Estava na hora. Minha mãe estava desesperadamente me chamando para partir logo, sendo que estávamos 2 horas adiantadas para o vôo. Mas ela estava certa, precisávamos ir. Desci com minhas malas gigantes, me atrapalhando toda quando descia a escada. Mas era normal eu me atrapalhar. Atrapalhada era praticamente meu sobrenome. Meu pai me ofereceu ajuda, e aceitei antes que eu rolasse escada a baixo. Minha mãe deu uma última checada na casa inteira antes de partirmos, se certificando que não havia esquecido nada. Meu pai já estava ficando estressado.

- Se demorar mais um pouco, nós vamos embora sem você.

Tive que concordar, pois ela ficava me apressando e depois enrolava.

- É mãe, vai logo!

Ela nem olhou para nós. Deu uma última olhada em tudo e finalmente resolveu partir.

- Tudo certo então. Vamos!

Eu estava caminhando na direção da porta e parei. Olhei para minha casa e percebi que talvez eu nunca mais pudesse chamá-la de lar. Sabe-se lá quanto tempo eu iria ficar em Londres, mas eu estava decidida à ir. Afinal, é o meu sonho desde que eu era pequena... Respirei bem fundo, segurando todas as lágrimas que tentavam escapar do meu olho. “Vai, Sofia. Vai atrás do seu sonho” pensei. Saí da casa, tranquei a porta e entrei no carro. Assim que entrei, comecei a pensar em todas as minhas amigas... Eu ia mesmo sentir falta delas. Não consegui mais segurar. As lágrimas caíram lentamente dos meus olhos. Percebi que o carro começou a se movimentar, deixando minha casa pra trás.

Já estávamos dentro do avião e ele estava prestes a decolar. Meus pais estavam sentados juntos dois lugares a minha frente. Eles queriam muito vir também. Fizeram questão. Mas eu não entendia porque, afinal eu já tenho 18 anos. Acho que eles ainda estavam meio inseguros a respeito da casa em que eu ia ficar. Eu também estava. O fato de que eu iria morar sozinha às vezes me apavorava, mas eu sabia que ia dar tudo certo. Eles iam ficar o primeiro mês em Londres comigo, só para me ajudar a ajeitar tudo.

O avião decolou. Eu observava São Paulo ficar cada vez menor, até não conseguir ver mais nada. Mergulhei em meus pensamentos e acabei caindo no sono.

Acordei com um raio de Sol batendo nos meus olhos. Quando olhei para janela, derrubei mais lágrimas, mas desta vez era de felicidade. Estava bem ali. Londres. Era lindo, exatamente como eu imaginava.

Depois de pegar minhas malas, fomos em direção à saída onde havia várias pessoas segurando plaquinhas com nomes. Eu procurava a plaquinha com o sobrenome Sparks. Vi um senhor segurando essa plaquinha e fui em sua direção.

- Senhorita Sparks?

- Sim. Eu mesma! – disse com um sorriso no rosto.

- Bem-vinda a Londres! – disse ele com um sorriso com dentes tortos e cinzas no rosto, cumprimentado eu e meus pais. – Qual é o endereço da casa?

Entreguei-lhe um papel com o endereço. Ele assentiu com a cabeça, pegou as malas e colocou-as no carro. Entrei no mesmo com um sorriso enorme no rosto. Eu estava muita ansiosa para ver como seria minha casa e como seria o bairro. Partimos. Fiquei só observando pela janela os prédios e as pessoas passando e não pude evitar abrir outro sorriso.

- Chegamos! – disse o motorista já saindo do carro e indo em direção ao porta-malas. Saí do carro e olhei em volta. O bairro era muito lindo. Ele era rodeado de casa com o uma praça no meio. Olhei para a direita, onde se encontrava uma casa com o número 225. Verifiquei o endereço que estava no papel, e dizia que a casa era 225. Era linda. Pequena, simples, muito parecida com as que se encontravam ao redor. Fiquei parada, olhando, pensando em como tudo seria diferente daqui pra frente, até meu pai me tirar dos meus pensamentos.

- E então filha, gostou? Não vai entrar?

Apenas sorri e entrei. Havia um hall de entrada e uma sala de TV à esquerda. Nessa sala havia um sofá, uma mesa de centro e uma televisão. A decoração era toda delicada. A sala tinha um balcão com algumas cadeiras altas, e atrás dele, havia a cozinha. Atrás do sofá havia uma escada que dava para um corredor com dois quartos, um à esquerda e outro no final do corredor. Entrei primeiro no da esquerda, que era o de hóspedes, onde meus pais ficariam. Havia uma cama de casal, um armário, espelho e um banheiro. A decoração era bem simples, mas era bonita. Continuei caminhando no corredor até chegar ao meu quarto. Havia uma cama de viúva, uma televisão pequena, um armário com porta de correr e um banheiro. A decoração também era linda, com umas florzinhas bem delicadas.

 O que mais chamou minha atenção no quarto foi uma janela que havia um assento, e a vista era para a janela da casa vizinha, mas também dava para ver parte da praça. Sentei na cadeira da janela e abri mais um pouco a cortina. Fiquei observando até ver uma menina linda de cabelos castanhos bem claros, quase loiros na janela. Ela aparentava ter minha idade. Eu sorri e ela sorriu de volta. Olhei mais um pouco e desci para falar com meus pais.

 - Pai, mãe, eu amei a casa! É linda! Obrigada. – Abri um sorriso que cobriu o meu rosto inteiro e abracei os dois bem forte. Saí da casa e fui dar uma volta na praça e sentei-me em um dos bancos que nela se encontrava. Mergulhei em meus pensamentos novamente. Eu finalmente estava em Londres, a cidade dos meus sonhos, e assim começaria minha nova vida nesse lugar.