensar nas pessoas que vi no 13, todas seguiam uma rotina estranha, sem nenhuma diversão. Todas agiam como robôs aos comandos de Coin. A única vez que eu vi o povo do 13 rindo e se divertindo sem se preocupar tanto com a rotina que era pintada em seus braços toda manhã, foi no casamento de Finnick e Annie. Foi um casamento lindo e uma das ultimas vezes que eu vi meu velho amigo Finnnick feliz, antes da sua morte.

 - E o que fez depois disso? – perguntei curiosa para saber como ele havia passado tanto tempo assim escondido em uma mata que eu conhecia tão bem sem eu nem perceber.

 - Soube que você tinha ido para a capital matar Snow – disse ele, muito sério – Fui até lá.

 Imaginei Cinna voltando para o lugar onde ele foi tão torturado, onde ele tinha amigos que morreram ver a cidade onde cresceu ser destruída.

  - Cheguei no dia em que as bombas explodiram, eu estava vendo as crianças naquela jaula, estava indo ajudar, disposto a morrer tentando salvá-las, mas quando cheguei perto, vi os paraquedas e alguns segundos depois, as bombas explodiram. Vi Prim chegar lá também estava perto o suficiente para ver sua expressão, ela estava apavorada, mas sabia o que tinha que fazer, e o que queria fazer. Salvar a vida daquelas crianças que haviam sobrevivido ao primeiro ataque. Tenho certeza de que ela me viu, olhou nos meus olhos e logo em seguida, ocorreu à segunda explosão.

 Ouvir aquelas palavras, relembrar os momentos assustadores daquele dia, me trouxeram lágrimas aos olhos, eu só queria sentar ali e chorar, mas sabia que não podia, sabia que eu deveria ser forte, como eu fui todos esses anos. O passado não deveria interferir no presente desta maneira.

 - Eu não me lembro de ter visto você lá – eu disse, contendo as lágrimas.

 - Ninguém me viu apenas Prim. Eu vi você pegar fogo também, sinto muito por isso. – disse ele, olhando para as minhas cicatrizes.

 - Tudo bem, - eu disse - depois de algum tempo você se acostuma com as marcas. Então, o que fez depois?

 - Fique pela capital mais alguns dias, até o dia da execução de Snow. Vi tudo o que você fez lá, eu estava atrás do palco, quando Coin morreu com sua flecha, eu fui até o poste em que Snow estava e o matei com uma facada nas costas. Depois voltei para cá. Tenho estado aqui todos estes anos.

 Agora, que o choque de ver Cinna vivo e bem passara, comecei a olhar a caverna e tenho que admitir, parecia mesmo uma casa, não de luxo, claro. Mas como a minha casa no Seam, sem luxo nenhum, mas com um certo conforto.

 No canto mais afastado havia um colchão cheio de buracos e ao seu lado havia coisas necessárias para caçar e fazer uma fogueira. Durante o tempo que passei com Cinna, nunca pareceu que ele soubesse caçar ou ate mesmo montar e acender uma fogueira, mas acho que todos aprendemos quando temos a necessidade.

 Mas o que mais me impressionou foi uma máquina de costura que estava encima de uma mezinha. Parecia cara e sofisticada para aquele lugar, mas era maravilhosa. Era toda dourada, com desenhos de chamas em vermelho, junto a ela havia um cabide, com um vestido pendurado, um vestido simples, mas completamente magnífico, do jeito que apenas Cinna sabia criar.

 O tecido era de um azul da cor do céu no verão, mas havia algumas flores de folhas presas ao tecido, tudo muito bem colocado e que no final dava um efeito de que as folhas e flores estavam caindo do céu, voando alegremente.

 - Nossa. Este vestido é incrível! – eu disse e não pude me conter de tocar no leve tecido que ondulava com a leve brisa que entrava pela porta da caverna.

 - Obrigada, às vezes eu consigo alguns tecidos, então eu faço alguns vestidos com algumas coisas que encontro.

 - Onde estão os outros então – perguntei olhando ao redor para ter certeza de que não tinha visto mais vestido nenhum além daquele.

 - Estão escondidos. – disse ele, simplesmente.

 Nesse momento uma duvida veio a minha cabeça. Cinna passara quase 30 anos escondido, sem falar com ninguém ou aparecer na cidade. Por que agora ele viera falar comigo?

 Pensei nisso, mas não disse nada. Do jeito que eu conhecia Cinna ele falaria ao seu tempo, ou quando eu precisasse saber. Se ele não falou nada por enquanto, quer dizer que ainda não é hora de eu saber.

 Olhei para fora e vi que já estava na hora de ir embora, tinha ficado ali mais tempo do que eu tinha imaginado e não tinha caçado nada.

 - Bom, eu tenho que ir, mas você será bem vindo para se juntar a mim – disse a ele.

 - Seria ótimo, mas não posso por enquanto, mas daqui a algumas semanas vou poder entrar na cidade novamente e te ajudar. Mas saiba que você pode sempre vir aqui falar comigo, eu sei que você vai precisar em breve.

 Fiquei um pouco apreensiva com estas palavras, mas talvez acontecesse alguma coisa boa, nada tão ruim acontecia em Panem agora.

 - Bom, pode ter certeza que eu vou voltar – disse e lhe dei um sorriso sincero antes de sair da caverna.

 No caminho para casa peguei um coelho e um esquilo que não estavam muito longe. Fui para casa pensando nas palavras de Cinna, e ao longo do caminho uma sensação ruim foi se apoderando do meu corpo, como se tudo fosse voltar a ser como era na época de Snow.

 Espantei o pensamento, era muito terrível imaginar os meus filhos tendo que enfrentar a aflição das colheitas, ver as pessoas morrendo nos Hunger Games, os terrores que o capitol fazia as pessoas pesarem. Pensar nisso era insuportável, mas se isso acontecesse eu tentaria com todas as minhas forças acabar com isso novamente, mesmo se tivesse que morrer para isso. E desta vez não teriam tantas mortes, apenas a do responsável.


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