Ela bocejou e olhou pela janela. De repente a chuva que abençoava a floresta verde e densa estava mais interessante do que seu professor de física explicando uma coisa que ela nunca chegaria a usar. O som da chuva era relaxante e o seu tédio a fazia ficar com os olhos pesados, mas a garota morena não queria dormir. A alguns dias vinha tendo uns sonhos estranhos e ela se recusava a deixá-los invadir seus pensamentos mais uma vez, já bastava te-los a noite.

A irritante sirene da escola soou, a fazendo pular da cadeira, assustada. “Droga de sinal” Pensou, enquanto enfiava suas coisas na mochila de qualquer jeito. Soltou mais um bocejo e saiu da sala. Nos corredores as pessoas que passavam por ela a cumprimentavam, e a garota tentava ser o mais natural possível, sorrindo e cumprimentando a todos, como sempre fazia, e ninguém sequer notou a tensão em seus ombros ou uma nuvem sombria que ultimamente vinha povoando seus olhos verdes. Ela não era rainha da interpretação, mas sabia se virar, principalmente por causa de uma de suas melhores amigas, quase irmãs. As três eram inseparáveis desde pequenas, você escutava o nome de uma e já pensava nas outras duas. Isabella, Alice e Rosalie sempre estiveram juntas, uma amizade sincera, baseada na confiança plena, como a muito tempo alguns não viam. Assim que ela pegou sua comida no refeitório, procurou suas amigas e seu cenho se franziu em confusão quando não as viu na mesa central em que uma parte da "realeza" do Senior Year costumava ficar. Observou que as pessoas daquela mesa e de algumas ao redor davam olhadas nada discretos para o fundo do refeitório, ela seguiu o olhar e encontrou suas quase-irmãs. A morena andou em passos largos ate lá, ignorando todos os chamados e revirando os olhos de vez em quando.

–Oi- Disse sorrindo assim que sentou na frente delas. As duas pararam de remexer a comida e encararam a morena, sorrindo quase que automaticamente ao ve-lâ.

–Olá. - Responderam. Ela começou a analisar as irmãs, assim como sabia que era analisada. Rosalie Hale foi seu primeiro alvo. A loira deslumbrante era quase a mesma, o corpo incrivelmente belo que havia dado a ela o posto de líder das cheerios estava lá, em baixo de um suéter vermelho dobrado até o cotovelo e um jeans justo que deixava suas pernas ainda mais bonitas. O cabelo sedoso e louro moldavam seu rosto anguloso, e aí estava a pequena diferença que era perceptível apenas para as quase irmãs. A pele estava ligeiramente mais pálida, o tom rosado das bochechas era artificial, criado por uma fina camada de blush, as orbes de um tom verde incomum possuíam uma pequena nuvem escura e, em baixo dos olhos havia pequenos tons arroxeados : olheiras. algo que Rosalie não deixaria exposta.

Os olhos da morena passaram da loira para a pequena fada. Alice Brandon não estava muito diferente do habitual, o cabelo longo e negro estava preso em um rabo de cavalo meio frouxo, coisa que ela raramente fazia. Para uma deusa das compras, sua combinação de Jeans, casaco e salto estava muito simples, embora combinasse com seu pequeno corpo cheio de curvas. Seu rosto expressivo que lhe ajudava a ser presidente do grêmio estudantil estava pálido, assim como o de Rosalie, em sua boca havia uma camada de gloss e as olheiras que indicavam cansaço estavam bem escondidas por um corretivo que ela raramente usava, embora estivesse meio estranha, sua beleza exótica ainda se mostrava.

Rosalie e Alice encaravam agora sua irmã, Isabella, que, assim como elas, estava diferente. A postura e a beleza que garantiu a Bella o titulo de rainha Homecoming não havia mudado, embora seu corpo esbelto estivesse um pouco mais magro. Seu rosto estava um pouco pior que o das irmãs, embora a maquiagem disfarçasse bem. Não! Não havia espinhas ou qualquer outra deformidade, a pele sedosa e incrível não mudara tanto, só a sua cor, que ficara mais clara e os tons arroxeados debaixo dos olhos, esses que chamaram a atenção das irmãs. Alice e Rosalie sempre brincaram, dizendo que Bella tinha um diamante escondido dentro das orbes verdes, mas hoje a pedra preciosa não estava mais ali, ele fora roubado, como se pressentisse algo ruim, um mal agouro.

– O que está acontecendo? - Rosalie foi a que quebrou o silêncio.

– Não sei. - Respondeu Bella, entre um suspiro - Eu tenho tido sonhos estranhos - Anunciou, com a voz baixa.

– Que tipo de sonhos?

– É desconexo. Um carro, um cervo, árvores. De repente um vidro que eu não sei de onde veio explode e tudo fica escuro. Logo depois eu acordo.

– E você está preucupada. - Afirmou Alice. Os sonhos que as três tinham costumavam a acontecer. Proféticos, como era chamado por elas.

– Sim, mas não comigo, com vocês.

– Am?

– Vocês estavam lá. Não as vi nem as ouvi, mas sabia que estavam lá.

– Hmmmm - Alice coçou o queixo, pensativa. Os olhos verdes como de um gato semicerraram. - Isso está muito sério. Precisamos fazer alguma coisa.

Bella e Rose fizeram uma careta. Reação dada a última frase da amiga-irmã. Toda vez que Alice dizia isso, algo mirabolante saia de sua cabeça e ela convecia as irmãs a executar o plano. Eles, na maioria das vezes, as meteram em problemas, sejam pequenos...

* * * * * * * * * *

Ouviu-se um ronco baixinho. A menina chamada Isabella largou sua boneca no chão e pressionou a barriga com as mão gorduchinhas.

– To cum fome. - Reclamou ela, com um biquinho fofo nos lábios rosados.

–Também to Beia. - Rosalie tirou a franja loura dos olhos para poder encarar a amiga. Alice, sentada perto da grande árvore que ficava entre o jardim dos Swan e o jardim dos Brandom, fechou o fogãozinho de brinquedo e coçou o queixo, assim como uma moça bonita que ela viu na TV fez.

– Isso tá séio, pecisamos fazer alguma coisa.

10 minutos depois.

– Aice, cê tem ceteza? - Perguntou Bella, o cenho franzido não combinava com o rostinho inocente de uma menina com quatro anos de idade. Os olhos verdes examinavam cada centímetro da cadeira que a amiga colocou perto da prateleira, vendo se tinha alguma coisa que podia fazê-la cair. Rosalie era a mais indicada para pegar o pote, mas ela tinha medo de altura e Alice era pequena demais então sobrou para Bella. O plano era simples, ela tinha que subir lá e pegar o pote de cookies, mas tinha que ser rápido, afinal, suas mães já estavam voltando do mercado e não podiam ve-las comendo algo tão perto da hora do almoço. Bella subiu na cadeira e as duas se posicionaram perto dela para caso algo ruim acontecesse, não que elas pudessem fazer muita coisa, era mais por incentivo. A pequenina se colocou na ponta dos pés com o maior cuidado e esticou os bracinhos. Resmungou algo desconexo sobre "por que tinha que estar tão alto". Um barulho a assustou.

– Calma, deve ser a Malia. - A babá deixou as meninas brincando no quintal para poder arrumar o quarto. Seria perigoso deixar três crianças sozinhas, mas a propriedade era bem segura, com seguranças sempre por perto. Embora tivesse 16 anos, Maria era responsável e adorava as meninas.

Bella finalmente consegui pegar o pote. Estavam querendo muito comer os deliciosos cookies, então nem escutaram o barulho de um carro estacionado. A três sentaram em uma rodinha no chão e começaram a saborear os deliciosos cookies, o chocolate parecia derreter em suas bocas, e não poderam conter o pequeno gemido de prazer. Os pequenos estômagos vibraram com algo tão delicioso.

–O que as senhoritas pensam que estão fazendo comendo antes do almoço? - A voz da mãe de Rosalie as fez pularem de susto. Os olhinhos verdes se arregalaram ao ver suas mães, e tentaram a todo custo esconder o que estavam fazendo, mas não tinha mais volta, as bocas sujas de chocolate as denunciavam. As três penasaram a mesmo tempo : "Ferrou"

* * * * * * * * * *

ou grandes...

* * * * * * * * * *

– Vamos, vamos, vamos. - Falava a loura enquanto as outras duas entravam no carro. As gargalhadas das três foram engolidas assim que a motorista ligou o som do carro no ultimo volume. Liberdade, essa era a sensação que elas sentiram assim que atravessaram os portões da escola, cantando Hush Hush, das Pussycat Dolls a plenos pulmões. A risada também se devia ao fato que o plano de Alice dera certo pós a tenebrosa frase. Rosalie costurava habilidosamente entre os carros, ela tinha conseguido sua carteira a dois meses e já se mostrava uma excelente motorista. Bella tamborilava os dedos em seu colo no ritmo da musica, pensando no jeito em que fugiram da escola naquela tarde para irem passear no shopping. Elas estavam na fase de rebeldes inconseqüentes e faziam algumas coisas por impulso, mas de todo, elas não conseguiam ser ruins, já achavam que estavam fazendo muita coisa matando o último horário da escola.

– Shopping, Shopping, Shopping. - Alice entoava, quicando e batendo palmas no banco de trás. Estacionaram o lindo carro de Rose e saíram para fazer suas compras. A primeira loja que resolveram ir foi para a tão amada joalheria Tiffany's.

– Olha que lindo. - Rosalie apontou um colar em formato de cisne que estava na vitrine. Ela pediu para Karen, a vendedora tirar de lá e colocou no pescoço de Bella.

– Ficou incrível Bells - Alice falou, sorrindo cúmplice para Rose, elas já tinham passado por ali antes e viram aquele colar. Combinaram que comprariam pra irmã.

– É irônico. - Bella falou, acariciando o colar e se olhando no espelho.

– Karen - Rosalie entregou a ela o cartão de crédito preto e reluzente. - Quero aquele colar. Crédito

– Sim srt. Hale. - A vendedora saiu feliz com a venda, assim como sempre ficava quando as três apareciam ali.

– Rosie...

– Nem reclame Isabella, é um presente meu e de Alice.

Rosalie esperava qualquer coisa, um sorriso, um abraço, uma lágrima, um chilique, mas não o que veio a seguir.

– OH droga, se escondam.

– O que?

– Se escondam caramba! - As duas nem relutaram e se abaixaram atrás de uma pilastra, junto com Bella

– O que que foi?

– Olha quem está falando com a Karen.

Foi com um desespero mudo que elas viram Joseph Brandon, pai de Alice, examinando as jóias das vitrines. Karen procurou as meninas discretamente, afinal todos ali conheciam o grau de parentesco que existia entre os Swan, os Hale e os Brandom. As meninas apenas balançaram a cabeça freneticamente em negação, um gesto claro para não contar a ele que elas estavam ali, afinal, elas estavam matando aula! Karen colocou a compra na sacolinha típica da Tiffany's e pediu um minutinho para o senhor Brandom.

– Aqui está - Disse sussurrando - Pode deixar que eu não conto nada pra ele, vou tentar distraí-lo e vocês passam pela porta.

As três assentiram, nervosas demais pra falar e começaram a sair de costas, olhando sempre para o pai da Alice, que conversava com Karen. De repente, ela começou a fazer sinais estranhos, coisas que as meninas não entenderam, Karen suspirou alto e colocou a mão na cabeça na mesma hora que Bella e Rosalie esbarraram em alguém, automaticamente, se viraram para ver que as tinha impedido de sair

– Oh, me des...- O pedido de desculpa ficou entalado na garganta. Elas esbarraram em Charlie Swan e Mark Hale, seus pais. Os olhos das três se arregalaram enquanto as orbes dos pais semicerravam naquela expressão perigosa que só eles sabiam fazer, elas tinham sido pegas.

* * * * * * * * * *

O sinal da última aula tocou. Os alunos começaram a sair das salas, o clima de liberdade pairando no ar. Era sexta feira e nessa noite havia uma festa que toda parte "legal" da escola fora convidada, inclusive as três rainhas, mas essas não pretendiam dar o ar de sua graça, estavam muito cansadas.

– Rosie, hoje eu dirijo. - A loura nem discutiu, apenas entregou a chave do carro para Alice. As três entraram no carro e Alice acelerou. No banco de trás, Bella lutava contra suas pálpebras, e estava perdendo feio, até que viu a entrada da casa das três passar.

– Alice, não sabe mais ir para casa não? - Zombou

– Sei sim Bells, mas eu estou raptando vocês.

– Pra onde? - Rosalie perguntou, no meio de um bocejo.

– Nós vamos naquela festa essa noite. - Ela falou, ignorando os gemidos de protestos das irmãs. - Não, não e não. Nós vamos, está decidido, iremos agora para Seattle comprar vestidos.

Naquela tarde, as meninas se divertiram como a algum tempo não faziam. Elas contavam histórias e piadas idiotas, logo depois cantavam e dançavam. Dormiram por uma partezinha da tarde para economizar energia e na outra se arrumaram. Mais ou menos as 15:00 pm, Marie, a irmã da Bella de dois anos, apareceu e ficou um pouco com as meninas. Ela era uma fofura, com o cabelos lisos castanhos, olhos cor de mel e bochechas gordinhas coradas, não tinha como não se apaixonar, logo ela saiu com a mãe para ir no parquinho da cidade, deixando as Bella, Rose e Alice tristes, como se fosse a última vez que elas se viam. As oito horas elas já estavam prontas. Com certa nostalgia, as três saíram de casa. Uma tristeza invadiu seus corações quando elas olharam para as três casas, tão grandes, tão perto uma das outras.

– Sentimento bobo. - Sussurrou Bella e entrou no carro, logo seguida de suas amigas-irmãs. O caminho até a festa foi repleto de conversas forçadas sobre assuntos banais, elas estavam com o coração pesado e não entendiam o porquê. Elas logo chegaram, afinal, nada em Forks era muito longe.

– Vocês vieram - O grito agudo de Jéssica Stanley as saudou.

– Não perderíamos - Rose sorriu falsamente e a cumprimentou com dois beijinhos na bochecha, Bella e Alice imitaram o cumprimento.

– Espero que se divirtam.

– Claro, querida.

As três adentraram a casa que cheirava a álcool, mistura de perfumes e adolescentes suados. Algumas pessoas vieram cumprimentá-las, outras apenas acenaram de longe.

– Vamos beber alguma coisa - Rose arrastou as amigas para onde Mike Newton, o quarterback do time oficial da escola, fazia os drinks.

– E aí gatinhas, vão querer o que?

– Algo leve Mike. - Pediu Bella, recebendo uma piscadela em troca. Ele colocou algumas bebidas que estavam em garrafas e entregou para elas. Engoliram de uma vez só e foram dançar.

* * * * * * * * * *

Bella estava sentada no sofá. Já fora assediada, empurrada e paquerada o suficiente para um mês, estava cansada e queria ir pra casa, então foi procurar Rosalie e Alice. Ela desviou de alguns casais que estavam praticamente se comendo e foi direto para a área da piscina.

– Vamos embora? - Perguntou, assim que chegou perto de Alice. Ela estava dançando com um cara bonitinho e segurava um copo de bebida

– Maas já Bell? - Ela estranhou o tom da amiga, pegou o copo e o cheirou. Era muito forte.

– Já Aliie, estou com dor de cabeça, mas, me diga, o quanto disso você já bebeu?

– Esse é o meu segundo copo.

Bella suspirou aliviada. Alice não estava completamente bêbada, embora tivesse bebido o suficiente para não poder dirigir.

– Já vamos embora. - Anunciou, agora era seu dever cuidar da amiga e não deixá-la fazer alguma besteira.

– Aaaaah não, vão vocês, eu pego uma carona depois.

– Me encontre no carro, vou procurar Rose. - Usou seu tom que não era aberto para discussões. Logicamente, Bella não ia deixar ela pegar carona com que quer que fosse. Alice, concerteza faria coisas que iria deixá-la arrependida, e Bella não queria infligir esse tipo de vergonha para a irmã.

Rosalie foi mais fácil de encontrar e, assim como Alice, difícil de convencer. Ela também havia bebido, mas não muito. O que a convenceu foi o fato de sujarem seu vestido enquanto estavam conversando, ela não ficaria em público com o vestido manchado.

Bella levou Rose até o carro, onde Alice já esperava, do jeito que a morena havia mandado. Ela foi direto para o bando do motorista, afinal, só ela estava com os reflexos bons o suficiente para dirigir a essa hora da noite. Foi com um sentimento estranho de estar sendo observada que ela saiu da festa.

– Que bom que saímos, já estava ficando cansada. - Disse Alice assim que fizeram uma curva, desviando-se do lugar em que estavam.

A lua cheia estava alta e tornava a floresta que rodeava a pista um pouco assustadora. A estrada sinuosa parecia um túnel de bordos, álamos e carvalhos. Estava tudo escuro, então Bella ligou os faróis no máximo.

– Não precisa correr Bell. - Disse Rose - Nossos pais não vão brigar conosco, acho que saímos mais cedo que o habitual.

– Não estou preucupada com isso. - Deu de ombros - E aí, gostaram da festa?

– É, estava boazinha, mas podia melhorar com um toque a lá Alice Brandom. - As garotas riram suavemente

A velocidade do carro continuava aumentando pelas curvas da estrada - Já falei que não precisamos correr.

– Engraçado. Não sei o que... Não parece que... - Murmurou Bella, olhando para os seus pés. Ela estava apertando o freio, embora não estivesse fazendo diferença nenhuma.

– AH! - Alice apontou para frente da estrada - Bella!

Havia algo saindo do meio dos arbustos e parando no meio da estrada. Não dava para ver o que era. Só dava para perceber a movimentação por entre as sombras. E, então, o cervo parou. Virou a cabeça e olhou fixamente para as luzes do farol.

– Bella! - Elas estavam cada vez mais próximas dos olhos brilhantes - Bella, você não está vendo?

A velocidade não parava de aumentar.

– Rose, tem algo...

– Um cervo! - Gritou Alice.

Os olhos do animal reluziam diante do brilho dos faróis. Havia uma luz atrás dele, uma mancha brilhante em meio à escuridão. Um carro vinha na outra pista. Do outro lado, havia inúmeras árvores. Não tinha como elas desviarem, nem para esquerda, nem para direita. Não havia saída.

– Pare! - Rose gritou.

– Estou...

– Pare! Por que você não para? - Alice implorou – Bells, pare!

O para-brisas explodiu, se transformando em uma cascata de vidro estilhaçado. As três gritavam enquanto o carro capotava. De repente, os gritos cessaram, não havia mais som de nada, nem choros, nem respirações, nem corações batendo. Não havia mais vida dentro daquele carro.